Bom moço introspectivo, ex-santista já teve seus deslizes

Os oito anos de Paulo Henrique Ganso no Santos não guardam apenas títulos, premiações individuais e imagem de bom moço, mas também episódios polêmicos. Que não foram poucos, da primeira conquista como profissional, recusando-se a sair de campo na decisão do Campeonato Paulista, até a ‘chuva’ de moedas em sua direção, na última exibição com a camisa 10 alvinegra.

Cinco anos depois de ser levado ao clube por Giovanni, ídolo santista na década de 1990 e de quem se afastou após discussão em torno de seus direitos econômicos, o meia chamou atenção na final estadual de 2010, contra o Santo André, ao contrariar o técnico Dorival Junior, que queria substituí-lo. Ficou em campo, valorizou a posse de bola com um homem a menos e segurou o placar suficiente para garantir o título. O episódio chamou a atenção pela primeira vez para um outro lado da personalidade de Ganso, normalmente visto como introspectivo e “na dele”.

Na saída do gramado, o treinador, em vez de repreendê-lo, elogiou sua atitude. “Ele me disse que estava sentindo, só que ao mesmo tempo teve o ímpeto de tentar resolver. Era o único que estava fazendo com que nosso time respirasse. Iniciativa de homem, que tem que ser valorizada. Não foi desrespeito, foi a postura de um atleta que resolveu o jogo”, respondeu, em meio à festa.

Três semanas depois, Dorival não teve a mesma paciência. Ganso, acompanhado de Neymar, André e Madson, chegou de madrugada à concentração para partida contra o Atlético-GO, pelo Campeonato Brasileiro, em Goiânia. Pelo atraso de quatro horas, o quarteto foi cortado do jogo e multado pela diretoria. Foi a única vez em que o meia, avesso a baladas por ser evangélico, apresentou-se com ‘cara de ontem’, como diz slogan de um de seus patrocinadores.

A questão religiosa, por sinal, foi outro tema de polêmica. Antes até do título paulista, ele e outros santistas evangélicos se recusaram a descer do ônibus que levava o elenco para uma visita a uma creche de crianças especiais. A alegação é de que haviam sido informados de que lá havia ritual de outra crença. Criticados, Ganso, Robinho, Roberto Brum e Neymar se desculparam em público dizendo ter ocorrido um mal-entendido.

Divulgação

Ganso visitou Marcelo Teixeira, rival político do presidente Luís Álvaro, quando a relação começou a se desgastar

Em agosto, quando foi divulgada a necessidade de sua terceira cirurgia na carreira (para reconstrução ligamentar no joelho esquerdo), o jogador, recém-campeão também da Copa do Brasil, recebeu da diretoria um plano de carreira com valores próximos aos do que haviam sido oferecidos a Neymar. Ao contrário do amigo, ele a recusou, dizendo não ver vantagem em ceder 30% dos lucros de sua imagem. Na virada do ano, mostrou-se chateado pela falta de valorização.

 

Começa aí o desgaste no relacionamento, estremecido por uma devidamente fotografada visita a Marcelo Teixeira, ex-presidente do Santos e oposicionista da gestão de Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro. O assunto foi ocultado em seguida pelo bom retorno aos gramados em vitória sobre o Botafogo de Ribeirão Preto, na qual deu uma assistência e fez um gol. Uma lesão muscular na coxa direita na primeira final contra o Corinthians, porém, o impediu de jogar a segunda partida da decisão, que deu a ele o segundo título e despertou no rival, em vão, o interesse em contratá-lo.

Apesar da não ida para o Parque São Jorge, Ganso já não era visto da mesma forma pela torcida. Mesmo tendo se esforçado muito para participar da final da Copa Libertadores, diante do Peñarol. A vitória sobre os uruguaios deu vaga para a disputa do Mundial de Clubes e sobrevida a ele no clube, mas, dias antes do torneio no Japão, um novo mal-estar foi criado por ele ao admitir ter repassado seus 10% dos direitos econômicos ao DIS, grupo de investimentos que, assim, tornou-se majoritário na então disputada divisão das ações com o Santos.

“Futebol é assim, quando um não quer, outro vem e busca. Foi uma coisa muito boa para mim, fora do normal”, argumentou o camisa 10, aceitando dar entrevista depois de ter alegado indisposição estomacal para faltar a uma coletiva obrigatória da Fifa, no hotel em que o time estava hospedado. Estava clara a insatisfação com os dirigentes – o clube teve chance de cobrir a proposta de R$ 5 milhões e não o fez.

Passada a derrota para o Barcelona e o vice-campeonato mundial, os atritos públicos diminuíram. Jogando bem, Ganso conquistou pela terceira vez o Paulista ao bater o Guarani. Já o bi da Libertadores não foi possível. A equipe caiu na semifinal para o Corinthians, com ele surpreendentemente em campo, 18 dias após artroscopia no joelho direito.

Mesmo distante da forma física ideal, o meia foi convocado para os Jogos Olímpicos de Londres, na qual atuou poucos minutos, até acusar incômodo e ser detectado edema na coxa esquerda. No retorno ao Brasil, já recuperado, foi a uma nova reunião com a diretoria do Santos e saiu dela decepcionado, decidido a sair. Coincidentemente, a conversa se deu no mesmo momento em que ele lesionou novamente a coxa esquerda e fez sua última partida pelo Santos, diante do Bahia, em 29 de agosto. A ‘chuva’ de moedas e os gritos de “mercenário” da torcida antecipariam o desfecho, com a transferência para o São Paulo, na segunda quinzena do mês seguinte.

Fonte: Gazeta Esportiva

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