De ‘bonitinho’ a líder, Kaká se cerca de lendas para fazer história nos EUA

– Depois que eu parar, vou ver do que sinto falta, do que quero e não quero fazer e aí decido meu futuro – contou Kaká à reportagem do LANCE!Net.

Aos 32 anos e com pouco mais de dois meses de contrato com o São Paulo, o craque ainda vê a aposentadoria muito distante, mas nem por isso deixa de planejar com minúcia os passos que poderá dar quando disser adeus aos gramados.

São, no mínimo, mais três temporadas em atividade pelo Orlando City (EUA), a maior das aventuras da carreira vitoriosa que rendeu até o título de melhor jogador do mundo em 2007 e o premiou com mais uma convocação para a Seleção Brasileira. Neste sábado, ele defenderá o Brasil contra a Argentina na China após um ano e meio longe das listas de convocados.

Já são quase 14 anos desde que o sonho de ser atleta profissional se realizou e Kaká se deslumbra com o amadurecimento na vida e na bola, sempre se espelhando em ídolos como Rogério Ceni, Cafu e o italiano Paolo Maldini, bandeira da história do Milan (ITA).

– Os três são exemplos para mim pela motivação. Depois de ganharem tudo como ganharam, o comodismo é algo natural. A força psicológica e mental para se motivarem para continuar treniando e jogando (suspira)… De onde eles tiram essa força? Essa motivação pessoal, mental me fez tirar muitas lições desses três – confessou.

O jovem franzino, tímido nos bastidores e assediado por fãs enlouquecidas deu lugar a um adulto sereno, observador e preocupado com os rumos do São Paulo Futebol Clube, do Orlando City, da Seleção Brasileira e até do Brasil. Entre reuniões com políticos e encontros com amigos famosos, Kaká tenta crescer e principalmente, aprender.

– No começo era o Kaká bonitinho, das kakazetes, hoje é um homem, casado, com filhos e profissional. Não sei como vai ser quando parar, se trabalharei no São Paulo, fora ou se darei um tempo de futebol. As coisas mudam tão rápido, mas gosto muito de aprender com os outros – admitiu.

Confira bate-bola exclusivo com Kaká:

Você disse que gosta de aprender muito com os outros. Com quem tem aprendido?
Enquanto estive no Real Madrid (até julho de 2013), conversava muito com o Zidane. Quando ele entrou na comissão técnica do Carlo Ancelotti, perguntei: ‘Por que você voltou e por que agora?‘ Ele respondeu que, quando parou, quis dar um tempo. Não queria nada mais além da pelada, mas foi sentindo falta do campo. Fazia algumas coisas para o clube, mas sentiu falta do dia a dia. Começou a fazer curso de técnico e viu que poderia suprir essa falta, mas só percebeu três anos após parar.

Beckham  é outro astro com quem você mantém contato. Agora você seguirá os passos dele nos Estados Unidos…
O David é um exemplo. Muito mais do que fazer algo diferente, a meta é agregar. Ele fez com que a liga crescesse muito. É continuar dando visibilidade. A liga cresce, os clubes crescem, o público cresce…

Você jogará no Orlando City e ele está abrindo um time em Miami. Vai ser um clássico no estado da Flórida?
Vai ser (abre largo sorriso). Conversei com ele, mas não sei exatamente como e quando vai sair. Ainda estão fazendo projeto, porque lá você é obrigado a ter um estádio. Então eles estão atrás de terreno. Vai ser legal, é bom ter isso.

Além do Robinho, que não deu certo, já chamou outro brasileiro ou amigo para jogar no Orlando City?
Não tem nenhum brasileiro ainda… Converso bastante com eles (diretoria). Agora é que vão montar o time para o ano que vem, ver os que vão ficar e os que vão chegar. Eu indicaria tanta gente para lá… Messi e Cristiano Ronaldo (risos).

Retomando o assunto, você parece andar cercado de personalidades…
Gosto muito de conversar com pessoas de áreas diferentes. O Eros Ramazotti (cantor italiano) era meu vizinho de porta em Milão. Tínhamos muito contato, trocávamos informações. Aqui no Brasil também tenho muitos amigos e procuro estar sempre conversando. São apresentadores, cantores, jogadores… Tem um leque grande, mas prefiro não citar nomes.

O Leonardo (ex-companheiro, técnico e dirigente do Milan) é um desses amigos?
Sim, sim… Ele está resolvendo o que vai fazer nessa temporada, se vai ser treinador, dirigente… Ainda está para decidir que direção vai caminhar. É um cara que gosto bastante de conversar, que tem boas ideias, muito esclarecido. Gosto bastante.

 


E o Silvio Berlusconi (dono do Milan e ex-primeiro ministro italiano)? Tinha contato?
Minha relação com ele foi muito boa, de amigo. Não era tão frequente no clube, tinha períodos… Na primeira passagem tinha jogos decisivos que ele ia no vestiário, passava no centro de treinamento. Depois que saí conversei um pouco por telefone.

Os escândalos da vida pessoal dele atrapalhavam o time?
Não, não… Até porque isso não chegava para a gente. Criavam os boatos e tudo mais, mas quando entrávamos em campo isso não tirava a concentração.

Ele chegou a interferir na escalação do time alguma vez?
Não sei se ele interferia na escalação, qual palpite ele dava, mas é o dono do time, né? Conversa com o treinador ele tinha numa boa. O Ancelotti ficou lá uns seis, sete anos, mas não sei se ele escalava com ele.

Como se posiciona em relação aos recentes casos de racismo?
Para isso é legal eu me posicionar. Sou contra. É um problema de educação. O cara que é racista no estádio é fora também. Estádio não é para isso, então tudo o que for possível para blindar dessas pessoas tem que ser feito. Disso posso dar uma opinião mais concreta, gosto de me expor. Por isso achei justa a punição ao Grêmio no caso do Aranha (exclusão da Copa do Brasil). Tinha que acontecer com alguém. Não falei com o Aranha, mas minhas declarações são sempre contra qualquer coisa relacionada a isso. A punição foi suficiente, já vai dar uma parada em muita gente. Se tinha alguém com intenção de repetir, agora já vai pensar duas vezes.

E sobre a fase do futebol no Brasil, o que pensa? Está ruim?
Não acho que seja ruim o futebol brasileiro, é muito bom ainda, encontramos jogadores muito bons. O único problema é o numero de jogos. Cansa jogar quarta e domingo, quarta e domingo. Isso vai cansando e assim vai diminuindo o rendimento. Eles não sabem lá fora, mas quando alguém comenta, eles falam: ‘Pô, a gente joga 50 jogos aqui, lá no Brasil vocês jogam 80, como vocês fazem?’. Nós vamos dando um jeito, não é?

Qual sua visão sobre os treinadores brasileiro? Tem muita diferença para os de fora?
Procuro, com todos treinadores, pegar alguma coisa boa, ver os treinos. Gosto muito de perguntar a razão para ter tal treino, qual a ideia dele para o treino, parte tática, técnica, treinamento físico. São diferentes, com filosofias e treinamentos diferentes. Com todos aprendi muito, mas o que mais convivi foi o Ancelotti. Foram quase sete anos e eu alcancei meu melhor rendimento.]

Então pensa em ser técnico?
Não sei ainda, mas isso é mais para facilitar a leitura de jogo. Não penso em ser treinador. Não sei o que vou ser até parar de jogar, mas hoje se tivesse que falar, não seria algo que eu gostaria de ser. É para entender o jogo, por isso a curiosidade.

Fonte: Lance

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