Ceni explica ausência no time: ‘Seria muito egoísmo meu estar em campo’

Rogério Ceni tentou. Treinou forte na quarta-feira, diminuiu o ritmo no dia seguinte, mas sentiu novamente o tornozelo direito. Neste sábado esboçou volta frustrada aos treinos, ainda que tenha marcado até gol no rachão da manhã no CT da Barra Funda. De tarde, juntou-se a todo elenco (incluindo lesionados como Breno e Luis Fabiano) e partiu para Goiânia ser mero espectador no confronto com o Goiás no Serra Dourada e para não ser injusto com seus reservas, agora sucessores com sua aposentadoria.

– Joguei o rachão, meio ali parado, com o pessoal, mas sem condição nenhuma de jogo. Fiz gol (risos), mas perdemos. Seria muito egoísmo da minha parte tomar uma decisão de estar em campo sem ter o mínimo de condição e sem poder oferecer o que o Denis e o Renan podem oferecer. Darei um incentivo moral, aquela palavra, para que todos eles possam fazer o resultado e para que tenham um futuro importante – explicou, na chegada à capital goiana na noite deste sábado.

Fora da partida decisiva para o São Paulo chegar à Libertadores, Ceni agora só pode lamentar. Seu último jogo foi em 28 de outubro, quando o Tricolor caiu para o Santos na Copa do Brasil. No primeiro minuto do clássico na Vila Belmiro, uma dividida com Lucas Lima rompeu o ligamento tíbio-fibular de seu tornozelo direito. E o Mito confessa: a ausência o fez chorar muito.

– Já chorei bastante. Foram dias sozinho, passando horas tratando no CT. Tendo que começar a arrumar as coisas no meu quarto, aliás, onde concentro há 22. Mas é parte da vida, tudo tem um começo, meio e fim. Como atleta esse fim chega amanhã (hoje), mas tenho mais do que tudo agradecer. Não é todo atleta que consegue chegar a quase 43 anos jogando em um clube como é o São Paulo. Fico muito por o que a vida me propiciou – destacou.

No Castro’s Park Hotel, Ceni viverá sua última noite de concentração da carreira como atleta. Para fazer o momento durar mais tempo, admitiu, atendeu a todos os jornalistas com calma e fez o mesmo com cada fã presente no local. Distribuiu autógrafos, recebeu cartas e posou para fotos. Durante a noite, sabe que Alan Kardec já deixará tudo pronto para a última rodada de carteado de 25 anos de história no futebol.

Confira outros trechos da entrevista coletiva de Rogério Ceni em Goiânia:

Qual o sentimento por já ter acabado a carreira?
Eu fico feliz por tudo que pude passar na minha carreira, por trabalhar por tanto tempo. Deus me permitiu ter saúde para isso. E um pouco triste pelo fato de não ter condições reais para jogar nesse finalzinho . Me sinto parte disso e gostaria de ver esse time jogando uma Libertadores. Eu tento relevar numa boa, a ficha vai acabar caindo depois de sexta-feira (dia 11, em sua despedida), de fato meu último momento no Morumbi. Agora a gente ainda tem o jogo, essa é minha última viagem, última concentração. FIz questão de vir, e todos os caras que estão no Reffis também fizeram, para reunirmos energias especiais.

Como analisa sua última temporada?
Um ano com mais lesões do que o normal, relativamente compreensível pela idade. Sofri muito para estar em campo, como aquele 3 a 0 no Ceará, no último do último da minha condição. Era um momento importante, assim como hoje também é. Tomei as mesmas injeções, todo o tratamento que precisei fazer, dois períodos todos os dias. Entro 8h30 no CT e saio 16h30, 17h. Mas fico 30 dias sem treinar, para alguém de 42 anos… O problema é que para o lado direito eu não consigo, não tem a força do tornozelo.

O que fica de sentimento para a torcida?
Eu só tenho a agradecer o carinho do torcedor são-paulino. Agradecer esse clube para o resto da minha vida. Esse clube mudou a minha vida, pra mim o São Paulo está acima de qualquer outra coisa. “Ah, mas teve problema…”, você ter problema com uma ou outra determinada pessoa ao longo de 25 anos, isso é completamente natural. Mas a instituição jamais será esquecida, meu coração para sempre estará aqui.

Como foi definido que viajaria com o grupo?
Eu disse que eu viria, aí o Luiz Eduardo, Breno, que estavam tratando comigo todos os dias falaram: “será que dá para a gente ir?”. E aí a gente viu, o Milton (Cruz, interino) foi muito importante nisso, e viemos completos. Em 27 caras, exceto o Léo que está com caxumba (e João Paulo, com fratura na perna direita), mas todos os outros jogadores estão aqui.

Quando viu que não jogaria mais?
Na minha cabeça, na sexta-feira, porque não consegui treinar. Eu precisava da força para conseguir treinar, não podia ficar 32 dias fazendo só transport, bicicleta, fortalecimento. É muito diferente de ter ritmo de treino. Quando treinei na quarta senti bastante dor, mas você sempre tem esperança. Na quinta amanheceu pior, e na sexta foi quando eu disse: “Eu prefiro ficar porque hoje se eu for para o treino eu não aguento no sábado, e não vou ter uma melhora em 48 horas”. Aí hoje, de novo, fiz bota, fui para o campo, mas quando pisei no gramado eu vi que não ia ter condições de jogar. Agora é aproveitar essa última viagem. Depois tentar me preparar para não passar vergonha na sexta-feira, no jogo da minha despedida, porque vou jogar só com craque, só com fera, então eu quero tratar mais nesses cinco dias para chegar bem.

Como será sua preleção?
A palavra é de todos, é que parece que sempre esperam a minha. Todos se manifestam, naquela hora que a gente fecha para subir. O que eles vão colher no jogo de amanhã (domingo) é a previsão do futuro para o próximo ano. É jogar uma Libertadores em um primeiro semestre que só tem Campeonato Paulista, uma diferença absurda para a carreira de um jogador, que muda o rumo também em contratações. O que eles fizerem é o benefício que vão trazer para si e para o torcedor em 2016.

Sair do time nesta reta final de temporada foi uma frustração?
Me corta o coração. Se for olhar os últimos 30 dias, você fica revoltado com a situação em que você se colocou, mas se você olhar os últimos 25 anos, você agradece a Deus todos os dias por ter levado tudo. Uma pena que tive aquela lesão com um minuto de jogo, não pude nem aproveitar aquele jogo de 28 de outubro. O destino é algo que foge ao nosso controle. A minha contribuição que posso fazer estou tentando, quero que se concretize com um empate ou uma vitória amanhã (domingo).

Qual seu futuro no clube?
Não tenho futuro definido. A partir de 15 de dezembro, quando acabam compromissos dentro e fora do São Paulo, descansar 30 ou 40 dias. Depois tenho muitas possibilidades, mas nada definido. Vou usar esses dias para tomar uma direção a partir de 1º de fevereiro. No São Paulo, como torcedor, vão me ver no Morumbi, certamente. Principalmente se classificar pra Libertadores, pode ter certeza que estarei como mais um torcedor. Alguma relação profissional? A princípio, a carreira precisa ter um ponto final para, quem sabe no futuro, ter alguma outra relação diferente. Mas se faz necessário um ponto final.

Vai fazer estágio com o Juan Carlos Osorio no México?
Não fui convidado. Eu falei com ele (risos). Disse: “Profe, quando for pra seleção mexicana, quero observar de peto”. Já tinha falado com o Jurgen Klinsmann, quando esteve com a seleção dos Estados Unidos aqui no Brasil, que queria acompanhar o trabalho dele depois de encerrar a carreira. Já tinha falado com o Osorio pessoalmente que gostaria de acompanhar o trabalho e ele disse que as portas estariam abertas.

Como define seu ciclo de vida de 25 anos no São Paulo?
Como goleiro, vejo um ciclo que ajudou muito no crescimento em alguns detalhes. Há 20 anos, reposição de bola, jogar com os pés, que é característica de todos goleiros hoje no futebol brasileiro, não exisitia. Sinto que pude iniciar algumas coisas na frente. Hoje os goleiros atingiram nível bom. Na maioria dos times o goleiro é o primeiro armador dos times. Como atleta, fiz meu melhor. Deito todo dia tranquilo. Acertei, errei, perdi, ganhei, fiquei feliz, triste, respondi boas perguntas, algumas vezes dei resposta que não deveriam ser dadas, mas fui o melhor comigo mesmo. Fui o melhor profissional que pude ser. Tenho consciência tranquila que trabalhei o máximo pelo São Paulo e o mais profissional possível para ser respeitado pelos outros.

Fonte: Lance

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