Leão admite peso do episódio Paulo Miranda e ironiza o “técnico” Juvenal

Emerson Leão foi contratado no final de 2011 no São Paulo com a missão de dar um ‘chacoalhão’ nos atletas. Apesar de ser uma solução momentânea, ele conseguiu ficar por oito meses no Tricolor. O treinador teve uma segunda passagem conturbada no clube, em que ficou marcado por brigas com a diretoria. A principal delas foi no episódio do afastamento do zagueiro Paulo Miranda, que ele admite em entrevista exclusiva ao UOL Esporte ter sido decisivo para sua demissão pouco tempo depois.

Leão abusou das ironias ao falar do presidente Juvenal Juvêncio e da diretoria do São Paulo, insinuou que os dirigentes já estariam ao menos apalavrados com o atual técnico Ney Franco quando ele ainda treinava o Tricolor, e disse que sabia que seria demitido depois da Copa do Brasil, mesmo se fosse campeão da competição. Confira a entrevista na íntegra:

UOL Esporte: Depois da saída do São Paulo, você recebeu propostas? Deve voltar a trabalhar em breve ou pensa em descansar um pouco?
Emerson Leão: A primeira coisa que eu fiz foi me ausentar da cidade. Fui para a fazenda no Mato Grosso, voltei esse final de semana, não vi nada, não apareci em programas, nem nada. Só agradeci aos convites. Esta semana eu tenho que pagar os convites feitos. Vou atender a quem me solicitou. Tive consulta 24 horas depois da demissão, mas agradeci. Não era o momento. Foi um clube da Série A e um de um lugar muito longe.

UOL Esporte: Você ainda nutre o sonho de dirigir uma equipe do Rio de Janeiro antes de deixar de ser treinador? 
Emerson Leão: Gostaria sim, claro. É um estado que não trabalhei. O Brasil é feito de alguns estados importantes. O Rio é muito importante. Passei por Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, em grandes clubes. Nunca trabalhei no Rio. Seria uma boa experiência.

UOL Esporte: Acha que o São Paulo abriu portas e proporcionou sua volta para a elite? 
Emerson Leão: Não acho que abriu porta para mim, não. Acho que vou fazer 49 anos de futebol e não preciso disso. O São Paulo é um grande clube, mas não precisa abrir portas não. Me lembro quando fui contratado, o Juvenal [Juvêncio, presidente] disse que achava que não eram mais os treinadores o problema, eram os jogadores. Passaram-se oito meses, ele voltou a dizer que era o treinador. Não era treinador, não eram os jogadores, o que era? Acho gozado esse pronunciamento. Saímos relacionados, até agora não conversei com ninguém. Meu advogado é que está em contato. O São Paulo pensa de um jeito, eu penso de outro. Nem eu nem o São Paulo somos as melhores fontes para decidir alguma coisa. Compete à lei ver isso.

UOL Esporte: Já recebeu o que tinha que receber do São Paulo? O que ainda falta? 
Emerson Leão: Com o São Paulo, meu advogado entrou em contato e estabeleceu-se a realidade. Existem dois trâmites. O contrato reza que não tem multa contratual, o que é muito bom para ambos. Quando não existe multa, ou existe aviso prévio, ou não existe. Meu contrato não existia. Portanto segue a lei.

UOL Esporte: O Goiás ainda te deve. Teme que o São Paulo siga o mesmo caminho ou está tranquilo? 
Emerson Leão: O Goiás me deu cheques e sustaram os cheques, porque mudou a diretoria. Já ganhamos em várias instâncias, agora estamos aguardando o fechamento. O São Paulo eu nem conversei para não ter problema. Dei essa função ao meu advogado e pronto. Disse a ele uma coisa: não quero voltar a falar com você mais. Minha ideia, minha realidade e minha verdade é uma só: não quero um real que não me pertence. Tudo dentro da lei.

UOL Esporte: Lucas e o Osvaldo reclamaram de da forma como você os escalava. O Ceni tem participado de forma mais ativa dos treinos depois da sua saída. O que você acha disso? 
Emerson Leão: O Rogerio Ceni estava na hora de ter participação nos treinos. Seis meses já se passou. Todas às vezes que alguém voltava, a minha pergunta era: doutor [José] Sanchez, o que ele pode fazer? Quem libera é o cirurgião. No caso do Rogério, até quando estive lá, o que ele fez foi ter a liberação do médico. São seis meses. Se levar em consideração que ele operou em janeiro, estava na hora de voltar mesmo. Vou torcer para que quando ele for ao gol, não sinta dor. Isso é o meu desejo para todos os atletas. Sobre o Lucas, sempre pensei que ele deveria sim jogar pela direita. Continuo achando isso. Ele pode discordar. Assisti ao jogo do Osvaldo nesse domingo contra o Palmeiras e… (silêncio)

UOL Esporte: Mas Leão, o Lucas me disse que ficava cansado porque você pedia para ele acompanhar o lateral… 
Emerson Leão: Você conhece o futebol mundial, onde todos colaboram? Estávamos querendo agregar a ele alguma coisa a mais para que ele possa melhorar. A única critica mesmo foi do Juvenal. Disse que na opinião dele, chegou à conclusão que o problema era o treinador. Na hora de me contratar, era o jogador. O índice de percentual quando estive lá aumentou muito. Fui treinador da última geração que mais ficou, oito meses. Fui contratado por dois meses, fiquei oito. Tudo dentro do previsto.

UOL Esporte: Ficou chateado com o que quando o Juvenal disse que o problema do São Paulo era o técnico? Acha que o presidente foi indelicado na forma de te demitir do Tricolor? 
Emerson Leão: Quando ele está no entusiasmo de uma entrevista, é diferente mesmo. Talvez tenha se colocado infelizmente no caminho disso tudo. Se não é jogador, depois é, se não é treinador, depois é. Mesmo assim não encaminha. O que é? Não sou eu que tenho que responder. Fiz com a maior dedicação possível. O São Paulo vendeu vários jogadores. Como proprietário que é o São Paulo, não tenho direito de impedir. Não era o que eu desejava. A diretoria comprou alguns, afastou outros. O episódio Miranda serviu como marco divisório.

UOL Esporte: O Juvenal admitiu ingerência direta na não escalação do Paulo Miranda. Por que você aceitou? Hoje faria diferente?
Emerson Leão: A ingerência dele foi ter tirado da concentração. Uma coisa vocês não sabem: ele disse que o Paulo não jogaria mais. Que não era jogador qualificado. Foram eles que compraram, não eu. O João Paulo [Jesus Lopes, vice-presidente de futebol] me falou: cheguei à conclusão que ele não é jogador para nós. Não vai jogar mais, vai ser igual ao Juan [lateral-esquerdo, hoje no Santos]. Pode perguntar para o Adalberto [Baptista, diretor de futebol]. Depois voltaram atrás pelo peso dos comentários e ele voltou a ser titular. Foi um fato desagradável. Me posicionei ao lado do jogador. Algumas coisas de diálogo aconteceram. Não tem traição nenhuma. A autoridade do presidente é inconteste. Me posicionei ao contrário. O dono do clube é ele há muitos e muitos anos. Não tenho o que discutir. Tenho que emitir a opinião de treinador. Ela foi dada. Ali marcou o fim do elo de reciprocidade.

UOL Esporte: Como foi ter suportado a fritura dos dirigentes nesse processo todo? 
Emerson Leão: Não foi fritura nem quentura. Ali foi uma decisão. Estava claro para ele e para mim que após a Copa do Brasil isso iria acontecer [a demissão]. Tanto de uma parte, quanto da outra.

– UOL Esporte: Se iria acontecer depois da Copa do Brasil, porque eles esperaram a derrota contra a Portuguesa para demití-lo?
Emerson Leão: São circunstâncias de momento. Esperaram amadurecer para me demitir.

– UOL Esporte: A gente sabia que você não gostava da forma como o Adalberto te tratava. Ficou chateado? 
Emerson Leão: Não tem essa de ficar chateado. É regime profissional, não tenho que ter chateação, apesar de ela existir. O São Paulo deixou bem claro pra mim. É isso, isso e isso. Então caminhou dentro da expectativa. Mas a repetição da demonstração [de poder] chateava. Sobre dirigente, presidência, não tenho nada pra falar. A segunda passagem foi mais longa que a primeira. Eu pedi demissão na primeira, segunda eles me demitiram, vamos ver como será na terceira [risos].

UOL Esporte: Não acha que falta mais humildade para a diretoria reconhecer seus erros? 
Emerson Leão: Não tenho o que comentar sobre essa diretoria. O Juvenal falou que seria um grande treinador. Acho que ele tem idade para isso ainda. Experiência suficiente.

UOL Esporte: A diretoria usa a sua promessa não cumprida de deixar o time pronto em abril para explicar a sua demissão. O que você acha disso? 
Emerson Leão: No mês de abril, nós ganhamos todos os jogos [Nota da redação: o São Paulo perdeu para o Linense e o Santos, ambos pelo Paulistão]. Dentro do Morumbi, como caseiro, tivemos 100% [perdeu a semifinal do Estadual]. Fora isso, o índice foi maior do que da outra vez. Mas perdemos jogadores importantes. Um deles não pôde nem ter o prazer de estrear e ser feliz. Machucou as três vezes que tentou jogar, que foi o Fabrício. O Wellington, que é uma promessa para seleção, estourou novamente. O Rogério Ceni, comandante do grupo, capitão, já veterano e experiente, já está na hora de voltar. Agora sim, seis meses, está legal. Fora o [Luis] Fabiano e aquelas coisas que nós sabemos. Mas mesmo assim o time foi a duas semifinais. Uma delas não jogou os principais jogadores, que foi o Paulista. Ou estavam machucados, ou suspensos, ou operados. A Copa do Brasil foi uma fatalidade.

Vi o jogo do São Paulo [contra o Palmeiras] com imenso prazer, pois torço a favor do futebol. Ontem [domingo] não conseguiu ganhar [empatou por 1 a 1]. O Denis pegou um pênalti [do Valdivia], torço muito para que ele apareça.

 UOL Esporte: O que você achou da contratação do Ney Franco e dele retomar seu esquema no São Paulo? 
Emerson Leão: Desejo a todos os treinadores que fazem parte da minha profissão tenham sucesso. Acho que você com o tempo vai adquirindo experiência e não torce contra ninguém. Tirando uma exceção que eu não torço. Não tenho muito relacionamento com ele, quase nada, mas não é por isso que vou desejar nada diferente. No dia seguinte ao jogo que o São Paulo venceu o Cruzeiro, liguei para o Milton [Cruz, interino, que assumiu depois da sua saída], dei os parabéns. Fiz aniversário no dia 11, o Milton me ligou. É um cara que é profissional. Daqui para frente só observo. Sobre o São Paulo, só com meu advogado.

UOL Esporte: O Ney Franco admitiu que foi consultado sobre o Rafael Tolói quando você ainda era o técnico. Não achou antiético? 
Emerson Leão: Se foi pedido para ele…quem disse que já não estava contratado? Apalavrado? Não sei. Quem conhecia o Toloi mais do que ninguém só podia ser eu [foi seu treinador no Goiás]. O Adalberto me disse que estava demorando a contratação dele, porque um grupo de investidores iria trazê-lo.

UOL Esporte: Mas saiu na imprensa que o Toloi só não veio antes porque você não aprovou a sua contratação… 
Emerson Leão: Lá não se aprova. Quem aprova é a presidência. Nunca opinei no São Paulo sobre contratação. O São Paulo não faz isso. Pelo menos comigo não fez, nem nas dispensas. Isso era prioridade do Juvenal. Nunca me perguntaram se devia ou não devia [contratar/dispensar]. Desde o primeiro dia, o seu João Paulo deixou bem claro: estamos contratando você só para ser treinador.

UOL Esporte: Se arrepende de algo nesses oito meses de São Paulo? Acha que poderia fazer algo que o deixasse mais tempo no clube? 
Emerson Leão: Me dediquei ao máximo. Fiz o possível e o impossível em relação a tudo. Fiz aquilo dentro das circunstâncias que nos propusermos. Quando sobe os índices, está tudo certo.

UOL Esporte: Como antigo desafeto, o que achou do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ser denunciado? Sabe de alguma coisa que poderia comprometê-lo? Aceitaria depor contra ele caso fosse chamado? 
Emerson Leão: Não posso depor nada. Nunca tive relacionamento nem particular, nem profissional. O que está acontecendo na antiga geração de corrupção não é novidade para ninguém. O que está ocorrendo é fruto do brasileiro. Basta olhar para futebol e a política. Ambos se entrelaçam. Como é decepcionante para nós que trabalhamos com o coração. Hoje o futebol é só marketing e negócios.

Fonte: Uol

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