Ex-CEO do São Paulo diz que foi boicotado no clube e relata ameaça

Ex-CEO do São Paulo, Alexandre Bourgeois, não conseguiu ficar nem três meses no cargo para o qual foi contratado no dia 12 de junho. Indicado peloempresário Abilio Diniz, o executivo foi demitido na semana passada.

Dirigentes do clube alegam que ele teria vazado informações para a imprensa e que iniciou uma articulação para o impeachment do presidente Carlos Miguel Aidar. Bourgeois nega e afirma que teve seu trabalho boicotado.

Em entrevista à Folha, ele dá a sua versão sobre os acontecimentos e detalha como foram seus quase 90 dias na diretoria.

O ex-diretor-executivo do São Paulo diz ter ficado durante todo tempo de sua estada no clube isolado em uma sala, sem acesso a nenhum documento nem decisão e que foi ameaçado em sua demissão –ele informa que fará um boletim de ocorrência.

“A situação [reunião para anunciar a sua demissão] foi covarde. Você não coloca uma pessoa em uma sala com oito pessoas sendo que uma delas fica dizendo que é faixa preta no judô. Falar que vão te pegar na rua é uma ameaça”, afirmou.

O assessor de imprensa citado por Bourgeois é Olivério Júnior.

“Houve de fato uma grande discussão. O ex-CEO estava tentando denegrir a minha imagem para jornalistas e tive que me defender. Afinal, esse é o meio que vivo e não posso aceitar que mentiras sejam faladas a meu respeito. Ele ficou quieto durante todo tempo. Disse a ele que não bateria nele ali por respeito ao São Paulo e as pessoas que também estavam lá. Tenho seis testemunhas disso”, diz Oliverio Júnior à Folha.

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Bruno Poletti – 29.jan.2013/Folhapress
Alexandre Bourgeois, ex-CEO do São Paulo, durante evento
Alexandre Bourgeois, ex-CEO do São Paulo, durante evento

Folha – Como foi a sua demissão do São Paulo?
Alexandre Bourgeois – Foi algo surreal. Me colocaram em uma sala com oito pessoas. Foi covarde. Eu fui demitido por um assessor de imprensa que, inclusive, falou uma hora que era faixa preta no judô e que se me encontrasse na rua ia me pegar na rua. Coisas de um nível muito baixo. E ninguém retrucou isso, deixaram rolar. E eu ali resolvi ficar mais calado do que qualquer coisa. Eu não ia fazer um escândalo. Eu fiquei na minha, quando me falaram, fui embora.

Você falou que foi covarde a sua demissão. Você acha que o presidente do São Paulo foi covarde?
A situação foi covarde. Você não coloca uma pessoa em uma sala com oito pessoas sendo que uma delas fica dizendo que é faixa preta no judô. Uma reunião em que as pessoas começam a te acusar de coisas que você não fez.

Você foi ameaçado?
Falar que vão te pegar na rua é uma ameaça.

Você vai tomar alguma providência quanto a isso?
Eu vou fazer um boletim de ocorrência para registrar o que aconteceu.

Quem lhe ameaçou?
Não sei o nome dele. É um assessor de imprensa. Nunca me foi apresentado.

Quem queria te derrubar?
O sistema queria me derrubar. É a velha frase do Capitão Nascimento.

Eles alegaram que você não apresentou resultados. O que você acha disso?
Como vou apresentar resultados em três meses, isolado do clube, sem acesso a nada? Não existe isso.

Quais foram os argumentos para lhe demitir?
Disseram que eu vazava informação, o que é mentira. Isso tinha que ser provado. As pessoas que estão do outro lado, sabem que é mentira. Também questionaram eu ter me encontrado com o presidente do Conselho Deliberativo, o Leco [ex-vice do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva]. Quando você não pode ir ao CT, não pode ir encontrar o presidente do Conselho, você realmente onde está. Eu não achei que seria um problema encontrar ele. Ele queria saber sobre o plano, qual era o problema?

O Leco é visto como um homem da oposição hoje. Você não achou que seria um problema?
Eu sou um executivo contratado para resolver problemas. Eu não tenho como conhecer toda a política do clube em três meses. Impossível. Como eu ia saber que o presidente do Conselho é da oposição? Não fazia ideia.

É falado nos bastidores que vocês trataram da saída do presidente Carlos Miguel Aidar. Isso aconteceu?
Os bastidores sabem muito mais do que as pessoas que estavam lá presente. Não conversamos nenhum momento sobre isso. Ficamos duas horas lá. Falamos do plano, de futebol, de política. Só isso.

Dirigentes do São Paulo afirmam que você vazou para a imprensa a saída do Boschilla. Isso aconteceu?
Eu não vazei.

Quais outros processos de fritura você sofreu?
Esse do Boschilla foi surreal. Veículos deram a notícia e eles também falaram que era culpa minha.

Há um racha na gestão?
Não sei. Eu não via todos os diretores.

Contrataram já um novo CEO, menos de 24 horas depois da sua saída. Isso lhe incomodou?
Não. Ele provavelmente já estava contratado. Só mostra o que as pessoas são. Eu espero que ele tenha as oportunidades que eu não tive.

Como você chegou no São Paulo?
Contratado pelo Carlos Miguel Aidar, com o objetivo de profissionalizar o São Paulo e conseguir melhorar a parte financeira, que é muito grave.

Qual é a sua relação com o Abilio Diniz?
É uma relação de admiração, de muito respeito, por uma pessoa que conquistou muitas coisas como empresário, e quanto mais eu aprender com ele, melhor. Mas ele é muito ocupado e eu falo menos com ele do que as pessoas imaginam.

Você foi indicado por ele?
Fui contratado pelo Carlos Miguel, indicado pelo Abilio.

A sua entrada estava condicionada a uma ajuda financeira por parte do Abilio?
Não. Nunca teve isso. Minha entrada não foi condicionada a nada. O que o Abilio ofereceu foi ajuda, das mais diversas. Tanto do conhecimento dele, quando de qualquer outra coisa que o São Paulo precisasse.

E essa ajuda, não foi aceita?
Quinze dias depois que eu entrei lá eu percebi que o objetivo pelo qual eu havia sido contratado jamais se concretizaria. Eu fiquei em uma sala isolada esse tempo todo, com muito pouco acesso a informação. Eu pedi contratos que eu nunca tive acesso. Eu passei por momentos de alguma humilhação. O que eu sei é que o fato de eu estar lá inibia algumas ações que iam contra o São Paulo.

Você falou que em 15 dias você perdeu a esperança. O que lhe fez pensar isso?
Eu percebi que o motivo pelo qual eu fui contratado jamais se concretizaria. Não tinha nenhuma vontade política para isso. E, mesmo assim, eu resolvi ficar.

O que lhe fez perceber isso?
Eu não tive acesso a nada em nenhum momento. Todo mundo era contra mudança e todo mundo se fechou em volta do poder. Os interesses pessoais passavam na frente dos interesses do clube, na maioria das vezes. Quando você vê isso acontecendo, você percebe que não há a menor chance de nada mudar.

Ser indicado por Abilio foi ruim para você?
Eu acho que atrapalha quando alguém não tem capacidade de enxergar que um cara como o Abilio seria benéfico para o São Paulo. Então, eu acho que pode ter atrapalhado, sim.

Você acha que queriam enfraquecer o Abilio?
Não diria que enfraquecer. Mas existia um medo, mas não com o Abilio. Existe uma coisa no futebol que é o fato de as pessoas do poder se fecharem muito nele, para manter o poder. Isso é verdade em muitos clubes e eu vi isso muito forte no São Paulo. Eu vi de maneira concreta.

Um dia você foi ao centro de treinamento do São Paulo e isso gerou muita polêmica. O que aconteceu?
Foi marcante esse dia. Para mim, é cômico isso, digo, tragicômico. Eu fui lá para conhecer o CT, como CEO. Isso virou um assunto sério lá dentro. Me disseram que eu tinha que ter avisado. Acho que esse foi um dia marcante.

O que que lhe falaram?
Que eu não poderia ter ido ao CT. Vários diretores me falaram isso.

Você não acha que estava tentando ocupar lugares que não eram seus?
Eu ouvi muito isso lá dentro. Que estava sendo espaçoso. Mas quando eu entrei lá, o presidente mandou um e-mail para todo mundo dizendo que eu era responsável por todas as áreas. Se era assim, por que eu não tinha direito de ir lá?

Foi uma surpresa ser demitido?
Nenhuma. Mas eu achei que seria mais tarde. Quando você fica isolado em uma sala, quando não tem acesso a nada, quando ignoram um plano que você faz, quando seu plano não é levado a sério, você percebe que está em um processo de fritura.

Em uma coletiva de imprensa, antes da sua demissão, Aidar foiirônico com você. Você sentiu isso?
Não senti ironia. Mas ele teve uma atuação que eu não entendi. Ele foi dar uma coletiva para dar um valor da dívida que não era a que ele tinha colocado no balanço do clube. Eu senti lá que meus dias estavam contados. Muitos diretores ali acharam que eu ia pedir demissão.

O que você achou do plano de profissionalização que foi apresentado pelo Aidar?
Não tem profissionalização. Eu tenho como referência o plano do Grêmio, e um pouco do Flamengo, também. Significa ter pessoas muito especializadas em cada área. Na área financeira, tem prioridade no caixa. Ali no São Paulo, não tinha prioridade. O dinheiro do Boschilla entrou e foi gasto em 2 horas, pagando 11 empresários. Isso está correto? Ninguém negociou nada com ninguém. Simplesmente pagou, aleatoriamente R$ 25 milhões da venda dele. Não havia vontade política para ter de fato profissionalização. O que acontece nos clubes hoje é um presidencialismo quase ditatorial. Isso é nefasto.

Você queria diminuir o poder do presidente?
No meu plano, seria criado um conselho para ficar acima dos cargos executivos. Esse comitê seria presidido pelo presidente do clube. Para cada área, haveria um comitê de acompanhamento, que seria comandado pelo diretor estatutário, mas com pessoas especializadas ali dentro. É impossível você tocar uma organização com pessoas que têm outros trabalhos. O presidente não vira rainha da Inglaterra quando é presidente desse conselho. Só vira rainha quem quer. Essa nunca foi a minha intenção, dezenas de empresas trabalham desse jeito.

Você falou de um presidencialismo ditatorial nos clubes. O Carlos Miguel Aidar era assim?
Os conselhos foram formados, nas empresas, para que as decisões fossem compartilhadas. Por que isso? Porque quando você compartilha a informação, a chance de você errar é menor. O que falta no São Paulo é compartilhar as decisões. Falta uma democracia nesse sentido.

Falta democracia no São Paulo?
Não é só no São Paulo. A gente tem vários clubes assim, é comum. O projeto do clube é de uma pessoa só, vemos muito isso. É assim no Santos, no Vasco… E o que acontece é que acaba errando muito.

O que você viu de errado lá dentro?
A falta de prioridade no caixa, no meu ponto de vista, é um erro boçal. Você não negociar as dívidas, é errado. Se você não tem diagnóstico, não tem formulação e não tem vontade política, a insolvência do São Paulo será certa. Se você tiver, já vai ser difícil. Não tendo, será impossível.

O Itaú BBA diz que o São Paulo está perto de explodir. Você concorda?
O que o Itaú diz é que se nada for feito, isso vai acontecer. Nesse sentido, eu concordo, mesmo, que vai explodir se nada mudar. Quando você sacrifica receitas futuras, como fizeram com o dinheiro da Globo e da Under Armour, é mortal para a vida do clube. Completamente mortal.

Que contratos que você tentou ver e não pode?
Um monte. Teve uma reunião que falaram que eu iria renegociar os contratos. Eu tentei ver um contrato de limpeza, por exemplo, mas não consegui. O da Far East [de comissão da Under Armour], também nunca me deixaram ver.

O Osorio recebeu uma mensagem de um diretor que quase fez ele desistir. O que você acha disso?
Quando você tem um organograma que tem diretores amadores, que não tem experiência na área que estão, você dá espaço para ter uma pessoa que vai mandar essa mensagem. Se isso acontece em uma empresa, ela ou seria demitida ou seria pelo menos advertida.

Quem mandou?
Não sei quem foi.

O que mais lhe assustou?
O que mais me assustou foi essa questão das tomadas de decisão de forma isolada. Muitas empresas que eu vi quebrar, quebraram por causa disso, por ter pessoas que tomavam decisões sozinhas, sem consultar ninguém.

O desmanche do time, o que você achou?
Eu não questiono a venda, mas a forma que isso aconteceu. Não havia planejamento. Teve caso que a comissão técnica ficou sabendo da saídaprocurando pelo jogador. Perguntava onde estava fulano, para ir para uma viagem, e era avisado que o jogador tinha sido vendido. Isso não pode acontecer.

Você sai magoado com alguém?
Não. Nem um pouco.

Qual recado você daria para o torcedor do São Paulo?
Para que não olhe só para o campo. O resultado do futebol é uma consequência do que é feito na gestão.

O que você vai fazer da vida?
Pretendo continuar no futebol e colocar em prática meu plano de profissionalização.

 

Fonte: Folha de São Paulo

9 comentários em “Ex-CEO do São Paulo diz que foi boicotado no clube e relata ameaça

  1. Esta na hora de responsabilizar todos os diretores que constam na Ata em cartório como responsáveis pelas dívidas do SPFC, vamos iniciar um movimento como torcedores para que isto aconteça, se tiver um advogado tricolor de coração que seja capaz de interpretar as leis existentes para os dirigentes de futebol vamos fazer isto. correr um abaixo assinado para todos os torcedores assinarem, e procurar na Justiça responsabilizar com seus bens todos os diretores que fazem parte desta diretoria e da anterior do Juvenal.

    • De antemão, o Tricolornaweb se coloca à disposição, se houver algum advogado interessado na causa pelo bem maior e entender possível essa responsabilização civil ou criminal, a puxar esse abaixo assinado. Nosso site está aberto.

  2. AIDAR AGORA ENTROU NUMA VERDADEIRA FURADA. SE ACEITAR VAI SAIR MUITA SUJEIRA, SE NÃO ACEITAR PODE CONCRETIZAR SUA CULPA. INFELIZMENTE, OS PRESIDENTES DOS CLUBES EIXO RIO-SÃO PAULO AONDE O PODER $$$$ E GRANDE, ROUBAM MUITO, ELES TEM MUITO RABO PRESO POR ISSO NÃO EXISTE AUDITORIA EM CLUBE NO BRASIL, SENÃO MEU IRMÃO ESTARIAM TUDO PRESOS. ELES ESTÃO UNICAMENTE INTERESSADOS APENAS NO SEU BOLSO, POR ISSO VIVEM ATOLADOS E ENDIVIDADOS COM DIVIDAS ATRAS DE DIVIDAS E ISSO NÃO E SO NO SÃO PAULO

  3. esse aidar é o ladrão igual ao jj dois safados que tem rabo preso quero ver qual vai ser a desculpa que vai dar pilantra,mau caráter,arrogante,aparecido não tem nada ver com a cara do são paulo quem gosta dessa putaria e roubalheira é os porcos e gambas DIRETORIA MEDÍOCRE ,sou São Paulino e sócio manda cancela o meu sócio torcedor

  4. Cara estamos fudi….Oliveiro Jr..assessor de imprenssa de Aidar..otricolor esta jogado as traças…so tem bandido e aproveitador….futuro totalmente nebuloso…..pena

  5. Juvenal e Aidar, indicado pelo Juvenal, o que poderia esperar? Só relembrando que Juvenal deixou o clube arruinado em sua primeira péssima gestão, 1989/90, e agora fez o mesmo mas deixou uma bomba no seu lugar.

    Parabéns aos conselheiros vendidos do SPFC que votaram no Juvenal e no Aidar, vcs são is responsáveis por essa vergonha toda!

  6. torraram a venda do Boschila em 2 horas… que beleza!!!!!
    Tem que por os bens pessoais de toda diretoria como garantia…ai quero ver esta festa continuar….

  7. O que posso falar. A que ponto chegou o tricolor.Acabaram com o time,com o clube,e consequentemente,com nossa dignidade.Que gentinhas,que tipinhos se apoderaram do clube e o gerem como se fossem donos e não tivessem 17 milhões de torcedores para responderem.É triste ver que o São Paulo está,com essa gente,em estado terminal.É só uma questão de tempo

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