‘Interinos’ mudam rotina e ganham confiança no São Paulo

A saída de Muricy Ramalho abriu espaço para a ascensão de uma dupla que está há tempos no São Paulo, mas nunca em tamanha evidência como após a vitória sobre o Corinthians, que manteve o time vivo na Libertadores: Milton Cruz e José Mário Campeiz formam o braço que tem segurado as pontas enquanto a diretoria não traz um técnico.

Milton, como de praxe, assumiu interinamente o comando após a saída de Muricy. Uma de suas primeiras ações foi conversar com o preparador físico, conhecido no clube como Zé Mário, para preparar uma rotina de treinos mais dinâmica e interessante para os jogadores. Deu certo.

Com quatro vitórias e uma derrota, sendo um dos triunfos o primeiro em clássicos no ano, o trabalho do coordenador passou a ser elogiado por dirigentes, jogadores e outros profissionais do São Paulo. Mais: trouxe tranquilidade para a diretoria buscar o novo técnico.

Muricy era defensor de Zé Mário, mas sua forma de trabalhar, conservadora e vista como desorganizada por alguns, impedia maior participação do preparador. Com Milton, Zé passou a implementar mais ideias de movimentação dos atletas, e a recepção foi boa. Jogadores ouvidos pela reportagem ressaltam a abertura que a dupla tem dado para o grupo opinar sobre os treinamentos.

A partir do início da parceria, foi possível observar a alteração no formato das atividades. Na segunda-feira, por exemplo, houve um treino focado apenas nas jogadas de lado, visando acertar na fragilidade do Corinthians em se defender contra bolas alçadas na área. Quando o São Paulo exerceu pressão sobre o rival partindo deste tipo de jogada na quarta, a comissão técnica vibrou.

Após a importante vitória, Milton Cruz foi radiante à sala de imprensa do Morumbi, onde recebeu os parabéns do presidente Carlos Miguel Aidar. O dirigente tem acompanhado mais de perto o dia a dia do clube. E Milton aproveitou para enaltecer o trabalho e dividir os méritos com seus companheiros.

– Está todo mundo junto. A gente se juntou para tirar o São Paulo dessa situação. O Ataíde (vice de futebol) e Gustavo (gerente executivo) estão me dando respaldo – disse.

Nascido em 1º de maio de 1962 na cidade de Batatais (SP), Zé Mário Campeiz chegou a ser atleta por 15 anos, mas nunca abandonou os estudos. Assim, graduou-se em Educação Física e Pedagogia, fez pós-graduação em Ciências do Treinamento Esportivo e mestrado em Ciências do Esporte, sempe pela Unicamp. Como preparador físico, passou por Batatais (SP), Francana (SP), Comercial (SP), São Carlense (SP), Mogi Mirim, Figueirense, Jubilo Iwata (JAP), Cruzeiro, Santos e Atlético-PR.

VEJA UM BATE-BOLA EXCLUSIVO COM ZÉ MÁRIO CAMPEIZ:

O que mudou em sua rotina após a saída do Muricy?
Não mudou quase nada, porque com o Muricy eu já participava bastante dos treinamentos. A diferença é que agora a comissão técnica está reduzida, então preciso ajudar mais o Milton a preparar os treinos, preleção, programação da semana, assistir aos jogos dos adversários… Mas aplicar os treinos era uma coisa que eu já vinha fazendo há algum tempo, porque é importante aliar a parte física a treinos técnicos e táticos.

Mas, por questões de hierarquia, agora tem mais liberdade?
Acho que a liberdade é a mesma que tinha com o Muricy. Ele sempre me deu muito respaldo para trabalhar e mostrou muito respeito por mim, é uma excelente pessoa. Fazíamos as coisas do mesmo jeito com ele, o problema é que os resultados não estavam aparecendo como agora. Continuo ajudando o clube, agora enquanto a direção escolhe quem será o próximo treinador.

Espera que o novo técnico seja escolhido rapidamente?
Sei que a direção está fazendo tudo direitinho para encontrar alguém com o perfil do clube. Enquanto isso não acontece, vou ajudando o Milton a preparar o time. Essa é uma questão da diretoria mesmo. Mesmo sem o Sabella, aqui no Brasil temos muitos profissionais capacitados para assumir o São Paulo. E aí eu e o Milton estaremos aqui para ajudar.

Você tem uma formação acadêmica sólida na Unicamp, mas parece ser adepto mais da parte prática. Como é seu trabalho?
Eu nunca deixei de estudar, mesmo enquanto era atleta. Foi assim que me graduei, fiz pós-graduação e até mestrado. Ao mesmo tempo eu sempre trabalhei, passei por muitos clubes e conheci o trabalho de muitos profissionais, muitos técnicos. É impossível seguir só a teoria ou só a prática. É preciso unir conhecimento e experiências.

É por isso que tem aplicado até mesmo treinos técnicos e táticos ao lado do Milton?
Eu fico ali para dar o treino com ele, e fazia isso também com o Muricy, porque a parte física nunca pode ser esquecida. Jogador gosta de trabalhar com bola, não adianta. Então fazemos trabalhos em que eles treinam a parte técnica e tática com o Milton, mas aprimoraram o físico. Tem que ser assim. Mesmo nesses 15 dias até o jogo contra o Cruzeiro devemos manter essa rotina.

Concorda com o Milton Cruz na teoria de que técnico não pode ter um só esquema?
Sim, você precisa sempre analisar o adversário para montar o time, para trabalhar durante a semana. Assim como os rivais observam nossos pontos fracos, nós precisamos observar os deles. E aí treinar para explorar isso nos jogos.
Fonte: Lance

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