Pato no Palestra lembra Sérgio de gritos para bater falta e tijolada

A volta de Alexandre Pato ao Palestra Itália, local em que estreou como profissional aos 17 anos com atuação de gala diante do Palmeiras, faz Sérgio rir e também lamentar quando lembrado daquele jogo de 2006. O agora ex-goleiro entrou em campo no começo do primeiro tempo, quando o Internacional já tinha dois gols de vantagem, e não foi o maior responsável pelo 4 a 1, mas teve o vidro do carro quebrado por um tijolo arremessado na saída do estádio.

A parte – hoje em dia – engraçada do episódio foi nos minutos finais do segundo tempo. Em duas faltas a favor do Palmeiras, torcedores gritaram seu nome, pedindo que, em vez de Paulo Baier, fosse ele o cobrador. “A torcida gostava”, diverte-se, ao recordar que havia batido uma falta no Campeonato Paulista do ano anterior, em partida contra o Guarani, também no Palestra. “Era o Jean o goleiro. Eu bati bem. A bola bateu na cabeça de um jogador e saiu para escanteio. Mas, se passa, ia na gaveta”.

Naquela situação vexatória frente ao Internacional, porém, era impensável ir até o campo de ataque e assumir a cobrança. A derrota só não manteve o risco de nova queda à segunda divisão nacional por conta de outros resultados na rodada. Sérgio até foi repreendido por se virar à arquibancada com um sorriso tímido em meio aos pedidos, pois parte da torcida entendeu seu constrangimento como graça. Além disso, o treinador era Jair Picerni, o mesmo que não o deixou cobrar faltas três anos antes, durante a campanha da Série B do Brasileiro.

Em 2003, na primeira passagem de Picerni pelo clube, Sérgio começou a ensaiar cobranças antes dos treinos, ao lado do volante Correa. Em setembro, marcou seu primeiro gol em um jogo. Um jogo-treino, na verdade, contra a Inter de Limeira, na Academia de Futebol. “Foi marcada uma falta. O Muñoz, o Pedrinho e o Correa bateram e não fizeram. Eu estava batendo melhor do que os caras no treino. Quando saiu outra no mesmo lugar, levantei a mão e pedi autorização ao Fred (Smania, auxiliar técnico). Ele falou que eu poderia ir. Os titulares estavam em volta do gramado. Vágner Love, Marcos… Ficou aquela expectativa. Se eu errasse, estaria ferrado, iriam me cozinhar. Bati na gaveta. Foi só alegria, parecia que eu tinha ganhado um título”, lembra, rindo.

A festa do “título” teve participação dos titulares, que invadiram o campo e se amontoaram sobre o reserva. O amistoso terminou empatado, mas o gol de falta gerou grande repercussão na época e uma inevitável comparação com o goleiro-artilheiro do rival São Paulo. “Perguntavam se estava surgindo um novo Rogério Ceni”, conta o ídolo palmeirense. No jogo seguinte, contra o Marília, Marcos seria desfalque por ter sido convocado para a Seleção Brasileira, e Picerni tratou de pôr fim ao que considerava oba-oba da imprensa em torno de Sérgio. “Ele achou que era empolgação, disse que eu tinha meu lugar, que eu estava brincando nos treinos e que o time já tinha batedores. Fiquei na minha”.

Djalma Vassão/Gazeta Press

Jair Picerni era o técnico tanto na ocasião (2006) quanto em 2003, quando Sérgio fez gol de falta em jogo-treino

Passados três anos, Sérgio estava na reserva de Diego Cavalieri na penúltima rodada do Brasileiro e viu do banco os primeiros momentos da partida contra o Internacional. Até que o titular se machucou, com o adversário tendo já dois gols de vantagem – o primeiro deles marcado por Pato, em seu primeiro toque na bola, a um minuto de jogo. “Entrei em uma fogueira danada naquele dia. Com o Pato daquele jeito, metendo gol, e depois de o Diego ter torcido o tornozelo. Eu vinha de cirurgia, entrei mesmo assim e não tive culpa nos outros dois gols, essa é a verdade”, defende-se o ex-goleiro, certo de que não foi reconhecido pelo torcedor que horas depois lançou um tijolo em direção a seu carro, na Avenida Francisco Matarazzo.

“Eu tinha uma Hilux (caminhonete da Toyota) com insulfilme. Estava com minha filha, minha esposa e meu cunhado. Esperei um pouco, porque a torcida estava xingando do lado de fora. Saí quando achei que estava tranquilo, mas veio um torcedor dos lados do (shopping) West Plaza com um tijolo na mão e deduziu que era carro de jogador. Ele mirou e jogou. Eu tentei desviar, acabou pegando entre a lataria e o vidro. Gastei uma grana, tive que trocar o vidro”, lamenta. “Por sorte, tinha uma película antifurto que protegeu, senão poderia ter machucado minha família. Eu fiquei louco, transtornado, mas foi só um torcedor isolado. E não foi direcionado a mim, porque nunca tive esse tipo de abordagem por parte de torcedores do Palmeiras. Já chegaram a me cobrar, mas sem agressão, porque sempre tive reconhecimento”.

Desde o dia em que balançou a rede como profissional pela primeira vez e participou de outros dois gols do Internacional, Pato não mais jogou no Palestra Itália. Primeiramente, porque na temporada seguinte se transferiu para o Milan, onde ficou até o fim de 2012. Por Corinthians e São Paulo, enfrentou o Palmeiras apenas em outros palcos, já que o estádio alviverde foi reaberto em novembro passado, após reforma de mais de quatro anos. Às 22 horas (de Brasília) desta quarta-feira, o atacante volta ao local, desta vez para encarar Fernando Prass. “Tem que se preocupar não só com ele, mas principalmente com o Rogério Ceni”, aconselha Sérgio, que já foi vítima, mas também é fã do maior goleiro batedor de faltas da história.

 

Fonte: Gazeta Esportiva

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