Flávio Marques

Gestão do futebol do São Paulo FC é altamente ineficiente – Versão 2020

Continuando a série de análises sobre o desempenho da administração do São Paulo Futebol Clube, neste texto faço a comparação direta da eficiência de aplicação dos recursos no futebol entre o Tricolor e seus principais rivais. Este artigo está baseado no princípio que os times tem como principal métrica no ano o seu desempenho no Campeonato Brasileiro de Futebol. O Campeonato Brasileiro da Série A, que ocupa oito meses do calendário desportivo nacional e serve também como porta de entrada para as Copas internacionais, é reconhecido como a competição mais desgastante, pois exige a dedicação de um elenco numeroso e qualificado ao longo de trinta e oito rodadas. No Brasileirão não há espaço para o acaso ou surpresas. A agremiação que for mais competente na montagem de elenco, administração da equipe, suporte logístico e desempenho esportivo será a campeã no final do ano.

Se consideramos que os Estaduais são hoje eventos de pré-temporada, e que as Copas – do Brasil, Sul Americana e Libertadores – não são disputadas igualmente por todos os times da Série A, então a medida comum para comparar os grandes times do país é sua pontuação obtida no Campeonato Brasileiro. As Copas são importantes, sem dúvida, mas contam na realidade como um bônus para quem as conquistar. Para avaliar a gestão do futebol na administração do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva consideramos o desempenho ao longo do Brasileirão dos últimos quatro anos, de 2016 a 2019, e comparamos apenas os resultados e gastos das equipes que tenham jogado esses quatro anos na Série A e não tenham sido rebaixadas em 2019. Apenas dez equipes atendem esses requisitos.

O quadro abaixo apresenta o valor total gasto por cada clube com futebol nos quatro anos, a somatória dos pontos acumulados ao longo desse período, o cálculo do custo médio em milhões de Reais por ponto conquistado, a classificação das equipes em cada um dos quatro torneios e, novidade, a soma das classificações das dez equipes nos quatro anos compreendidos por este estudo.

Mais uma vez comprovamos que o fracasso do SPFC nas competições ao longo dos últimos quatro anos não é devido à falta de recursos para investir no futebol. Nas últimas quatro temporadas o São Paulo Futebol Clube gastou R$ 1,353 bilhão (um bilhão, trezentos e cinquenta e três milhões de reais) apenas com o seu time de futebol.  Com esse valor investido o melhor resultado esportivo do Tricolor foi um quinto lugar no Campeonato Brasileiro de 2018. A soma de pontos obtidos em quatro anos foi de 228, o que resulta em uma média de R$ 5,9 milhões por ponto conquistado. Não vencemos nenhuma Copa e no Paulista o melhor desempenho foi o vice campeonato de 2019.

Apenas três agremiações gastaram mais do que o Tricolor nesse período. O Palmeiras, com R$ 1,757 bilhão (um bilhão, setecentos e cinquenta e sete milhões de reais), venceu duas das edições do Brasileiro, sendo a pior classificação o terceiro lugar de 2019. Cada ponto Palmeirense custou R$ 5,9 milhões, o mesmo que foi gasto pelo SPFC. Em seguida vem o Flamengo, que gastando R$ 1,509 bilhão venceu a edição 2019 do Brasileirão, ganhou uma Libertadores, dois Estaduais do Rio e chegou a finais da Copa do Brasil e da Sul Americana. Cada ponto do rubro-negro custou R$ 5,2 milhões. Por último o Corinthians, que investiu R$ 1,504 bilhão para vencer o Brasileiro 2017 e ganhar os três últimos Campeonatos Paulistas, além de fazer uma final da Copa do Brasil. Os pontos do Corinthians tiveram custo médio de R$ 6,6 milhões, mas levaram a resultados superiores.

Na sequencia da análise temos Grêmio e Atlético MG. Os gaúchos gastaram 25% a menos que o São Paulo, para somar 8% mais pontos. Cada ponto do Grêmio custou R$ 4,1 milhões, 30% a menos do que os do SPFC, e o time de Porto Alegre obteve classificação superior ao Tricolor Paulista nos quatro anos desta análise. Como bônus o Grêmio conquistou uma Copa do Brasil, uma Libertadores e dois Estaduais do RS. O Atlético MG teve custo médio por ponto muito próximo ao do Grêmio. O Galo Mineiro, gastando 34% a menos do que o São Paulo teve pontuação acumulada muito próxima à do time do Morumbi. Cada ponto do Atlético MG custou R$ 4,0 milhões, e de bônus o Galo venceu um Estadual e chegou a uma final de Copa do Brasil.

Santos e Athlético PR continuam como bons exemplos de eficiência na aplicação de recursos. Cada um deles teve valor médio de R$ 3,2 milhões por ponto conquistado. O Peixe gastou 40% a menos para somar 13% mais pontos que o SPFC, conquistou o Estadual em 2016 e chegou duas vezes como vice campeão Brasileiro. Já o Furacão gastou 45%  a menos que o São Paulo para obter somatória de pontos próxima no Brasileiro (229 x 228). Os Paranaenses focaram nas Copas e em quatro anos conquistaram três Estaduais, uma Copa do Brasil e uma Sul Americana.

O Botafogo tem administrado bem sua condição financeira bastante limitada. Investindo um valor equivalente a um terço do que foi investido pelo São Paulo o time da Estrela Solitária alcançou 90% da pontuação obtida pelo Tricolor, teve custo médio de R$ 2,2 milhões por ponto, e terminou à frente do São Paulo em duas das quatro edições de Campeonato Brasileiro aqui consideradas. Como bônus o Botafogo levantou o campeonato carioca de 2018. O Fluminense gastou a metade do que foi dispendido pelo SPFC, somando 82% dos pontos do São Paulo. Cada ponto do time das Laranjeiras custou R$ 3,7 milhões, e foi o único time que terminou em classificação inferior ao do São Paulo em todos os anos.

O indicador da “Soma de Classificações” tem o objetivo de comparar diretamente o desempenho esportivo entre os times ao longo do período. De forma intuitiva, quanto menor o resultado dessa soma melhor terá sido o desempenho de determinada equipe. Dessa forma vemos que o Palmeiras com uma soma 7 abrir boa vantagem ao segundo e terceiro colocados, respectivamente Flamengo (12) e Santos (17). O Grêmio (21) tem bons resultados no Brasileiro, mesmo com a estratégia de privilegiar as Copas, e está em quarto lugar. Corinthians, irregular, e Athlético PR, crescendo, empatam com uma somatória de 29 cada. O Atlético MG com soma 32 posiciona-se em sétimo, à frente do São Paulo (34) em oitavo. Botafogo, com 39, e Fluminense (53), são as duas únicas equipes deste estudo com desempenho inferior ao do SPFC neste indicador.

A conclusão deste artigo é decepcionante para qualquer São-paulino. Vimos nos parágrafos acima, e nos dados da tabela, que o São Paulo Futebol Clube gastou nos últimos quatro anos uma soma equivalente à dispendida por Palmeiras, Flamengo e Corinthians, mas seu retorno esportivo foi equivalente ou mesmo inferior ao de Atlético MG e Botafogo, equipes de investimento bem inferior.

A recuperação do São Paulo Futebol Clube depende de uma administração austera, que elimine o déficit e equacione o alto endividamento do clube, de uma política de manutenção do elenco atual, utilizando reforços pontuais e aproveitando jovens valores da base, e focando nos torneios onde temos mais chances de vencer mesmo sem ter um grande elenco, caso da Copas. A torcida terá que ajudar tendo paciência com treinadores e jogadores.

Um comentário em “Flávio Marques

  1. Obrigado Paulo Pontes mais uma vez pelo espaço.

    Hoje encerro a série de 4 artigos de estudos sobre o Balanço do SPFC 2019 e a comparação de dados financeiros entre os principais clubes do Brasil.

    Os artigos anteriores seguem disponíveis aqui no Tricolornaweb.

    Aguardo os comentários dos leitores. Divergências de opinião são saudáveis desde que com respeito.

    Ótimo final de semana a todos!

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