Zubeldía revê Barcelona após carinho, mágoa e saída tensa

Para quem acredita em destino, o fato de a estreia do técnico Luis Zubeldía pelo São Paulo ser justamente contra o Barcelona de Guayaquil é um prato cheio. Campeão pela LDU de Quito, também do Equador, o “príncipe”, agora no Tricolor, tem um passado de carinho e mágoa com o adversário desta quinta-feira, às 21h (de Brasília), pela terceira rodada da fase de grupos da Conmebol Libertadores.

Ainda jovem, mas com mais de 10 anos de carreira, Zubeldía teve uma de suas primeiras experiências como treinador justamente no Barcelona de Guayaquil. Foi contratado em 2011 com a missão de tirar o time equatoriano da fila de títulos. Até conseguiu, mas o fim dessa história foi bem diferente do que ele imaginava.

Em sua primeira temporada no Equador, Zubeldía ajudou a montar a equipe para disputar o campeonato nacional de 2012. Pediu jogadores, aprovou a chegada de outros e teve papel considerado fundamental pela imprensa local na montagem do elenco do Barcelona de Guayaquil daquele ano.

Também em abril, mas de 2012, há 12 anos, Zubeldía escreveu sua carta de demissão. Era o fim de um relacionamento curto, mas intenso, que deixou marcas. Para o Barcelona de Guayaquil, a alegria do título equatoriano daquela temporada, depois de 15 anos sem um troféu de expressão. Para o técnico, uma cicatriz.

Cético quanto à presença de cartolas na rotina com jogadores e comissão técnica, Zubeldía teve, no Barcelona de Guayaquil, uma experiência que pode tê-lo moldado para a sequência na carreira. O comportamento de Antonio Noboa, presidente do clube à época, relatam jornais locais, foi determinante para o fim do relacionamento.

No dia 8 de abril de 2012, depois de empatar em 1 a 1 com a LDU de Quito, Luis Zubeldía pediu demissão.

– O presidente me fez um comentário que, na minha opinião, foi equivocado. Fiz o possível para não reagir, mas reagi como qualquer pessoa de caráter. Não foi mais longe, mas o respeito foi quebrado. Mesmo assim, deixando de lado o meu ego, opto por dar um passo de lado em benefício da instituição, porque se o presidente e o treinador não se respeitam, não há projeto que seja útil – disse o treinador, à época.

Mais tarde, com um elenco montado por Luis Zubeldía, que já estava no Racing, da Argentina, o Barcelona foi campeão equatoriano. De longe, o treinador ficou sem medalha e nunca escondeu a mágoa. Anos depois, já em 2020, chegou a falar do assunto para o canal “Futbol Sin Cassete”.

– Essa história deu errado porque tive que sair com toda a dor na alma. Eu chorei muito – resumiu.
A saída conturbada do Barcelona de Guayaquil fez com que as cicatrizes se tornassem ensinamentos e convicções. Zubeldía, por isso, prefere um vestiário mais reservado no dia a dia.

– Eu gosto de trabalhar em equipe, cada um respeitando em sua área. Se tenho que falar de futebol, não tenho problema. Sou um treinador seguro, sempre com respeito. Como não vamos ter diálogo, estar em contato? Mas o segredo de uma organização é de que cada um respeite seu papel. Não é um problema. Respeito é importante, é o que sempre vou pedir.

Mas o carinho pelo Barcelona de Guayaquil não deixou de existir. Afinal, foi no adversário do São Paulo que Zubeldía deu alguns de seus primeiros passos como técnico. O destino – sempre ele – tratou de colocar o treinador argentino em um dos maiores rivais, a LDU de Quito, anos depois. Foi na capital equatoriana que ele conquistou o campeonato nacional (dessa vez, com medalha) e a Copa Sul-Americana.

Na LDU, Zubeldía enfrentou o Barcelona de Guayaquil nove vezes. E o retrospecto é positivo: venceu quatro, empatou duas e perdeu três. Agora no São Paulo, o “príncipe” não esconde o carinho que tem pelo adversário desta quinta-feira.

– Tenho carinho pelo Barcelona, sempre querem que eu volte. Nesse respeito, vou defender as cores do São Paulo. Sou agradecido a um clube que se portou bem comigo.

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