Arrependido por processo, ex-joia do São Paulo busca redenção no Uruguai

Um dos jogadores mais queridos pela torcida do tradicional Peñarol (URU), na atualidade, é brasileiro. Aos 25 anos, o lateral-esquerdo Diogo Silvestre tenta reconstruir por lá sua carreira abalada por duas temporadas de inatividade, críticas e desconfiança.

Há poucos anos, Diogo era uma das promessas mais badaladas do Brasil. Formado nas categorias de base do São Paulo, foi referência no Sul-Americano e no Mundial sub-20 de 2009 com a Seleção. Quando voltou ao Tricolor, se incomodou por não jogar no profissional e seguiu o exemplo de Oscar, que havia obtido a liberação de seu contrato via Justiça. Na época, pipocavam convites de grandes europeus e brasileiros, e Diogo até visitou alguns CTs na Itália e na Grécia. O único problema é que a Justiça não viu razão na ação do jovem lateral.

– Influência de empresário, falta de paciência, vários fatores… Eu achava que poderia estar pelo menos jogando, mostrando um pouco mais, aí acabei fazendo isso… que não aconselho nenhum garoto que vai crescendo a fazer – relembra Diogo, cinco anos depois, ao LANCE!.

Na época da vitória na Justiça, o São Paulo chamou Diogo, renovou seu contrato, mas o manteve encostado em Cotia por dois anos. De lá, ele passou por Toledo, Goiás e Anderlecht (BEL) por empréstimo. Rescindiu com o Tricolor em 2014 e rodou por forças inexpressivas de Portugal: Braga B e Feirense. Até que ano passado, após boa participação na Segunda Divisão portuguesa, o Peñarol mostrou interesse e deu chance para a reconstrução.

– Me arrependo de ter feito isso com o São Paulo, mas acho que tudo está escrito. Quem sabe se não tivesse feito isso não estaria aqui agora? Estaria melhor? Estaria pior? Tudo está escrito. Me arrependo? Pra caramba! Rodei? Em um monte de lugar! As pessoas não me conheciam mais como o Diogo da Seleção, o Diogo do São Paulo. Eu era o menino que entrou na Justiça, porque ninguém me via jogando. É difícil, mas passei por cima de tudo isso e espero que seja só o começo aqui no Peñarol – diz o jogador, hoje casado, pai de dois filhos e decepcionado com o seu passado.

– Minha fama é exagerada…

BATE-BOLA com DIOGO
Lateral do Peñarol, ao L!

Como surgiu a oportunidade de jogar no Uruguai?
Estava em Portugal disputando a Segunda Divisão, aí graças a Deus fui bem lá. Trabalho com uma pessoa no Brasil que conhecia outra na Argentina e tinha contato aqui (no Uruguai). Através dessa pessoa surgiu a chance de um contrato de seis meses no Peñarol, o técnico ainda era o Fossati, antes do Bengoechea. O Fossati me deu a oportunidade de cumprir esse contrato de risco, em que você fica ou vai embora. Graças a Deus fui bem, não tive lesões e em janeiro assinei por um ano e meio.

Por que jogador brasileiro não tem muito histórico no Uruguai?
Se você for pegar jogadores de times grandes daqui, Peñarol, Nacional, Danubio, Defensor, tem pouquíssimos mesmo. Ainda menos são os que conseguem se firmar, porque o jogo é mais duro, mais pegado, a paulada come solta. Eu me adaptei com isso, mas foi meio que um choque. Em seis meses você tem que se adaptar e mostrar condição, é difícil isso. Se adaptar ao futebol uruguaio leva meses, e você tem que fazer tudo. Mas para mim não foi difícil, foi até rápido. E jogar aqui é bom.

E como é viver em Montevidéu?
Você sabe que para nós que moramos em São Paulo é loucura. Aqui, para mim, minha esposa e minha filhinha é tranquilidade pura, posso sair na rua, segurança é outra coisa. Quem mora aqui diz que é diferente, fala do trânsito, de segurança, mas eles não sabem que em São Paulo é no mínimo duas horas para chegar em qualquer lugar. Quando eu jogava no São Paulo, morava no Morumbi, ia em duas horas para a Barra Funda só para treinar. Aqui eu demoro 40 minutos, mas são 40 quilômetros de distância. Eu moro em um bairro tranquilo, perto do estádio do Defensor.

Peñarol e Nacional são de fato os únicos times poderosos do país, como é a impressão dos brasileiros?
O nível de Peñarol e Nacional é diferente. Aqui muitos falam que pode ir mal no campeonato, mas se chegar no clássico tem que ganhar. Muitos falam também que o Uruguai se divide em dois times, que têm as duas maiores torcidas. Quando eles jogam é o jogo do ano, tem que ganhar. E faz uns três jogos que a gente não está conseguindo ganhar…

A estrutura dos estádios no Uruguai também é bastante aquém do esperado…
O Defensor é grande aqui, e você viu o estádio como é, onde os brasileiros jogaram… Os únicos estádios que dão boa estrutura são o Parque Central, do Nacional, e o Centenário, que não é do Peñarol, mas usamos porque dá uma boa estrutura. Mas os outros times grandes daqui não têm bons estádios mesmo. Com o Peñarol fazendo o seu estádio próprio terá mais um e a tendência é os dois se descolarem cada vez mais. Joguei na cancha do Defensor e realmente deixa um pouco a desejar. Eu já peguei coisa bem pior, não posso dizer o que é certo ou errado, mas realmente é complicado. Fui acostumado com Morumbi, Cotia, aí vim para cá, peguei estádio ruim e reclamei, mas essa é a realidade do Uruguai.

Já que falou em Morumbi… cinco anos depois de entrar na Justiça, como vê sua decisão?
Me arrependo de ter feito isso com o São Paulo, mas acho que tudo está escrito. Quem sabe se não tivesse feito isso não estaria aqui agora? Estaria melhor? Estaria pior? Tudo está escrito. Me arrependo? Pra caramba! Rodei? Em um monte de lugar! É estranho para quem estava acostumado ao São Paulo e à Seleção Brasileira ir jogar na Segunda Divisão de Portugal. Mas foi o Feirense que me abriu as portas, foi lá que fiz amigos e tive uma sequência que ainda não havia tido na carreira. Antes estava no Braga e também não tinha dado certo, aí fui para o Feirense porque precisava jogar. As pessoas não me conheciam mais como o Diogo da Seleção, o Diogo do São Paulo. Eu era o menino que entrou na Justiça, porque ninguém me via jogando mais. Eu precisava jogar e lá consegui jogar e ir bem. Tive opção de renovar lá, mas não era bem o que eu queria, queria um timezinho maior. Pude ir para a Romênia e não quis, aí acabei parando aqui.

O que te fez entrar na Justiça?
Influência de empresário, falta de paciência, vários fatores… Eu achava que poderia estar pelo menos jogando, mostrando um pouco mais, aí acabei fazendo isso… que não aconselho nenhum garoto que vai crescendo a fazer. Graças a Deus o São Paulo renovou contrato comigo, aumentou salário naquela época, mas aí que está… fui para Cotia, fiquei encostadão lá, recebendo um grande salário sem ser nada, só treinava. A gente tinha preparação física boa, treinador bom, tinha bons meninos… mas era aquilo: você jogava alguns amistosos, treinava, voltava para casa, treinava… não tinha expectativa de ir para um jogo valendo três pontos. E resumindo, agora eu estou aqui. Graças a Deus bem, renovaram meu contrato, quero ir bem aqui e agradeço o pessoal todo. Tive que ralar muito, penei… mas tive a humildade de começar de novo… e isso é o mais importante. Esse querer foi o que fez a diferença, porque muitos podiam ficar em casa, esperar acabar o contrato bom que tem no São Paulo, mas fui para a Segunda Divisão de Portugal porque queria jogar. Se não der certo eu tentei pelo menos. Tem que ser humilde. Eu ganhava bem no São Paulo, vivia em patamar grande e mudei, fui para Segunda Divisão, para ganhar pouco. É difícil, mas passei por cima de tudo isso, tive a humildade que muitos amigos meus não tiveram e espero que seja só o começo.

Depois que saiu do São Paulo você também teve uma passagem conturbada pelo Goiás. Como foi?
As pessoas falam muita coisa. Minha passagem por lá foi fantástica, joguei todos os jogos do Goianão e surgiu a oportunidade de ir para o Anderlecht quando a gente estava nas semifinais. O técnico e o presidente souberam que eu já sabia e não deixaram eu jogar como se eu fosse tirar o pé. Mas eu queria jogar, nunca fui campeão… Vou perder a chance só por causa de um empréstimo para um time de fora? Por isso fiquei com má fama lá. Mas saí, o time perdeu tomando gol do meu lado, porque tiveram que colocar um cara na posição que não é lateral, e falam mal de mim. Vou falar o que? Não está no meu controle. Falam mal até hoje, inventam muita coisa. Falam que eu era baladeiro, que tomava pra c…

E você toma?
Quem não me conhece acredita nisso, como muita gente no Brasil. Alguém do São Paulo andou falando muito mal de mim, que muitos times não me queriam por causa da minha má fama… Mas eu não sei de onde surgiu essa fama. Essas pessoas não me conhecem. Pergunta a alguém no Peñarol se já ouviu falar mal de mim. Graças a Deus hoje tenho família constituída, esposa grávida de oito meses, está vindo o Davi, tem a Valentina, de um ano e quatro meses. Estou bem aqui, da casa para o treino. Não tenho o que reclamar daqui e nem eles de mim. Se forem reclamar é por algo que não fiz dentro de campo, não fora.

Mas em algum momento chegou a se empolgar com algo na carreira?
Acho que isso é normal. A carreira, as perspectivas, o dinheiro, tudo te empolga além da conta. Para resistir a uma das tentações tem que ser uma muralha. Resistir a todas é impossível. Mas hoje estou mudado, tenho família, responsabilidades. Mudei completamente. Mas essa fama é exagerada, cara. As pessoas falam que o Diogo é safado, bebe muito, sai pra caramba, aí todo mundo fica com impressão errada. Quem me conhece realmente sabe que eu não sou nada disso. E é isso.

 

Fonte: Lance

 

 

3 comentários em “Arrependido por processo, ex-joia do São Paulo busca redenção no Uruguai

  1. Carlinhos e Reinaldo Tiririca não joga a metade que esse menino joga!!!!!

    Mais entrou na justiça se queimou , Será que o empresário dele ainda tem jogador no São Paulo?????

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