André Villas-Boas é avesso às entrevistas exclusivas. Tem por costume falar com a imprensa somente às vésperas e dias de jogos. Mas ao saber da presença de um jornalista brasileiro na cobertura do duelo entre Zenit, clube russo treinado por ele, e Sevilla, pela Liga Europa, o português aceitou conversar com o UOL Esporte.

O assunto, porém, passava longe de São Petersburgo, onde Villas-Boas vive e trabalha desde março do ano passado. O jovem treinador europeu é um desejo antigo do São Paulo. Em 2012, não fosse uma proposta milionária do Tottenham no meio do caminho, o namoro entre o Tricolor e o português teria deixado de ser à distância. Com a recente saída de Muricy Ramalho, o nome de Villas-Boas voltou a ser especulado no clube paulista, mas por pouco tempo. Quando Ataíde Gil Guerreiro, vice-presidente de futebol do São Paulo, disse que seu ‘projeto europeu tinha ido por água abaixo’, o fez por saber que Villas-Boas não sairia imediatamente da Rússia, onde está próximo de ser campeão nacional com o Zenit, apesar da recente eliminação da Liga Europa.

“Agora, não houve nada (proposta do São Paulo). Eu não posso neste momento, porque estou com o meu foco aqui no Zenit. Trabalhar no Brasil é uma ambição que tenho, porque seria trabalhar com o talento. Eu poderia levar os conceitos europeus de treinamentos. Sei que passaram outros europeus pelo futebol brasileiro, mas é uma ambição que tenho”, disse o português.

Villas-Boas confirmou que esteve próximo de um acerto com o São Paulo em 2012. Citou ex-dirigentes do clube, com o qual afirmou ter identificação. O europeu, porém, não descarta assinar por outra equipe do Brasil.

“É verdade. Isso é público, todos sabem. Conversamos à época, mas realmente apareceu a proposta (do Tottenham) e não aconteceu. Eu me identifico com o São Paulo, porque foi o primeiro clube no Brasil a conversar comigo. Tenho muito respeito pelo Adalberto (Baptista, ex-diretor de futebol) e pelo senhor Juvenal (Juvêncio, ex-presidente). Mas, claro, sou profissional e não posso me fechar para nada. Não se sabe o dia de amanhã e não é impossível que eu trabalhe no Brasil em um futuro breve.  Vai depender do projeto e das pessoas”, revelou.

Aos 37 anos, André Villas-Boas já comandou importantes equipes europeias, como Chelsea, Tottenham e Porto. Com o clube de seu país natal, tornou-se o mais jovem treinador a conquistar um título europeu, aos 33 anos. A Liga Europa, em 2011. Ex-pupilo de Bobby Robson e ex-auxiliar de José Mourinho, Villas-Boas surpreenderia se não tivesse personalidade forte. Na última quarta-feira, por exemplo, classificou como ‘estúpida’ a pergunta de um jornalista russo que quis saber se ele se sentia pressionado no momento. Pouco depois, criticou veementemente a Uefa por causa dos jogos do Zenit, como mandante, serem realizados às 22h locais na competição continental.

Mesmo distante, o técnico português mostrou que está por dentro das mazelas do futebol brasileiro. “No Brasil, o calendário é brutal com os jogadores. Joga-se os Estaduais, o Brasileiro, a Libertadores, a Copa do Brasil, não há datas. Por isso, o Alex (ex-meia e um dos líderes do movimento Bom Senso) tem razão nessa luta. Isso precisa mudar, não é possível para o jogador ter tantos jogos na temporada. São questões que precisam ser discutidas. Mas, se eu gostar do projeto, existe sim a possibilidade de trabalhar no Brasil em breve.”

Apesar de ter mais um ano de contrato com o Zenit, a permanência de Villas-Boas na equipe russa para a próxima temporada é incerta. Segundo a imprensa local, o clube de São Petersburgo não descartaria um acordo para abreviar o vínculo com o treinador. Um dos problemas do São Paulo para tentar sua contratação é a concorrência europeia. O português tem prestígio e mercado no Velho Continente. Não é exclusividade são-paulina sonhar com o jovem técnico. André Villas-Boas também está na mira do Olympique de Marselha.

Fonte: Uol