Para Juvenal, “Aidar não tem a menor noção”

O presidente Juvenal Juvêncio, nascido em 25 de fevereiro de algum ano da década de 30 em Santa Rosa de Viterbo, todos conhecem: palavra e braço fortes, sem medo de desagradar, quase sempre com sotaque assertivo que nada tem a ver com as origens no interior de São Paulo. O ex-presidente Juvenal Juvêncio, nascido em 16 de abril de 2014 na capital paulista, precisamente no salão nobre da sede do São Paulo Futebol Clube, é totalmente desconhecido. Faz cinco meses, desde o dia em que viu Carlos Miguel Aidar ser eleito seu sucessor, que Juvenal Juvêncio não fala com qualquer veículo de imprensa. Nesta quinta-feira, dia seguinte à publicação da entrevista na qual Aidar o detona, à “Folha de S. Paulo”, Juvenal atendeu o UOL Esporte para falar sobre o que leu e o que pensa. Mas o novo Juvenal Juvêncio, diferente de sua versão presidente, mede palavras e admite o cuidado.

Juvenal Juvêncio se aborreceu profundamente com as palavras de Carlos Miguel Aidar. A surpresa, no entanto, não foi grande como ele mesmo descreveu em carta enviada à imprensa na noite de quarta-feira. O ex-presidente admite que o comunicado oficial não tem suas palavras e que seria mais incisivo, enfático – como sempre foi Juvenal Juvêncio –, caso tivesse escrito a carta do próprio punho. Mas foi assessorado por conselheiros, amigos e familiares que passaram o dia em sua casa preparando as duas respostas: na carta, em tom suave, e na política do São Paulo, que não deverá ser tão suave assim.

O discurso do ex-presidente Juvenal Juvêncio, visto pela primeira vez agora, é ameno. Em diversos momentos da conversa, demonstrou cuidado para escolher palavras – algo absolutamente incomum para quem se acostumou a ouvir o ex-presidente. Por três vezes disse que “este é um momento de sacrifício, pelo bem da instituição”. Tudo, também, com a boa dose de cálculo que lhe é peculiar. Juvenal consegue mostrar muito do que está pensando mesmo omitindo opiniões mais fortes. Nas palavras, pelo menos, Juvenal crê que Aidar não terá como tirá-lo do cargo de diretor do futebol de base à força. O ex-presidente diz acreditar que seu sucessor irá repensar tudo o que disse e da maneira que disse. Enquanto isso, revida pouco. Sobre a forma como Aidar mexe as peças no cenário político do clube, Juvenal bate: “Ele não tem a menor noção do que seja isso. É a mesma coisa que dar um boeing para ele dirigir. Vai cair…”.

Cinco meses de silêncio

“Fiz questão de não dar nenhuma declaração, não atendi durante cinco meses nenhum jornalista.Sou uma pessoa forte, e essa pessoa forte poderia inibir o novo presidente. Dei um tempo, não entrei em bravatas, não respondia provocações e etc.. Agora é minha vez de falar”

Reunião com aliados: resposta suave

“Que eu não fui eu na nota, é verdade. Meu negócio é mais forte, por natureza. A nota foi muito mais suave. Mas é um sacrifício pela instituição. Eu fui surpreendido, muito surpreendido, com as declarações do Carlos Miguel. Ontem recebi muita gente na minha casa, eles saíram daqui à 1h da manhã. E eu não tenho resposta. Por que isso? Eu ia dar uma entrevista coletiva, mas fui impedido pelos companheiros. Dissemos: ‘Vamos fazer uma nota, suave, para dizer isso e aquilo’, e fizemos isso. Eu não gostei, mas eu resolvi fazer um sacrifício pela instituição. Isso não entrou na nota porque eu precisaria ser eu mesmo, fazer um comentário mais forte, ser mais profundo”

Mexeu com o brio”

Mexeu com o brio. Muita gente me ligou, prestou solidariedade, perguntaram: “Mas o que é isso?” Eles estão alvoroçados. Tenho impressão que ele [Aidar] vai repensar. A gente faz um sacrifício.

Ele não tem a menor noção”

“Precisa ter muito cuidado agora para saber para onde esse barco vai. O Carlos Miguel esteve completamente ausente do clube por 24 anos, no escritório dele, na Avenida Paulista, com 150 advogados… Completamente fora, sem participar, sem vibrar com isso, sem conhecer as pessoas. Mas foi buscado, eu trouxe. Agora, você quer saber?, ele está falando com gente da oposição. Ele está conversando. Virou uma barganha. Ele não tem a menor noção do que seja isso, é a mesma coisa que dar um boeing para ele dirigir. Vai cair…”

Não pode” dizer que se arrepende por escolher Aidar

“Não posso falar que me arrependo, senão fica mal. Eu quero ter uma posição positiva, acreditar que houve um problema de equívoco. Nesse instante a gente tem que ter mais alto a instituição”

Acha que Aidar vai repensar o que disse

“Não falei com ele. Como quero dar naturalidade a isso, não preciso falar com ele. Eu acho que ele vai ter agora um senso e vai repensar. Ele tem feito tudo nesses cinco meses, tudo, sem nenhum contraponto. Tudo certinho… com sorrisos. E na vida não é assim. Essa, agora, não é de sorrisos”

Dívida não representa dificuldade

“O São Paulo é a melhor situação que tem no Brasil entre todos os clubes. Os clubes no Brasil estão quebrados, Corinthians devendo R$ 1 bilhão. Fui a uma reunião com clubes, clubes do Rio de aneiro, todos eles falaram isso. O São Paulo tem uma situação zero de dívida fiscal. Ele [Aidar] já vendeu dois jogadores, já amenizou o que tínhamos feito de umadiantamento de R$ 50 milhões de um contrato de R$ 340 milhões com a Globo. E ele foi lá e comprou o Alan Kardec por R$ 20 milhões, comprou o jogador à vista! Qual clube quebrado que tem R$ 20 milhões no caixa?”

Futebol: “É tudo a mesma coisa”

“Último ano teve uma campanha bonita, mas uma campanha difícil. Sem títulos, sem expectativa e sem esperança. O time não vencia, fizemos um esforço bruto, tentativas infrutíferas. Foi feito com cuidado e não funcionou. Mas nós fizemos. […] Ele foi lá, trouxe o Kaká, o jogador veio, jogou bem, deu sorte… Ótimo, o São Paulo só ganha com isso. Mas de resto não aconteceu mais nada. Não mudou mais nada. É tudo como estava. Técnico, comissão técnica, Reffis, estrutura, é tudo a mesma coisa”

Saúde: melhor há dois meses

“Eu não estava bem de saúde na época da campanha [abril], tive problemas grandes. Eu me recordo, por exemplo: uma das coisas que mais gosto é de participar do processo de apuração na eleição do clube. Acho aquilo contagiante, todo mundo gritando. Nessa eleição fiquei no palco lá em cima, onde estavam os dirigentes, falava com um, com outro, não desci, não fiz boca de urna. Isso, no instante exato em que o microfone anunciou que acabou o processo de votação, eu desci, saí por um desvão, peguei o carro e fui embora. Fui dormir. Sequer sabia o resultado do processo. Não fiquei para a apuração. Foi um esforço muito grande”

 

Fonte: Uol

Um comentário em “Para Juvenal, “Aidar não tem a menor noção”

  1. Após a morte de Marcelo Portugal Golveia, que era além de um cara inteligentíssimo um líder equilibrado, a gestão do JJ passou a ser um desastre. Porque quem controlava o dinheiro e o vai e vem do futebol e era o Marcelo ao lado do Marco Aurélio Cunha. JJ sempre foi um fanfarrão futebolístico. Em 1988-90 formou o pior São Paulo de todos os tempos, com uma situação financeira deplorável e com o time a beira da segunda divisão. Sozinho, não ganhou nada, se cercou de gente como ele, menos profissional, adotou uma postura de clube dos anos 70, perdeu a oportunidade de reforma do estádio e de novo deixou o time a beira da segunda divisão. Sempre achei que esta figura estava exterminada pelo péssimo trabalho feito nos anos 90, mas ele ressurgiu não por competência própria, mas sim, nas cotas do Marcelo. Sozinho, ele é isto aí…

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