Maidana diz que temeu fim da carreira após renúncia de Aidar no São Paulo

Iago Maidana nem jogou pelo time profissional, mas entrou para a história do São Paulo. O zagueiro tenta a cada dia retomar sua vida normal. Está quase lá. Do medo de ter que encerrar a carreira aos 19 anos, agora vive o sonho de disputar uma Libertadores como titular, ainda que seja a de sua categoria, sub-20. O adolescente adoraria que, em pouco tempo, ninguém mais se lembrasse de que, indiretamente, ele impulsionou a queda de um presidente.

Maidana que nos perdoe, mas é preciso explicar e relembrar:

Em setembro do ano passado, o São Paulo adquiriu 60% dos direitos econômicos do zagueiro por R$ 2 milhões, apenas dois dias depois de uma empresa, a Itaquerão Soccer, pagar R$ 800 mil para tirá-lo do Criciúma e registrá-lo no Monte Cristo, da terceira divisão goiana. A irregularidade da transação com intermediação de terceiros levou o caso ao STJD, e a óbvia suspeita de negócio nocivo às finanças desencadeou a investigação informal do vice-presidente de futebol Ataíde Gil Guerreiro, que causou a renúncia do então presidente Carlos Miguel Aidar.

Ainda jovem, o jogador viu o sonho de atuar num time grande se transformar no pesadelo de, diariamente, ver seu nome envolvido em notícias de denúncias de corrupção. Centro das atenções mais rápido, mas por motivo bem diferente do que podia imaginar, Iago Maidana logo deixou o grupo profissional na Barra Funda e se juntou aos garotos em Cotia.

“Escondido” das câmeras que frequentam diariamente os treinos, alheio aos temas principais do fim de 2015, como a disputa pela Libertadores, a aposentadoria de Rogério Ceni, a saída de Luis Fabiano e a busca por um novo técnico, Iago Maidana disputou a Copa RS, foi reserva agora em janeiro na Copa São Paulo de Futebol Júnior, e tem treinado como titular da equipe que, a partir de domingo, vai tentar o título da Libertadores sub-20, no Paraguai.

Iago Maidana Itaquerão Soccer São Paulo (Foto: Arquivo pessoal)Maidana junto com representantes da Itaquerão Soccer (Foto: Arquivo pessoal)

Na última quarta-feira, o time treinado por André Jardine enfrentou os reservas de Edgardo Bauza em jogo-treino, como parte da preparação de ambos os times. Em sua primeira entrevista após toda a polêmica, com absoluta tranquilidade, Iago Maidana admitiu ao GloboEsporte.com que temeu pelo fim precoce de sua carreira e revelou até ajuda profissional da psicóloga – algo ao qual ele recorria, por conta própria, desde o Criciúma – para se manter de pé.

– Foi muito difícil passar por tudo isso. Minha família nunca havia passado por uma situação como essa, então nos juntamos, fomos fortes. É um momento em que a gente pensa que pode acabar a carreira, mas como eu também já passei por muita coisa na minha vida, aprendi bastante. Tive o apoio da minha família, da minha namorada e da família dela, da psicóloga aqui do São Paulo (Anahy Couto) e de outras pessoas do clube que conversaram comigo e disseram que isso tudo iria passar. Graças a Deus, foi o que aconteceu – disse.

Iago afirma que quando soube da possibilidade de trocar o Criciúma pelo São Paulo, aceitou imediatamente. Não pensou duas vezes e nem quis saber quais seriam as condições. Era o salto que ele esperava dar na carreira, uma mudança de patamar depois de ter participado, como reserva, do vice-campeonato mundial da categoria, no ano passado, com a seleção brasileira.

– Quando me falaram que era o São Paulo, eu aceitei na hora. Seria um salto na minha carreira. Não pensei duas vezes, nem eu nem minha família. Aceitamos a proposta sem saber de nada, só pensando na minha carreira. E, tirando essa parte, foi a melhor coisa que fizemos. Estou feliz por estar num dos maiores clubes do mundo.

Iago Maidana São Paulo Copinha (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)Iago Maidana jogou a Copa São Paulo pelo Tricolor (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)

A carreira de Iago é agenciada por seu pai, Ronaldo Maidana, que, desde antes da confusão, tem a ajuda do empresário Odoaldo Júnior e do advogado Lucas Meira. O zagueiro não parece querer saber de muita gente por perto. Diz que apenas seu pai tem qualquer influência em sua rotina profissional. Recentemente, Ronaldo teve que segurar o desânimo do filho quando ele foi convocado a deixar o grupo profissional e treinar junto às categorias de base.

– Quem cuida da minha carreira é meu pai, não temos ninguém. Ele se tornou empresário, foi aprendendo as coisas. Para mim é muito bom por ser um cara de confiança. Às vezes a gente acaba se envolvendo com mau caráter, acredito que seja melhor para mim ter meu pai ao lado.

Maidana começou o treino contra o time de Bauza ao lado de Lyanco, zagueiro de 18 anos cedido pelos profissionais para a disputa da Libertadores Sub-20. O torneio está mexendo com a cabeça do jovem. Dessa vez para o bem.

– É o tipo de jogo que eu gosto, mais pegado. Falei para meus colegas aqui sobre como estou com gana de ser campeão da Libertadores. Voltar com o título seria histórico para a base do São Paulo. Quero voltar e mostrar minha medalha, seria um orgulho.

Quando o reforço foi contratado por Carlos Miguel Aidar, a antiga diretoria vivia a certeza de que o então técnico Juan Carlos Osorio sairia rumo à seleção mexicana. O ex-presidente, como comprova gravação feita e exibida por Ataíde Gil Guerreiro, já pensava no nome de Doriva para substitui-lo. Em meio à necessidade do grupo por zagueiros, Iago Maidana chegou e nem passou pela base. Foi direto para a Barra Funda, profissional, como era no Criciúma.

Alugou um apartamento para morar com a namorada, com quem pretende se casar em fevereiro, mesmo mês em que vai completar 20 anos, e se preparou para a ascensão, interrompida pelas polêmicas e pela decisão da atual gestão de que teria de treinar em Cotia, até como forma de reduzir a pressão e a curiosidade naturais sobre o garoto.

São Paulo Iago Maidana (Foto: Érico Leonan/saopaulofc.net)Zagueiro virou centro das atenções em 2015
(Foto: Érico Leonan/saopaulofc.net)

O abatimento inicial virou motivação para tentar reconquistar um lugar ao lado dos principais jogadores do elenco. Junto com seus colegas de posição Rodrigo Caio, Breno, Lucão… e Lugano. Maidana, gaúcho do município de Cruz Alta, interior do Rio Grande do Sul, jura que o uruguaio não é ídolo apenas da torcida do São Paulo. É seu também.

– Eu o admiro muito pela raça dele, é um cara experiente que sabe ser líder.

Aos 13 anos, Iago Maidana deixou sua cidade rumo à capital para jogar no Grêmio. Levou a família toda. Ou melhor, a família o levou. Compraram casa, mudaram a vida, e pouco depois o menino foi dispensado. Quando os pais decidiram retornar ao interior, Iago peitou, bateu o pé: ficaria e conseguiria se tornar jogador de futebol.

A vaga no modesto Cerâmica abriu os caminhos. Alvo de uma transferência polêmica para o São Paulo, com quem tem contrato até setembro de 2018, o zagueiro enche o peito de orgulho para relembrar sua curta e conturbada trajetória no futebol.

– Meu mundo caiu (quando foi dispensado pelo Grêmio). Mas eu fui forte ao falar que queria ficar. Trabalhei sempre com humildade e consegui chegar até aqui graças ao meu trabalho. Com exceção da minha família, nunca ninguém me ajudou, não tive padrinho, cheguei à Seleção sem ajuda de ninguém, foi tudo por minha conta. Eu me orgulho bastante de falar isso.

No próximo domingo, Iago Maidana e companhia darão o primeiro passo na busca pelo título da Libertadores contra o Libertad, do Paraguai, que também é sede do torneio. Um dia importante para todos que estiverem em campo, mas com gostinho especial para o zagueiro.

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