Rene Weber começa trabalho no São Paulo com missão de mudar o futebol

Adormecido sobre suas próprias glórias recentes e atingido por pelo menos cinco anos de decisões erradas em sequência, mas com potencial para voltar a ser referência. É dessa forma que a diretoria do São Paulo vê o futebol do clube. Muito além do desempenho dos jogadores, mas no que diz respeito a tudo que cerca a equipe. Tudo mesmo.

Mudança é a palavra de ordem em 2016. E uma peça importante deste novo Tricolor já trabalha, com a discrição habitual, desde o início da semana no CT da Barra Funda. Trata-se de Rene Weber, novo coordenador técnico.

Renê Weber coordenador técnico São Paulo (Foto: Érico Leonan/www.saopaulofc.net)Rene Weber acompanha treino do São Paulo durante a pré-temporada de 2016 (Foto: Érico Leonan/www.saopaulofc.net)

Na última terça-feira, ele foi apresentado formalmente aos jogadores e explicou sua função. Ou melhor, suas funções. Weber será uma espécie de epicentro de tudo que diz respeito ao futebol: jogadores, comissão técnica e suas questões técnicas e táticas, preparação física e de goleiros, fisioterapia, fisiologia, medicina, nutrição, psicologia, integração com as categorias de base, além do novo departamento de análise de desempenho, que será liderado por Milton Cruz – por enquanto, ele segue no campo, ao lado do técnico Edgardo Bauza e seus auxiliares.

Milton Cruz era chamado de coordenador técnico até dezembro. Apesar do mesmo nome, as atribuições de Weber são completamente diferentes. A começar pelos trajes. Weber não fica no campo durante os treinos. Observa a tudo de perto, mas socialmente vestido, e não mais como um membro da comissão técnica.

– A nomenclatura pode ser a mesma, mas a execução é completamente diferente. A função que o São Paulo concebeu é o que os grandes clubes estão fazendo. Quando trabalho como treinador, sinto falta dessa integração, de alguém que esteja presente todos os dias e saiba como funciona a parte de campo, faça questionamentos. A palavra é moderna, mas já se usa há anos: uma comissão multidisciplinar, e fornecer apoio e interação com dados – explica o coordenador.

Weber, gaúcho de 54 anos, trabalhou como técnico e auxiliar em clubes brasileiros, do Japão e dos Emirados Árabes Unidos, além de ter comandado a seleção brasileira sub-20. Em muitos lugares, foi assistente de Paulo Autuori, inclusive na curta passagem pelo São Paulo, em 2013 – em 2005, quando Autuori ganhou a Libertadores e o Mundial pelo São Paulo, Weber estava na Seleção. Ambos são amigos e compartilham ideias sobre futebol.

Por ter trabalhado em centros periféricos, Weber tem, entre outras, a missão de facilitar a adaptação dos argentinos Bauza, seu auxiliar mais próximo José Daniel Di Leo e o preparador físico Bruno Militano. O coordenador é uma espécie de porto seguro de quem, habitualmente, convive com a pressão dos resultados.

milton cunha e rene weber São Paulo treino (Foto: Gustavo Serbonchini)Weber ao lado de Milton Cruz durante passagem pelo clube em 2013 (Foto: Gustavo Serbonchini)

– O técnico sente a necessidade de ter um profissional com quem ele possa sentar e conversar. Não só sobre tática e técnica, vitória ou derrota, mas sobre a vida. Futebol é humano. O que potencializa tudo são as vitórias, mas não se pode viver com a faca no pescoço – afirma.

Humanidade à parte, a ordem é para que a partir de agora a ciência tenha peso cada vez maior. O departamento que Milton Cruz vai liderar terá o apoio total de Weber. Servirá para fornecer dados sobre possíveis reforços e também destrinchar adversários, seus pontos fortes e suas carências, além, é claro, de respaldar o próprio elenco com estatísticas relevantes.

Diretor executivo de futebol, Gustavo Vieira de Oliveira tem verdadeira obsessão por essa modernização. E tem ao seu lado o presidente do clube, Carlos Augusto de Barros e Silva, e o vice do departamento, Ataíde Gil Guerreiro. Nome de consenso, Weber também terá de promover encontros entre profissionais de todos os setores para que trabalhem no mesmo ritmo, em sintonia.

Por enquanto, ele ainda faz diagnósticos do que o São Paulo precisa, em termos de equipamentos e de pessoas, para conseguir colocar toda essa teoria em prática.

– O São Paulo sempre foi inovador, então aqui tem quase tudo. Vamos entrar em todas as áreas porque o clube está aberto a isso. Se acharmos necessário alguma modificação nesse sentido, vamos fazer – garante Weber, que detalha o uso da tecnologia.

– Vamos analisar dados para ver se o reforço é bom. Analisar vídeos, características, não se pode enfrentar um adversário sem dados. Queremos uma planilha farta para que o treinador e os jogadores tenham acesso. A ciência do esporte hoje oferece meios de se recuperar o jogador, retardar sua fadiga, trabalhos de prevenção, ainda mais em períodos que se treina muito pouco. É claro que vamos errar, mas futebol é minimizar a chance do erro.

Numa segunda etapa, esse trabalho vai se estender às categorias de base. Rene Weber pretende visitar Cotia quando a Copa São Paulo terminar e trocar ideias com os técnicos e o coordenador Rodolfo Canavesi. Sem imposições, discutir ideias de jogo, estilos, filosofias que possam guiar o São Paulo desde os mais jovens até os profissionais.

A transição de quem for promovido também será conduzida pela coordenação. A diretoria do São Paulo vê uma geração pródiga, mas quer retorno técnico em longo prazo. Isso significa que não vai subir muitos garotos da Copinha de uma vez. A explicação: no grupo profissional já estão Lucas Perri (goleiro do time da Copinha), Auro, Lyanco, Lucão e Matheus Reis, todos muito jovens. É preciso equilibrar a faixa etária.

 

Fonte: Globo Esporte

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