
Ademilson despontou com mais um promissor atacante de uma geração que revelou Lucas Moura e Lucas Piazon no São Paulo. Aos poucos, tornou-se realidade ao se firmar como titular do time comandado por Muricy Ramalho e que tinha Rogério Ceni, Kaká e Luis Fabiano como grandes estrelas.
Os anos se passaram, e o atacante deixou o Brasil para atuar no Japão. Do outro lado do mundo, Ademilson vivenciou a idolatria e a educação dos japoneses. Atualmente com 31 anos, ele busca no Água Santa uma espécie de recomeço na carreira no Brasil.
– É um campeonato muito importante para todo o Brasil, para todo jogador que quer estar no cenário ou que quer voltar ao cenário, também, do futebol brasileiro. E o Água Santa vem fazendo boas campanhas nos últimos anos, então vi como uma grande oportunidade de jogar o Paulista.
– Aceitei esse desafio, estou muito feliz de estar aqui e espero terminar esse campeonato bem, deixar o Água Santa onde ele deve ficar, que é na primeira divisão, e depois disso ver o que vai ter para mim de portas abertas e seguir minha carreira – disse Ademilson.
Mais sobre Ademilson
Nome: Ademilson Braga Bispo Júnior
Idade: 31 anos
Posição: atacante
Carreira: São Paulo, Yokohama Marinos, Gamba Osaka, Wuhan Three Towns, Machida Zenvia, Avaí e Água Santa
Títulos: Copa Sul-Americana (2012); Campeonato Chinês (2022), Liga da China (2021); Campeonato Japonês (2ªDivisão); Supercopa da China (2023) e Torneio de Toulon (2013 e 2014).
Ademilson retornou ao Brasil no ano passado depois de quase uma década atuando no exterior. Foram pouco mais de duas temporadas na China e quase sete no Japão, essa interrompida depois de dirigir embriagado e causar um acidente em Osaka, cidade onde atuava pelo Gamba e era o artilheiro do time.
A demissão de Ademilson do Japão aconteceu dois meses depois de o jogador ser afastado das atividades no clube. Ele entrou em acordo com a vítima do acidente, que sofreu ferimentos leves, atestando que foi o causador e admitindo que acabou dirigindo depois de consumir bebida alcoólica, algo não tolerado no Japão.
– Aconteceu para eu mudar também nesse sentido. Claro que eu deveria mudar sem precisar passar por isso, mas isso também é importante. E estou muito arrependido de ter saído desse jeito de lá, porque era um time que eu já estava havia cinco anos, um país que estava há seis anos. Então, por tudo que eles fizeram por mim e pelo respeito que conquistei lá, deveria ter saído de outra forma. Fiquei muito triste, muito chateado da forma que saí.
– Não tem conversa, não tem justificativa. Não tem, “ah, mas é que eu tomei uma ou tomei cem ou tomei duzentos”. Não tem conversa. Se você tomou e fez, ou você fez alguma coisa errada que sabe que é errado, não tem conversa. É disciplina, a educação deles é gigante e não tem justificativa. Você sabe o que é errado e vai pagar por isso. E foi o que aconteceu comigo – contou o atacante.
A chegada ao Japão aconteceu depois de 114 partidas e 15 gols com a camisa do São Paulo. Foram mais de R$ 10 milhões de receita gerada ao time do Morumbi pela transação. Apesar do sonho de retornar ao clube que o revelou, o grande objetivo é poder voltar a disputar a Série A do Brasileiro e recuperar o espaço no futebol nacional.
– Acredito que na Ásia a gente acaba ficando um pouco escondido, fora do cenário. E, quando volta ao Brasil, entende que vai ter que dar uns passos para trás ou às vezes não ir direto para onde gostaria de estar, nos clubes maiores. Mas é uma grande oportunidade jogar um Paulista para aparecer de novo, para voltar ao mercado brasileiro – disse.
Parceria com Neilton
Ademilson tem a companhia de outro jogador que despontou como promessa e acabou não conseguindo deslanchar na carreira. Neilton, revelado pelo Santos e apontado por muitos como o “Novo Neymar” disputa o seu segundo estadual pelo Água Santa.
Os dois atacantes são companheiros de quarto na concentração e de compartilhar histórias sobre como as carreiras poderiam ter sido diferentes. No entanto, entendem que o futebol não possui um roteiro certo.
– A gente conversa bastante sobre isso, de… “Pô, a gente, há dez anos, a gente estava jogando em outra situação, sendo jovem e estando em time grande, todo mundo esperando da gente”. E hoje a gente sendo mais velho, no mesmo time, e tendo que ser a liderança, mostrar para os jovens o caminho um pouco diferente do que a gente seguiu nessa questão de não se empolgar, de não achar que você é o melhor quando faz um jogo bom. Mas também você não é o pior quando faz um jogo ruim. Então a gente conversa bastante, a gente concentra junto, é bem amigo meu, as nossas famílias se conhecem, a gente conversa bastante sobre tudo – revelou.
Neilton marcou um gol e Ademilson dois na luta do Água Santa para fugir do rebaixamento no Campeonato Paulista. O ex-jogador do Santos atuou em seis partidas, sendo titular em cinco delas, enquanto Ademilson atuou dez vezes, sendo seis iniciando entre os titulares.
O peso de ser uma promessa
Ademilson surgiu no São Paulo na mesma geração que revelou Lucas Moura, Lucas Piazon, entre outros. Em determinando momento, o atacante era visto até como um provável sucessor de Luis Fabiano.
– É complicado, você vem de família pobre, sem ter muita coisa e do nada conquista quase tudo que almeja: financeiro, carro bom, morar bem, a fama. E aí você coloca aquele peso nas costas, até certo ponto é bom, é maravilhoso, mas chega um momento de pressão que também acaba atrapalhando muito. Na minha época tinha acabado de sair o Lucas, já me tinham ali como próximo a ter uma venda igual à dele, a fazer o que ele fez, chegar à seleção e tudo, infelizmente eu não consegui.
– Então o pessoal tem aquela esperança, às vezes muito mais até do que você e acaba se frustrando muito, então acho que isso atrapalha um pouco o jogador jovem. Mas com a minha carreira sou muito feliz, muito realizado. Essa década que eu fiquei fora para mim foi muito boa, foi maravilhoso, mas as pessoas, os torcedores, acabam depositando muita esperança em você e acabam se frustrando muito – disse.