São Paulo é o que mais se aproxima de Palmeiras e Flamengo

Dentre os clubes mais ricos do Brasil, o São Paulo é aquele mais próximo de alcançar Flamengo e Palmeiras, que hoje ocupam o topo do ranking. A análise parte do economista Cesar Grafietti, consultor do Itaú BBA e responsável pela análise financeira das principais agremiações nacionais há oito anos.

“O São Paulo é o clube que está mais preparado para se equiparar a Flamengo e Palmeiras. Pode disputar, mesmo sem um patrocinador forte como o do Palmeiras ou a receita de TV do Flamengo, porque tem um estádio grande, torcida grande”, afirmou Grafietti, em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

Presidido por Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, o Tricolor vem equilibrando suas contas graças a uma rigorosa política econômica, aliada aos novos contratos de publicidade. Um sintoma disso é a contratação de Pablo, a mais cara da história do clube.

A meta é sanar seus débitos com instituições financeiras até o fim de 2019 e se tornar independente da venda de atletas no ano seguinte. “Em 2018, não ouvi falar em atraso de salários e problemas relacionados à falta de caixa. Isso significa que esse processo que o São Paulo começou recentemente vem surtindo efeito”, atestou.

A reestruturação do São Paulo, ainda segundo o consultor, passa diretamente pelo executivo de futebol Raí. De acordo com Cesar Grafiette, o ex-jogador, com diploma da Uefa, aprimorou a gestão de recursos financeiros no departamento de futebol. “Até então, tinha muito diretor que fazia o papel de diretor e que não conseguia fazer da melhor maneira possível”, frisou.

FAMA DE EXPORTADOR
Num clube de futebol, uma parte importante da venda de atletas é para cobrir um buraco importante no fluxo de caixa. O primeiro grande problema é vender para fechar as contas. O orçamento que o clube divulgava de R$ 70 milhões em venda de atletas era única e exclusivamente para manter as contas em dia, e isso é muito ruim.

CICLO VICIOSO
É natural que o clube venda atletas dado que ele é um formador. Tem a questão do futebol europeu que atrai o atleta mais jovem, mas ele acaba vendendo mais do que deve justamente porque precisa fechar suas contas. Tem que repor com outro que às vezes é mais caro e nem sempre é uma garantia que ele irá desempenhar o mesmo futebol do atleta que foi vendido. O grande problema é vender para fechar conta.

MUDANÇA DE PATAMAR
Há três ou quatro anos, o São Paulo estava em uma situação extremamente complicada, muitas dívidas, custos altos, tendo que vender atletas para fechar as contas. O ano de 2017 foi o último que isso aconteceu, tanto é que em 2018 não ouvi falar em atraso de salários e problemas relacionados à falta de caixa.

AMORTIZAÇÃO DE DÍVIDAS
Isso significa que esse processo que o São Paulo começou recentemente vem surtindo efeito. Como transformar uma estrutura mais organizada de custos mais competitiva? Tendo dentro da estrutura esportiva do clube alguém capacitado para fazer isso. É preciso montar elencos bem equilibrados com atletas baratos para poder fazer esses clubes irem bem dentro de campo.

IMPORTÂNCIA DE RAÍ
O São Paulo passou dessa fase com a chegada do Raí. Até então, tinha muito diretor que fazia o papel de diretor de futebol e que não conseguia fazer da melhor maneira possível. O Raí é alguém do ramo, com conhecimento, e se não trouxe resultados ainda neste ano, teve um desempenho bastante equilibrado e coerente. Parte dessa venda de atletas serviu justamente para reciclar o elenco, abrir mão de alguns atletas, trazendo outros que se encaixavam no perfil do treinador. Alguém do ramo é o que faz a diferença para clubes com menos dinheiro fazer a diferença dentro de campo.

USO INTELIGENTE DO DINHEIRO
Com uma figura que coordena bem a parte esportiva e pagando as dívidas, o clube consegue ter mais eficiência no uso desses recursos. Acho que essa ‘eurodependência’ [termo encontrado na parte do São Paulo no relatório do Itaú BBA referente ao ano de 2017] vinha muito da necessidade de vender porque precisava pagar conta. Agora pode usar o valor de forma mais eficiente. Acho que faltava muito essa gestão esportiva eficiente no São Paulo que parece começar a acontecer desde a chegada do Raí. Há acertos, há erros. O que se espera é que ele corrija os erros cometidos no ano de 2018 e não os repita para conseguir um desempenho ainda melhor do que foi esse primeiro ano dele.

TERCEIRO MAIS RICO
O São Paulo é o clube que está mais preparado para se equiparar a Flamengo e Palmeiras. Conseguiu acertar boas receitas de TV, entra em um grupo com boas receitas de TV a partir de 2019, equilibrou a questão de publicidade que vinha capengando nos últimos anos, conseguiu manter uma estrutura de receitas de publicidade bastante robusta com o Banco Inter e a MRV, conseguiu melhorar bilheteria, tem levado público para o estádio, e a venda de atletas vai trazer esse dinheiro adicional para pagar as dívidas e fazer a reciclagem do elenco.

À FRENTE DO CORINTHIANS
A longo prazo teremos quatro clubes com muito mais receita do que os outros, que são Flamengo, São Paulo, Palmeiras e Corinthians. O São Paulo está mais perto de fechar esse grupo do que o Corinthians, que tem a dívida do estádio e do custo do clube social. Mantendo essa estrutura que tem sido tocada nos últimos anos, o São Paulo pode disputar, mesmo sem um patrocinador forte como o do Palmeiras ou a receita de TV do Flamengo, porque tem um estádio grande, torcida grande.

DOIS OBSTÁCULOS
O primeiro é o estádio. Não acho que é porque ele é antigo ou desconfortável. Essa questão é menos relevante, o acesso está melhor com o metrô próximo. O que é mais relevante é o fato de o estádio ter 60 mil lugares. Obviamente, tirando os jogos muito importantes, você, como torcedor, vai conseguir comprar ingresso facilmente. Não dá para o clube cobrar um valor muito alto pelo ingresso porque não enche o estádio, e isso está relacionado também com a qualidade do jogo. O São Paulo somou públicos bastante relevantes neste Campeonato Brasileiro.

MORUMBI GRANDE DEMAIS
O que falta para aumentar a receita do estádio é justamente ter uma capacidade reduzida. Se o São Paulo tivesse um estádio para 40 mil pessoas, teria um ticket médio parecido com o do Palmeiras ou do Corinthians. Hoje não tem porque [o Morumbi] tem capacidade para 60 mil lugares, e é impossível que 200 mil pessoas queiram ir a um jogo toda semana. O programa de sócio torcedor acaba não evoluindo, porque, como a oferta é muito grande, ele também não tem interesse em ficar pagando antes para poder conseguir o ingresso na frente. Falta equilibrar a capacidade do estádio com o desempenho que leva o torcedor a ir ao estádio.

SEGUNDO OBSTÁCULO
A maioria dos clubes de futebol que contam com a parte social tem um buraco no caixa por causa da parte social. Não vi números deste ano do Corinthians e do São Paulo, mas sei que o Corinthians tem que tirar dinheiro do futebol para colocar no social. O risco desses clubes é justamente isto: ter que tirar dinheiro do futebol para cobrir buraco no social. O São Paulo tem que ter, ao mesmo tempo, uma gestão eficiente no clube social e no estádio para poder dar esse salto, encostar nos clubes de cima, uma vez que todas as outras receitas são mais ou menos equilibradas.

 

Fonte: Gazeta Esportiva

6 comentários em “São Paulo é o que mais se aproxima de Palmeiras e Flamengo

  1. Ops, um economista do BBA foi estudar a gestão dos clubes e voltou elogiando o “administrador de ONG”. Quem diria… Na verdade, qualquer ser mais ou menos bem intencionado pode pesquisar e descobrir que a Gol de Letra não só é bem administrada com se destacou ao longo dos anos como uma das instituições mais premiadas do Brasil no chamado Terceiro Setor. Fora, claro, que já produziu impacto positivo na vida de milhares de crianças e adolescentes pobres. Sua gestão à frente do SP está só no início, mas já está recebendo algum reconhecimento, inclusive do mercado. Raí não é perfeito, mas é provável que seja o primeiro diretor de futebol da história do clube digno da palavra profissional. Todo o apoio ao nosso diretor.

  2. Paulo, ninguém no São Paulo fala em emprestar o Brener? Com a contratação do Pablo, ele terá ainda menos chances de jogar. Corremos o risco de prejudicar a carreira dele e deixar de faturar com a sua venda.

  3. O Aidar quando vendeu o Boschilia por R$ 40 milhões , disse que o dinheirão todo iria para pagar comissões atrasadas para alguns empresários.
    Fora o roubo de no mínimo R$ 1,6 milhões no caso Maidana.
    E só foi isso pq o Jack Banasfera era um cara muito legal e filantropo que abdicou R$ 15 milhões da comissão que tinha direito na negociação com a under armour.
    Esses bandidos que administram o SPFC hj só querem encher os bolsos.
    Imagino o tanto de negociatas envolvendo salários de jogadores que obviamente em alguns casos são divididos entre atleta, empresário e diretor.
    O clube gera 500 milhões em receita e quem está lá administrando isso certamente coloca uma beirada no bolso.

  4. Comentário infeliz no que toca ao Clube social. Há mais de uma década que a Unidade Clube Social e Esportes Amadores do SPFC é superavitária, basta buscar esses dados no Demonstrativo de Resultados desde 2008.
    De resto, falou obviedades.
    Nossos gastos com futebol em 2017 foram equivalentes ao que Flamengo e Palmeiras gastaram. Com a gestão do Raí no futebol melhoramos nosso patamar em 2018, mas ainda precisamos melhorar a eficiência com que aplicamos os recursos disponíveis.
    Pelo nível de Receita do SPFC temos que lutar por títulos.

  5. Esse peso do clube social no balanço financeiro do SPFC é uma balela do autor da matéria. Ele argumenta esse peso, tanto no São Paulo, como no Corinthians, mas IGNORA solenemente, no Palmeiras e no Flamengo, os dois mais ricos citados por ele na matéria. Por quê? Hoje em dia, qualquer economista se julga expert e consultor em finanças de instituições esportivas. Eu contesto, veementemente, essa e outras falácias que foram inseridas nessa matéria. O grande patrimônio não tangível que os “clubes” de futebol do Brasil possuem é a torcida. Portanto, nesse viés e de acordo com as pesquisas de audiência da Globo, somos proprietários do terceiro maior patrimônio NÃO TANGÍVEL. O Palmeiras, tão badalado em face dos aportes financeiros obtidos nos últimos anos, está situado em quarto lugar.

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