Sonho, traição e tristeza: como Leco foi do isolamento à presidência do SP

Quem encontrou Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, no início da madrugada de 17 de abril de 2014 viu um homem entristecido mesmo tendo acabado de ser eleito presidente do conselho deliberativo do São Paulo. Sete meses antes daquele dia ele foi traído por Juvenal Juvêncio, a quem durante toda vida política foi fiel e do qual havia sido vice-presidente nos últimos oito anos. Leco, que durante tanto tempo sonhou ser presidente, viu naquela mesma noite Carlos Miguel Aidar tomar seu posto. Desde então, o agora presidente do São Paulo trilhou caminhada do isolamento completo até a derrocada de Aidar, que renunciou nesta terça-feira (13).

Leco sempre sonhou com a presidência. Há muitos anos era vista como natural a passagem de bastão de Juvenal Juvêncio para ele, quando a hora chegasse. Custou a chegar, porém. Juvenal, primeiro, conseguiu aprovar mudança de estatuto que aumentou de dois para três anos o mandato presidencial. Depois, em 2011, usou de interpretação até hoje contestada para justificar uma segunda reeleição. A espera de quatro anos de Leco passou para oito anos.

Em agosto de 2013 era certo e definido que Leco seria candidato. A oposição crescia, no entanto, e fez Juvenal Juvêncio temer que seu candidato perdesse a eleição. Sem comunicar Leco, resgatou Carlos Miguel Aidar, que há anos estava totalmente afastado da política do clube, para ganhar a eleição. Em reunião da base aliada no dia 9 de setembro de 2013, Leco viu a pessoa que apoiou por oito anos traí-lo. Rachou na hora, e saiu dizendo que mantinha a candidatura à presidência, mesmo que sem nenhum apoio.

Quarenta dias depois Leco voltou triste e declarou apoio a Aidar, desistindo de sua candidatura e sem esconder frustração pela traição. Durante as definições da campanha, ficou fora da divisão de cargos da diretoria e conseguiu a chance de concorrer à presidência do conselho deliberativo. Foi eleito, como esperado, e precisou recomeçar do zero a reconstruir pilares de sustentação política.

Em dezembro de 2014, oito meses após a eleição, Leco exigiu que Aidar apresentasse para análise do conselho deliberativo o contrato fechado entre São Paulo e a TML, empresa de Cinira Maturana da Silva, namorada do presidente. O documento previa que a TML recebesse comissão de até 20% de qualquer negócio que conseguisse para o clube. Na época, o São Paulo negociava com a Puma para fornecimento de material esportivo e houve tentativa – mal sucedida – de comissionar a empresa. Começava a guerra de Leco contra Aidar.

Meses depois, o São Paulo fechou contrato com a Under Armour. No encerramento do negócio, uma empresa da qual quase ninguém havia ouvido falar apareceu como intermediária,  com direito a receber R$ 18 milhões do contrato: a Far East Global, sediada em Hong Kong, de propriedade do norte-americano Jack Banafsheha, conhecido do ex-vice-presidente de marketing Douglas Schwartzmann. Leco levou o contrato ao conselho e conseguiu barrar a aprovação. Até hoje Banafsheha e a Far East não receberam um centavo dos R$ 18 milhões.

As brigas compradas por Leco no conselho deliberativo fizeram eco, ganharam apoio de conselheiros, de membros da própria gestão Aidar e também do empresário Abilio Diniz, membro do conselho consultivo do clube. Diniz viraria peça importante. O São Paulo passava por delicada crise financeira, havia atrasado pagamentos aos jogadores nos últimos quatro meses e via o elenco se desmanchar para aliviar os problemas. Leco, então, convidou Diniz para discursar no conselho deliberativo. Aidar aceitou a ideia e estendeu o convite. Diniz falou sobre a necessidade de profissionalizar o clube para conseguir renegociar a dívida e apresentou uma sugestão de organograma, com menos poder para o presidente e criação de um conselho de administração, como numa grande empresa. O empresário foi aplaudido de pé pelos conselheiros, e Aidar viu nascer um problema.

Durante todo esse processo, houve esforço do conselho deliberativo na apuração de denúncias contra a gestão Aidar que não conseguiram ser provadas. Na semana passada, porém, a briga com Ataíde Gil Guerreiro desencadeou o processo de queda do governo. Parte da diretoria entregou os cargos, e desde então a cada hora Aidar estava mais isolado. Na quinta-feira, o UOL Esporte revelou que Gil Guerreiro enviara e-mail ao então presidente no qual indicava que houve desvio de dinheiro e lesão aos cofres do clube e afirmava ter uma gravação na qual Aidar descrevia como desviaria comissão na contratação de um jogador da Portuguesa, além da tentativa de comissionar a empresa da namorada no contrato com a Under Armour.

Aidar anunciou a renúncia no domingo. Leco, desde a noite de terça-feira, é o presidente do São Paulo. Como presidente do conselho deliberativo, tem até 30 dias para convocar a eleição, e poderá fazer o pleito já na semana que vem. Nos últimos dias, enquanto aguardava a antecipada queda de Aidar, fez política. Leco quer e será candidato à presidência para governar até abril de 2017, quando se encerraria o mandato de Aidar, o mesmo que seria dele se Juvenal Juvêncio não o tivesse tirado do pleito. Leco, hoje, é favorito na eleição que acontecerá nas próximas semanas e já tem o apoio de figuras importantes.

 

Fonte: Uol

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