Leco apura contratos “nebulosos” no São Paulo e quer evolução de Doriva

Não há tempo a perder. Carlos Augusto de Barros e Silva, 77 anos, tomou posse como presidente do São Paulo, até abril de 2017, na noite da última terça-feira, após derrotar Newton do Chapéu por 138 votos a 36 – houve 19 em branco. Em três dias, prosseguiu com o trabalho que havia iniciado interinamente, ao assumir o cargo em razão da renúncia de Carlos Miguel Aidar, acusado de corrupção. Ao antecessor, Leco dedica ironias finas e poucas palavras. Tem mais a fazer e a falar para, no verbo que escolheu, reconstruir o Tricolor.

Prestes a contratar a auditoria oferecida – e patrocinada – pelo amigo Abílio Diniz, empresário de sucesso que integra o Conselho Consultivo do clube, o presidente já identificou um legado da gestão anterior. Fazem parte dele contratos, em suas palavras, mal explicados e nebulosos. Alguns terão de ser revistos para que o São Paulo, em meio a uma dívida exorbitante, não se torne inadimplente. Mas, apesar de tudo, o clima é de otimismo.

Leco Presidente do São Paulo (Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo)Leco teve 138 votos contra 36 de Newton do Chapéu na eleição da última terça-feira (Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo)

Visivelmente satisfeito por estar no cargo que ambiciona há tanto tempo – perdeu a eleição em 2000 e se imaginou candidato em 2011 e 2014 –, Leco assegura que o São Paulo tem potencial para se reerguer e recuperar credibilidade. Para isso, vislumbra uma diretoria mais jovem e exige que o clube volte a transmitir uma imagem de seriedade depois de 18 meses marcados por escândalos como a contratação do zagueiro Iago Maidana, o contrato com a namorada do ex-presidente ou a comissão de R$ 18 milhões, valor que o misterioso norte-americano conhecido como Jack abriu mão após a renúncia de Aidar.

Em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com, Leco também falou, é claro, sobre futebol. Admitiu que Doriva ainda não é o técnico que ele imagina ter na equipe, o que, evidentemente, pressiona ou estimula o treinador contratado por Aidar na reta final do Brasileirão. A classificação à Libertadores de 2016 é primordial na visão do presidente, que também comentou as situações de Rogério Ceni, Luis Fabiano, Alexandre Pato, Lugano, entre muitas outras. Veja a entrevista:

Depois de 17 dias no cargo, 14 como interino e três como presidente eleito, quais foram suas primeiras ações para começar a recuperar o São Paulo?
Conhecer o que ainda não conhecia, a realidade mais próxima, cotidiana, as demandas financeiras, questões contratuais. Todo o cuidado que tive ao formar uma nova diretoria, que está praticamente estruturada. Pretendo anunciá-la na semana que vem, faltam detalhes. E resolver os problemas, implantar uma filosofia de trabalho que estabeleça relacionamentos de maior confiança, naturalidade. Buscamos espantar as nuvens negras e ensolarar o São Paulo. É imensa a energia que existe aqui, de todos, e procurarei ser um catalisador dessa energia.

Meses depois de ter sido eleito, o Aidar ainda se dizia surpreso com a situação financeira do clube, alegava que era pior do que ele imaginava durante a campanha…
(interrompe) Talvez porque ele tenha ficado 20 e tantos anos longe do clube, não é?

E você? Ficou surpreso ou chocado com algo que encontrou nesses dias?
Eu até teria razões para dizer que sim, mas é melhor dizer que não. Não era uma surpresa encontrar coisas difíceis, que precisassem ser mais bem analisadas, aprofundadas. No plano financeiro, estou tratando de resolver e atender às demandas claras, naturais, básicas. E sobre tudo que tiver vínculo, origem ou compromisso que não estejam devidamente esclarecidos, estou buscando esclarecimentos.

A auditoria oferecida pelo Abílio Diniz será contratada?
Sim. Foram duas reuniões para contratar a PwC (PricewaterhouseCoopers) sob patrocínio do Abílio Diniz. Essa auditoria vai nos dar um quadro mais real, verdadeiro, imediato. A partir dele, teremos que tomar algumas medidas. Algumas coisas não são bem explicadas, outras são duvidosas e precisam de esclarecimento. Faremos com todo cuidado para que a equipe esteja tranquila para trabalhar e enfrentar seus grandes desafios. Há uma dinâmica que precisamos respeitar e atender sem prejuízo de conhecer essas coisas nebulosas. Há coisas nebulosas.

Relativas a comissões?
Não, são contratos que vamos analisar e talvez tenham que ser revistos. Não por constituírem irregularidades, mas para torná-los possíveis de serem atendidos. Não teremos dinheiro para pagar tudo, então negociamos o que se pode pagar para não ficarmos inadimplentes.

O último dado apontava a dívida do São Paulo em R$ 272 milhões. É com esse número que você trabalha?
Ainda não tenho números precisos, portanto não falarei sobre isso. Quero ver se em um mês, com a auditoria, eu já tenha mais luz e clareza.

O São Paulo tem dinheiro a receber em 2016 ou já adiantou todos os seus contratos, por exemplo com a Under Armour e cotas de televisão?
Muita coisa foi adiantada, mas não tudo. Ainda há valores a receber.

Os salários dos jogadores estão em dia?
O São Paulo está praticamente zerado. Se houver dívidas são momentâneas, há acertos sendo feitos permanentemente.

Qual será o papel do Abílio Diniz em sua gestão? Ainda há quem pense que ele injetará dinheiro no São Paulo?
Não é esse o projeto. O Abílio nos acenou com a ideia de emprestar suas referências, seus relacionamentos e sua expertise de grande empresário para nos ajudar na gestão financeira. Ele já vem fazendo isso há algum tempo, patrocina essa auditoria. Ele será um consultor, um amigo que estará conosco.

Ele também pode ajudar a convencer o mercado de que ainda vale a pena investir no São Paulo?
Certamente, mas isso não parte simplesmente de sua presença ou seu atestado. Muito mais importante, e fundamental, é que o São Paulo passe a ter credibilidade e revele ao mundo que está pacificado com uma gestão voltada para seus interesses, sem questionamentos e dúvidas. Se não houver credibilidade, o Abílio não tem como ajudar.

E você acha que demora para o clube recuperar credibilidade?
Não, acho que são momentos, instantes. Já começamos a recuperar credibilidade a partir do momento em que um presidente que estava sendo questionado deixou de estar. Cada fato pode ajudar. Se o investidor, o empreendedor, o homem que, no mercado, busca associar sua marca a uma instituição com credibilidade, seriedade e resposta, isso acontece a cada momento. São episódios que devem criar o conceito geral de um São Paulo sério como sempre foi.

Você já sabe quem será seu diretor financeiro?
Sei. Chama-se Adilson Alves Martins. Ele é conselheiro, homem com experiência do próprio clube, porque foi adjunto durante muitos anos, e tem história pessoal em sua empresa (Sustentare Ambiental) e toda sua vida de atuação nesse ramo. Outro conselheiro que atuará com ele é o Orlando Rossini Jr.. O Osvaldo (Vieira de Abreu, diretor financeiro das gestões de Marcelo Portugal Gouvêa, Juvenal Juvêncio e Carlos Miguel Aidar), depois de 12 anos de atividades, deixará a diretoria.

Haverá algum diretor remunerado na área financeira?
Não, o único remunerado será o CEO (Alexandre Bourgeois).

Como é sua relação com ele?
Muito boa, institucionalmente estamos muito bem. Não temos relacionamento fora disso. As coisas estão andando, indo bem, ainda estamos fazendo avaliações. Estamos reconstruindo a estrutura do São Paulo. O trabalho vem fluindo.

Leco Doriva São Paulo (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)Leco disse que Doriva ainda não é o técnico que imagina, mas vê chance de evolução (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)

Independentemente dos jogadores que vestirão a camisa, o que você espera do time de futebol do São Paulo daqui pra frente?
Que seja técnico e competitivo. Equilibrado, porque não há time ofensivo que não esteja bem resguardado em sua defesa. Time só ofensivo toma 3 a 0 em 20 minutos. Time bem estruturado em sua defesa e meio-campo, propicia aos atacantes que façam gols. Quanto a ser um time competitivo, não se tolera mais quem não seja.

Concorda que o São Paulo não tem um perfil competitivo há anos?
Depende do ponto de vista. Isso você pode construir numa estrutura, numa montagem maior. Ou você desperta nas pessoas ou permite que sejam menos. Temos toda condição de conseguir isso. E quem não for, não vai se sentir bem e naturalmente terá que se alijar.

Você quer um time técnico e competitivo. Em que lado da balança o Lugano pesa mais?
Competitivo. Isso hoje é uma incógnita porque não se imagina que o Lugano de 2015 seja o de 2005. A última vez que o vi jogando foi pela seleção uruguaia na Copa do Mundo de 2014. Disputou o primeiro jogo e depois não jogou mais – o jogador se lesionou na estreia. Agora, fiquei sabendo que o time dele (Cerro Porteño) subiu com sua presença, e que ele fez quatro gols. Não é fácil imaginar o Lugano fazendo gols (risos). São aquelas bolas que caem na área de qualquer jeito, ele vem e chuta.

Mas as características humanas ou o valor de atleta que o Lugano agregou na sua primeira passagem não devem ter se perdido, não acha?
É de se imaginar que não. Ao contrário, devem ter se aprimorado. Só que a coisa interna, sozinha, não serve para jogar futebol. Se ele vem para jogar futebol, precisa ter também a parte técnica. Senão contratamos o Maguila para vir jogar no São Paulo. Tem de ser uma pessoa com esse conjunto, pode até haver preponderância de um lado ou de outro. O Lugano que a torcida reclama é o que ele simboliza, o amor à camisa, a raça, a dedicação.

Rogério Ceni Leco São Paulo (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)Na visão do presidente, aposentadoria de Ceni vai estimular novas lideranças no time (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)

Num cenário de aposentadoria do Rogério Ceni, o São Paulo precisará de novos líderes? O Lugano também seria um trunfo nesse aspecto?
A saída do Rogério, essa liderança que tomou conta e inibiu outras, pode implicar ou permitir que surjam outras sem o peso dele, um peso pesado ao longo de todo o tempo. Não há nada muito seguro nisso, não acho que essa questão da figura da liderança seja fundamental. Se eu tiver um bom time, competitivo, a liderança surge. O Rodrigo Caio, por exemplo, tem liderança.

De que forma você vê o Rogério Ceni no São Paulo a partir de sua aposentadoria?
O Rogério sempre será uma figura bem-vinda e importante na vida do São Paulo. Não imagino que ele vá se envolver com a vida política ou administrativa porque penso que seu alvo, seu objetivo, seja enveredar por uma carreira de técnico de futebol. E aí ele vai se aprimorar para não ser assistente de time pequeno, mas sim para ser Guardiola, Mourinho, Marcelo Bielsa…

Há chance de o Luis Fabiano renovar contrato e ficar no São Paulo?
Chance há. É uma análise que a diretoria de futebol fará comigo. Não há nada definido.

E o Pato? O São Paulo poderá investir para contratá-lo?
É uma análise muito mais difícil porque exige grande investimento e também uma remuneração problemática em função da realidade dele. Então, vai ser ponderado nesse contexto. Tenha certeza de uma coisa: em tudo, mas especialmente no futebol, eu não agirei de forma a desautorizar ou não ouvir meus diretores. Faremos tudo em conjunto. Ontem, me reuni com o departamento de futebol (o vice Ataíde Gil Guerreiro, o diretor-executivo Gustavo Vieira de Oliveira e o diretor Rubens Moreno), e faremos isso rotineiramente.

Alexandre Pato Santos x São Paulo (Foto: GUILHERME KASTNER/BRAZIL PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)Pato lamenta atuação do São Paulo em derrota para o Santos (Foto: Guilherme Kastner / Brazil Photo Press / Estadão Conteúdo)

Quais são as pautas dessas reuniões?
Avaliar, planejar, discutir, e ter a chance de falar de futebol como se estivéssemos na mesa de um bar. Não é uma delícia isso? (risos)

Você gostaria de ficar com o Pato?
Sim, é um jogador que desperta interesse de qualquer equipe e confirmou no São Paulo que é merecedor disso. Tanto que teve aqui a melhor performance de sua carreira. O Corinthians dá graças a Deus por isso. Nós valorizamos o jogador. Ele gosta do São Paulo e o São Paulo gosta dele, resta saber se poderemos continuar juntos.

Ao escalar aquele time extremamente ofensivo contra o Santos, o Doriva foi elogiosamente ousado ou criticamente ingênuo?
Eu prefiro não fazer esse tipo de comentário porque pode conter uma visão de torcedor que, na boca do presidente, gere interpretações que não sejam as melhores. Ainda que ele possa ter sido infeliz por ter exposto muito a equipe, teve a boa intenção de procurar fazer os gols. Não conseguiu, mas isso certamente lhe serviu de lição e reflexão.

Ele é o técnico que você imagina ter no ano que vem ou o que ele conseguir daqui até o fim do Campeonato Brasileiro será um indício disso?
Ele não é exatamente o que eu imagino ter na equipe, mas pode vir a ser. É uma experiência desafiadora para ele treinar uma equipe desse porte. Ele teve sucesso em suas experiências anteriores, agora numa estrutura como a nossa, tão grandiosa quanto complexa, pode se exigir dele, não que já esteja pronto, mas há uma dinâmica de evolução.

O São Paulo já está renegociando dívidas bancárias?
Ainda não, estou em contato inicial, procurando me aprofundar melhor e já consegui fazer alguns ajustes que podem parecer supérfluos ou de pouca importância. Mas se eu economizar 5 mil aqui, 30 mil ali, isso me dá um grande conforto, e venho conseguindo. Há um universo imenso e se eu puder fazer qualquer ajuste favorável ao São Paulo, me causa muito bem estar.

Há dois anos, quando você iniciou campanha para concorrer à presidência com o Aidar e o Kalil Rocha Abdalla, uma campanha que acabou não prosseguindo, você disse em entrevista ao GloboEsporte.com que o Aidar seria um retrocesso…
(interrompe) Eu não imaginei que fosse tanto. Essa é minha resposta .

Mas, falando em retrocesso, o Fernando Casal de Rey, líder da oposição, disse o seguinte no dia de sua eleição: “Nós somos dinossauros. O São Paulo envelheceu”. Concorda?
Não. Acho que o São Paulo está num processo de rejuvenescimento. É exatamente o contrário. O São Paulo tem, despontando em seus quadros, atuantes, conselheiros e colaboradores, uma gama importante de pessoas jovens e qualificadas, que sabem o que é o São Paulo e estão muito voltadas a ajudar o São Paulo a retomar seu caminho. A configuração jurássica está acabando, se extinguindo, e eu também faço parte disso. Daqui a pouco será hora de o São Paulo ser cuidado por essa nova geração.

Mas, nos últimos 10 anos, não se viu no São Paulo nenhum trabalho para estimular o surgimento de novas lideranças.
Sabe por quê? Porque era um contexto jurássico. E as lideranças acabaram surgindo naturalmente, e não por terem trabalhado para isso.

E é uma preocupação sua trabalhar para isso?
Eu estou trabalhando para isso. É claro. É hora do Roberto Natel (vice-presidente), do Zé Francisco Manssur, do Sadi (dois conselheiros que devem assumir as vice-presidências de comunicação e social), do meu diretor financeiro que é novo, do Marcelo Marcucci Portugal Gouvêa (conselheiro mais novo do clube, de 33 anos, filho do ex-presidente Marcelo Portugal Gouvêa). O São Paulo tem figuras importantes e interessadas a nos animar por um bom futuro.

Como será a participação de figuras da oposição em sua gestão, dentro daquele processo de pacificação que você já citou por mais de uma vez?
Não é muito fácil que se alcance a pacificação do São Paulo porque em pequenos detalhes, momentos ou situações, você percebe nas pessoas atitudes que não identificam esse propósito. Eu, por exemplo, ouvi de pessoas que eu era, indiscutivelmente, o melhor nome, aquele em quem reconheceram qualidade para ser o presidente, mas não votaram em mim. Votaram em alguém em quem não reconheceram nada disso para marcar uma posição de oposição. A oposição construtiva e bem feita é muito importante, mas, às vezes, essa oposição se banaliza, se ridiculariza ao entrar com uma medida judicial que quase impediu a realização da eleição por um motivo fútil, banal e absolutamente infundado, de que eu não deveria ter marcado para um dia e sim para outro. A própria juíza disse que não vislumbrou nenhuma ilegalidade… Para com isso! Isso não é interesse de pacificação, e sim de perturbação. E nos causou intranquilidade, a obrigação de enfrentar procedimentos e custos para resolver um problema. Isso não contribui. Se pudermos rotular, de forma generosa, que é um meio de ser oposição, e que a oposição é positiva, tudo bem. Vamos por aí.

Mas…
(interrompe) E tem outra coisa. Desculpe te interromper, mas não quero ser unanimidade porque, como já disse o Caetano (Veloso, compositor), toda unanimidade é burra. Eu quero ter algumas oposições porque não quero me identificar com algumas pessoas. Você não vai me ver falar com determinadas pessoas com quem não tenho o que falar. Não vou pedir voto por pedir, não sou o político tradicional que faz qualquer coisa para ter um voto. Minha campanha foi singela, eu me coloquei e quem quisesse, me apoiasse. Porque não passei a ser conhecido naquele dia. Eu tenho uma história.

O São Paulo e o Palmeiras já voltaram a se relacionar amigavelmente?
A relação já foi restabelecida. Quando estive, segunda-feira, na Federação Paulista de Futebol, com testemunhos do Modesto Roma Jr. (presidente do Santos), do Reinaldo Carneiro Bastos (presidente da Federação), do vice da FPF e de mais algumas pessoas em volta, ao cumprimentar o Paulo (Nobre, presidente do Palmeiras), disse a ele que, por favor, esquecesse e relevasse qualquer indelicadeza que o São Paulo tivesse cometido em relação ao clube dele, e que nossa relação seria de respeito e cordialidade. E assim será. E nos abraçamos, e está tudo resolvido. Meu São Paulo não terá atitude de hostilidade com nenhum outro clube (relembre aqui as brigas entre Aidar e Paulo Nobre).

Seu São Paulo também vai priorizar o entendimento entre os clubes para que atinjam objetivos maiores em reivindicações, disputas conjuntas?
Isso é minimamente inteligente. Temos que nos matar dentro do campo, fora disso sermos lúcidos e discutirmos o futebol, esse produto fantástico da humanidade, com elevação. Essa coisa de “não vou negociar o jogador porque ele vai pro outro time”, etc. Não será esse meu horizonte, não vou analisar por aí.

Leco presidente (Foto: Nelson Antoine/Frame/Estadão Conteúdo)Leco afirmou que não considera a cobertura essencial para o Morumbi (Foto: Nelson Antoine/Frame/Estadão Conteúdo)

De que forma o presidente do São Paulo vê a formação da Primeira Liga?
Reticente. Ainda não consegui formar opinião por falta de informação. Acho difícil, os movimentos de renovação precisam ter corpo e ser mais abrangentes. Mas, de repente, pode dar certo e me convencer.

O que pensa para o Morumbi? Vai reativar o plano de cobri-lo?
O Morumbi precisa de cuidados permanentes, diários, algo que o Juvenal (Juvêncio, presidente do São Paulo entre 2006 e 2014) fazia admiravelmente. Precisa, é claro, de olhares mais modernos, de identificação com novas exigências de meio ambiente e mobilidade, mas acho que o Morumbi nos atende perfeitamente bem. O que pode ter a mais? Uma cobertura? Ela é relativa. Se houver um grande show ou um grande espetáculo de futebol, o povo toma chuva e não reclama. Não é difícil botar 60 mil pessoas aqui. Estaremos sempre abertos às modernizações, e estou procurando dotar minha diretoria de inteligências capazes de estarem permanentemente voltadas a isso. A cobertura é importante, é um avanço, mas não é fundamental.

O Morumbi já teve inúmeros megaprojetos abandonados pelo tempo. Há algum novo, ou mesmo um velho reativado, ou nada nesse sentido?
Não existe, mas pode vir a existir. Não está descartado.

Que peso terá a Libertadores no planejamento do São Paulo para o ano que vem? Conseguir ou não a classificação interfere muito?
É fundamental, muda muito, representa muito e nós queremos muito. No aspecto anímico, mexe com nossa torcida mais do que com qualquer outra. E há todos os reflexos econômicos, de bilheteria, marketing, premiação e desenvolvimento em geral. É muito importante estar na Libertadores, e vamos lutar historicamente para que isso aconteça agora.

O São Paulo vive situação financeira difícil. Como será o processo de convencimento aos jogadores que o clube desejar contratar? Eles serão inseridos num processo de reconstrução do clube? Há algo nesse sentido para apresentar a eles?
Acho que isso não está intimamente associado ao jogador. Historicamente, ele sabe o que significa jogar no São Paulo, em todos os aspectos. Participando de uma reconstrução e alcançando o resultado vitorioso que esperamos, é claro que ele ficará marcado, como outros ficaram. Nós vamos valorizar e enfatizar esse aspecto, e restabelecer com o jogador a ideia e o sentimento de que jogar no São Paulo é algo que dignifica, valoriza, e é muito bom. Porque somos corretos na nossa conduta e valorizamos quem veste nossa camisa.

Ao estar na presidência, você se sente no lugar em que deveria ocupar há quatro anos?
Não sei (risos). Acho que a cada dia me sinto melhor, mais aparelhado e experiente porque não sou fechado. Aprendo a cada dia. É um raciocínio, um sentimento muito claro. Acho que não estou melhor do que há seis anos, estou melhor hoje do que ontem, e espero que o São Paulo me faça sentir cada vez melhor.

Para terminar, por que Leco?
A mamãe jamais proferiu esse nome (risos). Sempre fui Carlos Augusto para ela, e passei a vida pesquisando porque Leco, se não tem nada a ver com meu nome. Num processo de profunda introspecção, uma verdadeira catarse, fui buscar nos meus mais tenros anos, quando eu tinha três ou quatro anos de idade, a razão, e imagino ser essa. Para mim é. Eu morava numa casa e era vizinho de um menininho dois anos mais velho, com quem eu brincava. Ele era meu ídolo. E o apelido dele era Leco. Eu passei a dizer que eu era o Leco. Nunca mais vi ou soube dele, não sei nem o nome dele, nada. Mas roubei o apelido dele.

Fonte: Globo Esporte

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