“Ridi Pagliaccio”: o São Paulo de Casares, uma ópera tragicômica

A referência à mais conhecida ária da ópera “I Pagliacci” surgiu naturalmente: o São Paulo do bufão Julio Casares remete inevitavelmente à tragicomédia de Ruggero Leoncavallo na qual o palhaço vaidoso que comanda o circo comete duplo assassinato, motivado pelo narcisismo, pela inveja e por confundir realidade e delírio. Ora, um sujeito que vive nas redes sociais uma realidade paralela, mente como respira e faz-se de engraçado enquanto articula golpes, persegue opositores e assassina o clube gera uma comparação óbvia.

O texto do sempre figurante Conselho Fiscal que finaliza – de forma patética – o desastroso Balanço Financeiro de 2024, é quase uma resenha da ópera Casariana. Essencialmente diz: “este balanço é passível de intervenção e investigação criminal, omite documentos que tornam a gestão suspeita e mostra uma catástrofe sem precedentes na história do São Paulo FC. Mas ok, a gente aprova.” Risível, se não fosse o ponto mais fundo (até agora) da ininterrupta decadência institucional do São Paulo.

O Departamento Jurídico do Tricolor também vai muito bem, obrigado. Bem cheio de processos de empresários, formadores e até olheiros – sim, ainda existem – que levaram jovens promessas para Cotia e que até hoje não receberam o quinhão, geralmente de 5%, sobre o valor da venda destes atletas.

Todos eles ingressaram na Justiça contra o clube. Muitas ações já tiveram decisão final, mas como isso ocorreu em 2025, ou seja, em 2024 ainda eram ações aguardando sentença final, os valores que o clube tem a pagar não entraram no Balanço e, consequentemente, não fizeram parte do déficit do ano nem da dívida líquida, que o São Paulo insiste em dizer que era, em valores redondos, de R$ 967 milhões em 31 de dezembro.

Vamos a alguns exemplos:

Juan, atacante
Foi vendido ao Southampton, da Inglaterra.

O União Agrícola Barbarense, clube formador de Juan, tem direito a 5% do valor total da venda, com outros 25% ficando com a Full Talentos Futebol Clube Eirelli.

O União Agrícola alega que todas as alterações contratuais feitas com Juan a partir de 2018, quando o atleta chegou em Cotia, por mais que fossem feitas entre o São Paulo e a Full Talentos, deveria ser comunicado ao União e pago 5% do valor do novo contrato.

Em 2024 o União ficou sabendo que Juan tinha sido vendido para a Inglaterra, que pagou ao São Paulo uma quantia pela liberação antecipada do atleta.

O contrato diz que se Juan não fosse vendido com lucro, o São Paulo deveria pagar um valor de 200 mil reais ao União por ter sido o valor gasto com a formação do atleta.

O problema é que o SP vendeu, recebeu, a Full Talentos recebeu e ninguém deu os 5% para o União. O São sequer responde aos pedidos de entrega de documentação.

O São Paulo já está condenado a pagar:

Helinho, atacante
Contrato feito em 2014 entre SP e Angelo Aparecido de Souza, empresário de Helinho, prevendo que 5% do valor que o São Paulo recebesse da venda e revenda do jogador seria devido a ele. Angelo Aparecido foi o “descobridor” e levou Helinho para Cotia.

Helinho foi para o RB Bragantino e, depois, para o Toluca. Para o Bragantino ele foi por 4 milhões de Euros, o que daria ao empresário 200 mil euros, ou R$ 1,246 milhão.

O São Paulo também já perdeu esta ação.

Thiago Mendes, meia
Empresariado por Leão Borges Participações, voi vendido ao Lilly por 8 milhões de euros. O São Paulo teria que pagar R$ 2450 milhões ao empresário. O pagamento seria dividido em cinco parcelas, porém cube pagou só as duas primeiras.

Isso pode explicar a razão do São Paulo estar trazendo Thiago Mendes de volta, como uma tentativa de diminuir essa dívida com o empresário.

Beraldo, zagueiro
Nesse caso há um processo da Casa Soccer contra o São Paulo por conta de um contrato formalizado em maio de 23023 prevendo que esta empresa representaria Beraldo e possíveis negociações. Por esse trabalho teria direito a 7% sobre o valor da venda.

Se o São Paulo fizesse alguma transação internacional do atleta por outro intermediário, a Casa Soccer teria direito a 4% do valor total.

Beraldo foi vendido ao PSG por 20 milhões de euros, por outra empresa, o que deixa uma divida do São Paulo com a Casa Soccer em 800 mil euros (aproximada R$ 4,8 milhões)

Gabriel Sara, meia
Foi trazido a Cotia pelo “olheiro” Orlando de Miranda Gonçalves. Há um contrato que reza que ele teria direit a 5% sobre tudo que envolvesse Sara, desde aumentos de salários (sempre sobre o primeiro) alterações contratuais e venda.

Orlando recebeu R$ 6,300 mil na apresentação de Sara em Cotia e ficou estabelecido que ele teria direito a 5% do valor de alteração contratual, quando o atleta foi profissionalizado e 5% sobre o valor de uma futura venda.
Gabriel Sara foi vendido ao Norwich por R$ 56,310 milhões, ficando o São Paulo com a dívida de R$ 2,815 milhões ao olheiro.

Orlando ganhou em 1ª instância e pediu a penhora do naming rights do Morumbi(s).

Paulo Henrique Ganso (meia)e Lucas Pratto (atacante)

Representados pela Link Assessoria Esportiva e Propaganda. Monitória de 1,375 milhões de euros (9 milhões de reais) a ser pago, pois o São Paulo já foi condenado. Mas ainda não pagou.

Auro, lateral

Pertencia ao Cruz e Hertal Atividades Esportivas. Seu contrato previa repasse de 30% sobre da venda para o Exterior. Auro foi para o Toronto da MLS por US$ 558 mil (cabendo a Cruz R$ 954 mil ou 167 mil dólares).

Também há condenação não paga pelo clube.

Rodrigo Caio (zagueiro) e Lucas Fernandes (meia)

Esse é um caso que a Federação dos Atletas pede o pagamento da taxa sobre negociações de 0,8% que é cabível sobre as vendas do Rodrigo Caio e Lucas Fernandes.

Rodrigo Caio foi vendido por R$ 27 milhões e Lucas Fernandes por R$ 10 milhões.

O processo está retornando para a segunda instância para nova discussão, porque o STJ aceitou a argumentação do São Paulo para rediscutir.

Dos tribunais para as sombras

Mais que acumular dívidas e não fazer QUALQUER esforço EFETIVO para equilibrar as finanças, a gestão Casares mostra reiteradamente sua vocação para relacionar-se com as “penumbras” do mercado da bola e seus obscuros personagens.

Nossa curiosidade de conhecer os empresários a quem o São Paulo mais deve nos levou a agentes FIFA que fazem questão de esconder que são agentes, empresas que sequer têm o agenciamento de atletas como atividade descrita em seu objeto social, outras com “sócios amantes” e ainda uma empresa de advogados argentinos com sócio ligado a uma empresa de softwares em Miami e filiar brasileira apontada como endereço comercial e com número de sala, sendo, entretanto, imóvel residencial.

Confira os casos mais… interessantes:

BAMA Football Group: Se eu relatasse toda a epopeia para encontrar esta “empresa”, o leitor se compadeceria. Foram 3 telas e 4 navegadores diferentes para pesquisar em 3 idiomas.

O BAMA é um grupo pertencente ao empresário, advogado e agente FIFA Borja Garcia Fuster, que a despeito da riqueza e dimensão das atividades que a gente vai “cavocando a granel” na Internet, praticamente não é mencionado na aba NOTÍCIAS – e o quase nada que há, somente em espanhol.

Suas plataformas de negociação no futebol, dentro do BAMA, são a Toldrá Consulting e a All Iron Sports em cujos portfolios (pouco significativos) não consta qualquer atleta do São Paulo.

PORÉM, com garra, persistência e determinação, constatei que a Toldrá Consulting representou JUANFRAN. De onde vem a DEDU-ÇÃO de que a dívida de R$1,8MM que ainda resta se refere ao “garupa” do Daniel Alves. Antes, foram pagos outros R$1,4MM.

Baredes Assessoria (“filial” brasileira da BAREDES SPORTS & LAW): representa Galoppo desde a transação p/ o River Plate).

A Baredes Sports & Law) é argentina e tem mais de 20 anos de atuação, mas no futebol vem crescendo consistentemente nos últimos 5 anos.

No Brasil, a sociedade é formada por Matias Baredes (um dos sócios da matriz), o advogado Brandon Serebriani (também da matriz argentina) e o brasileiro Michel Tork Monteiro, proprietário da IUREM LLC, uma empresa de softwares para advogados sediada em Miami. O endereço COMERCIAL brasileiro é na Conselheiro Brotero, 528, sala 1502 (algo interessante, pois se trata de um edifício residencial ). A dívida remanescente é de R$1,2MM, além de outros R$1,2MM já pagos.

B&C Consultoria: essa foi difícil encontrar, mas somos chatos…

B&C é uma das agências “ocultas” do poderoso Carlos Leite, conhecido por dar “ajuda por fora” ao Vasco e outros clubes.

O valor devido pelo São Paulo, R$1,2MM, diz respeito à comissão pela venda do Gabriel Sara. O valor total de comissão foi de R$7,5MM.

Ecimer Sports: credora de R$3,7MM do SPFC por comissão na compra de Alan Franco, a ECIMER SPORTS MARKETING tem como sócio-administrador o agente uruguaio Marco Vanzini (cuja empresa se chama VANZINI FOOTBALL CONSULTING e NÃO tem o Alan Franco como agenciado – alias só tem 2 atletas uruguaios).

Pelo que observamos da atividade do Vanzini, o sujeito atua como uma espécie de ‘freelancer’ captando atletas e criando empresas nos países para os quais consegue negociá-los. Em cada país, há um sócio local. No Brasil, um tal Fernando Antônio Lima Sobrinho (sobre quem já estamos buscando mais informações).

Flash Forward: é a agência que recebe a parte a parte das dívidas do Daniel Alves que cabe Dinorah Santana – ex-mulher jogador e atual do próprio Fransergio – a quem foi apresentada pelo ex-marido). Dinorah logicamente não aparece como sócia, mas foi a fundadora e passou o controle ao Fransergio em 2011.

Gestifute International (James Rodriguez): essa é a agência do Big Boss português Jorge Mendes, e a dívida de R$5MM a comissões de aquisição e… RENOVAÇÂO (???). James foi o único “atleta” (contém ironia) de Mendes no São Paulo, e o enfiou no clube por intermédio de seu grande parceiro Giuliano Bertolucci, com quem fez dezenas de negócios em Portugal (que o diga o Ministério Público lusitano).

 

Paulo Pontes e Dario Campos (Agonia Tricolor)

 

6 comentários em ““Ridi Pagliaccio”: o São Paulo de Casares, uma ópera tragicômica

  1. Prezados Paulo Pontes e Dário Campos

    Como os senhores são bons de pesquisa, vou compartilhar apenas uma pequena ponta e, se houver interesse, os senhores podem investigar.

    Gallopo: o senhor presidente Casares e o senhor diretor Jurídico “afirmaram” que havia um patrocinador que contrataria, porém na hora H não havia ninguém. E porque comprou se não tinha patrocinador? Porque o senhor presidente já tinha assinado a compra e o SPFC foi obrigado a comprar.

    Beraldo: o SPFC tinha uma proposta maior de um time da Inglaterra, porém o senhor presidente disse que venderia para o PSG, afinal precisava manter a palavra e que a diferença de 2 milhões de euros do outro time não valeria a pena o estresse com o PSG.

    Pesquisem!!!

    • Resposta enviada pelo Dario, mas que é minha também:
      Do Galoppo, cansei de falar, inclusive do pretenso “fundo” que seria criado e q o Casares fez o Evandro Bei, da Dry (SPFC TV) explicar, num constrangimento desgraçado.
      Sobre o Beraldo, a história do clube inglês foi amplamente noticiada: era o Leicester oferecendo os mesmos €20MM, assim como Zenit.
      Também foi mencionado o Wolverhampton, mas foi algo bem na “hype” das especulações.
      O fato para o qual chamamos atenção na época é que, ainda na comemoração da CdB, o Belmonte disse ESPECIFICAMENTE que não saia por menos de €20MM. Até comentamos que ele tinha acabado de estabelecer O PREÇO MÁXIMO!
      Veja no link abaixo:
      https://x.com/agoniatricolor/status/1876311844190921071?t=MeDoPt_v5m9DKd3GIIukbw&s=19

  2. Duas possibilidades: todas essas negociatas são realizadas por pura incompetência, omissão e negligência absolutamente criminosas (gestão temerária)… ou alguns poderosos do São Paulo estão levando por fora. Não há outra possibilidade.

  3. É uma situação quase que sem volta. Não tem como ter um time competitivo e se manter na série A e querer saudar tudo o que deve o SPFC.

    Tarefa quase impossível, ainda mais vendendo os talentos a preço de banana.

  4. Daqui a pouco nosso tricolor vai abrir falencia judiciaria e tera todos os bens que ainda existe penhorados, infelizmente estamos vendo nosso Sao Paulo F.C acabar de vez e nossos rivais agradece por essa administracao, por manter diretores e etc que torce para os times rivais e vao querer mais que o sao paulo se afunde e acabe de vez.

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