São Paulo briga por metrô na porta do Morumbi

Uma das maiores críticas que o estádio do Morumbi recebe por parte de torcida e imprensa é o difícil acesso ao local. E é para acabar com esse problema que o São Paulo tem sido um dos protagonistas na batalha pela finalização da Linha 17 Ouro do Metrô.

UOL Esporte teve acesso a um dossiê levantado pelo clube que reúne denúncias de corrupção envolvendo políticos e construtora, além de apontar falta de ação da Prefeitura – que assinou o convênio com o Governo Estadual para a construção da nova linha. O São Paulo também tenta dialogar com associações de moradores que são contra a passagem do monotrilho, que faz parte do projeto.

Pelo projeto original, a Linha 17 Ouro custará R$ 3,3 bilhões e terá 18,1 km de extensão, fazendo a ligação entre a Estação Jabaquara, da Linha 1 Azul, passando pelo Aeroporto de Congonhas, até a Estação do Morumbi na Linha 9 da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Com a expectativa de transportar 300 mil pessoas diariamente, as autoridades optaram pela utilização do monotrilho, alternativa que tem o apoio do São Paulo.

As obras estavam previstas para iniciar no dia 1º de outubro de 2010 e terminar no dia 30 de abril de 2013. O que se vê hoje é metade das obras atrasadas, porém, segundo o governo do Estado e a prefeitura da capital paulista, esse atraso não é preocupante. Uma parte da obra, que fica antes de cruzar o Rio Pinheiros, no sentido centro-bairro, já tem as vigas de sustentação instaladas, mas ainda não há ligação entre elas.

A outra metade da obra está completamente atrasada, com diversos problemas. Esse é o trecho que mais interessa ao São Paulo e compreende as ligações entre a Estação Granja Julieta, da Linha 9 da CPTM, até a Estação Morumbi, em frente ao Estádio, que seria o ponto final. Não há sinal de início para essa parte da obra.

Entenda quais são os obstáculos que o São Paulo enfrenta no lobby por um metrô na porta de casa:

Denúncias de corrupção atacam Aurélio Miguel, Brookfield e Silvio Teixeira

O dossiê obtido pelo UOL Esporte levanta uma série de questionamentos em relação aos nomes do vereador Aurélio Miguel, da construtora Brookfield e de um de seus executivos de alto escalão.

Tudo começou quando o São Paulo passou a considerar suspeita a participação ativa do judoca nas reuniões feitas por associações de moradores contra a construção do monotrilho. Inicialmente, sua presença era ligada apenas ao fato dele ser um dos únicos e ferrenhos oposicionistas ao atual presidente, Juvenal Juvêncio. Depois, no entanto, o estranho e ferrenho envolvimento de Aurélio ficou mais nítido para os diretores quando o vereador foi denunciado em um esquema de corrupção que envolvia também a Brookfield e alguns shoppings da cidade.

Segundo reportagens do jornal “Folha de S. Paulo”, que estão no dossiê, Aurélio Miguel está sendo investigado pelo Ministério Público por cobrar propina de shoppings ligados ao grupo Brookfield para omitir irregularidades no relatório final da CPI do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). O ex-judoca presidia essa comissão. Segundo a “Folha”, o patrimônio do campeão olímpico em 1988 passou de R$ 1,4 milhão para R$ 25 milhões em oito anos. Em 2004, ele tinha quatro imóveis. Atualmente, ele tem 25 imóveis, 17 carros e uma lancha.

O detalhe é que a construtora também não vê com bons olhos a construção do monotrilho. Segundo os diretores do São Paulo informaram ao UOL Esporte, um dos membros da Brookfield chegou a dizer que a obra da Linha 17 seria “um estorvo” para a construtora, que pretendia utilizar as áreas ocupadas pelo trem para criar empreendimentos imobiliários.

Segundo o clube, fica a impressão de que Aurélio Miguel comparecia às reuniões da associação de moradores para representar também os interesses da Brookfield. O ex-judoca, por meio de assessoria, negou todas as acusações feitas pelas reportagens da “Folha de S. Paulo”.

Associação de moradores luta contra degradação de bairro e pede outro traçado

Além das denúncias contra Aurélio Miguel e Brookfield, o São Paulo levanta outra suspeita. Silvio Teixeira é ex-presidente da Saviah (Associação dos Amigos da Vila Inah) e alto executivo da construtora. Segundo informações do São Paulo, a Saviah é uma das mais ativas nos protestos contra a construção do projeto.

Para o clube do Morumbi, Silvio usava a figura de presidente da Saviah para poder combater a Linha 17 e defender interesses da construtora. O UOL Esporte recebeu uma resposta de Silvio Teixeira via e-mail. Ele afirma veementemente que só se interessa em defender os interesses dos moradores do bairro do Morumbi e não mistura as funções.

Além disso, o UOL Esporte também falou com Yves Jadoul, atual presidente da Saviah. Segundo ele, fazer essas acusações é o jeito que o São Paulo encontrou para desviar o foco do problema.

Jadoul relata vários pontos que jogam contra o monotrilho. O primeiro é que a obra conseguiu ser aprovada com a alegação de que serviria para ajudar o transporte a uma das arenas da Copa do Mundo. Depois da aprovação do projeto, no entanto, o estádio do Morumbi acabou excluído dos eventos Fifa.

Além disso, o traçado proposto pelo Governo não atende todas as necessidades da comunidade de Paraisópolis, um dos argumentos usados pelo São Paulo para que a obra saia. O grande interesse são-paulino, aponta Jadoul, é ter um metrô que facilitaria o acesso ao estádio não só em dias de jogo, mas também em dias de eventos na futura casa de shows que será construída no próprio estádio.

Para o mesmo traçado, diz o presidente da Saviah, o custo poderia ser de 15% do valor total caso tudo fosse feito com um corredor de ônibus, isso sem contar que um trem suspenso atrapalharia o visual das moradias do Morumbi e criaria, na visão dele, um local degradado, como acontece, por exemplo, na parte de baixo do Elevado Presidente Costa e Silva, o Minhocão.

“Nem mesmo os mortos têm descanso”, esbraveja Jadoul também em relação ao fato do monotrilho passar em cima do cemitério Gethsemani.

Prefeitura fica na inércia, e Cyrella aproveita

Em convênio estabelecido com o Metrô e com o governo do Estado, a Prefeitura se compromete a cumprir algumas partes burocráticas para que o monotrilho saia do papel. Entre elas, a ação de obter os documentos para desapropriar as áreas necessárias. Uma delas fica no Condomínio Andalus, da construtora Cyrella. O detalhe é que a obra já está na fase de acabamento e as autoridades municipais se eximem desta responsabilidade.

São Paulo ainda acusa a Cyrella de ter mudado a área construída em relação ao projeto original. Segundo o clube, onde hoje há um prédio, inicialmente, deveria ser o espaço apenas de um jardim, que seria mais fácil de ser desapropriado. Ainda de acordo os diretores são-paulinos, a construtora ainda chegou a sugerir que a desapropriação fosse feita em uma parte da sede social tricolor.

O condomínio tem apartamentos de 47 a 130 metros quadrados, com alto padrão e com direito a espaços de luxos como solarium, deck molhado, vinheria, simulador de golfe e espaço pet. A construtora informa no site do prédio de que não foi notificado pela prefeitura para a desapropriação. O mesmo foi passado aoUOL Esporte via assessoria de imprensa.

Também via assessoria, a Prefeitura, primeiro, desconheceu o convênio e disse não ter nenhuma obrigação em uma obra estadual. Depois, com o conhecimento dos documentos obtidos pelo UOL Esporte, os funcionários da comunicação prometeram uma resposta, mas não cumpriram. A reportagem enviou a primeira solicitação no dia 25 de março.

No dia 08 de março, o São Paulo divulgou em seu site oficial que havia feito uma reunião com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e ouviu de que as providências seriam tomadas. Segundo os diretores, o petista ainda prometeu que não modificaria o trajeto para que houvesse a desapropriação do clube para que o monotrilho passasse por ali.

 

Fonte: Uol

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