“Personalidade forte”, Muricy vê Tricolor de 2006 como mais forte do tri

No dia 19 de novembro de 2006, Muricy Ramalho comandou a equipe que pôs fim a um tabu de 15 anos sem que o São Paulo conquistasse o Campeonato Brasileiro e para quem foi a mais qualificada em comparação com o Tricolor campeão das edições de 2007 e 2008, também dirigido pelo ex-técnico.

“Foi o time em que tínhamos mais jogadores em todas as posições”, afirmou à Gazeta Esportiva, referindo-se à equipe que comemora, neste sábado, o aniversário de 10 anos do título brasileiro de 2006, o quarto de seis na história da agremiação, confirmado com o empate por 1 a 1 com o Atlético-PR, no Morumbi. “Teve mais vitórias, menos derrotas, melhor ataque, melhor defesa…Era uma equipe muito equilibrada”, ressaltou.

Mentor de um esquema seguro defensivamente e agressivo no ataque, Muricy destaca dois jogadores como peças fundamentais para que o Tricolor terminasse a competição com nove pontos de vantagem sobre o vice-campeão Internacional (78 a 69). “Eram dois jogadores pequenos, não eram de muita força, mas muito pegadores e de muita dinâmica, de um bom passe”, avaliou, descrevendo os volantes Mineiro e Josué.

Na entrevista, Muricy Ramalho ainda faz uma análise de sua relação com jogadores considerados “cobras criadas” daquele elenco, como Dagoberto, Danilo, Alex Silva, Aloísio, Júnior e Leandro, além de Rogério Ceni. O comandante explica por que não havia problemas internos no grupo de atletas: “É que o técnico também tinha muita personalidade forte (risos)”.

Em 2006, o São Paulo foi campeão nacional com 22 vitórias, 12 empates e quatro derrotas (Foto: Marcelo Ferrelli/Gazeta Press)
Em 2006, o São Paulo foi campeão nacional com 22 vitórias, 12 empates e quatro derrotas (Foto: Marcelo Ferrelli/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Entre os times do tricampeonato consecutivo, o São Paulo de 2006 era mais forte do que de 2007 e 2008?

Muricy Ramalho – Foi o time em que a gente tinha mais jogadores em todas as posições. O time vinha de uma briga pela (Copa) Libertadores, vice-campeão, já vinha muito forte. Depois, claro, com o título se valorizou muito e aí começaram a sair jogadores. Era realmente uma equipe muito forte.

Gazeta Esportiva – Aquele time foi o de melhor defesa (32 gols sofridos) e de ataque (66 gols marcados) do Campeonato Brasileiro de 2006. Isso muitas vezes jogando no 3-5-2, um esquema visto por muitos como mais conservador. Como foi construído aquele estilo de jogo, que era eficiente tanto atrás quanto na frente?

Muricy Ramalho – Foi o time que teve mais vitórias, menos derrotas, melhor ataque, melhor defesa…Era uma equipe muito equilibrada. O sistema de jogo não interessa muito, porque a maioria dos times defende com seis homens. Isso é uma coisa normal no futebol, esse time também jogou algumas vezes no 4-4-2, porque conseguia mudar o sistema de jogo sem mudar os jogadores.

Gazeta Esportiva – O elenco tinha vários jogadores técnicos, mas o time não jogava “bonito”. Ele era agressivo de outras formas, com muitos cruzamentos, chutes de fora da área, jogadas em bola parada…Como foi construído esse jeito de jogar?

Muricy Ramalho – A gente tinha todos os tipos de jogadas. Tinha jogada em baixo, às vezes com o Leandro e Aloísio. Tinha no alto, porque fazíamos as jogadas ensaiadas. Era um time que tinha todas as facilidades para jogar porque treinava muito. Um time não ganha um campeonato longo só fazendo um tipo de jogada. Os adversários hoje estudam demais, então uma equipe não deve jogar de uma maneira só. Com certeza, nós tínhamos nossas jogadas ensaiadas de bola parada, mas a gente não tinha como só jogar desse jeito. Tinha bola no chão, tinha bons jogadores e, por isso, foi campeão disparado, porque se jogássemos só de uma maneira não conseguiríamos.

Gazeta Esportiva – Até hoje a torcida fala de modo saudosista da dupla de volantes Mineiro/Josué. Qual foi a importância deles naquela conquista?

Muricy Ramalho – Foram muitos importantes, porque o futebol é ali. Eram dois jogadores pequenos, não eram de muita força, mas de muita dinâmica, de um bom passe, eram jogadores diferentes. Nessa época, os outros times jogavam com volantes muito fortes, mas a nossa equipe era leve no meio-campo. Eles eram muito pegadores, porque são pequenos, mas rápidos. O Mineiro era o que mais surpreendia, que mais saía para o jogo e pegava de surpresa os adversários.

Com "visão de jogo" e força na marcação, Mineiro foi fundamental para Muricy (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)
Com “visão de jogo” e força na marcação, Mineiro foi fundamental para Muricy (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Qual foi o papel do Danilo naquela conquista?

Muricy Ramalho – O Danilo é um jogador inteligente, igual o Mineiro assim: faz a leitura do jogo e conforme estiver o jogo ele se movimenta para o lado certo. É um jogador que se dedica, também, na parte tática do time. Quando está sem a bola é um cara muito dedicado – até hoje ele faz isso. Então, foi um jogador muito importante e que podia ser utilizado em várias funções, porque rendia em todas.

Gazeta Esportiva – Dos 78 pontos que o São Paulo somou naquela campanha, 32 foram conquistados fora de casa, com oito vitórias, oito empates e apenas três derrotas. Atuar bem longe do Morumbi foi sua carta na manga para ser campeão?

Muricy Ramalho – Acontece que, em Campeonato Brasileiro, você não consegue ganhar só em casa. Você tem que saber jogar fora. O nosso time era realmente muito preparado para isso, ele estudava demais os adversários, a tabela, quem a gente iria enfrentar, contra quem nossos principais concorrentes iriam jogar, era um time muito bem resolvido. A equipe sabia que em algumas rodadas os adversários iriam perder, e que a gente poderia só com um empate aumentar a diferença de pontos. Um time que era muito consciente do que estava fazendo e, claro, ganhou muitos jogos fora de casa, porque senão não teria condições de vencer o campeonato.

Gazeta Esportiva – Diferentemente dos tempos atuais, naquela época o São Paulo era um clube tranquilo politicamente. Como era a relação entre jogadores e comissão técnica com aquela diretoria liderada pelo Juvenal Juvêncio?

Muricy Ramalho – O São Paulo sempre foi, principalmente naquela época, um clube muito tranquilo. Disputava todos os títulos, um time que tinha ideias diferentes, tinha estrutura muito mais forte do que todos os outros clubes. Essas coisas fizeram a diferença, então nosso time era muito forte também fora do campo.

Gazeta Esportiva – E como era o ambiente de trabalho com os jogadores? Aquele elenco tinha vários jogadores de personalidade forte, como Dagoberto, Aloísio, Hugo, Júnior, Leandro, além do Rogério Ceni. Eles te davam trabalho ou era tranquilo?

Muricy Ramalho – É que o técnico também tinha muita personalidade forte (risos). Não tinha como, quando é assim não tem diferença. O duro é quando você tem um dos lados com mentalidade e personalidade fracas. Quando bate os dois lados com personalidade forte não acontece nada.

Por ter personalidade forte, Muricy não encontrou problemas de relacionamento em 2006 (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)
Por ter personalidade forte, Muricy não encontrou problemas de relacionamento em 2006 (Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Gazeta Esportiva – Mas não teve nenhuma intriga que você precisou apaziguar?

Muricy Ramalho – Não teve, porque eles sabiam da minha maneira de trabalhar, sou um cara muito transparente, joga quem está melhor, não adianta dirigente, imprensa ou a torcida fazer pressão porque joga quem está melhor mesmo. O jogador sabe que não existe outro jeito de trabalhar, tem que esperar a oportunidade e aproveitar. Então, nós nunca tivemos nenhum tipo de problema.

Gazeta Esportiva – O que faltou para o São Paulo ter sido campeão da Libertadores de 2006? Passou perto (ficou com o vice-campeonato, perdendo para o Internacional, por 2 a 1, no Morumbi, e empatando por 2 a 2 no Beira-Rio).

Muricy Ramalho – Nós tivemos dificuldades, perdemos jogadores importantes. No caso o Josué (expulso no primeiro jogo), depois o Mineiro, que se machucou. Mas mesmo assim por pouco a gente não ganha o jogo no final. Foi coisa de detalhes, mas aí na sequência o time mostrou que era muito forte.

Gazeta Esportiva – Foi sua grande frustração não ter vencido a Libertadores pelo São Paulo?

Muricy Ramalho – Aquela de 2006 não, porque o São Paulo fez uma grande Libertadores. O jogo que mais machucou a gente foi contra o Fluminense (2008). Essa do Internacional – claro que o título era importante demais para nós -, mas o importante é que o São Paulo na sequência conquistou o Brasileiro.

 

Fonte: Gazeta Esportiva

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