Todo ano tem história: São Paulo pode repetir dramas na Sul-Americana

O São Paulo já jogou por sete vezes a Copa Sul-Americana. Ganhou uma, em 2012. Mas conseguiu mais de sete histórias para contar. Em todas as edições, rigorosamente, houve pelo menos um episódio marcante – dramático, para o bem ou para o mal – que fez da competição um pouco inexpressiva algo para ser lembrado nos anos seguintes.

O São Paulo já viu um jogador virar ídolo, outro virar piada e um último protagonizar a maior atuação de uma carreira de 24 anos – Diego Lugano, Luis Fabiano e Rogério Ceni, todos tiveram momentos marcantes na competição em anos em que o clube se marcou pela derrota e não pelo sucesso. Quando venceu, a equipe se marcou por uma final de 45 minutos de duração.

Em 2014, o São Paulo mostra que a Sul-Americana está longe das prioridades. Nesta terça-feira a equipe de Muricy Ramalho, sem Muricy Ramalho, enfrenta o chileno Huachipato no Morumbi, às 20h30, no primeiro jogo das oitavas de final. Vai desfalcada não só do técnico, em repouso, em casa, após quatro dias internado por arritmia cardíaca. Jogará sem Kaká e Paulo Henrique Ganso, por opção, porque quer os astros inteiros para jogar contra o Grêmio, no sábado, pelo Brasileirão – prioridade. Uma competição da qual o clube não briga intensamente para ser vencedor, mas que renderá mais um episódio dramático se seguir o que aconteceu em todos os outros anos.

Guerra de liminares: eliminação em Mogi

Reprodução

O São Paulo não pretendia levar a Copa Sul-Americana de 2013 muito a sério. A equipe lutava contra o rebaixamento numa crise sem precedentes e se recuperava após o retorno de Muricy Ramalho, havia menos de um mês. Entrou na competição diretamente nas oitavas de final, por defender o título do ano anterior. Passou da Universidad Católica (CHI), superou o Atlético Nacional (COL) e encontrou a Ponte Preta na semifinal. Foi então que a diretoria tricolor se empenhou para desqualificar o estádio Moisés Lucarelli, em Campinas – pelo estatuto, a arena não tinha capacidade mínima para a semifinal, mas a maioria dos clubes ignora a questão. Conseguiu, levou a decisão para Mogi Mirim. Mas esqueceu de vencer no Morumbi: 3 a 1 para a Ponte. Depois, o empate no interior levou o adversário à final.

A melhor atuação da carreira de Rogério Ceni

AFP PHOTO/Hector RETAMAL

Pela simbologia, a atuação do capitão Rogério Ceni contra o Liverpool, no Japão, em 2005, ficará para a história como a maior de todas. Foi campeão mundial superando a inferioridade de sua equipe, fazendo defesas que pareciam impossíveis. Indiscutível: a maior. Mas a melhor atuação do goleiro aconteceu no estádio San Carlos Apoquindo, em Santiago, no Chile. Foi contra a Católica, nas oitavas. Foram pelo menos seis defesas brilhantes na vitória por 4 a 3. Depois da partida, jogadores adversários cumprimentaram e elogiaram a atuação do goleiro, então com 40 anos. “De outro planeta”, disse o meia Milovan Mirosevic.

Uma taça em meia final

Paulo Whitaker/Reuters

O São Paulo ganharia na bola, no campo, mas o Tigre (ARG) acabou derrotado nos vestiários. Depois do empate por 0 a 0 no primeiro jogo da final de 2012, na Bombonera, a decisão no Morumbi acabou da forma mais inesperada possível: no intervalo. O São Paulo vencia por 2 a 0 e dominava a partida por completo quando foi decretado o fim do primeiro tempo. O astro do São Paulo, Lucas, que sofrera uma agressão do lateral esquerdo adversário Lucas Orban aproveitou a saída das duas equipes para mostrar ao rival o curativo que tinha no nariz, cheio de sangue. O chavão se fez presente: “cenas lamentáveis”. Desentendimentos entre jogadores foram até os vestiários e, no caso dos argentinos, envolveram seguranças do clube e policiais militares. O Tigre acusou os seguranças são-paulinos de agressão e vice-versa. Os argentinos se recusaram a voltar ao gramado, e a Conmebol resolveu: sem grande apuração, declarou o São Paulo campeão e entregou a taça.

O atrito Rogério Ceni x Ney Franco

Leandro Moraes/UOL

A bomba estouraria oito meses depois, mas o atrito entre Rogério Ceni e Ney Franco veio a público pela primeira vez na Sul-Americana de 2012, antes de o São Paulo se sagrar campeão. O São Paulo empatara com a LDU de Loja no Equador por 1 a 1 e empatava por 0 a 0 no Morumbi. No segundo tempo, o adversário fazia pressão e se classificaria caso vencesse – vantagem era do São Paulo por ter feito gol fora de casa. Foi então que Rogério Ceni gesticulou e berrou de suas traves: pediu a entrada de Cícero para jogar no ataque. Ney Franco mandou Willian José para o aquecimento, chamou o atacante e a troca de gritos entre os dois prosseguiu por alguns momentos. Para a frustração do goleiro, Willian José entrou. O jogo acabou em 0 a 0, mesmo, mas depois do apito final Ney Franco evidenciou o problema: “Ele pediu o Cícero. Eu optei pelo Willian José […] Não aprovo. Acho que é cada um na sua. Cada um fazendo a sua função. Se eu achasse que deveria ser o Cícero, eu colocaria”. Oito meses depois de negarem esse e outros atritos, Rogério Ceni afirmaria que o legado de Ney Franco era “zero” no São Paulo. E o treinador responderia, ao jornal “O Globo”, que o capitão “fritou Ganso”.

Leão volta com eliminação

Moisés Nascimento/AGIF

Ricardo Gomes, Sergio Baresi, Paulo Cesar Carpegiani e Adilson Batista. Pouco mais de dois anos depois de demitir Muricy, o São Paulo contratou Emerson Leão para retornar ao clube – havia deixado a equipe na semifinal da Libertadores de 2005, no ano que viraria histórico para o clube. A equipe estava nas oitavas de final da Copa Sul-Americana de 2011, vencera o Libertad (PAR) por 1 a 0 no Morumbi no primeiro encontro. Leão, então, estreou na decisão da fase: vitória do Libertad por 2 a 0 e uma eliminação como cartão de visitas.

Queda nos pés de Oscar, aos 16 anos

Rubens Cavallari/Folhapress

Oscar hoje é titular da seleção brasileira, craque do Chelsea (ING), mas já foi uma promessa do futebol. Aos 16 anos, em 2008 – um ano antes de entrar em litígio e acionar a Justiça para sair do São Paulo –, o meia jogou num time reserva armado por Muricy Ramalho e errou o pênalti que eliminou a equipe na fase inicial da Copa Sul-Americana, contra o Atlético-PR. A equipe titular teve nomes como Aislan, Éder, Bruno Formigoni, Sergio Motta, Alex Cazumba e Mazola. Na disputa por pênaltis, aos 16, Oscar errou e o São Paulo caiu.

Título para amenizar Libertadores? Nova queda

AFP PHOTO/Mauricio LIMA

Em 2007, Muricy Ramalho levou a Sul-Americana a sério.  Para amenizar a queda na Libertadores, colocou seus titulares para jogar enquanto arrancava de forma implacável no Brasileirão. Eliminou o Boca Juniors (ARG) nas oitavas de final – com grande atuação de Aloísio no Morumbi –, mas perdeu para o Millonarios (COL) nas quartas. A partir desta edição, o São Paulo passou a ver a Sul-Americana como uma competição de nível inferior.

Diego Lugano vira titular absoluto

AP Photo/Dado Galdieri

O técnico do São Paulo era Alexi Stival, mais conhecido como Cuca, no primeiro semestre de 2004. A equipe que daria base ao time campeão do mundo, no entanto, fracassara na Copa Libertadores na semifinal contra o Once Caldas que ficará eternamente na memória de parte da torcida são-paulina. Diego Lugano, que chegara um ano antes, ainda não era titular. Fabão e Rodrigo formavam a dupla. Depois da Libertadores, no primeiro semestre, Cuca duraria poucos meses mais e daria lugar a Emerson Leão. O treinador chegou e implementou o esquema com três zagueiros. Assim, Lugano ganhou vaga entre Rodrigo e Fabão e passou a se destacar. Na Sul-Americana, virou titular absoluto, mesmo na curta campanha, na qual o time superou o São Caetano e parou no Santos.

“Entre brigar e bater o pênalti, eu prefiro ajudar na briga”

AP Photo/Dado Galdieri

O São Paulo vivia em 2003 um período de reformulação. Tentava acabar com uma impotência que já durava quase uma década. A equipe daquele ano mesclava jogadores da seleção brasileira, como Ricardinho, Luis Fabiano e Gustavo Nery, com reforços oriundos da Portuguesa Santista – Souza, Adriano e Rico. No fim do ano, a semifinal da Copa Sul-Americana, contra o River Plate, fazia a torcida novamente sentir o sabor da Libertadores. Depois de perder por 3 a 1 na Argentina, o time comandado pelo chileno Roberto Rojas venceu por 2 a 0 no Morumbi e levou o jogo para os pênaltis. Luis Fabiano, no auge de sua fase intempestiva, estava escalado para uma das cobranças, mas não teve dúvidas ao ver surgir uma confusão entre jogadores dos dois times após o apito final: correu para o meio da briga e aplicou uma voadora que entrou para a história. Foi expulso, não bateu o pênalti e saiu de campo com a seguinte frase: “Entre brigar e bater o pênalti, eu prefiro ajudar na briga”.

FICHA TÉCNICA
SÃO PAULO X HUACHIPATO (CHI)
Local: Morumbi, em São Paulo (SP)
Data: 30 de setembro de 2014, terça-feira
Horário: 20h30 (de Brasília)
Árbitro: Christian Ferreyra (Uruguai)
Assistentes: Mauricio Espinosa e Carlos Changala (Uruguai)
SÃO PAULO: Rogério Ceni; Auro, Paulo Miranda, Edson Silva e Alvaro Pereira (Reinaldo); Denilson, Souza, Boschilia (Alan Kardec) e Michel Bastos; Alexandre Pato e Luis Fabiano.
Técnico: Milton Cruz
HUACHIPATO: Miguel Jiménez; Esteban González, Claudio Muñoz, Omar Merlo e Bryan Vejar; Francisco Arrué, Leonardo Povea, Carlos Espinosa e Martín Rodríguez; Angelo Sagal e Andrés Vilches
Técnico: Mario Salas
Fonte: Uol

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