Braço direito de Juvenal se reúne com Leco e quer investigação contra Aidar

Roberto Natel era vice-presidente de Carlos Miguel Aidar até setembro do ano passado, quando entregou seu cargo em solidariedade a Juvenal Juvêncio, demitido pelo ex-presidente do posto de diretor das categorias de base. Desde então, combateu a atual gestão até a renúncia confirmada na última terça-feira. Nesta quarta, ele se reuniu no Morumbi com Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, presidente interino até a convocação das novas eleições, em um prazo máximo de 30 dias – o próprio Leco será candidato e é o favorito para ficar até abril de 2017. No estádio, encontraram a sala da presidência praticamente vazia, com apenas um computador.

Em entrevista ao GloboEsporte.com, Natel afirma que pediu a Leco a sequência às investigações contra Aidar e disse que a gravação feita pelo vice de futebol Ataíde Gil Guerreiro, com denúncias de desvio de dinheiro por parte do ex-presidente, devem ser reveladas. Natel, no entanto, explicou que a prioridade é a transição política do clube e elogiou as decisões de Leco de reconduzir Ataíde à vice-presidência, e de Rubens Moreno ao cargo de diretor de futebol do clube.

O ex-vice-presidente também é favorável à volta de Gustavo Vieira de Oliveira como gerente executivo. O dirigente foi demitido em maio e substituído por José Eduardo Chimello.

– Comecei minha batalha contra o Carlos Miguel no primeiro dia em que pedi demissão e vi que ele não foi ao clube para fazer o bem. Não era a mesma pessoa da primeira passagem como presidente (entre 1984 e 1988, dois mandatos). Meu trabalho era fazer o São Paulo voltar a ser como era, mas vi que não estava indo para um caminho correto. Não vou parar. Se não, é troca de poder por poder. Eu não quero nada de poder. Temos de mostrar para a sociedade brasileira que o São Paulo vai até o fim – afirmou.

Sobrinho-neto de Laudo Natel, presidente eleito em 1958 e considerado o patrono do São Paulo, Roberto compara o atual momento com o da construção do Morumbi, cujo principal responsável foi o seu parente, à frente do clube em sete mandatos, até 1972. Coincidentemente, ele foi substituído por Henri Aidar, pai de Carlos Miguel. As duas famílias, inclusive, eram muito ligadas, mas ficaram afastadas desde o racha político do ano passado.

Confira abaixo a entrevista com Roberto Natel:

Leco São Paulo (Foto: Site Oficial/saopaulofc.net)Leco assume a presidência interina do São Paulo
(Foto: Site Oficial/saopaulofc.net)

GloboEsporte.com: O senhor se reuniu com o Leco?

Roberto Natel: Sim, fui com ele ao Morumbi mais para bater papo neste momento. Falamos sobre quais serão as dificuldades. O meu partido (Legenda) é o maior do São Paulo e apoia o Leco: são 32 conselheiros, com 28 vitalícios. Nós nunca cobramos cargos. Eu simplesmente sentei para desejar boa sorte. Ele vai precisar nessa transição de um ano e alguns meses. O São Paulo tem problemas financeiros e a dívida aumentou por falta de credibilidade. Agora o clube precisa reaver a credibilidade para trazer os empresários de volta. O meu objetivo era colocar o São Paulo no caminho do qual sempre tive orgulho. Agora é fazer o clube ser administrável, mas não preciso de cargo para ajudar. Quero que tudo se componha, sem ficar nada para debaixo do tapete, para dar sequência e mostrar transparência à toda coletividade são-paulina.

Então, o senhor é favorável às investigações contra o Aidar até o fim? Ouviu o áudio do Ataíde?

Tudo tem de ser investigado. Sem exceção. Só o Ataíde tem o áudio, mas tenho a impressão de que será mostrado na primeira reunião de Conselho. Acho que o Ataíde não conseguirá fugir de apresentar isso. Não tive acesso à gravação. Quero ter. Agora não é o momento de pedir, mas sim de transição. Passando a transição, é a hora de começar a pedir no Conselho para ser mostrada a todos.

O senhor disse isso ao Leco?

Disse: “Olha, Leco, eu vou dar sequência (à investigação)”. Não pode deixar para debaixo do tapete.

Se depender do senhor, então, a torcida do São Paulo terá uma resposta para tudo isso?

Se depender de mim, Roberto Natel, vou até o fim. Não posso compactuar com nada. Se fizerem isso (não investigar e punir), é trocar poder pelo poder. Nós trocamos pela saúde do São Paulo, para traçar um caminho e mostrar que somos diferentes. Tivemos um erro, mas temos um ano e meio para acertar. Acertamos com a renúncia.

Acha viável dirigentes da gestão do Aidar entrarem na nova direção?

É difícil. Algumas pessoas não terão condições de voltar. Eu não concordaria de maneira nenhuma. Alguns podem falar: “Ah, mas o Rubens e o Ataíde voltaram”. Mas hoje se estamos nessa situação, acertando, foi graças à atitude do Ataíde. Ele estava fora processo, mas graças à atitude dele aconteceu a renúncia. Os outros precisam entender que, para haver uma investigação tranquila, quem assinava os contratos não pode estar na administração. Dirigentes financeiros, jurídicos, vice geral, marketing (Nota da redação: Osvaldo Vieira de Abreu, Leonardo Serafim, Júlio Casares e Douglas Schwartzmann, respectivamente, comandavam os cargos citados), os que assinaram o contrato da Far East (a empresa receberia comissão de R$ 18,3 milhões por intermediar o acordo com a Under Armour, mas o pagamento foi suspenso no Conselho). O Leco acertou em reconduzir os dirigentes do futebol, porque o time está bem no Brasileiro e disputa as semifinais da Copa do Brasil. É importante colocar as pessoas em que os jogadores têm confiança.

Acha que Vinicius Pinotti (ex-diretor de marketing) e Gustavo Vieira (ex-gerente de futebol) deveriam voltar?

O Vinicius colocou R$ 14 milhões no clube (pela contratação de Centurión). Entrou no fim do processo. Apesar de eu ser da oposição, sempre tive uma boa impressão dele. Temos de tomar cuidado para não inverter as posições. Eu gosto dele, mas quem determina é o Leco. Não há a assinatura do Vinicius nos contratos. O Gustavo Vieira deveria voltar. É um excelente rapaz e entende muito de negociações e contrato. É muito correto e foi injustiçado lá atrás. Eu, Roberto, traria o Gustavo de volta. Desde que saiu não arrumou polêmicas e sempre foi reservado.

E o ex-CEO Alexandre Bourgeois (demitido por Aidar)?

Tive um contato quando ele assumiu como CEO e disse uma coisa: se alguém da situação falasse que a dificuldade de implantar um sistema profissional seria da oposição, poderia ter certeza que jamais seríamos contra algo benéfico ao São Paulo. Eu disse a ele que não duraria três ou quatro meses, porque a própria diretoria do Aidar iria combatê-lo. Foi isso que aconteceu. Tivemos um contato muito bom, mas assim como o atual CEO (Paulo Ricardo de Oliveira) não tenho como avaliar.

O senhor pensa que Leco deveria ser candidato único na eleição?

Sim, porque as pessoas têm de entender esse processo. Nada disso teria acontecido se o presidente do Conselho não tivesse tomado atitudes em prol do São Paulo. Se hoje temos a renúncia é porque o Leco olhou a instituição. Então, nada mais justo do que ele conduzir o processo. Todo conselheiro tem vontade de ser candidato e presidente, mas quem olhou pelo clube o tempo inteiro? Foi o Leco. Não vejo nenhum outro nome. Quem vier a ser neste momento vai dar um tiro no pé. Pode até acontecer de amanhã eu vir a ser, por exemplo, mas temos de olhar a instituição. Todos têm um candidato, mas quem merece terminar o mandato é o presidente do Conselho.

E o Abílio Diniz? O senhor é favorável à auditoria proposta?

Com certeza, para dar transparência e credibilidade. Ele disse que queria a auditoria e conhece o que é necessário. Seria importantíssimo para entender onde começar a solucionar os problemas para acabar com a crise financeira.

Ele poderia contribuir de alguma forma?

O Aidar foi a primeira pessoa a levar o Abílio ao Conselho e pediu espaço para ele falar. Ele foi com o intuito de ajudar o São Paulo. O Carlos Miguel não deu ouvidos e pediu achando que ele colocaria dinheiro. A verdade é essa. Pensou: “Vou chamar, ele vai se sensibilizar e colocar dinheiro”. Mas não acho certo ninguém colocar dinheiro. É uma pessoa de muito sucesso como empresário e que ama o São Paulo. Na segunda reunião, ele disse: “Carlos Miguel, eu tentei de tudo para ajudar, mas você não quis. Então, a partir de hoje, vou combatê-lo, porque quero o bem do São Paulo”. Hoje o problema do clube é financeiro e de credibilidade. Seria muito importante a ajuda do Abílio. Com o sucesso e a credibilidade dele sentando com empresários, isso (dinheiro) vem naturalmente. É importante para mostrar que o São Paulo veio para acertar. Vejo esse momento similar ao de quando construíamos o nosso estádio. A torcida reclamava que não tinha time e criticava. Tivemos dificuldades. Hoje, acho que será igual àquela época da construção do Morumbi. O são-paulino tem de entender que temos de pegar o caminho correto até voltar a conquistar. Acho que perderemos o Pato e alguns jogadores, mas no futebol a dívida pode ser quitada. Lá atrás, o Lucas tinha oferta de R$ 80 milhões e o Juvenal não vendeu. Falaram que ele era louco, mas depois vendeu por mais de R$ 100 milhões (foram R$ 108 milhões ao Paris Saint-Germain, da França). O produto pode solucionar o problema. É questão de trabalho e dedicação.

Essa é a maior crise da história do São Paulo?

É a maior, sem dúvidas. Ninguém nunca viu o que acontece agora com o São Paulo. Lá atrás teve uma forte (José Eduardo Mesquita Pimenta, presidente de 1990 a 1994, foi expulso do quadro de sócios após acusações de participação em comissões em vendas de jogadores), mas  tratando-se de uma pessoa da credibilidade do Carlos Miguel, que foi presidente da OAB… Ele deve ter tido algum problema sério, para ter uma mudança tão grande da primeira passagem para essa. O pai dele, Henri, era compadre do meu pai (Laert Natel), como irmãos. A esposa do Henri também com a minha mãe. Éramos muito fechados até esse processo. Quem começou a combatê-lo fui eu (Natel foi um dos que questionaram Aidar sobre o contrato de repasse de 20% de novos negócios de patrocínio para Cinira Maturana, namorada do ex-presidente). Meu pai ficou chateado, porque até pouco tempo atrás o Aidar chamava meu pai de irmão. Mas ali era o São Paulo, e eu não podia pensar em outra coisa.

 

Fonte: Globo Esporte

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