Bruno mostra todas as faces para não ser só mais um no São Paulo

O torcedor do São Paulo parece ainda não saber quem é Bruno, a idade dele e se a realidade de seu futebol é a insegurança dos primeiros jogos ou a atitude dos últimos confrontos do ano. Mas o certo é que, titular novamente, desta vez às 18h30 deste sábado contra o Joinville no Morumbi, pela 3ª rodada do Brasileirão, ele fará tudo para não ser uma incógnita.

Por essência, o lateral-direito é um bom gaúcho. De sotaque e bairrismo, já que sempre procura as montanhas de Caxias ou as areias de Torres para se refugiar. Por amor, o camisa 22 é jogador de futebol. Do suor derramado pelo pai, o ex-atacante Arizinho, nos dez times que defendeu e da preocupação a cada mensagem enviada. E do silêncio sobre qualquer história ou referência à relação com a mãe.

Por acaso, deixou o meio pela lateral direita nos tempos de Juventude e, lá, passou a respirar futebol em quase todo instante de seus 29 anos de vida. Agora, ele respira aliviado após se livrar da má fase nos primeiros jogos pelo Tricolor.

– Estou feliz porque a confiança voltou, mas sei que eu ainda posso mais. Eu tento ser sempre calmo. E tento deixar meus colegas assim também. Qualidade nosso time tem, mas só isso não ganha. Tem que ter compactação, todo mundo correndo… Agora é pensar no Joinville e arrancar de novo – projetou ao LANCE!, em entrevista que pode ser lida abaixo.

Como entrou no futebol?
A influência de jogar futebol veio do meu pai, que jogou no Santos, Paraná, Goiás, Santo André… E sempre acompanhei! É o cara que me incentivou sempre. Comecei a jogar no Caxias, depois fui para o RS, um clube do Paulo César Carpegiani, na base. No Juventude me profissionalizei, com o Ivo Wortman. Eu era meia-atacante!

E como tornou-se lateral?
O time jogava com três zagueiros e o lateral-direito machucou. O Ivo falou: “Bruninho, tu joga de ala? Só precisa marcar até o meio, na frente tu é de ponta, podes fazer as jogadas que sabes”. Eu falei na hora que aceitava. Isso foi na Série B de 2006 (na verdade, Série A, um 3 a 2 contra o Santos). Joguei e fui bem. No outro jogo, contra o Vasco, machucou um zagueiro e o lateral não tinha voltado, aí o Ivo falou: “Vais ter que jogar como lateral mesmo”. De novo eu disse que era tranquilo! E foi aí que me firmei.

Como era a relação com seu pai?
Sempre ia a treinos e jogos, ele tinha muita paciência. Até hoje lida muito bem com criança. Temos uma escolinha em Torres, no litoral do Rio Grande do Sul. Eu estudava e ia jogar futsal, futebol de areia e de campo… Gostava muito de competir.

Quando saiu de casa?
Saí de casa muito cedo, com 15, 16 anos. Passei muita dificuldade. Lembro bem que no Caxias era só ajuda de custo, ganhávamos R$ 60 e morávamos embaixo da arquibancada. Passávamos um frio do caramba! Dava para comprar o básico de higiene, pasta de dente, desodorante… Alimentação e escola eles davam até. Dou muito valor!

O que sente quando volta a visitar Caxias?
Lá e em Torres, onde minha família toda mora, lembro de tudo. Vejo os amigos, visito o pessoal e dou mais valor ainda ao que passei.

Alguém te ajudou a superar os problemas no início?
Tinha um cara lá que sempre esteve do meu lado, que sempre ajudou: Alexandre Soldatelli. Ajudava a comprar algumas coisas, levava para resolver problemas, passear, dava chuteiras. Não era empresário, mas conhecia meu pai, minha família e até hoje está junto. Em casa todos estão sempre perto e torcendo, também.

Lembra o que sentiu quando recebeu o primeiro salário alto?
Meu pai jogou futebol numa época em que não se ganhava tão bem. Passamos dificuldades pagando contas, morando de aluguel… Aí eu falei para ele que a primeira coisa que faria quando fosse vendido seria dar uma casa para minha família.

Quando cumpriu essa meta?
Só quando saí do Figueirense para o Fluminense em 2012. Peguei o dinheiro e dei a casa. “Meu filho, tu és um orgulho!”. Ele acompanhou minha batalha… Comprei uma chácara bonita para minha família morar, meu pai construiu um campo de futebol com gramado sintético… Tem a escolhina em Torres com 80 crianças…

Costuma ir à escolinha?
Sempre que estou de folga eu visito a gurizada. Eles ficam loucos! É um sonho de todos estar onde estou. Não é normal para eles me ver de perto, porque estou sempre na televisão, né? É uma coisa muito maneira para mim!

Que conselho dá a eles?
Não adianta, tem que ter apoio da família, sorte, ser bom de bola… É um pouco de tudo mesmo. É preciso brigar, treinar… Às vezes o torcedor vaia porque você errou, mas prefiro errar do que me omitir. Não vou conseguir evoluir se me esconder. Quanto mais eu erro, mais arrisco.

Você já é experiente, tem 29 anos, mas muito torcedor pensa que você começou agora… Já viu alguém surpreso com sua idade?
Ouço muito! As pessoas se assustam mesmo. Falam que pareço ter 23, 24… Acho que meu pai me registrou errado! Fico feliz até (risos). Acho que é porque amo futebol, vivo e respiro isso. Treino de manhã, de tarde, descanso… Sei que o futuro dos meus familiares depende disso. E quero ter uma história bonita para contar para os meus filhos.

As tatuagens também chamam a atenção… Quando começou?
Eu já tinha uma ou duas no Figueirense, mas quase tudo foi no Rio de Janeiro. Fiz amizade com um cara que tinha estúdio lá e vivia cheio! Eu, Edinho, Rhayner… Uma galera boa que gostava de tatuagem. Fui fazendo, brincando, mas agora dei um tempo.

Qual a primeira, a última e a favorita das tatuagens?
A primeira foi nas costas. Uma frase em espanhol que diz “gracias, mi padre”, para agradecer meu pai. A última foi a foto do meu pai. O braço esquerdo fiz num estilo mexicano, aí coloquei o rosto dele. Foi uma homenagem. Gosto de todas, sou apaixonado, mas essa é especial, é um guerreiro, alguém que sempre me apoiou e esteve ao meu lado…

Você é muito próximo a ele?
Todo dia a gente se fala. Nos momentos bons e difíceis a gente está junto. Como fico longe, eles criaram o grupo no Whatsapp. São meus irmãos Rafa e Diego, meu pai e meu tio. Tenho um ritual: quando saio da palestra no CT e entro no ônibus, eu tenho que falar com meu pai. Ele fala: “Vai com Deus! Vai pra cima dos caras!”. É a última pessoa a falar comigo sempre.

Você parece ser viciado em futebol. É assim todo o tempo?
Eu tento desligar um pouco. Vejo filme, TV, mas quando tem um jogo legal, dou uma olhadinha. Nunca o jogo todo! Gosto mesmo de jogar videgame… Mas não futebol! Não dá! Jogo mais basquete, senão enlouquece. Preciso respirar!

O que mais gosta de fazer nos horários vagos?
Gosto de filme de ação, comédia e documentário. Sempre que lança um filme eu vou. Preciso passear, senão fico louco. Gosto pra caramba de basquete, de surfe, esportes radicais… Mas o que gosto mesmo é de ouvir música. De todo tipo! Escuto, enjoo e troco. Vi o filme do Tim Maia e achei maneiro demais! Aí baixei um CD e fiquei ouvindo. Agora estou escutando Natiruts no carro.

Fonte: Lance

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