Juvenal Juvêncio trata como questão de honra derrotar Aidar

A sala onde Juvenal Juvêncio recebeu a reportagem do LANCE! em sua casa revela duas das suas maiores paixões: cavalos e o São Paulo. Os animais estão lá representados em esculturas e convivem em plena harmonia com livros, recortes e recordações da última época áurea do clube, que entre 2005 e 2008 dominou o futebol brasileiro tendo à frente o dirigente.

Existe no ex-presidente um animal político que o enche de vida mesmo depois dos 80 anos. A saída abrupta do clube parecia ser o ocaso de uma carreira recheada de polêmicas, mas igualmente farta em títulos. Ao invés de nocauteá-lo, a briga com Carlos Miguel Aidar o deu nova motivação para seguir ativo e muito forte na política.

–  Como cometi um erro, preciso reparar. Quando recompuser o erro, estarei realizado – disse o presidente enquanto folheava a edição do L! que comemorava os dez anos do tricampeonato da Libertadores.

Foi um dia importante esse (do Tri), não é mesmo?
Dez anos…faz dez anos que inauguramos Cotia. Vocês conhecem a história daquele negócio lá? Aquilo fui eu que fiz, comprei o terreno a nove reais o metro quadrado e fiz aquilo lá em 11 meses. Fui todos os dias durante esses 11 meses, inclusive no Natal. Fizemos sem dever um tostão uma obra fantástica que é o presente, e futuro do São Paulo.

De fato, é uma grande obra.
Nós corremos perigo na gestão do Carlos Miguel, porque numa das reuniões, um diretor falou… Mas eu desconfio que esse diretor não teria falado se não fosse insensato. Ora, se não há dinheiro, vendemos Cotia. E recentemente, tinha um zunzunzun lá que ele pode arrendar aquilo por dez anos renováveis.

Mas você ouviu que ele iria arrendar aquela área?
Quando nós combinamos (a candidatura), ele me pedia lá atrás para ser presidente do Conselho Deliberativo. Depois começou a me pedir para ser presidente. Eu tinha dificuldade para escolher o candidato, errei gravemente. Tinha três, quatro amigos muito próximos. Eu pensei, vou pegar um terceiro e ajeito. Não deu certo.

Aidar disse que você pediu para ele ser candidato. Foi ele quem pediu então?
Ele me pedia muito para ser presidente, mas eu não dava bola, achava que seria ineficaz. Antes do pleito percebi que ele iria me trair. Antes ele já começou com umas conversas diferentes, querendo trazer uns caras, falando besteira… Reclamava que só tinha um patrocinador onde poderiam ter cinco, mas hoje procura um e não tem. Provou que estava defasado, mas não tinha mais volta.

Sua saída foi bastante traumática. Conseguiu superar?
Superei, achei que ia agredi-lo e deveria ter feito isso e não fiz. Devia ter dado (um soco) nele, mas não fiz e me arrependo. Mas tem de ter cuidado também para não prejudicar a instituição, preciso pensar nisso.

Mas o que está errado?
O mal lá é a interferência do Carlos Miguel. Eu sei, não vou contar como, que os jogadores detestam ele. O jogador é o cara que testa o dirigente. Em uma semana, ele percebe se o presidente ou o diretor é um torcedor ou se é boleiro, como eles chamam, se entende do jogo. Já perceberam que ele é torcedor, com uma desqualidade, promete as coisas e não cumpre.

E o clube passa um momento complicado financeiramente.
Eu fiquei dez anos, tenho dez anos de superávit, não adianta ele falar que eu deixei isso, aquilo. Por que ele quer falar que está ruim? Primeiro, por causa da minha imagem, depois para arrumar dinheiro, para vender jogador. Três dias antes dele assumir, eu recebi R$ 50 milhões da Globo. Era dinheiro da gestão dele; usamos uma parte para pagar as dívidas bancárias. Sobraram R$ 20 milhões, que era rodízio de caixa e ele comprou o jogador do Palmeiras (Alan Kardec) e pagou comissão tudo à vista. Aí o caixa ficou vazio. Agora ele quer R$ 20 milhões da Globo e ela não vai dar.

E como enxerga o time neste momento?
Acho que para o futuro temos uma equipe competitiva, falta ainda uma cara. Tomara que o Ataíde (Gil Guerreiro, vice de futebol) toque as coisas e o Carlos Miguel não vá à Barra Funda, que fique enchendo apenas no Morumbi. E não estou falando coisas de mágoa, de querer o lugar dele, não tenho essa pequenez.

Existe alguma chance de aproximação entre vocês?
Não. Ele me ofereceu isso através do (Antônio Carlos) Mariz (conselheiro). Ele me disse “o Carlos Miguel falou que você pode ficar com administração”, mas disse para que não me oferecesse nada. Eu falei “à medida que vocês tornam o presidente mais forte, deixam ele fazer coisas não são-paulinas. Vocês estão dando instrumentos ao pedrador. Estão sendo amadores”.

Mas a torcida parece ao lado do Aidar nessa briga…?
Não está. Se eu fizer dois discursos, ela fica comigo. Primeiro que minha história não se muda. Títulos brasileiros, campeão do mundo, estatísticas não se medem. A torcida quer sucesso. Quando saímos, não tivemos sucesso, futebol tem isso, não é um computador. Você desgoverna, cara que saiu que parece que não tinha importância, e tinha.

Olhando em retrospecto, o terceiro mandato foi um erro?
(Silêncio) Foi um erro do ponto de vista, digamos, filosófico, outro dia falei para o Lula: “presidente, na (sua) próxima campanha, quero estar junto”. Ele falou pra mim: você, foi candidato a terceiro mandato e eu falei pra você não ser. E o seu terceiro não foi o melhor. Se eu voltar à presidência, eu não faria o governo que fiz. Então está respondido.

Qual a solução para o São Paulo nesse panorama atual?
Ele (Aidar) fica aí, mas deveria evitar mexer com o futebol, não mexer com Cotia. Ele não gosta disso, o social está todo abandonado, seria melhor ficar no barco dele fazendo churrasco.

E o que dá para fazer de imediato?
Falei para colocarem um diretor financeiro. Quem assina hoje é o Oswaldo (Vieira de Abreu, vice de finanças). Porque o diretor, ao assinar o cheque, ele é o co-responsável por aquilo, ele é avalista junto com o presidente, dos papagaios nos bancos. No São Paulo, só duas assinaturas valem: a do presidente e a do diretor financeiro. Então, o financeiro tem que assinar também.

Mas que tipo de coisa…
(Interrompendo) Agora, o que o Carlos Miguel está muito chateado é que ele quer pagar uma comissão (para a Under Armour – leia a reportagem a respeito aqui). Chegam a falar em R$ 28 milhões para pagar em Hong Kong, um paraíso fiscal. O Jack mexe com roupa. Eu não conheço. Me disseram que ele me conhecia, eu falei “fala para ele que estou com saudade. Manda ele ir lá dia 28 no conselho, vou cumprimentá-lo, e vou pedir pra ele falar, dizer o que ele fez”. É justo dever pros jogadores e não pagar uma comissão para um cidadão que ninguém sabe a firma a origem dela? Por que não pega esse dinheiro e paga esses atletas e diz pro cara, eu quero pagar mas o conselho não quer pagá-lo?.

Essa comissão não é de 10%?
É muito mais de 10%, é 25%.

Está sugerindo um calote?
Eu quero que ele venha aqui, e mostre a firma, qual é o endereço. Que traga da junta comercial lá de Hong Kong que a firma existe. Primeiro é a origem. “Jack, o que você fez nesse processo?” Porque há dois anos a Under Armour nos procurou; eles falaram que fizeram pesquisa e o produto se encaixava melhor no São Paulo. Falei para fazermos, mas eles disseram que precisavam de dois anos porque não tinham escritório, fábrica, logística. Então eu saí, e eles foram no São Paulo. E a comissão, o São Paulo vai pagar R$ 28 milhões.

Existe oposição no São Paulo hoje? Aidar diz que o senhor lidera um grupo pequeno.
Daqui a pouco tem fim de ano, depois chega abril e começa o processo eleitoral e é água de morro abaixo. Quem está com ele vai despencar, porque ninguém acredita nele. Quantos que estão com ele que vêm falar comigo e eu digo “fica quieto aí até abril”.

Há muitos insatisfeitos?
Esses dias votaram 40 contra ele, depois votaram mais de 80, ele perde cada dia mais. Ele fala para o Mariz “tenho eventualmente a maioria, mas amanhã posso não ter mais”. Porque ele não tem ligação, não tem approach político. Ele vive de pequenos favores, de dar ingresso para o cara. Ele agrada, dá uma risadinha. E é isso.

Como tem sido sua rotina fora do clube?
Tenho ido para a fazenda, estou gostando mais do que antes. Está uma beleza, tem cavalos. Eu gosto. Se eu não estivesse nessa coisa, estaria morto porque não posso ficar parado, eu preciso fazer coisas. Tenho feito reuniões aqui com o pessoal do São Paulo, eu agito.
Surpreende vê-lo com essa vitalidade e energia…

(Interrompendo)…falam que eu vou morrer, dizem “ah, o Juvenal está morrendo, não vai aguentar”. Estou muito ativo nesse processo, a hora que eu botar para quebrar…eles estão todos desesperados. Não sou brincadeira nesse processo porque eu entendo disso bastante, tanto o clubístico quanto o não clubístico.

Aidar terá paz até a eleição?
Terá à medida que quiser paz. Se ele quiser fazer coisas heterodoxas, iremos enfrentá-lo. Ele vai chiar. Há um crescimento desse enfrentamento e do entendimento disso. Tem pessoas que falam comigo e não eram propriamente meus parceiros, eles dizem “doutor Juvenal, o senhor tinha razão”. Esse sentimento penetra. Acho que ele não deve ser candidato outra vez porque ele irá perder, mas aí é um problema dele. Não podemos fazer tudo de uma vez, temos que ir temperando. É um exercício de paciência, como aquela história do chinês que passava o dia inteiro à beira do rio esperando o corpo do inimigo passar boiando.

Qual será seu papel?
Terei uma participação forte na sucessão. Como eu cometi um erro, preciso reparar. Quando eu recompuser o erro, estarei realizado. É uma questão minha, de luta. Vamos tirá-lo de lá pelo processo democrático e o São Paulo estará bem. Ficarei quieto, não sou candidato até porque já dei uma contribuição que a história dirá. A história é filha do tempo e o tempo é o senhor da razão.

Alguns dizem que o senhor não quer largar o osso…
Sou casado há 50 anos. Como faço, mando minha mulher embora? (risos). Essa coisa chama paixão, não razão. Eu quero viver saudável, e para viver saudável não posso perder a paixão.

Fonte: Lance

9 comentários em “Juvenal Juvêncio trata como questão de honra derrotar Aidar

  1. Esse câncer que não larga o SPFC.

    Não larga, ameaça e ainda quer o poder…..

    Já não chega ter quebrado o clube 2x?
    Chega! Suma, o torcedor do SPFC não te quer, faça um bem ao clube, desapareça!

  2. A razão de estarmos nessa situação complicada está explicada nesta entrevista. Passamos de uma má para péssima administração. O São Paulo só não sucumbiu, em razão de suas fortes raízes e alicerces. Tomara que tenhamos sucesso na próxima eleição, encontrando alguém com seriedade e discernimento dos grandes São Paulinos que fizeram história.

  3. Curto e grosso :
    JJ = VELHO CAQUÉTICO !
    Lamentável, fique com o pijama e pare de encher o saco !!
    Que RIDÍCULO !!
    Tenha vergonha na cara !!
    Obs : em tempo, não sou jovem, tenho 53 anos . Mas tenho BOM SENSO !!

  4. Não há como negar a importância do Juvenal na história do São Paulo FC. Construiu um patrimônio social imenso. Investiu no que tinha que ser investido. Construiu Cotia e, certamente, como ele mesmo admite agora, deveria ter parado na hora certa. A sede de poder o fez prorrogar a gestão e a continuidade não foi positiva, nem para o Tricolor e nem para a sua imagem. Errou feio, mas o erro não apaga as suas conquistas. Contudo, o seu erro maior foi o de ter escolhido mal o sucessor. E isso se deu porque ele não preparou a sucessão, esta também uma missão a ser cumprida pelo bom gestor. Acabou se cercando de pessoas inexpressivas e optou por um “tercius”… deu no que deu! E olha que havia muita gente capaz, mas foi descartada pelo Juvenal. Quanto a sua proximidade do Lulla… nada a comentar, para não misturarmos alhos com bugalhos…

  5. Ele abriu a boca e falou da amizade com o Lula, aquele que o fez gastar um dinheirão do São Paulo pensando que ia ter copa do mundo no Morumbi e passou nele a rasteira e fez o estadio dos galinhas.
    Esta cê caiu na rasteira JJ.

    • Pedro, deixe-me corrigir uma informação errônea sua. Quem passou a rasteira no São Paulo foi, pela ordem, José Serra, Gilberto Kassab e por último, quando não dava mais para manter a promessa, o Lula. Eu acompanhei muito de perto tudo isso. Nessa o Lula não teve culpa. Claro que depois, definido o Itaquerão, ele botou o BNDES para financiar. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

  6. Agora ficou claro, Lula conselheiro, encontros, talvez, em algum reduto corintiano, já mostra a que vem e porque estamos nesta situação.
    Parabéns pela entrevista esclarecedora.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*