Com gol e choro, são-paulino Lucas encerra história que não terminou

A torcida do São Paulo sabia que seria a última vez. A torcida do São Paulo não queria, mas viu Lucas se despedir da equipe nesta quarta-feira, com a confusa vitória por 2 a 0 para cima do Tigre, pelo segundo jogo da final da Copa Sul-americana. O último capítulo da história do jogador com a camisa do Tricolor já estava escrito e nenhum ator correu o risco de errar o script e estragar tudo. À exceção dos antagonistas argentinos, que não entraram em campo no segundo tempo e só anteciparam a festa.

O talentoso camisa 7, que seguiu se dedicando integralmente ao clube mesmo vendido  ao Paris Saint-Germain, da França, não é mais jogador do São Paulo. Mas conseguiu o que poucos puderam: um título e um lugar na galeria de ídolos do clube.

Desde que os R$ 108 milhões do novo rico do futebol europeu seduziram e convenceram o presidente Juvenal Juvêncio a negociar sua principal revelação nos últimos anos, Lucas insiste em dizer que não gostaria de deixar a equipe sem um título. No Campeonato Brasileiro, a regularidade do Fluminense e a demora na organização do próprio time impossibilitaram o meia-atacante de alcançar esse objetivo. Mas na Copa Sul-americana, menosprezada por alguns, o Tricolor entrou com força total e triunfou com uma campanha irretocável, marcada pela invencibilidade nas dez partidas do torneio.

O relógio marcava exatamente 21h43 (de Brasília), quando o nome do camisa 7 foi anunciado pelo sistema de som do estádio do Morumbi. Seis minutos depois, era chegada a hora de Lucas puxar a fila dos jogadores na entrada no gramado. Em nenhum momento, a torcida do São Paulo parou de cantar. Era um ídolo deixando o clube pela porta da frente. As faixas ‘Obrigado Lucas’ e ‘Esse honra a camisa’ erguidas em um setor das arquibancadas apenas evidenciavam o amor de cerca de 67 mil pessoas pelo principal atleta de seu clube do coração.

Lucas rezou, se ajoelhou no gramado do Morumbi e só conseguiu agradecer. Mais uma das milhares de lágrimas derramadas nas últimas semanas apareceu no rosto de ídolo que não se acha ídolo. Segundo o jogador, faltava um título para que ele pudesse ser tratado desta maneira. E aconteceu. Os torcedores de um clube hexacampeão nacional, tricampeão Mundial e da Libertadores não tiveram vergonha em comemorar o título da Sul-americana, inédito e especial para a galeria tricolor.

Depois de sofrer duas faltas dos vigorosos jogadores de defesa do Tigre logo nos primeiros dois minutos de bola rolando, Lucas deu uma arrancada à lá Lucas e quase deixou Willian José em condições de abrir o placar. Quando o São Paulo conseguiu se acalmar dentro de campo e saber que o Tigre nem era tão feroz assim, o camisa 7 sobrou. O relógio do chileno Enrique Osses marcava 22 minutos quando Lucas aproveitou uma bola rebatida na defesa dos argentinos para dominar de calcanhar, cortar o zagueiro e chorar. Ou melhor, fazer o gol e depois chorar, erguendo o escudo do São Paulo de frente à arquibancada.

A fumaça dos sinalizadores ainda não havia nem abaixado quando Osvaldo serviu Lucas em um passe curto e viu o autor do primeiro gol do Tricolor lançá-lo em ótimas condições, para ampliar a contagem. O choro de alegria se tornaria de dor aos 37 minutos, quando o antagonista Orban acertou uma cotovelada no nariz de Lucas, que ficou sangrando e teve que ser atendido fora de campo. Após o fim do primeiro tempo, o equilibrado camisa 7 do Tricolor mostrou que também sabe provocar, ao mostrar o algodão manchado de sangue ao seu agressor. O princípio de confusão gerado pelo ato logo foi apagado pela torcida, que lembrou de outro ídolo, este um pouco mais contestado: ‘Luis Fabiano’. Pela confusão gerada, o Tigre se negou a entrar em campo na etapa complementar.

Lucas não é mais menino. Se ainda restava alguma dúvida sobre suas condições de carregar responsabilidades e liderar uma equipe do porte do São Paulo, elas acabaram nesta quarta-feira, recebendo a tarja de capitão no braço direito, entregue por Rogério Ceni. E as dúvidas foram embora junto com as lágrimas do “moleque do bem”, homem o suficiente para correr atrás de seu futuro e, mesmo assim, não deixar carente a nação tricolor.

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