No começo desta semana estampei minha opinião, no Jornal Tricolornaweb, sobre a separação do futebol com o social do São Paulo. Disse que faria um editorial, que em outras palavras, significa a opinião do site e posição que será levada adiante.
Fui, ao lado do conselheiro Júlio Casares, o que mais apresentou propostas para o novo estatuto. Muito bem trabalhado e elaborado, obteve uma congruência muito grande de opiniões. Muitos dos que hoje criticam e tentam desmerecer o novo estatuto se calaram durante sua elaboração. Se esconderam no anonimato, por incompetência ou covardia. E hoje querem se mostrar os arautos desta conquista.
Se houve deturpação do estatuto, não foi por culpa de quem o fez, mas de quem o está executando. Lá atrás, no começo da montagem da nova diretoria, afirmei aqui que se tratava de uma ação entre amigos, mas que, por mais estranho que fosse, não teceria críticas antecipadas, por entender que os diretores, ainda que conselheiros amigos, que foram indicados para as diretorias executivas, me parecem ser gabaritados profissionalmente para tal.
Sou criticado por manter a linha que mantenho desde sempre no Tricolornaweb, de dar um mínimo de seis meses para poder avaliar o que há de bom ou ruim na diretoria. Não posso culpar diretores que assumiram o cargo há pouco mais de um mês por um quadro que vem se deteriorando há 12 anos. Não gosto de João Doria, mas não posso culpá-lo pelos semáforos quebrados e alagamentos na cidade. Não gosto do Michel Temer, mas não posso responsabilizá-lo pelos 14 milhões de desempregados no País. E assim seguimos.
Voltando ao estatuto, ficou previsto que, em até 12 meses (há prazos a serem seguidos), duas comissões devem ser criadas para apresentar duas propostas de alteração no estatuto: uma que prevê a separação futebol – social e outra que permitiria a eleição direta, através do voto do sócio, do presidente.
Sobre voto direto, ninguém “ousou” formar qualquer comissão até agora. E tenho certeza que quando for feito, vai ser “nas coxas” (desculpe o termo chulo) . Afinal, os conselheiros dizem que 40% do quadro associativo não é são-paulino. Porém, há conselheiros que também não são são-paulinos. Todos sabem disso. Infelizmente não posso citar os nomes por ser algo subjetivo e, no final, palavras ficarão contra palavras e não chegaremos a lugar algum. Mas eu mesmo propus algumas travas que evitaria sócios não são-paulinos de votar para presidente. Portanto, seria uma questão de bom senso. O único problema é que isso, me parece, estar em falta na política do Tricolor. É mais ou mesmo assim: não vamos mudar nosso status.
Quanto à separação futebol – social, defendi que houvesse uma separação financeira. O que os sócios pagam ficaria para o clube. O que o futebol recebe, seja de patrocínio, de bilheteria, de venda de jogadores, fica para o time. Mas, nesse campo, uma porcentagem da renda dos jogos viria para o Social, afinal, o estádio do Morumbi é patrimônio do clube, não do futebol.
O que me assusta é a ideia que está surgindo. Os responsáveis por esse projeto serão o conselheiro José Francisco Manssur e o sócio Rodrigo Rocha Monteiro de Castro. Ambos escreveram o livro “Futebol, Mercado e Estado” e “Sociedade Anônima do Futebol”, de ótimas ideias, mas plenamente aplicável na Europa, impensável, ainda, no Brasil.
A ideia de criar uma S.A. para o futebol, onde ações seriam colocadas na Bolsa de Valores de São Paulo, os sócios seriam representados pelo Conselho Deliberativo, que teria uma parcela das ações, mas não teria poder de decisão, pois seria o sócio minoritário, me assusta muito. Como seria composto este conselho executivo que administraria a S.A.? Quem poderia ser o presidente? E os demais conselheiros?
Estaria aberto o caminho para Abílio Diniz presidir o São Paulo, já que Leco – e cito seu nome por ser o atual presidente – seria apenas o principal mandatário do clube social. Então Abílio Diniz, o empresário que sempre quis opinar, mas nunca investiu um centavo para ajudar o clube, seja no pagamento de suas dívidas, seja na contratação de jogador, finalmente atingiria seu objetivo para ganhar dinheiro do São Paulo. Sim, porque numa S.A. seria uma blasfêmia imaginar que seu presidente não seria remunerado.
Mas, imaginemos que Abílio Diniz, reconhecidamente são-paulino, abra mão de tal função e não queira participar. Quem poderia ser o presidente? Talvez Andres Sanches, aquele mesmo. Afinal, basta ele comprar um lote imensurável de ações e se tornar o maior acionista. Ou algum sheik árabe, endinheirado, e que viria aqui brincar de mandar num time de futebol.
O que mais me deixa perplexo é ver alguns nomes da oposição defendendo esse quadro. Os que mais gritam contra o que chamam de “desfaçatez” com o novo estatuto, estão prontos para avalizar esse assalto ao São Paulo. E não se empenham em brigar pelo voto direto do sócio patrimonial – e por que não do sócio torcedor -, para presidente do São Paulo. Esses mesmos oposicionistas que deram unanimidade para aprovar o estatuto e me garantiram, em várias conversas, que fariam essa mudança no momento oportuno.
Então vão me perguntar: mas por que você está criticando a oposição, se é a situação quem está dominando? Porque nesse campo, da situação não espero absolutamente nada. O ideal é que as coisas continuem como estão.
Encerrando, que fique muito claro: somos contra a criação da S.A. O São Paulo tem que ser um só. Qualquer coisa que for feita em termos de separação tem que garantir que a presidência será única e que o Conselho Deliberativo, por pior que seja, é o representante legítimo dos sócios, deve ser a voz de quem compõe o quadro associativo e tem que ser do São Paulo Futebol Clube a decisão final em qualquer conselho executivo que venha a ser criado.
Essa é a nossa posição!