Manifesto corintiano é colocado à prova em clássico contra São Paulo

A torcida do Corinthians ainda não desrespeitou o manifesto contra a homofobia divulgado pelo clube na semana passada. No empate por 1 a 1 com a Chapecoense, ninguém gritou “bicha” nas reposições de bola do goleiro Danilo. O comportamento do público em Itaquera, no entanto, será realmente colocado à prova neste domingo.

É contra o São Paulo que os torcedores do Corinthians se posicionam de maneira homofóbica com mais veemência. Há anos, usam o seguinte coro para incentivar a equipe nos Majestosos: “Vai pra cima delas, Timão! Da bicharada!”. Mais recentemente, também passaram a gritar: “Vamos, Corinthians! Dessas bichas, teremos que ganhar!”.

Preocupado com manifestações como essa – ainda mais após o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) punir o Grêmio com rigor pelos atos de racismo contra o goleiro Aranha –, o Corinthians decidiu ser pioneiro ao elaborar o seu manifesto. O documento não citou as já tradicionais brincadeiras com o São Paulo, e sim o berro de “bicha” gritado para ofender goleiros rivais em cobranças de tiro de meta.

“Como fazemos na arquibancada e em campo, aqui lutamos até o fim para que todos sejam iguais. E aqui não há, e nem pode haver, homofobia. Pelo fim do grito de ‘bicha’ no tiro de meta do goleiro adversário. Porque a homofobia, além de ir contra o princípio de igualdade que está no DNA corintiano, ainda pode prejudicar o Timão”, justificava um trecho do comunicado do Corinthians, recorrendo ainda ao histórico de inclusão social do clube.

Gazeta Press

Torcida do Corinthians já se acostumou a fazer provocações homofóbicas em clássicos com o São Paulo

A torcida do Corinthians criou o hábito de insultar os goleiros de outras equipes em tiros de meta ao enfrentar o Cruz Azul, na Copa Libertadores da América de 2012. Como tradicionalmente ocorre no México, Júlio César foi chamado de “puto” ao repor a bola em jogo no empate por 0 a 0, fora de casa. No Pacaembu, com um 1 a 0 corintiano, os torcedores brasileiros devolveram a provocação para Corona.

Com o passar do tempo, o grito foi mudado para “bicha” e ganhou força nas partidas contra o veterano Rogério Ceni, do São Paulo, dúvida para o clássico de Itaquera. Na época, o volante Guilherme (hoje na italiana Udinese) tratou de amenizar as críticas à novidade: “É mais uma provocação. Não posso dizer se isso é certo ou errado, mas não se compara ao racismo. Não é o caso de levar o torcedor a ser preso”.

Muitos que ainda estão no elenco chefiado por Mano Menezes concordam com Guilherme. O centroavante peruano Paolo Guerrero, por exemplo, minimizou na última sexta-feira, quando o manifesto do Corinthians foi propagado: “Até agora, não percebi uma discriminação. Achei que era uma brincadeira para tirar a concentração dos caras que são do time rival. É um tema que a torcida precisa resolver. Estou dentro de campo, concentrado no meu trabalho. Não escuto essas coisas”.

Mesmo focado em sua produção, Guerrero não deixou de mexer com os brios do São Paulo, porém de outra forma. O peruano contestou a força atribuída ao ataque do time de Muricy Ramalho, que, segundo ele, ainda não teria sido testado contra grandes equipes.

Não serão apenas Kaká, Paulo Henrique Ganso e Alan Kardec (Alexandre Pato não pode enfrentar o Corinthians, com o qual tem contrato) que estarão à prova em Itaquera. Nas arquibancadas, os torcedores corintianos colocarão verdadeiramente em xeque o manifesto do clube.

São-paulinos contra-atacam com mais homofobia
Sergio Barzaghi/Gazeta Press


Às vésperas de mais um clássico contra o Corinthians, a torcida do São Paulo elaborou uma paródia para responder a provocações do rival. A música é inspirada no hit argentino da última Copa do Mundo e deverá ser cantada no setor visitante de Itaquera, neste fim de semana.

Eis a letra: “Gambá, me diz como se sente/ Por que você gosta de beijar?/ Ronaldo saiu com dois travecos/ O Sheik, selinho ele foi dar/ Vampeta posou pra G/ Dinei desmunhecou/ Na Fazenda de calcinha ele dançou/ Não adianta argumentar/ Todo o mundo já falou/ Que o gavião virou um beija-flor”.

Citado na música dos são-paulinos, o ex-volante Vampeta foi um dos grandes responsáveis por popularizar o termo “bambi” para se referir ao rival. O apelido teria ganhado força quando ele viu Júlio Baptista e Kaká – que jogará contra o Corinthians neste domingo – juntos em uma sorveteria.

“Os caras são meus amigos. Quis brincar com eles. Aí, inventei que ganharia deles no domingo e chamei de “bambis”. Essa é a história mesmo, que todo o mundo já sabe. Eles tinham perdido na Copa do Brasil e no Rio-São Paulo para nós. Fiz uma brincadeira, e a parada pegou”, explicou Vampeta. Pegou tanto que um Bambi vestido com as cores do São Paulo apareceu em um telão no jantar de 99 anos do Corinthians, em um 2009 bem distante do 2014 de manifesto contra a homofobia.

Fonte: Gazeta Esportiva

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