Polêmico e divertido, Juvenal deixa inimigos, legado vitorioso e problemas

Quando Juvenal Juvêncio atendia o telefone com seu inconfundível “alô!!!”, era uma alegria para os jornalistas. Primeiro porque era raro conseguir falar com ele. Havia alguns truques, como ligar bem cedo, antes que ele fosse para o Morumbi. O dia 31 de dezembro, então, era propício para longos papos. O mais comum, entretanto, era ser atendido por Maristela, a secretária, ou Cristiano, seu motorista. Eles fingiam que Juvenal retornaria, nós fingíamos acreditar.

As conversas costumavam reservar boas frases. Polêmico e complexo, o dono do “juvenalês”, seu vocabulário próprio, nos ensinou o que era diapasão, evocava oxalás aqui e acolá, adorava citar palafitas, mãos calosas e pés descalços de operários para falar sobre o valor do trabalho, e citava criadores de búfalos na Ilha de Marajó para exemplificar são-paulinos que moravam longe do Morumbi .

Morto nesta terça-feira em decorrência de um câncer na próstata contra o qual lutou por mais de quatro anos, Juvenal Juvêncio deixa o senso comum de ter feito muito pelo São Paulo, e de ter pecado pelo excesso. O excesso, no caso, um mandato a mais, contestado, protestado, de 2011 a 2014.

O dirigente não se importou em colecionar desafetos, tendência que aumentou simultaneamente à sua idade e à sensação de ser imbatível e mais poderoso do que, de fato, chegou a ser. O último deles foi justamente quem o lançou no futebol. Nos anos 80, Carlos Miguel Aidar escolheu Juvenal Juvêncio para cuidar do time do São Paulo. Em 2014, Juvenal retribuiu a confiança e a ajuda jurídica que lhe havia garantido o terceiro mandato consecutivo e elegeu Aidar como seu sucessor.

Juvenal Juvêncio  (Foto: Site Oficial SPFC)As entrevistas de Juvenal Juvêncio eram sempre divertidas (Foto: Site Oficial SPFC)

Era muito, mas muito perceptível que eles não falariam a mesma língua depois da eleição. Só Juvenal demorou a notar. Foi nomeado diretor da base, demitido logo depois, e decretou guerra. Uma guerra nada fria. Quentíssima. Venceu, embora não tenha sido o protagonista do processo que derrubou o ex-amigo. Mas disse que poderia morrer e paz. Assim foi.

Antes de Aidar, Juvenal se digladiou com Ricardo Teixeira, Andrés Sanchez, Marco Polo Del Nero, José Serra… Mas, político nato, nem sequer ruborizou quando precisou aliar-se a algum deles, como na época em que o Morumbi ainda seria o estádio da cidade na Copa do Mundo. Não foi.

De origem humilde, nascido na roça, em Santa Rosa do Viterbo, interior paulista, Juvenal era eleitor do PT. A ponto de provocar parentes com totens de políticos vitoriosos do partido em churrascos de família, ou de alardear aos quatro cantos que era amigo de Lula. “O Lula me ligou”, “falei com o Lula”, “o Lula pediu minha ajuda”, etc, etc… O ex-presidente do São Paulo, inclusive, rejeita atribuir ao ex-presidente da República o tombo do Morumbi na Copa do Mundo, em detrimento da construção de um estádio para o Corinthians.

Juvenal era homem de resolver rapidamente as coisas e tentar sempre ter as rédeas da situação. Centralizador, restringiu as principais decisões do São Paulo a pouquíssimas pessoas, sobretudo nos últimos anos. Brigou com Marco Aurélio Cunha, seu ex-genro, pai de seu neto João Paulo, porque ele se atreveu a divergir publicamente de seus métodos e deixou a diretoria do clube. A relação melhorou quando ele percebeu o erro cometido com a sucessão de Aidar.

Um de seus grandes orgulhos era o de saber se relacionar com os boleiros. Um pouco pelo jeito franco, por saber falar o que os jogadores queriam ouvir, um pouco pela tradição de pagar bichos em dinheiro vivo, ainda no vestiário, logo depois de cada vitória. Muito por sua personalidade cheia de peculiaridades. Juvenal não revelava sua idade. No dia de sua morte, noticiaram 81 – confirmada pelo São Paulo – e 83.

Fã de uísque e charutos, dono de centenas de camisas iguais, aquela com a gola vermelha com a qual ele ia a todos os jogos, o ex-presidente coleciona histórias divertidas. Como, por exemplo, quando pediu ao motorista que parasse o carro no meio da estrada e caminhou até o meio do mato para tratar a contratação do zagueiro Miranda com o empresário. Ou quando deixou seu assessor em situação constrangedora, no telefone com o agente do lateral Júnior César ameaçando fechar com o Palmeiras, enquanto dava orientações sobre o que fazer na fazenda.

Tricampeão brasileiro, diretor de títulos paulista, da Libertadores e Mundial, campeão da Sul-Americana e reverenciado por funcionários e jogadores, Juvenal Juvêncio deixa o São Paulo Futebol Clube tendo como aliado muito de seu vitorioso legado para tentar se recuperar de uma situação ruim, pela qual também é impossível retirar sua responsabilidade.

 

Fonte: Globo Esporte

8 comentários em “Polêmico e divertido, Juvenal deixa inimigos, legado vitorioso e problemas

  1. Eu como SPFC gostava dele, lutou contra Lula, Andrés, Ronaldo, Ricardo Teixeira e Band antes da copa do mundo, para não construção de um estádio para os gambas, infelizmente perdeu essa batalha mas não perdeu a guerra, tempos depois conseguiu fazer uma das melhores coisas que já aconteceu no futebol Brasileiro, que foi derrubar Ricardo Teixeira o maior bandido do futebol Brasileiro. Já no SPFC teve alguns erros como o de rasgar o estatuto e ter o terceiro mandato, mas prefiro destacar os acertos, ganhou vários títulos no SPFC se eu não me engano é o segundo presidente mais vencedor do SPFC, sem conta com suas entrevista que farão muita falta ao futebol Brasileiro. Que ano para as ‘gambasadas ‘ em final de carreira do Ceni “frustrante” morte do Juvenal e o SPFC numa crise sem fim, esperar o que para 2016? Rebaixamento!

  2. Morreu o maior ídolo do Curíntia, graças ao falecido os pilantras trambiqueiros que só ganham campeonatos roubados, conseguiram um estádio as custas do dinheiro público.
    Deixou outros feitos também, arruinou o clube nas suas duas gestões co.o presidente, agora então, com muita dificuldade de se reerguer.
    Detonou as estruturas sólidas do SPFC deixadas pelo MPG e fomentou uma briguinha ridícula com seu amiguinho Andres.
    O legado ao clube foi a detonação total administrativa e política, além de uma divida astronômica.
    Só foi competente como diretor de futebol, pois sabia lidar com os elencos, mas de resto, não deixou saudades.

    Mesmo assim desejo que descanse em paz e que Deus conforte sua família, pois não há nada importante que a vida e o amor da família.

    • Comemorou os títulos em que ele esteve à frente do tricolor? Se sim, seu texto não passou de hipocrisia, se não vc é mentiroso… Errar todos erram ou VC não erra? E ele mais acertou do que errou está é a verdade!!

      • Com alguns exageros, mas me parece correto o comentário do Alexandre.
        Juvenal realmente arruinou o clube, financeira e politicamente. Colocou o ego acima do estatuto. Fomentou desavenças com demais clubes. Foi competente como diretor de futebol, e como presidente no começo de sua gestão.

        Quase todos torcedores comemoraram quando ele saiu, mesmo que tenha entrado seu indicado. Quase todos comemoraram demais quando o Aidar, que ainda não conhecíamos, o demitiu de Cotia.

        Pra que essa hipocrisia agora que baixa em todo mundo quando qualquer um morre?
        Lógico que teve erros e acertos, como todo mundo. Agora, a pergunta que não quer calar é: só pararam pra ponderar isso agora que ele morreu? Só se tocaram agora que ele mais acertou do que errou? Por que não deram essa colher de chá pra ele antes, quando todos pediam sua cabeça, enquanto estava vivo tratando o tricolor como seu parque de diversões?

        Esse coitadismo brasileiro me embrulha o estômago. Infelizmente ele não viveu o suficiente pra aguardarmos alguma apuração (se é que haverá) do que aconteceu no final do mandato. Seria importante ter explicações dele caso haja algo errado.

        Onde foi parar o dinheiro da venda do Lucas?

    • Para moço, os gambas estão achando é bom morte do Juvenal, final de carreira do Ceni ” frustrante” ….. ele lutou contra Lula, Andrés, Ronaldo, Ricardo Teixeira e Band antes da copa do mundo, para não construção de um estádio para os gambas, infelizmente perdeu essa batalha mas não perdeu a guerra, tempos depois conseguiu fazer uma das melhores coisas que já aconteceu no futebol Brasileiro, que foi derrubar Ricardo Teixeira o maior bandido do futebol Brasileiro. Já no SPFC teve alguns erros como o de rasgar o estatuto e ter o terceiro mandato, mas prefiro destacar os acertos, ganhou vários títulos no SPFC se eu não me engano é o segundo presidente mais vencedor do SPFC, sem conta com suas entrevista que farão muita falta ao futebol Brasileiro.

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