Fabrício: ‘Eu vivi 2011 e vou viver 2013. Este ano eu apago’

Fabrício quer apagar 2012 da memória. Para que isso aconteça com facilidade, o volante nem assiste aos jogos do São Paulo porque sofre por não poder estar em campo. Na última quarta-feira, dormiu no intervalo e não viu o segundo tempo da importante vitória sobre o Vasco. Mas não por falta de profissionalismo. A “chata” rotina de Fabrício inclui sacrifícios: fisioterapia diária em dois períodos há mais de três meses, ansiedade por estar impedido de jogar e frustração por não se sentir parte do grupo do São Paulo.

Na última quinta-feira, depois da primeira sessão de tratamento no joelho esquerdo para corrigir a lesão no ligamento cruzado, o jogador atendeu à reportagem do LANCENET! em sua primeira entrevista depois de realizar a cirurgia no local, em 21 de junho – antes disso, ele teve duas lesões na panturrilha direita que o impediram de jogar no primeiro semestre.

O abatimento e a decepção com o ano que se passou sem praticamente entrar em campo são nítidos em Fabrício. Assim como a confiança de que 2013 será diferente. Aos 30 anos, ele transforma o carinho da família, dos torcedores e até as críticas de quem o rotula como “bichado” em motivação para dar a volta por cima no ano que vem e mostrar o porquê de ter sido contratado no fim de 2011.

Com mais de dez meses no clube, Fabrício não se sente parte do time. Alheio às viagens e concentrações, o volante, no momento, não tem nem número de camisa definido. Nada que o preocupe. Ele já está com a cabeça no ano que vem e não quer nem saber de fazer mais piadas de si próprio ao presidente Juvenal Juvêncio. Entenda o porquê de tudo isso na entrevista a seguir:

LANCE!: Qual tem sido sua rotina de tratamento? Como você se sente neste momento?
Fabrício: Não vou mentir, realmente meu dia a dia é muito chato. Mas infelizmente a gente tem que vir, fazer o trabalho para colher os frutos lá na frente. Mas não dá para falar que é bom, que passa rápido, porque estaria mentindo. Realmente, é muito difícil vir para cá todos os dias.

L!: Quando voltou da segunda lesão na panturrilha, sabia que poderia ter alguma outra lesão ou foi inesperado?
F: É isso que fico me perguntando. Tem coisas que não dá para explicar. Eu não gosto de entrar muito nesses assuntos de fé, religião, mas tem coisas que fogem do nosso controle. Tinha feito exame isocinético duas semanas antes, e estava tudo equilibrado. Nunca tinha estado tão equilibrado, me sentia bem. Tinha até brincado com o presidente (Juvenal Juvêncio) dias antes: “Vou parar de roubar você, hein, presidente! Cheguei aqui e ainda não joguei” (risos).

L!: No momento da lesão, já sabia que a era algo mais sério?
F: Já, já sabia. Ali eu sabia que tinha rompido o cruzado. Foi muito triste. A gente forma muita expectativa, quer jogar bem na casa que você acaba de chegar, que você é bem tratado, você quer retribuir…

L!: Como você tem feito para se motivar?
F: Tenho procurado não me apegar às coisas negativas. Estou perdendo isso, aquilo, vendo meus companheiros jogar. É muito difícil. Chego em casa e desligo completamente. Tenho dois filhos pequenos. Eu não tenho tempo para nada… e isso é bom! É muito bom. Eu descanso carregando pedras. Tenho aproveitado o que eu nunca tenho, que é ficar com a família. Ajuda bastante a tirar essa tristeza e essa coisa chata que é o dia a dia da fisioterapia.

L!: Por ter ficado fora, se sente parte do grupo do São Paulo?
F: Não. É difícil. Você vive em outra rotina. Lógico que eu conheço o pessoal, a gente conversa, mas não tem aquela intimidade. Você vive em outro horário. Tem sido difícil até acompanhar os jogos. Contra o Vasco, mesmo, assisti ao primeiro tempo, no segundo tempo você dorme. A gente acorda cedo, então fica cansado.

L!: O que faz no tempo livre?
F: Gosto de ler, de tirar minhas músicas no violão. Gosto de tudo, mas mais do rock and roll. Saio para jantar. A gente faz essas coisas, para sair da rotina do futebol. Até pouco tempo atrás eu nem conseguia assistir aos jogos do São Paulo, porque ficava muito chateado. Agora que comecei a assistir.

L!: Se vier o título da Sul-Americana, vai se sentir campeão?
F: Difícil. Você está aqui, mas não deu a colaboração. Vai ser legal? Vai, estou torcendo por isso, mas você não colaborou tanto.

L!: Você não tem ido mais ao vestiário nos jogos. É para não sofrer?
F: É. Se não posso agregar nada de bom, é melhor ficar longe. Agora que estou começando a assistir jogos do São Paulo. Assistia a outros jogos, mas não os do São Paulo. Não conseguia, ficava chateado. Você chega lá, vai ver os caras, fica cabisbaixo. Não é uma inveja maldosa, mas eu queria estar ali. Não vou conseguir me alegrar, não vou conseguir passar nada de bom. Prefiro ficar longe.

L!: Como tem sido o contato com os torcedores na rua?
F: Sempre me dão apoio, e isso é muito legal. Isso me motiva. É difícil acordar, mas você acorda, lembra dessas coisas e isso te motiva a vir e dar o seu máximo.

L!: Já ouviu a palavra “bichado”? Como lida com isso?
F: Já escutei, até da imprensa. Mas dá força. É a força que vem com raiva. Essas críticas me motivam.

L!: 2012 foi um ano difícil…
F: Que 2012?!

L!: Não teve 2012?
F: Não tem 2012. Profissionalmente, não. Acabou 2012, vou apagar da minha carreira. Vou pular. Eu vivi 2011 e vou viver 2013.

L!: Rogério Ceni ainda não decidiu se fica em 2013…
F: É mais uma tristeza para acumular, com tantas que tive. Se não conseguir jogar com ele, vai ser muito triste. É um ídolo mundial, a história dele é impressionante. Pelo menos já garanti a camisa dele autografada (risos).

L!: O que espera para 2013?
F: Espero trabalhar bem, ter uma boa sequência. Quero corresponder à confiança que me deram. A expectativa da diretoria eu sei que é grande, tenho provado que sou um bom profissional, mas para o clube o que importa é resultado, e quero ajudar nisso no ano que vem. Quero conquistar a Libertadores e o Mundial, ainda, e tudo isso aqui no São Paulo.

A VIDA NO REFFIS

Ganso e a camisa 8
“Pode falar ou tem que perguntar no Posto Ipiranga? (risos). Pois é! Falei para ele: “Você está folgado, hein?” (risos). Outro dia faltou uma toalha para mim, eu achei que tinha sido ele também (risos). Mas o pessoal conversou comigo antes. Não tenho essa vaidade de camisa. Ficou melhor nele, a camisa 8 estava encostada. Pedi a 25, vamos ver se ela vem para mim. Quando cheguei, queria a 25, mas acharam melhor a 8. Aí eu peguei a 8, zicada, mas falei para o Ganso: “Está limpa, não vai ter mais lesão com essa camisa. Só vai dar título!”

Luis Fabiano, ‘do contra’
“Ele é uma pessoa fácil de lidar… Fácil assim: tem que ser do jeito dele, para não dar briga (risos). É o cara do contra. Manda ele fazer, ele não faz. Mas o importante é que dentro de campo ele resolve. Se tiver uma chance, ele faz”

Com a palavra: Luiz Rosan, fisioterapeuta do São Paulo, em entrevista ao LANCE!
“Fabrício teve uma reconstrução do LCA (ligamento cruzado anterior) do joelho esquerdo. Nossa média para retorno nessa cirurgia é de quatro a cinco meses, o que vai dar em novembro, mais ou menos. No fim do ano ele já vai estar muito bem. Evidentemente, vai depender se vai valer a pena voltar no fim da temporada, ou se vamos deixar para o ano que vem. Ele está muito bem. A fisioterapia não é só de reabilitação, como também faz um treinamento aeróbico. Então ele não perde condicionamento. Na próxima etapa ele já vai ter atividades no gramado, para complementar a fisioterapia”

Fonte: Lance

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