Alvaro Pereira já virou ídolo do São Paulo. E deve isso a Diego Lugano

Quem foi ao Morumbi no sábado presenciou abismal diferença de tratamento da torcida do São Paulo entre um jogador e o resto do time: o lateral esquerdo uruguaio Alvaro Pereira virou ídolo. As vaias intensas e os insultos ao time imediatamente após o empate por 1 a 1 com o Criciúma foram acompanhados, segundos depois, por uma cena impressionante de adoração ao uruguaio. Sua devoção ao clube é inegável, e nessa partida seu ato de maior bravura se transformou em gol. Mas ele deve parte dos muitos devotos que conquistou ao compatriota Diego Lugano. Não haveria Alvaro se não houvesse Lugano. Não pela indicação, mas pela simbologia do uruguaio, que no São Paulo acaba mascarando deficiências.

Alvaro caminhava já sem camisa pelo gramado do Morumbi quando os últimos jogadores do São Paulo terminavam de conceder entrevistas tentando explicar o empate. As vaias intensas ao time, então, acabaram quando a torcida percebeu que após alguns minutos o único que estava em campo para ouvir os insultos era o uruguaio. E ele não merecia isso. Os mais de 46 mil presentes no Morumbi – na hora, minutos após o jogo, já havia menos – começaram, de forma repentina, a cantar o nome do lateral esquerdo em intensidade muito maior que a das vaias. E isso fez o Morumbi ir do fúnebre à festa em questão de segundos.

O nome de Alvaro já é um dos mais comemorados pela torcida no anúncio da escalação. E, depois do gol marcado contra o Criciúma e até o início das vaias, o nome do jogador foi gritado em massa ainda durante o jogo. O ato que justificou tal reação foi uma cópia quase exata de uma situação passada pelo lateral na Copa do Mundo. Ele conduzia a bola pelo meio de campo quando foi derrubado por Bruno Mendes. Permaneceu olhando a bola fugir de seus pés enquanto sua cabeça foi de encontro ao chão. Caiu de cara e desmaiou. Minutos após o atendimento médico na maca, acordou e, ainda deitado, apontou que não iria ser substituído. Foi levado à lateral enquanto uma ambulância já entrava no gramado do Morumbi, mas se levantou e pediu para entrar em campo, para o início do delírio da torcida.

Os segundos – segundos, sim, e não minutos – seguintes à volta de Alvaro ao campo tornaram a situação mágica.  Um jogador do Criciúma recebeu bola na ponta direita do ataque, lateral esquerda do São Paulo. No momento em que todos em campo e na arquibancada ainda esperavam um primeiro lance do uruguaio para saber se ele havia se recuperado do desmaio, ele veio com a certeza: aplicou um carrinho inacreditável, intenso, rasgando o ataque adversário e quase aquele que conduzia a bola. E pegou SÓ a bola, apesar de reclamações. Rasgou, tocou para Souza, que tocou para Ganso, que serviu Kardec. Gol da raça. A torcida gritou Alvaro, e não Kardec, de tão nítida a imagem do herói que se formou do improvável.

Mas Alvaro Pereira não teria conquistado tanta idolatria no São Paulo se tivesse nascido em Osasco. Ou no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, Fortaleza, Belo Horizonte, Pato Branco… Nasceu no Uruguai, de Diego Lugano, Darío Pereyra, Pedro Rocha e Pablo Forlán. Já era festejado antes mesmo de estrear pelo São Paulo, no fim de janeiro. Porque vem com o pedrigree da raça, da devoção total, do empenho contagiante que seus compatriotas escreveram numa história de tanta harmonia entre o clube e os uruguaios.

“A torcida está gostando muito, mas nós ainda não vimos tudo isso”, falou, em fevereiro, um dos mais importantes dirigentes da diretoria de Juvenal Juvêncio, que o contratou. Em suas primeiras partidas, o uruguaio deixou claras as deficiências defensivas e algumas dificuldades de posicionamento. Costumava correr colado à linha lateral do campo, com e sem a bola. Abria espaço imenso às próprias costas e complicava o jogo do zagueiro que fazia sua cobertura. Essas falhas já diminuíram muito, mas nunca foram vistas pela maior parte da torcida do São Paulo. Depois da Copa, voltou em baixa. Fez partidas ruins contra Bahia, Chapecoense, Goiás e Bragantino. Na derrota contra a Chapecoense, tentou exaustivamente jogar bolas na área e errou quase tudo o que fez. Poucos o criticaram – ele mesmo o fez.

É impossível cobrar racionalidade daquilo que é passional, mas a diferença de tratamento está exposta na reação com Alexandre Pato no mesmo Morumbi, no mesmo jogo em que Alvaro virou herói. O atacante foi o melhor em campo, fez jogadas brilhantes e perdeu dois gols que não poderia perder. Ouviu, das arquibancadas, o grito por Luis Fabiano. Grito que não é um pedido de substituição, mas sim uma crítica, afinal o camisa 9 está lesionado e nem no Morumbi estava. Grito que só queria dizer o seguinte: fosse Luis Fabiano e não você, Pato, estaríamos comemorando um gol. Obviamente, injusto, tanto que Muricy teve de sair em defesa do jogador.

Alvaro ainda não está entre os melhores jogadores do São Paulo, tecnicamente. Mas ele é a personificação do mantra “vestir a camisa”. Defende o São Paulo como se tivesse sido doutrinado durante toda a vida a amar o clube. Assim como defende a seleção uruguaia, que ele tantas vezes representou e ainda representa. “O São Paulo me dá de comer”, costuma dizer.

 

Fonte: Uol

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