Lateral tatua seu ódio de perder e sonha com Mundial pelo São Paulo

Em meados de 2013, escondido da mãe, que odeia tatuagens, Auro fez sua segunda. Três anos depois de ter gravado o nome da própria mãe (Tercília) e do pai (que também se chama Auro) no braço direito, a nuca foi o local escolhido por ele para registrar para sempre na pele seu lema de vida: “Vencer ou vencer”. Passado pouco mais de um ano, a frase começa a fazer mais sentido do que nunca para o garoto, que assumiu a titularidade da lateral direita do São Paulo aos 18.

“Tenho bastante fé, acredito em Deus. Eu sabia que, a qualquer momento, iria aparecer uma oportunidade e eu teria que estar preparado. Vinha treinando bastante forte no dia a dia. O Douglas foi vendido para o Barcelona, o Paulo (Miranda) infelizmente se machucou, e eu tive essa oportunidade”, disse, em entrevista à Gazeta Esportiva, na quinta-feira, um dia depois de sofrer para o Coritiba sua primeira derrota como profissional – e odiá-la.

Filho de família humilde, Auro deixou o interior rumo à capital paulista em 2009 com a promessa de retribuir financeiramente o apoio recebido dos pais e das duas irmãs em toda a infância. Promovido ao profissional nesta temporada, ele ainda não ganha salários como o das estrelas com quem divide o elenco, como o goleiro Rogério Ceni e o meia Kaká, por exemplo, mas já recebe elogios do técnico Muricy Ramalho – o que é difícil e mostra que ele pode, de fato, vencer mais do que perder no futebol, como imagina.

Para isso, Auro espera renovar o contrato vigente, válido até 14 de fevereiro de 2016, e fazer história com a camisa do São Paulo, seu local de trabalho e, por enquanto, também moradia. “Pretendo continuar aqui. Ganhar Paulista, Brasileiro, Sul-americana, Copa do Brasil, Libertadores e Mundial. Quero vencer tudo”, avisou, três dias antes de seu primeiro clássico contra o Corinthians na carreira. O pensamento para a partida em Itaquera, é exclusivamente na vitória, é claro.

Tossiro Neto/Gazeta Press

“Vencer ou vencer”: lema de vida do garoto Auro, de 18 anos, novo titular da lateral direita do São Paulo

Gazeta Esportiva: Antes de o Paulo Miranda se machucar e o Douglas sair, você imaginava que teria chance como titular do São Paulo ainda nesta temporada?
Auro: Tenho bastante fé, acredito em Deus. Eu sabia que, a qualquer momento, iria aparecer uma oportunidade e eu teria que estar preparado. Vinha treinando bastante forte no dia a dia. O Douglas foi vendido para o Barcelona, o Paulo infelizmente se machucou, e eu tive essa oportunidade.

 

Gazeta Esportiva: Você também já conheceu o Barcelona neste ano. Como foi?
Auro: Tive essa oportunidade. Estava de férias (depois da disputa da Copa São Paulo de Futebol Júnior), e meu empresário, que tem contato lá, me convidou para conhecer. Fui para passear, conhecer a estrutura, os jogadores. É fora do normal.

Gazeta Esportiva: Como lateral, você deve ouvir mais as broncas do Muricy.
Auro: Ele cobra. Mas cobra também dos volantes e da zaga para fazer a cobertura, porque minha posição de origem era meia ofensivo. Como lateral, ele já me falou que a responsabilidade é primeiramente a de marcar para, depois, sair para o ataque.

Gazeta Esportiva: Ele deve se preocupar com sua estatura (1,68m) também na bola área.
Auro: Ele pede para o Rafael Toloi (zagueiro) vir do meu lado, manda ele me cobrir. Mas eu procuro ocupar espaço para não ter tanto contato físico.

Gazeta Esportiva: Você não deve ter visto o Ilsinho jogar pelo São Paulo, viu?
Auro: O Cicinho, eu vi. O Ilsinho, não.

Gazeta Esportiva: Ele foi bicampeão brasileiro (2006 e 2007). Acho que tinha estilo parecido com o seu. Era ousado, atrevido, driblava. Você se acha ousado?
Auro: Quando a bola está do meio-campo para frente, eu tento ser um pouco ousado, sim. Atrás, na defesa, tento fazer o simples.

Gazeta Esportiva: O Muricy te dá liberdade para arriscar?
Auro: (Risos) É aquela coisa: se você acertou, te aplaudiu; se errou, se ferrou. Então, procuro fazer o simples. Mas, no campo de ataque, tento ser um pouco mais ousado.

Gazeta Esportiva: Na derrota por 3 a 1 para o Coritiba, você fez uma bela jogada com o Pato, colocou a bola entre as pernas do zagueiro. Também participou da jogada do gol, cruzando a bola para o Pato ajeitar para o Michel Bastos. O Muricy te elogiou? Ele te elogia, te cobra?
Auro: O Muricy é tranquilo em relação a isso. Quando se faz uma boa jogada ou um gol, isso costuma subir para a cabeça. A característica dele é de, fazendo uma coisa boa, ele te elogiar, mas sem subir seu moral. Agora, quando erra, ele pega no pé, muito, muito, muito. Nesses quatro jogos que fiz, ele chegou e me cumprimentou, deu os parabéns, mas nada demais.

Gazeta Esportiva: Que técnico te tirou do meio-campo e pôs na lateral? Ele te explicou o porquê?
Auro: Foi o professor Toninho (Antônio Rodrigues, do sub-14). Ele falou que o meio-campo tem muito contato, precisa de força física, e que minha característica era de muito toque de bola, técnica. Disse que ia me colocar na lateral durante uma semana, porque tínhamos um jogo no sábado. Eu fui bem, sofri pênalti, e a gente ganhou. Depois, não saí mais da lateral. Só joguei às vezes como volante e no meio, como tenho feito na Seleção. Onde precisar, estou à disposição.

Goleiro e atual presidente do Corinthians, rival de domingo, como conterrâneos
Sergio Barzaghi/Gazeta Press
Natural de Jaú (muncípio paulista de pouco mais de 130 mil habitantes, localizada a cerca de 300 quilômetros da capital), Auro poderá rever no domingo, no clássico contra o Corinthians, um conterrâneo. Trata-se de Walter, de 26 anos, um dos goleiros reservas da equipe adversária. Neste ano, eles já se encontraram em sua cidade natal.

“A galera me chamou para uma pelada, em um campinho sintético, falou que ele iria estar lá, e a gente se encontrou. Conversamos um pouco. Meu pai conhece o pai dele”, conta. “Mas, amizade mesmo eu tenho com o Leandro Castán”, revela o são-paulino, citando o atual zagueiro da Roma, que defendeu o clube rival de 2010 a 2012.

“Converso com ele por mensagem. Eu joguei na escolinha que o pai dele tinha. O pai dele trabalhou comigo alguns meses no ano passado também, ele foi meu procurador. Foi mais para me dar conselhos, porque eu não sabia de algumas coisas, e ele me ajudou um pouco”, falou Auro, que tem outro conterrâneo como adversário neste domingo, o presidente do Corinthians, Mário Gobbi.


Gazeta Esportiva: Está morando no CT?
Auro: Por enquanto, sim.

Gazeta Esportiva: Com quem você se concentra aqui?
Auro: Tem um revezamento. Mas fico mais com o Boschilia, o Ademilson, os moleques que subiram da base também. Só que tenho amizade com todos os jogadores, com o Pato… A gente brinca. Aqui não tem diferença, são todos iguais, e isso é muito legal.

Gazeta Esportiva: E você volta para casa ainda?
Auro: Volto. Sempre que tenho tempo, quando o treino é de manhã e a tarde fica livre, eu faço um bate-volta para Jaú para ver minha família.

Gazeta Esportiva: Tem carteira de motorista já?
Auro: Tenho. Tirei em fevereiro. É “rapidão” até Jaú. Tenho que bater e voltar, porque meus pais e meus amigos estão lá.

Gazeta Esportiva: Você tatuou na nunca a frase “Vencer ou vencer”. É um lema de vida? O que significa essa frase para você?
Auro: Vim de uma família que… Não vou dizer que passei necessidade, mas minha mãe tirava dela para dar para mim. Meu pai tirava dele para dar mim. Eu ficava pensando que um dia eu iria dar frutos para minha família, um dia iria retribuir isso. No futebol, se você perder, perdeu, não tem nada. Agora, se ganhar, se vencer na vida, nos jogos, nos campeonatos, você vai ter uma estrutura boa. Tenho uma tatuagem com o nome dos meus pais e o símbolo do infinito e queria fazer mais uma. Minha mãe não gosta, ela odeia. Mas pensei em “Vencer ou vencer”. Meu histórico é esse. O que quero para mim é só vitória, não pretendo derrotas.

Gazeta Esportiva: Você não gosta de perder? Como foi depois do jogo contra o Coritiba, sua primeira derrota no profissional?
Auro: Eu odeio perder. Todo jogo que perdia na base era assim. Quando perco, paro e fico uns dez minutos de cabeça baixa, pensando, relembrando o que aconteceu, como foi o jogo. Não gosto de perder, não. Ontem foi assim.

Gazeta Esportiva: No domingo, é vencer ou vencer?
Auro: É. Ainda mais contra o Corinthians, um clássico. Vai ser complicado, ainda mais no Itaquerão. Mas tem que ser isso. É vencer ou vencer, independentemente se for Corinthians ou qualquer outro time. Tem que ganhar.

Gazeta Esportiva: Seu contrato vai até fevereiro de 2016. O que você planeja?
Auro: Pretendo renovar, continuar aqui. Ganhar Paulista, Brasileiro, Sul-americana, Copa do Brasil, Libertadores e Mundial. Quero vencer tudo. Pretendo fazer história aqui. Mais para frente, jogar na Europa.

 

Fonte: Gazeta Esportiva

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