Macedo se emociona ao falar de Telê e recorda histórias hilariantes

Macedo é o tipo de jogador que virou raridade no Brasil na atualidade. Espontâneo, o talismã do título da Libertadores da América de 1992 tira gargalhadas de qualquer pessoa com cinco minutos de conversa. E, na comemoração de 20 anos do título continental do São Paulo, o prato de histórias é recheado e variado.

Em entrevista exclusiva à GE.Net, o ex-atacante recordou com bom humor a iniciativa em desobedecer a instrução do lendário técnico Telê Santana de manter a cautela na altitude e decidir a vitória do São Paulo contra o San José, na Bolívia, em compromisso ainda da primeira fase da Libertadores-92.

Ao mesmo tempo, demonstrou sensibilidade em admitir a importância do ex-comandante na conquista. A recordação do contato com Telê Santana fez Macedo se emocionar, apesar de ter sido um dos mais cobrados pelo exigente comandante na época em que era jogador.

Por fim, o irreverente ex-atacante saboreou lados distintos da conquista do título: disse ter sido chamado de Deus por torcedores e sofrer o temor de quase ficar sem roupa na comemoração da vitória nos pênaltis contra o Newell´s Old Boys, da Argentina. “A polícia precisou dar borrachadas para os torcedores me soltarem”, revela.

 

Acervo/Gazeta Press

Ex-atacante Macedo foi um dos destaques do São Paulo na disputa da Copa Libertadores de 1992

 

Veja a entrevista exclusiva com o talismã Macedo:

GE.NET – Em 1992, o futebol brasileiro estava em baixa, sem títulos internacionais. Vocês perceberam essa falta de prestígio ao disputar a Libertadores?
MACEDO: A gente sentia sim, acho que nosso País começou a ser valorizado depois que o São Paulo ganhou. Era uma competição que ninguém dava valor, depois viram que era importante, todos ficaram reconhecidos. Aí jogadores também começaram a ser mais valorizados, terem o potencial reconhecido. Naquela época, era diferente, só dois brasileiros participavam. Mas, depois que vencemos, todos perceberam a importância. Naquela época, surgiram jogadores que foram fundamentais, por exemplo, para o Brasil ganhar a Copa de 1994, como o Raí, o Cafu e até o Leonardo (campeão mundial em 1993).

GE.NET – Então você acha que esse título da Libertadores teve influência direta no sucesso da Seleção na Copa dos Estados Unidos? 
MACEDO: Sim, o jogador brasileiro não estava ganhando nada antes, a partir da nossa conquista houve o processo de valorização. Para se ter ideia, nem a TV Globo transmitia a Libertadores, depois é que se interessaram. Acho que foi ali que tudo começou.

GE.NET – Na primeira fase da Libertadores, vocês tiveram compromissos complicados na altitude da Bolívia, nas cidades de Oruro e La Paz. No jogo contra o San José (vitória por 3 a 0), você entrou no segundo tempo, decidiu a partida e caiu na linha de fundo com falta de ar. Você recorda daquela experiência? 
MACEDO: Eu lembro, nós chegamos ao estádio e estava lotado, não esperávamos tanta gente na Bolívia. Chegamos em cima da hora na cidade para evitar os efeitos, pois permanecemos ao nível do mar até momentos antes da partida (em Santa Cruz de la Sierra). Ficamos um pequeno período no hotel em que deixamos até o chuveiro ligado com água quente para respirar o vapor.

Acervo/Gazeta Press

Atacante Macedo lembra curiosidades do título

 

GE.NET – E como foi o contato com o Telê antes da sua entrada no jogo? 
MACEDO: Na hora do jogo, o Telê (Macedo para de falar por alguns segundos e volta com a voz embargada)… olha peço desculpas porque é emocionante lembrar do Telê. Então, ele falou: “Macedo, entra devagar, você está na altitude”. Eu era menino novo e pensei: “Que nada, não vai fazer efeito, vou correr com tudo”. Eu queria vencer, dar o meu melhor. Eu toquei na bola três vezes e fiz jogadas de gols. Na terceira, parecia que tinha uma brasa dentro do meu peito, uma coisa que nunca senti, aí eu caí na linha de fundo. Depois, só ouvi as brincadeiras dos meus companheiros nos vestiários. O Cafu falou: “Vai, herói”.

GE.Net – Alguns de seus companheiros da época contam que você sentiu a altitude até em Santa Cruz de la Sierra. É verdade? 
MACEDO: Rapaz, eu fui a tanto lugar na minha carreira… Essa eu não lembro. Tem coisas que é melhor nem lembrar (risos).

GE.NET – Você também foi vaiado no jogo de volta contra o San José, no Morumbi. Lembra que te chamaram de “veado”?
MACEDO: Ser criticado é normal na vida de jogador. Você precisa tapar o ouvido e pensar que não está escutando o que te falam. O Telê sempre deixava o conselho para nunca brigarmos com torcida. Dentro de campo, poderíamos vencer o adversário na bola, mas nunca venceríamos nada contra a torcida.

GE.Net – Na fase de mata-mata, o São Paulo teve rivais com características distintas (Nacional-URU, Criciúma e Barcelona-EQU). Qual a lembrança daquelas viagens? 
MACEDO: Aquilo tudo era bom demais, faz falta aquele convívio, sempre ficávamos juntos. Lembro que a equipe da TV Gazeta ia com a gente, ficávamos conversando com o Galvão Bueno, ele sempre foi muito legal conosco.

GE.NET – A partir de que momento vocês sentiram que era possível ser campeão? 
MACEDO: Foi depois do jogo na Argentina, na final contra o Newell’s Old Boys , perdemos por 1 a 0, e tínhamos de ganhar por 1 a 0 no Morumbi. Eu pensei: “Tem que ganhar, não pode perder aqui”. Só dependia da gente. Se não ganhássemos, seria falta de competência. Enfrentamos uma grande pressão na ida, campo apertado, juiz, muita torcida, nós precisávamos fazer a diferença dentro de casa.

GE.NET – A rivalidade Brasil x Argentina era pior naquela época?
MACEDO: Eu ainda lembro que entrei em campo no segundo tempo daquele jogo e teve um pênalti que o juiz não deu. A torcida ficava em cima, grudada na tela, era pior que na Vila Belmiro. A pressão, naquela época, era muito pior, a rivalidade, hoje são mais calmos, não batem, a tecnologia está mais avançada, tem câmera de televisão em todo lugar. Em 92, eles pisavam, davam chute, seguravam.

GE.NET – No jogo de volta no Morumbi, você também entrou no segundo tempo. O que o Telê falou para você antes da substituição? 
MACEDO: O Telê disse: “Vai lá garoto, o jogo está truncado, fechado, cai para o lado direito”. Foi o lado que sofri o pênalti, ele mandou jogar aberto e citou que eu deveria entrar na diagonal, explorando a minha principal característica. O Newell´s estava muito fechado, ele sabia que meu forte era entrar por dentro.

GE.NET – Aquele pênalti, muita gente acha que você cavou.
MACEDO: Foi pênalti, sim. O que aconteceu é que o Gamboa puxou a minha camisa, eu fui inteligente, caí. Eu estava desequilibrado, o Telê sempre falava que era para manter a postura. Meu corpo foi pra trás, eu caí. Foi pênalti.

 

Acervo/Gazeta Press

Macedo passou por apuros na comemoração do inédito título da Libertadores em 1992.

 

GE.NET – E naquela comemoração do título, o que aconteceu contigo?
MACEDO: Depois que ganhamos, a torcida invadiu, fiquei só de calção, o problema é que não usava sunga, apenas aquela proteção por baixo. A polícia me ajudou, eu não conseguia sair dali.

GE.NET – Você queria ter guardado algum objeto como camisa ou a chuteira daquele jogo? 
MACEDO: Eu perdi a chuteira, a camiseta, os caras queriam me levar junto (risos). Foi o dia mais emocionante para todos. Eu queria ter ficado com a chuteira que era de trava, da Adidas, caía certinho no meu pé.

GE.NET – Mas o que a polícia fez para te soltar? Precisou dar borrachadas nos torcedores? 
MACEDO: Sim, deu borrachadas neles até soltar. Eles acharam que eu era Deus, e eu respondia: “Não sou”.

Fonte:  Gazeta Esportiva

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