Protagonismo: a palavra-chave do duelo entre Sampaoli e Jardine

O primeiro clássico do Paulistão 2019, às 17h deste domingo, no Pacaembu, colocará frente a frente os dois times que mais empolgaram seus torcedores nas duas primeiras rodadas: o Santos de Jorge Sampaoli e o São Paulo de André Jardine. Só haverá santistas no estádio.

Os técnicos têm trajetórias bem diferentes, mas ideias muito parecidas. Tanto o argentino de 58 anos quanto o gaúcho de 39 anos são obcecados pelo protagonismo.

Os times comandados por Jorge Sampaoli sempre vão preferir ter a bola e tomar a iniciativa de atacar do que tentar neutralizar o adversário. O técnico, inclusive, diz que escolheu o Santos por se identificar com a história do clube mais goleador do futebol mundial.

– Tratei de buscar um lugar cuja história tenha a ver com a minha ideia de futebol. Depois de analisar um montão de projetos, apareceu o Santos e não tive dúvida. Quando eu era criança, era impossível ganhar de uma equipe brasileira no Brasil. Agora se equiparou, a característica é neutralizar e não propor ou protagonizar o jogo. Eu penso muito mais na trave adversária do que na minha. O Santos, de Pelé e Neymar, nos obriga a jogar dessa maneira – disse ele, ao ser apresentado pelo Peixe.

O discurso de Jardine é parecido. O detalhe é que o são-paulino evita usar a palavra “ofensivo” e prefere dizer “agressivo”, porque ele quer ver essa característica inclusive quando sua equipe não está com a bola.

– Minhas equipes, especialmente aqui no São Paulo, sempre defenderam um jogo propositivo, agressivo. Um jogo que eu vejo as grandes equipes no mundo fazendo, as que mais conquistam. Gosto de ver meu time ser o protagonista do jogo, ser mais agressivo que o adversário, seja na defesa ou com a bola. Vou buscar isso – explicou ele, ainda em 2018, quando estava dirigindo o Tricolor interinamente após a demissão de Diego Aguirre.

As ideias são semelhantes, mas os currículos de Sampaoli e Jardine são bem diferentes. O técnico do Santos já comandou duas seleções sul-americanas em Copas do Mundo: a do Chile, em 2014, e a da Argentina, em 2018, logo depois de comandar o Sevilla (ESP) sem muito sucesso e seis meses antes de assumir o Peixe. A passagem pela seleção de seu país foi tumultuada, marcada por boatos de que jogadores como Mascherano e Messi tinham influência na escalação, mas no Chile ele marcou época ao conquistar a Copa América de 2015. Em clubes, “Sampa” rodou bastante até chamar a atenção na Universidad de Chile, entre 2011 e 2012, onde venceu três Campeonatos Chilenos e uma Sul-Americana.

Jardine, por sua vez, nunca havia dirigido uma equipe profissional até ser efetivado pelo São Paulo. Ele construiu uma carreira de sucesso nas categorias de base de Internacional e Grêmio e chegou ao Tricolor em 2015 para fazer um trabalho elogiadíssimo e multi-campeão na equipe sub-20, onde conquistou diversas taças, incluindo uma Libertadores. O futebol sempre competitivo e vistoso dos garotos chamou a atenção da diretoria, que o alçou ao posto de auxiliar do profissional em março de 2018 e o anunciou como técnico em dezembro.

O Santos venceu Ferroviária (1 a 0, na Vila Belmiro) e São Bento (4 a 0, fora de casa) nas duas primeiras rodadas do Paulistão.

Com uma linha de defesa sólida e priorizando a manutenção da posse no campo de ataque, o time se mostrou mais organizado e eficaz em relação a 2018. A base da equipe é: Vanderlei; Victor Ferraz, Luiz Felipe, Gustavo Henrique e Orinho; Alison, Diego Pituca, Carlos Sanchez e Jean Mota; Felippe Cardoso e Derlis González, montados no 4-4-2.

Derlis, que não havia sido inscrito na estreia e tinha permanência em xeque, decidiu ficar após uma conversa com Sampaoli, voltou ao time titular no interior e deixou seu gol. O venezuelano e camisa 10 Yeferson Soteldo também marcou em Sorocaba e aparece como opção para o clássico. Os reforços Everson, goleiro, e Felipe Aguilar, zagueiro, estão à disposição. Copete, Arthur Gomes e Yuri Alberto são alguns dos atacantes já usados por Sampaoli nestes dois jogos. Jean Mota, com dois gols, foi destaque nos dois jogos.

O São Paulo de André Jardine tem o melhor ataque do campeonato, com sete gols. Estreou vencendo o Mirassol por 4 a 1, no Pacaembu, e fez 3 a 0 no Novorizontino fora de casa na segunda rodada. Assim como o Santos, o Tricolor sofreu muito pouco defensivamente nas duas primeiras rodadas e tomou a iniciativa do jogo o tempo todo. Jardine aproveitou para testar duas formações diferentes.

Contra o Mirassol, o time jogou numa espécie de 4-3-3: Jucilei ficou mais preso como primeiro volante e Hudson se juntava a Nenê na armação, auxiliada por Everton e Helinho pelas pontas. Pablo era o centroavante.

Contra o Novorizontino, o esquema foi o 4-2-4. Hudson e Liziero foram os volantes, com Nenê pelo lado direito, Everton pela esquerda e os centroavantes Pablo e Diego Souza se revezando dentro e fora da área. O técnico não deu pistas de qual dos dois esquemas utilizará no clássico.

Apesar do bom início de Paulistão, o início da trajetória de Jorge Sampaoli na Vila Belmiro não foi muito tranquilo. O treinador disse que não sabia da situação financeira complicada do clube e deixou claro em entrevistas coletivas que esperava por reforços. A imprensa argentina noticiou ainda antes do Paulistão que ele estava pensando em deixar o clube, algo nunca confirmado.

Nos últimos dias, o Peixe conseguiu atender alguns pedidos de Sampaoli. Trouxe o meia-atacante Soteldo, o zagueiro Felipe Aguilar e o goleiro Éverson, contratado por ter habilidade com os pés, uma exigência do comandante. A chegada deste último, aliás, movimentou os bastidores. Titular desde 2015, Vanderlei admitiu que ficou chateado ao saber que o clube estava à procura de um novo atleta de sua posição. Vladimir, que acabou emprestado ao Avaí, também não escondeu o incômodo por ter perdido espaço.

No jogo contra a Ferroviária, Vanderlei foi aplaudido pela torcida toda vez que usou os pés e ouviu diversos elogios de Sampaoli. A situação, a princípio, está contornada.

O hermano trouxe quatro funcionários para a comissão técnica: os auxiliares Jorge Desio e Carlos Desio e os preparadores Pablo Fernández e Marcos Fernández.

No São Paulo, a relação entre o treinador e a diretoria passa longe de ser conflituosa. Raí, homem forte do futebol tricolor, era o maior dos defensores da efetivação de Jardine. O presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, também é fã do profissional por seu trabalho na base.

O clube sabe, porém, que a pressão sobre Jardine pode ser imensa devido à sua inexperiência e aos desafios que estão por vir: o maior deles é que o clube precisará superar dois mata-matas para chegar à fase de grupos da Libertadores. Controlar o vestiário, já que o elenco mais robusto de 2019 obrigará alguns atletas de peso a ficarem no banco, é outra missão. Por enquanto, tudo anda bem e a torcida tem apoiado.

A diretoria pediu a Jardine que indicasse um auxiliar de sua confiança. O escolhido foi Sandro Forner, ex-técnico do Coritiba. As outras peças da comissão técnica são fixas, independentemente de quem seja o treinador. Os preparadores físicos Carlinhos Neves e Wellington Valquer, o coordenador Vagner Mancini e o analista de desempenho Carlos Vargas chegaram neste ano.

 

Fonte: Lance

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