Quem andar pela sede social do São Paulo nesta sexta-feira mal vai notar as marcas de uma inundação. Uma semana depois de ser alagado por uma enxurrada, o clube se livrou da lama e do mau cheiro das águas do córrego do Pirajuçara e está quase pronto para ser reaberto. A reconstrução foi rápida, mas também foi cara. Um ônus com que o departamento de futebol tricolor terá de arcar.
– Estimo que gastaremos entre R$ 2 milhões e R$ 2,2 milhões. Ainda estamos fazendo um levantamento mais detalhado. O São Paulo tem um seguro de aproximadamente R$ 1 milhão. Já acionamos a seguradora. Mas o clube certamente vai perder. Nossa grande reserva é o futebol. Então, quando acontece algo desse tipo, quem financia é o futebol. A verba que não sair do seguro, sairá do caixa do São Paulo. O sócio não terá de pagar por essa reconstrução – disse o vice-presidente social e de esportes amadores, Roberto Natel.
– A piscina olímpica terá de ser quebrada e totalmente reformada, o que demora de seis a sete meses. Por isso, o clube só vai estar 100% no ano que vem. A sala de carteado terá o piso reconstruído. O parque das crianças ficará fechado, porque tem uma areia especial, colorida, que demora uns 15 dias para ser entregue – disse o cartola.
Mas neste sábado todas as piscinas estarão funcionando e haverá uma recreação como recepção para os sócios em frente o portão 7, de acordo com o diretor social, José Moreira. Ele também afirmou que o Carteado e a Sinuca estarão funcionando, além da Lan House. Somente permanecerão interditados o parquinho, o Ginásio 4 e o Ginásio 5, que estão passando por obras.
social do São Paulo (Foto: Marcos Guerra)
– Toda parte mais baixa do clube foi afetada. A cozinha dos funcionários, que havíamos acabado de construir, foi embora, perdemos todos os equipamentos. Nosso ginásio 5, que estávamos colocando piso de madeira, foi danificado e voltou ao ponto zero. A sala de fisioterapia, a sala de sinuca, a central de atendimento, os vestiários, o berçário. Tudo ficou embaixo d’água – completa disse Moreira.
Além de equipamentos da fisioterapia, da cozinha e do carteado, o São Paulo ainda espera ter prejuízo com os móveis da sede social. A princípio, eles parecem intactos, mas, como são feitos de madeira compensada, devem apresentar danos com o passar do tempo, inflando os gastos do Tricolor com a reconstrução do clube. O estádio do Morumbi também foi atingido, mas não sofreu grandes danos.
A região do Morumbi tem histórico de alagamentos por conta do córrego do Pirajuçara, que passa por baixo do estádio são-paulino. A inundação do dia 14 de fevereiro, porém, foi comparada a um tsunami por Roberto Natel. Em 2004 e 2006, o clube também ficou debaixo d’água, mas os estragas foram muito menores, já que a água entrou lentamente. Desta vez, o córrego invadiu o clube com força e arrastou o que estava à frente.
– O São Paulo já teve alguns casos invasão de água. Quando cheguei ao Morumbi, já estava tudo alagado. A água chegou a uns 60cm em uma área aberta, mas o que fiquei impressionado foi que a enxurrada tirou equipamentos das salas e jogou no meio do caminho. Isso me chocou. A água varreu tudo, como um tsunami – disse o dirigente.
Na ocasião do primeiro alagamento em sua sede social, o São Paulo não possuía um plano de emergência para conter a água do Pirajuçara. Em 2006, o clube já possuía comportas para fechar as entradas do clube. A água chegou a ultrapassar essas barreiras, só que entrou lentamente. Desta vez, ela se concentrou em um muro nos fundos da sede social e chegou a dois metros de altura. Até que essa parede desabou, e o córrego invadiu o clube.
– Foi uma coisa absurda. Você fica sem poder fazer nada. Naquele momento só poderia rezar para os gastos serem pequenos. Os estragos antes (em 2004 e 2006), se não me engano, foram de cerca de R$ 400 mil (cada). O clube não estava modernizado como hoje. Nossa sede social agora é impecável – disse Natel.
Após a cobrança, o Governo de São Paulo enviou carta ao presidente tricolor, Juvenal Juvêncio, informando que o edital da concorrência pública para a realização da obra será lançado ainda neste mês. O clube ainda pede explicações sobre outros projetos de infra-estrutura para a região que estão parados, como a construção do Monotrilho e o prolongamento da avenida perimetral.
Depois do ‘tsunami’
A sede social do São Paulo ainda é um grande canteiro de obras, mas, em sua maioria, em fase de acabamento. Roberto Natel conta como foi o passo a passo da reconstrução do clube, desde a limpeza que varou a madrugada aos retoques finais.
– A primeira ação em uma enchente é lavar tudo rápido, porque a lama gruda e não conseguimos mais tirar. A primeira providencia foi contratar caminhões-pipa para poder limpar tudo. Não paramos um minuto. Viramos a noite. Tem de fazer higienização e dedetização. Temos de tomar o cuidado para que o sócio não sofra nenhum tipo de contaminação – disse o dirigente.
A lama se misturou com a água poluída do córrego do Pirajuçara e carregou um forte e desagradável odor, além de insetos e roedores. Após limpeza e dedetização, foi iniciada a fase de reforma das estruturas danificadas.
– Depois trocamos os equipamentos da piscina que ficaram debaixo d’água. Enfim, todos equipamentos elétricos que foram perdidos – continua Natel, que coloca o Tricolor no último passo para a maioria das obras: a fase dos retoques.
– Estamos em uma fase de olhar tudo para fazer os acabamentos, para que o sócio nem perceba que houve uma inundação aqui – finaliza o dirigente.
A bem da verdade, apenas uma correção: o córrego que passa pelo estádio e segue pela Av. João Saad não é o Pirajussara, mas sim o Antonico. Atualmente ele está canalizado sob o leito da João Saad, que antes da canalização até tinha o nome do córrego, chamava-se Av. Antonico.