Kalil garante vitória e promete ‘sensação’ no futebol do São Paulo

Ao interromper a pergunta da reportagem, o candidato da oposição à presidência do São Paulo deu o tom de sua entrevista.

Entre os três postulantes ao poder tricolor, ninguém se mostrou tão convicto da vitória quanto Kalil Rocha Abdalla. Ele se apoia na popularidade de Marco Aurélio Cunha para eleger a maioria dos 80 conselheiros na primeira quinzena de abril, e, assim, conseguir suporte para vencer Carlos Miguel Aidar e Carlos Augusto Barros e Silva no pleito que será realizado na segunda metade do mês.

Diretor jurídico do clube nos dois mandatos de Aidar, de 1984 a 88, e em todo período que o grupo de Juvenal retomou o poder, desde 2002, Kalil pediu demissão este ano para dar maior sustentação ao projeto da oposição. Conselheiro vitalício e sócio número 70 do São Paulo, ele recebeu o GLOBOESPORTE.COM na Santa Casa de São Paulo, da qual é provedor.

Em relação a Juvenal, adotou a famosa tática do “morde e assopra”. Poupou o presidente dos maus resultados da equipe nos últimos anos, mas o responsabilizou, por exemplo, pelo novo estádio do Corinthians, construído para a Copa do Mundo de 2014.

– A Copa seria no Morumbi se não fossem os desacertos dele com o Ricardo Teixeira e a Federação Paulista. O Andrés se aproveitou da situação e conseguiu fazer o estádio dele. O Juvenal é responsável pela construção do Itaquerão.

Kalil já confirmou que, se eleito, Marco Aurélio Cunha será o responsável por cuidar do futebol do São Paulo. Mas também pretende colocar uma pessoa remunerada ao lado do dirigente. Já escolheu o nome e diz que até já conversou com ele. Mas não revela, de jeito algum.

– Vai ser uma sensação, mas só a partir de abril vou contar quem é.

O opositor de Juvenal também se disse um entusiasta das categorias de base, falou sobre técnico e revelou que deseja alterar a eleição para dezembro.

Kalil Rocha Abdalla Candidato presidente sao paulo (Foto: Alexandre Lozetti)Kalil Rocha Abdalla, candidato à presidência do São Paulo (Foto: Alexandre Lozetti)

Como está o andamento de sua candidatura?
Estou tranquilo com relação a isso. Entre os conselheiros vitalícios, que são 156 porque quatro já morreram, acho que tenho maioria. Um pouco mais de 80. Sempre há os indecisos, doentes, os que não comparecem. Mas na parte dos 80 conselheiros que serão eleitos, a maioria esmagadora é do pessoal que apoia o Marco Aurélio Cunha. Eles têm o Marco como um mito lá dentro. Esse pessoal dará uma vitória tranquila para nós. Temos uma vantagem bastante grande nesse quadro.

Então o senhor se apoia na eleição dos conselheiros pela popularidade do Marco?
Tenho certeza absoluta de que temos maioria esmagadora. O Juvenal fez muitas obras, mas pela maneira de dirigir o clube, e de se impor, o pessoal não gostou muito. O associado do clube não gosta do Juvenal, tanto que você viu aquele espetáculo dantesco, aquela coisa horrorosa naquele churrasco. Ele brigando e xingando os caras. Não quero nem comentar, mas passou na televisão, todo mundo viu.

E por que o senhor decidiu se tornar candidato?
Um grande número de conselheiros veio conversar comigo, me perguntar por que eu não era o candidato. Achei uma honra, muito bacana, gostoso. Sou provedor da Santa Casa de São Paulo, dirijo 39 unidades hospitalares. Tenho um escritório de advocacia, mas me sinto em condições de tocar os três, conheço minha capacidade de trabalhar. Quando o pessoal me pediu, deu aquele cutucão, resolvi participar do movimento.

Uma possível divisão da situação em votos para o Aidar e o Leco é boa para você? Acha que pode facilitar sua eleição?
Não sei, isso é problema deles. Tenho tanta certeza da vitória que não estou preocupado se serão dois ou três candidatos. Não há limitação, qualquer conselheiro pode ser candidato.

O senhor fez parte da gestão do Juvenal Juvêncio, inclusive foi a favor do terceiro mandato dele, em 2011.
Acho que o Juvenal foi um grande presidente, mas ultimamente vinha extrapolando um pouco sua maneira autoritária. Suas entrevistas viraram motivo de chacota. E o que não gostei é que a Copa do Mundo seria no Morumbi, se não fossem os desacertos dele com o Ricardo Teixeira e a Federação Paulista de Futebol. Isso criou o clima, e o Andrés (Sanches, ex-presidente do Corinthians) se aproveitou da situação. Ele é inteligentíssimo, e conseguiu fazer o estádio dele. Aquele estádio não sairia se não fosse o Juvenal. O Juvenal é o responsável pela construção da Arena de Itaquera.

Kalil e Marco Aurélio Cunha vão se unir contra Juvenal Juvêncio na eleição (Foto: Site Oficial/saopaulofc.net)Kalil e Marco Aurélio Cunha, em evento na Câmara Municipal (Foto: Site Oficial/saopaulofc.net)

Por falar nisso, o São Paulo está isolado depois de tantas brigas com federações e clubes, não acha? Passou a ser mal visto pelos outros?
Mas a partir de abril passará a ser bem visto em todos os lugares. Tenho liberdade. O presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, esteve comigo, fizemos um acordo para que ele usasse a marca da Santa Casa na camisa. Fez uma gentileza muito grande. Dirijo a Santa Casa de forma voluntária, sempre trabalhei com disposição e vontade, não tenho problema algum com o pessoal da Federação. Participei durante seis anos do Tribunal de Justiça Desportiva da FPF, até virar diretor jurídico com o Aidar. De 1990 a 2002 fiquei fora do clube, mas depois de 12 anos voltamos. Curiosamente o poder no São Paulo costuma mudar de mãos a cada 12 anos, e agora provavelmente mudará novamente.

Não houve uma certa soberba depois de conquistar títulos seguidos? O São Paulo não passou a achar que não precisava de ninguém ao lado para sobreviver?
De maneira alguma. Não podemos nos esquecer que não existe um time que vença tudo. Claro que a gente torce, mas é impossível ganhar sempre, e não teria a menor graça. Na Espanha só há dois times, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul também. Tem de haver a sensação de quase chegar, perder, quase cair para a segunda divisão. Aliás, não vamos cair, pode ficar certo disso. Dois dos outros grandes já caíram. Mas sempre me dei bem com todos eles. Sou um dos sócios mais antigos do São Paulo, desde 1951. Nunca imaginei ser presidente, mas agora tenho certeza de que serei a partir de abril.

O senhor falou sobre a questão do Morumbi. Como diretor, não alertou o Juvenal sobre isso, ou ele não dava espaço para que as pessoas se manifestassem?
Ele tinha contato com o assessor de engenharia dele, o arquiteto, que era o Ruy Ohtake. Ele que orientou e deu todas as diretrizes. O departamento jurídico não participava disso. Na minha gestão, vou delegar poderes a cada setor.

Inclusive ao futebol? Haverá alguém remunerado para cuidar da área?
O futebol terá um diretor e o superintendente profissional, remunerado. Parece que é o papel do Gustavo Oliveira agora. Já tenho um nome de minha preferência, será uma sensação. Mas só a partir de abril vou contar quem é.

Já falou com essa pessoa? É um ex-jogador?
Já falei com a pessoa, e não interessa. É uma pessoa (risos).

E o diretor será o Marco Aurélio Cunha?
Provavelmente. Claro. Ele é um excelente companheiro, muito amigo. Gosto muito dele.

O Juvenal teve um estilo centralizador de administração. O senhor será diferente?
Tenho um monte de coisas para fazer. Desenvolvo um trabalho na Santa Casa, e não consigo estar em 39 lugares ao mesmo tempo. Mesmo assim, ela está um primor. É claro que vou tocar da minha maneira. Nem sei fazer aquela história toda do Juvenal, aqueles discursos. Acho brilhante, mas não consigo fazer.

E entre essas pessoas pode haver elementos que hoje são da situação?
Claro, não tenho problema algum com isso. Para mim não existe situação e oposição. Estou com a pecha de oposição, mas sou um candidato independente. Espero contar com elementos da situação na minha diretoria, sim.

Nos últimos cinco anos, o São Paulo contratou oito técnicos e 60 jogadores. O que acha desses números?
Impressionante. Pretendo modificar isso. Você pode até contratar e não obter êxito, mas é absurdo contratar jogadores caros e eles ficarem encostados. Isso não resolve o problema. Quando eu era diretor jurídico, impus um sistema de fazer contratos com tempo indeterminado com os técnicos. Se você determina um tempo, e depois rompe o contrato, precisa pagar a metade do que resta até o fim do período.

Pelo investimento que foi feito no time de futebol, ter conquistado apenas um título, o da Sul-Americana, nos últimos cinco anos não é pouco?
Pode ter nenhum título, como pode ter dez. Houve a época em que ganhou três Campeonatos Brasileiros seguidos, e ninguém conseguiu. Ninguém sabe quem vai ganhar. A gente luta para ganhar todos, eu queria ganhar os cinco, mas essa alternância é saudável, assim como a alternância do poder é necessária. Essa medida aprovada que proíbe reeleições é fantástica. Meu desejo é ficar um mandato só. Se precisar, posso ficar dois.

Ficaria só três anos no poder, então?
Um pouco menos, porque pretendo alterar o estatuto e colocar a eleição em dezembro. Esse processo acontecendo em abril, no meio dos campeonatos, prejudica o time, o clube.

Que melhorias o senhor gostaria de fazer no São Paulo?
São diversos aspectos. A parte social é maravilhosa, mas há algumas reclamações. A maior é com relação ao estacionamento. A ideia seria fazer mais um campo de futebol, e embaixo dele a garagem, a exemplo do que fizeram outros clubes. Quero acertar com uma empresa privada, fazer com que construam e explorem por determinado período que corresponda ao gasto que tiverem.

E no futebol?
Vamos tentar fazer melhorias, teremos de contratar alguns jogadores, trocar outros, e incentivar bastante a base. Gosto da base. Claro que não pode ter só jogadores da base, é preciso mesclar com outros jogadores. Mas a base do São Paulo é maravilhosa.

Muricy Ramalho (Foto: Marcos Ribolli)Muricy Ramalho “deve permanecer”, segundo
Kalil Rocha Abdalla (Foto: Marcos Ribolli)

O Muricy é seu técnico ideal?
Gosto muito dele, mas não sei o que pode acontecer em oito meses. Ele deverá permanecer, acho imprescindível que o técnico fique por muito tempo. A torcida gosta dele. O Muricy foi imposto à diretoria pela torcida. O técnico que a diretoria escolheu foi o Paulo Autuori. Depois que ele não ganhou meia dúzia de jogos, o Juvenal atendeu o que eles queriam.

O Adalberto Baptista teria lugar em sua diretoria?
Acho que não. Ele é um elemento novo no São Paulo, esteve no marketing, e o Juvenal não explicou o que o levou a transferi-lo para o futebol, onde ele não agradou. Discutiu, teve entreveros com jogadores, brigou com o Rogério, e saiu. Acho que ele seria o candidato do Juvenal à presidência, mas se queimou.  O Juvenal falou na reunião do Conselho que lastimava sua saída, adorava o Adalberto, e iria levá-lo de volta. E isso aconteceu depois de uma semana.

O que o senhor pensa do projeto de cobertura do Morumbi, que parece estagnado?
Não sei se está parado com a construtora, na prefeitura, mas pretendo mexer nisso de qualquer jeito. Tenho ligações com o prefeito Fernando Haddad, não tenho medo do poder público. Vou atrás. Conto com o apoio do Marco Aurélio Cunha e de outros vereadores, acho que vou conseguir. Acho que vou marcar meu nome com obras no Morumbi.

Uma de suas propostas que causaram polêmica foi a de dividir torcedores no Morumbi. Como seria isso exatamente?
Muita gente não gosta, mas eu gosto. Meus torcedores dizem que ninguém pode entrar no Morumbi, mas eu não vou lá para brigar. As pessoas estão tirando os alambrados, temos de viver e trabalhar nesse sentido. Não sou ditador, terei uma diretoria, e se eles preferirem não fazer, tudo bem. Eu acho que deveria ser feito dessa maneira.

Então, num jogo entre São Paulo e Corinthians, metade do estádio seria destinada a cada uma das torcidas?
O ideal para mim é: quem comprar, comprou. Quem tiver mais disposição de ir ao estádio. Tanto que sugeri, para incentivar a agremiação, que 60% da renda fique com o vencedor. Seja no Morumbi, em Itaquera, no Palestra Itália… Não é só no Morumbi, quero fazer com todo mundo. Não sou inimigo de ninguém, somos apenas adversários. Quero todo mundo junto, quero fazer uma campanha de doação de sangue com todo mundo. Ou o sangue do são-paulino é diferente do sangue do corintiano?

O senhor disse que gosta muito da base, mas nos últimos anos o São Paulo vem contratando jogadores muito jovens, e sofrido alguns problemas na transição para o time profissional. Como pretende solucionar isso?
Gostaria de ter técnicos de nome na base também. Claro que ele precisará ter um entrosamento com o técnico de cima, mas gostaria de ter gente de peso, com capacidade e condições. Não sei como está agora, não vou lá com frequência, mas se tiver condições, irá participar como outro qualquer.

Se o senhor for eleito…
Se eleito, não. Já estou eleito!

Bom, vai pegar o clube sem o Rogério Ceni. Como vê a posição de goleiro sem ele? Será preciso contratar?
Temos hoje três ou quatro goleiros que, no meu entender, estão aptos para jogar. Mas quem vai decidir isso é o técnico e a diretoria de futebol. Não vou discutir, participar, não quero escalar jogador. E se for comprar algum jogador, vou conversar com o técnico. Ele vai dizer se posso comprar ou não, só vou dizer se tenho dinheiro ou não.

E que futuro imagina para o Rogério?
Não sei. Gostaria de vê-lo feliz da vida, usufruindo do que já ganhou, se divertindo e praticando o que mais gosta. Seja no clube ou não.

Fonte: Globo Esporte

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