Lugano veste “manto sagrado” e diz que volta é retribuição ao São Paulo

Depois de quase 10 anos, Diego Lugano voltou à sala de imprensa do CT da Barra Funda. Deixou claro entender perfeitamente a responsabilidade de ser um símbolo do São Paulo. E de simbolizar tudo aquilo que o clube espera reconquistar com uma série de mudanças capitaneadas por seu retorno. Falou com emoção de retornar ao time que ganhou seu coração. Foi o coração, aliás, quem falou.

– É um prazer, uma alegria, uma emoção e uma linda responsabilidade voltar a vestir o manto sagrado – disse o zagueiro, antes mesmo da primeira pergunta dos jornalistas.

Lugano se apresenta ao São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)Lugano volta a vestir a camisa do São Paulo
(Foto: Marcos Ribolli)

Impossível reproduzir o número de vezes em que Lugano falou em “responsabilidade”. Talvez, nenhum trecho esclareça melhor a visão que ele tem de sua volta ao São Paulo, do que esse:

– Sei que serei foco das críticas nos maus momentos do clube. Fiz isso no Uruguai por 10 anos e não tenho medo disso, muito pelo contrário, foi para isso que voltei. Essa será minha principal função aqui: dar meu peito para as balas que virão e, a partir daí, tentar meu melhor futebol.

Aos 35 anos, dono de uma carreira vencedora, ele carrega nas costas a missão de transformar o Tricolor, muito mais fora de campo do que dentro. Não se sabe quando ele vai estrear nem se será titular, tampouco se seu desempenho estará à altura das pretensões do São Paulo na temporada. Mas a confiança de que haverá dias melhores com Lugano domina os torcedores, os dirigentes e a comissão técnica.

– Eu vim aqui para triunfar, e não para arranhar meu prestígio. Eu poderia estar muito mais tranquilo, jogando num futebol distante, sem pressão. Se aceitei esse desafio é porque gosto da emoção, gosto de jogar. Senão eu iria para minha casa – afirmou Lugano, que também afirmou ter rejeitado propostas de outros clubes brasileiros ao longo dos últimos 10 anos.

– Foi o jeito de ser grato à torcida e ao clube que me trouxe com 21 anos. Eu cheguei à seleção uruguaia graças ao São Paulo, tive uma vida profissional graças ao São Paulo, minha família tem uma vida muito boa graças ao São Paulo. Era o mínimo que eu poderia fazer.

Leia abaixo a íntegra da entrevista de Diego Lugano:

PRONUNCIAMENTO INICIAL

– Desculpem pelo meu português, que nunca foi bom e agora está pior ainda. É um prazer, uma alegria, uma emoção e uma linda responsabilidade voltar a vestir o manto sagrado. Muita coisa mudou na minha vida e na vida do São Paulo, mas não vai mudar nunca minha gratidão. Estou na última fase da minha carreira com muita ilusão de voltar a ter grandes resultados e ajudar, sendo eu mesmo no dia a dia, para que o time use o que tenho de melhor.

CONVERSA COM O TREINADOR

– O Bauza queria saber minha situação, meus desejos e minhas ambições. Todo jogador quando vai ficando velho perde não só na parte física, mas em ambição, fome, o futebol consome um pouco disso em você. Depois que nos falamos, ele teve clara minha postura como jogador, pessoa, e, principalmente, diante do São Paulo, time ao qual devo grande parte da minha carreira.

DESPEDIDA DE CENI

– Foi incrível, emocionante. O Rogério fez uma festa em que cada jogador histórico foi homenageado, eu vi os caras mais velhos muito emocionados. O São Paulo hoje atravessa uma fase de transição. Foram anos complicados. Nesse dia ficou mais claro que hoje, aos 35 anos, posso me entregar como jogador e pessoa.

RECUSOU OUTROS CLUBES BRASILEIROS?

– O dia que fui embora daqui, por tudo que vivi, sempre falei que no Brasil só jogaria no São Paulo. Em junho, o São Paulo não precisava de mim, era algo muito simples de entender. Sou muito grato ao São Paulo. Cheguei à seleção do Uruguai graças ao São Paulo. Minha família tem uma vida boa graças ao São Paulo. A maneira de retribuir era sendo fiel.

Lugano São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)Lugano durante entrevista no CT da Barra Funda
(Foto: Marcos Ribolli)

ESTÁ SATISFEITO COM SUA CONDIÇÃO TÉCNICA?

– Os últimos anos foram complicados, com algumas contusões difíceis, principalmente na época da Copa. Naquela época existia uma chance de voltar ao São Paulo, mas não me sentia pronto para voltar ao calendário assassino do futebol brasileiro. Não vim aqui para passear, quero corresponder a todos que confiam em mim.

– Obviamente que o calendário do futebol brasileiro é maluco. Mas eu quero ser mais um dentro do elenco, ajudar, jogar quando o treinador precisar. Quando não, quero ser positivo e ajudar.

ESTARÁ À DISPOSIÇÃO PARA ESTREIA NA LIBERTADORES?

– Estou fazendo agora um trabalho de reequilíbrio muscular para que não tenha problemas para a frente. Perdemos tempo na última semana e temos que recuperar agora. Não sei quando estarei pronto futebolisticamente, isso é a comissão técnica que determinará. Na próxima semana, já poderei fazer um trabalho de campo.

TORCIDA VAI ENTENDER QUANDO FOR RESERVA?

– Isso é subestimar a inteligência do torcedor. Ele sabe que um jogador de 35 anos não é o mesmo de 23. Sabe o que esperar de mim. Poderia estar em uma liga menos competitiva e longe, mas estou aqui porque gosto de desafios. É um compromisso que gostaria de ter.”

SOBRE O PESO

– Estou um pouco abaixo, mas acima de tudo preciso fazer um trabalho de reequilíbrio muscular. Mas isso não tem nenhum segredo.

QUE LUGANO ESTÁ VOLTANDO?

– Como esportista, são vocês que vão analisar de acordo com o que fizer dentro de campo.

FALTA DE RAÇA DO ELENCO EM 2015

– Uma coisa que me motivou voltar aqui ao São Paulo é a certeza que tem um elenco de muita qualidade. Aqui temos o campeonato mais equilibrado do mundo. Se com todas as dificuldades que tivemos no ano passado, conseguimos classificar para a Libertadores é porque o elenco tem qualidade. Estou ansioso para trabalhar com eles, ir crescendo no dia a dia. Quando você veste essa camisa, o objetivo tem de ser sempre o mais alto possível.

Lugano São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)Presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, apresenta o reforço Diego Lugano (Foto: Marcos Ribolli)

LIDERANÇA

– Ninguém escolhe o líder. O grupo é que escolhe. O que posso dizer é que estou aqui para trabalhar, para ser mais um. Existe uma diferença de ser capitão de uma seleção e em um clube. Na seleção, você tem um país por trás, qualquer coisa tem repercussão, muita consequência. No clube, você está mais no dia a dia. O segredo é manter uma linha de conduta e trabalhar com honestidade e compromisso.

MUDANÇA DE STATUS NA CARREIRA

– Você vai trabalhando atrás dos seus sonhos e vai trilhando seu caminho. Quando vim ao Brasil, vim com muita ambição, assim como venho agora. Você não pode nunca se achar grande na vitória ou se diminuir na derrota, deve ser sempre o mesmo.

POR QUÊ NÃO QUIS FESTA?

– Depois do que foi a chegada no aeroporto, foi tão intenso, tudo que viesse depois já ficaria exagerado. Esse momento da chegada marcou muito. Torcida são-paulina está marcando uma diferença no Brasil, mostra que tem lembrança, que tem gratidão. Essa é uma mensagem linda. Agora é tempo de trabalhar, de crescer e de ajudar meus companheiros.

ACOMPANHAVA O SÃO PAULO DE LONGE?

– Quando cheguei aqui em 2003, o clube vivia uma fase muito ruim, de quatro anos sem título. Futebol são fases, ainda mais em lugares competitivos. Obviamente que acompanhei, sei o que aconteceu. São Paulo ainda é visto no mundo todo como um modelo de administração. Confio no São Paulo, confio na instituição.

APOSENTADORIA DE ROGÉRIO CENI

– A saída do Rogério Ceni é uma mudança histórica, é algo muito significativo. É um cara insubstituível. É impossível. Mas tenho a responsabilidade de fazer parte dessa mudança, de ajudar nesse momento. Chego para assumir a pressão, assumir a responsabilidade, botar o peito na frente e, assim, procurar ajudar dentro de campo.

Lugano São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)Lugano jamais perdeu de Corinthians e Palmeiras
(Foto: Marcos Ribolli)

ESTÁ PRONTO PARA SER CAMPEÃO E COMANDAR O TIME?

– Meu último jogo pelo São Paulo foi uma derrota na final da Libertadores (contra o Inter, em 2006). O São Paulo tem uma camisa pesada e todos os times grandes estão na edição deste ano. Será algo de gente grande. O mais importante será o começo, torcedor terá de ter paciência com o treinador estrangeiro, com a equipe que está sendo montada.

INVICTO CONTRA CORINTHIANS E PALMEIRAS

– Isso aconteceu porque tinha grandes companheiros. Não fui eu que não perdi, aquele elenco não perdeu. Tomara que a gente comece a ter de novo essa sequência vitoriosa. Que possamos ter um time com muito compromisso, com fome de glória. Minha expectativa é voltar a ser campeão aqui no São Paulo.

KAKÁ É INSPIRAÇÃO?

– Sempre se fala que a segunda passagem não é igual à primeira. Ele serve de inspiração, sim. Tem o risco, mas que fica em quinto plano quando tem um clube e uma torcida que precisam de você. Se não for como a gente sonhou, não será por falta de trabalho.

 

Fonte: Globo Esporte

 

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