“Ninguém quer ser rebaixado e ficar marcado na história”, diz Rodrigo Caio

O São Paulo sonhou com o tetra da Libertadores, caiu nas oitavas de final da Copa do Brasil e agora luta para fugir da zona de rebaixamento do Brasileirão. Emoções distintas e vividas à flor da pele por Rodrigo Caio, criado nas categorias de base e destaque individual do time em meio à má fase coletiva.

Com 188 jogos pelo São Paulo, Rodrigo Caio só perde para o ídolo Lugano (200) em número de partidas no elenco. Calejado aos 23 anos, o campeão olímpico com a seleção na Rio-2016 sabe bem o que representaria um rebaixamento inédito na história do Tricolor.

O time tem quatro pontos de vantagem para o Z-4, situação que obriga cada jogador a se aplicar e treinar mais, na opinião do jogador.

Prestes a encarar o vice-líder Flamengo, sábado, no Morumbi, Rodrigo Caio concedeu entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com. Ele falou os motivos que o fazem crer a partir de agora em uma reviravolta da equipe, cobrou mais aplicação geral e pediu apoio da torcida.

– Estamos no mesmo barco. Se afundar, vão afundar todos juntos.

GloboEsporte.com: Queria primeiro saber uma curiosidade: você costuma levar a pior em divididas e quase sempre recebe atendimento médico nos jogos. Por quê?
Rodrigo Caio:
– Entro muito forte nas jogadas. Desde moleque sou assim. Bato a cabeça, machuco a boca… é sempre assim. Pela minha posição é normal ter uns combates agressivos. Agora estou procurando me prevenir. Coloquei uma proteção na boca para não cortar e quebrar dente. Eu subo muito de cabeça e não me protejo. Tenho dificuldade nisso. Às vezes, por conseguir subir bastante, acho que não vou bater no outro jogador. Mas na queda há o contato e acabo me machucando. Agora jogo com uma proteção. Fiz uma vez quando tive uma fratura na face, passei por um especialista e usei dois jogos. Mas é complicado, porque não é confortável.Depois do que aconteceu com Palmeiras, fiz uma nova proteção na Seleção e agora uso.

Por que você tem se destacado individualmente, mesmo em meio à má fase do time?
– Estou em um momento bom. É complicado dizer isso, porque algumas pessoas entendem de uma outra forma. “Ah, ele está comemorando porque está bem e o time não está tão legal”. Procuro me doar ao máximo. Quem joga atrás sabe da responsabilidade. A cada jogada você pode falhar e errar de uma forma que prejudica a equipe. Voltei da lesão (no músculo adutor da coxa direita)confiante e conseguindo ser regular, mas a vitória não está saindo. Isso me deixa muito incomodado. O que adianta? Sou zagueiro. O que adianta eu jogar bem e perdemos por 2 a 0 para o Vitória? É complicado. Contra o Juventude fiquei muito triste. Conversei com meus pais e eles me passaram calma. Fiquei chateado porque tínhamos condições de passar. Sabemos que perdemos aqui no Morumbi, não lá.

Contra o Juventude, você foi o jogador mais perigoso do time: fez gol, quase marcou em outra chance de cabeça e finalizou um cruzamento do Wesley. Um zagueiro ter as melhores chances mostra o tamanho da dificuldade do time de criar? É o segundo pior ataque do Brasileirão, com 27 gols marcados…

Rodrigo Caio comemora gol contra o Juventude (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)Rodrigo Caio comemora gol contra o Juventude (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)

– Estamos vendo nos jogos que a dificuldade para criar é muito grande. Às vezes conseguimos nos defender bem e criamos, mas não concluímos. Há jogos que sair ganhando muda tudo. Contra o Vitória, se a bola do Araújo entra muda totalmente o jogo. Eles também tiveram bola na trave. Os jogos se decidem em detalhes e estamos pecando. Contra o Juventude, não costumo abandonar posição. A primeira coisa que fiz no vestiário foi pedir desculpas ao Ricardo Gomes, porque zagueiro não pode largar como larguei. Tentei ajudar, fiz gol e quase fiz o segundo, mas não justifica. Pedi desculpas e ele entendeu, pelo momento de tentar a classificação. Mas é algo que não costumo fazer, não gosto muito. Tenho de defender para dar oportunidade aos nossos atacantes fazerem os gols. Esse é o meu dever.

Você é criado no São Paulo. Sente mais as eliminações?
– Não digo que sinto mais, mas sinto muito. A desclassificação na Libertadores foi complicada para mim. Tínhamos uma chance enorme de marcar história. Estávamos muito bem e naquela parada o nosso time deu uma caída pelas lesões. Alguns jogadores não estavam 100% naquele momento. Quando saímos, por mais que o time do Atlético (Nacional) fosse muito bom, senti que dava para ter vencido. Principalmente pelo primeiro jogo, pela fatalidade da expulsão do Maicon. Estávamos segurando o jogo. Lá (na Colômbia) começamos bem e fizemos o gol. Se a gente não sofre o gol logo em seguida, acredito que teríamos mais chances. Eu sofri bastante. Na Copa do Brasil também. É uma competição que nunca ganhamos. Ainda mais contra o Juventude, um time bom, com um excelente treinador, mas que tínhamos muito mais condições do que eles de vencer. Temos que sentir la dentro que faltou um pouco mais, que poderíamos ter saído com a classificação. Cada um tem de refletir e saber o que melhorar para ter confiança e erguer o time no Brasileiro. Não podemos deixar isso atrapalhar.

Vocês conversaram sobre o que faltou na eliminação para o Juventude? Considera um vexame?
– Conversamos muito sobre isso. Não diretamente um com outro. Até em alguns momentos isso faz falta. Mas cada um tem sua consciência. Nos cobramos muito, mas nesses momentos falta força para falar. Às vezes, na emoção do jogo uma palavra que você fala ajuda muito. Isso é importante. Hoje (quarta) no treino nos cobramos muito. Em alguns momentos não estava bom e um falou com o outro. Se tiver de falar mais alto, tem de falar, porque estamos no mesmo barco. Se afundar, vão afundar todos juntos. Principalmente nesses dois meses finais precisamos disso para mudar o astral e sair dessa situação. Difícil usar essa palavra (vexame). Dentro de casa, perder por 2 a 1 não pode acontecer. Essa é a realidade. Isso nos fez ser desclassificados. Cada um tem de ter consciência que faltou mais.

O risco de rebaixamento chega a tirar o sono? Preocupa?
– Claro que sim. Sabemos que não estamos com uma boa regularidade. O time está muito abaixo do que apresentou no começo do ano. Todos sabem disso. Cada jogador sabe que precisa voltar a jogar o que vinha jogando há três meses. Antes de sair da Libertadores o time estava muito bem, consistente e encontrou um caminho para vencer. Hoje nos perdemos, mas é o momento de se unir. O time vence na união, no grupo fechado. Nem sempre tem de jogar bem. Futebol não é só jogar bem. Mas tem de se doar e acreditar no companheiro. Saber que vamos achar uma bola, uma triangulação e fazer o gol. Quando você não joga bem, precisa se doar mais. Nesses dois meses vamos recuperar esse espírito para sair dessa situação. Como clube, não merecemos estar nessa situação no Brasileiro.

E o que faz acreditar que agora vai mudar?
– A postura nos treinos. Ninguém quer passar por uma situação de ser rebaixado, em um clube grande como o São Paulo, que nunca foi rebaixado, e ficar marcado negativamente na historia. Ninguém quer isso. Então é cada um colocar a cabeça no travesseiro, saber que precisa treinar e se aplicar mais. Precisa querer um pouco mais para o coletivo crescer.

Michel Bastos São Paulo (Foto: Marcelo D. Sants/ Framephoto / Agência Estado)“Há jogadores que a torcida pega para Cristo”, diz sobre Michel Bastos (Foto: Marcelo D. Sants/Frame/Agência Estado)

Acha injustas as críticas da torcida ao Michel Bastos?
– Difícil. Há jogadores que a torcida pega para Cristo. No dia a dia enxergamos de outra maneira. Muitos atletas que eles pegam no pé, no treino é sério. Infelizmente quando o time não está bem, a torcida pega no pé desses jogadores. Esperamos que a torcida apoie nesse momento. Não só eu, Maicon, ou o Lugano. Todos. Se não sairmos dessa situação, vai ficar feio para os jogadores, diretoria e torcida. Então todos precisam se unir. Espero que a torcida compareça e nos apoie para sairmos dessa situação juntos.

São Paulo tabela 28ª rodada (Foto: Divulgação)

Você recebeu propostas de quais clubes e por que ficou no São Paulo?
– Tive algumas propostas. O São Paulo soube. Do Hamburgo e do Sevilla. Em algum momento, eu tinha esperança… Esperança não. Eu gostaria e deixei claro para a diretoria naquele momento, porque seria uma grande oportunidade para evoluir. Aconteceu de não ir. Disse para a diretoria que daria meu máximo na permanência e entraria em campo para jogar. Acredito que a diretoria não entrou em acordo por valores, do que seria melhor para o São Paulo e para mim. Não digo que fico frustrado. Pelo contrário. Estou trabalhando. Sempre deixei claro meu objetivo: não sei quando vai ser a hora de jogar na Europa, mas é um sonho que quero realizar. Espero sair no momento certo, mas enquanto estiver aqui vou dar meu melhor, principalmente nesses momentos, nos quais acho que tenho muito a ajudar o São Paulo.

Por que você quis trocar de empresário? Agora é agenciado pelo Carlos Leite…
– Gostei muito da conversa dele. Sou muito direto e sincero nas coisas que falo. Ele disse: “Para você jogar em um grande clube da Europa, depende mais de você do que de mim”. Isso é verdade. Vou tentar fazer minha parte. Nessa última janela muita gente ficou falando em meu nome. Meu celular e o do meu pai não paravam de tocar. Pensei com a minha família em nomear alguém para cuidar disso tudo. No meio da Olimpíada, com a minha cabeça ali, tinha um monte de gente ligando e falando: “Rodrigo, tenho isso e aquilo” e eu tentando me concentrar. Mesmo assim fiz uma Olimpíada que foi muito importante. Nomeei o Carlos para isso. No futuro, se aparecer algo, ele vai tomar conta, junto com meu irmão e meus pais. Tive boas indicações de amigos, como Renato Augusto, Luan (do Grêmio) e pessoas que falaram bem. Espero que seja uma parceria de muito tempo.

 

Fonte: Globo Esporte

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*