Dez anos do Tri: Mito, ‘Diós’ e um título cheio de certezas no Morumbi

Se há alguns anos os gritos de “raça, raça!” ecoam pelas arquibancadas do Morumbi, é certo que a equipe tricampeã da Copa Libertadores da América em 2005 tem grande contribuição para a indignação saudosista da torcida.

Um time “cascudo”, como dizia Emerson Leão, e ao mesmo tempo genial, personificado principalmente em duas figuras: o uruguaio Diego Lugano e o goleiro Rogério Ceni. Nesta terça, no aniversário de dez anos da conquista, o LANCE! ouviu os dois maiores ídolos da história recente do clube. E fica a certeza de que falta brio ao time atual, como o Morumbi se acostumou a ver.

Na melhor e mais importante exibição tricolor na campanha do tri, os 4 a 0 sobre o Atlético-PR, a impressão da dupla é que tudo aconteceria naturalmente em campo.

– Não foi a melhor partida que joguei, mas foi muito importante. Toda partida que dá titulo de Libertadores com placar expressivo fica marcada para o torcedor. E para nós também ficará. O placar foi saindo naturalmente, nada forçado. Como em toda Libertadores, o resultado foi consequência – exalta Ceni.

Na noite de 14 de julho de 2005, a impressão era de que tudo daria certo. Tudo mesmo! Aos 45 minutos do primeiro tempo, o São Paulo vencia por 1 a 0, mas viu o árbitro argentino Horacio Elizondo assinalar pênalti inexistente. Fabrício, então promessa do Furacão, caminhou tenso para cobrar. A seu ouvido, Diego Lugano garantia: “Rogério sabe onde vai bater e vai pegar”. E sabia mesmo!

– Tinha convicção de que defenderia e fui com essa convicção para a bola. No meio do jogo, ele (Fabrício) chutou, a bola desviou e falou: “Cuidado que vou fazer um gol”. Falei: “Nem de pênalti!”. Aí teve o pênalti e eu tinha convicção de que o gol não sairia – assegura Rogério Ceni, ainda feliz com o chute que saiu à direita de sua meta.

Lugano, com a mesma discrição usada para tentar desestabilizar Fabrício em 2005, hoje evita comentar a estratégia usada naquela noite. Por outro lado, o uruguaio é orgulhoso para lembrar como confiou no amigo e capitão enquanto a bola estava na marca da cal. E confiança sobrava para um time que passeou no segundo tempo com show de Danilo, Amoroso e Luizão.

– Não lembro o que falei, e se lembrasse, não ia falar, porque o que acontece no campo, ali fica. Então, não lembro – recorda o “Diós” são-paulino, que consegue se emocionar dez anos mais tarde – Foi tudo marcante. Desde a entrada em campo com o Morumbi lotado até a certeza de levantar a taça.

Confira bate-papo exclusivo com Rogério Ceni:

O que recorda da festa no Morumbi após o tricampeonato da Libertadores no Morumbi?
A festa foi muito legal. Para mim era um ciclo que se frechava, que se completava. Eu tinha passado por essa experiência em 1993, mas no banco (de reservas), e tinha como meta ter essa experiência, reviver tudo isso, que vi muito de perto antes. Consegui realizar o sonho 12 anos depois.

As sensações foram distintas após o título de 1993 como reserva e o de 2005 como titular?
Uma foi com participação mais direta, mais contínua com o time, por isso são sensações distintas. Mas são de felicidade as duas, claro. Uma porque eu era um garoto, e já era fantástico ser o segundo goleiro do São Paulo e estar em finais da Libertadores, do Mundial. Na outra, já era maduro, ocupando há anos a meta como titular do clube. Foram sensações distintas, mas, claro, todas muito felizes.

Há dez anos, recém-campeão da Libertadores, imaginava que ainda estaria defendendo o São Paulo?
Estou melhor do que esperava! Não imaginava chegar aos 42 anos, ainda jogando por esse clube, podendo atuar com a camisa 1 durante tanto tempo, podendo fazer o que gosto, que é jogar. E o que é mais sentido é completar dez anos depois da Libertadores e do Mundial ainda jogando pelo mesmo time.

Qual foi a primeira coisa em que você pensou após levantar o tri da Libertadores há dez anos?
Que aquela imagem ficaria pra sempre, que ali se colocava um nome, de todos os atletas… Mas para mim era muito mais especial. Por ter saído da base, já há 15 anos no clube (chegou em 7 de setembro de 1990), vestindo a camisa do São Paulo. Essa é uma imagem que ficará na parede da minha casa, de muitas casas e na memoria de todo o são-paulino.

Relembre as fichas dos dois jogos contra o Atlético-PR:

FICHA TÉCNICA
ATLÉTICO-PR 1X1 SÃO PAULO

Local: Beira-Rio, em Porto Alegre (RS)
Data: 6 de julho de 2005
Renda/Público: Não divulgados
Árbitro: Jorge Larrionda (URU)
Cartões amarelos: Jancarlos e Marcão (CAP); Fabão, Lugano e Luizão (SAO)
GOLS: Aloísio, 14’/1ºT (1-0); Durval (contra), 6’/2ºT (1-1)

ATLÉTICO-PR: Diego; Jancarlos (André Rocha, 37’/2ºT), Danilo, Durval e Marcão; Cocito, Alan Bahia, Fabrício e Fernandinho (Evandro, 20’/2ºT); Lima e Aloísio. Técnico: Antônio Lopes.

SÃO PAULO: Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Alex; Cicinho, Mineiro, Josué, Danilo e Júnior; Amoroso e Luizão. Técnico: Paulo Autuori.

FICHA TÉCNICA
SÃO PAULO 4X0 ATLÉTICO-PR

Local: Morumbi, em São Paulo (SP)
Data: 14 de julho de 2005
Renda/Público: R$ 3.026.395,00/71.986 pagantes
Árbitro: Horacio Elizondo (ARG)
GOLS: Amoroso, 16’/1ºT (1-0); Fabão, 7’/2ºT (2-0); Luizão, 27’/2ºT (3-0) e Diego Tardelli, 43’/2ºT (4-0)

SÃO PAULO: Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Alex; Cicinho, Mineiro, Josué, Danilo e Júnior (Fábio Santos. 40’/2ºT); Amoroso (Diego Tardelli, 33’/2ºT) e Luizão (Souza, 27’/2ºT). Técnico: Paulo Autuori.

ATLÉTICO-PR: Diego; Danilo, Cocito e Durval; Jancarlos, André Rocha (Alan Bahia, 37’/2ºT), Fabrício, Evandro e Marcão (Fernandinho, 15’/2ºT); Lima (Rodrigo, 15’/2ºT) e Aloísio. Técnico: Antônio Lopes.
Fonte: Lance

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