Ponte Preta também foi adversária em despedida de Pelé pelo Santos

A adversária da 1.116ª partida de Rogério Ceni pelo São Paulo foi a mesma da despedida oficial de Pelé pelo Santos. Em 2 de outubro de 1974, quase quatro décadas antes de o goleiro artilheiro começar a decidir uma vaga na semifinal da Copa Sul-americana com a Ponte Preta, o Rei do Futebol se despedia da Vila Belmiro diante do mesmo clube de Campinas.

Naquela época, a imprensa e os torcedores pouco davam importância ao recorde de Pelé de apresentações por um mesmo time do Brasil. O mais relevante era mesmo o adeus do ídolo, conforme o jornal A Gazeta Esportivaregistrou em diversas de suas páginas publicadas na semana do confronto com a Ponte.

Segundo o periódico, a despedida de Pelé teve grande repercussão mundial. “Eu poderia ser um Di Stéfano, talvez um Kubala, mas nunca um Pelé. Ele é diferente”, havia declarado o astro holandês Johan Cruyff, que estava no auge. O próprio argentino Di Stéfano acrescentou: “Pelé não está entre os melhores jogadores que vi jogar. Ele é o melhor de todos, o gênio. Estou falando do melhor, e não dos melhores”.

Reprodução

Pelé ganhou amplo destaque nas páginas de A Gazeta Esportiva na semana do seu adeus oficial pelo Santos

“Inigualável” segundo Rogério Ceni, Pelé também atraiu muito mais atenção do que o goleiro no dia do seu confronto com a Ponte. O músico Chico Buarque de Hollanda chegou a acordar às 5h30 para viajar do Rio de Janeiro ao litoral de São Paulo somente para conversar com o Rei antes da partida. O encontro agendado por uma revista semanal estava marcado para as 10 horas, porém o ídolo do Santos não apareceu. Chico o procurou na concentração do time e no escritório pessoal. “Pelé sumiu. Ninguém sabe onde ele está”, avisou uma secretária.

 

Em frente à casa de Pelé, uma multidão de curiosos, torcedores e jornalistas o aguardava desde cedo. O camisa 10 do Santos deu um salto digno das melhores defesas do camisa 01 do São Paulo ao pular o muro lateral de sua residência e fugir com um carro, que já o esperava com o motor ligado. De lá, seguiu para o lar da sogra e, depois, para a concentração santista. “Pelé está nervoso. Deve jogar só 10 ou 15 minutos e dar a volta olímpica”, comentou o companheiro Pepe.

Pelé jogou (um pouco) mais do que o previsto – 21 minutos, quando o técnico Tim o substituiu por Gílson Beija-Flor. Pisou no gramado e foi ovacionado por um público eufórico, que abarrotou as arquibancadas da Vila Belmiro. Havia até torcedores temerosos diante de tanta gente. “Ali eu não fico. Lembra-se daquele jogo com o Corinthians? Muita gente se feriu quando caiu o alambrado”, observou um deles. E poderia até haver menos espaço no estádio – antes da partida, 15 cambistas foram presos.

Para o confronto de Ceni com a Ponte Preta, na noite desta quarta-feira, o número de expectadores será ainda maior, em função da capacidade do Morumbi. O goleiro só não poderá fazer a mesma festa do Rei, pois a vaga na final da Copa Sul-americana ainda estará em jogo depois que a sua 1.116ª partida acabar.

Pelé, ao contrário, não esperou nem mesmo o apito final do duelo com a Ponte para celebrar com a torcida. Logo após a sua substituição, ajoelhou, ergueu os braços e olhou para cima para agradecer a Deus, além de dar uma volta olímpica no gramado da Vila. Concedeu até uma breve entrevista para a TV Gazeta: “Essa despedida foi muito difícil para mim. Sei que muita gente não concorda com ela. Eu me preparei para esse dia e afinal ele chegou. Tudo aquilo que fiz e que tentei fazer foi dar o meu melhor em todos os jogos de que participei. Reconheço que tive erros e, por isso, peço a todos que me perdoem.”

Fernando Dantas/Gazeta Press

Perto de pendurar as luvas, Rogério Ceni igualará a marca de Pelé também contra a Ponte Preta

Ao invés de perdão, Pelé ganhou homenagens da Prefeitura e da Câmara Municipal de Santos ao sair de campo. Ao que declarou: “Não há mérito nenhum em procurar fazer o melhor. Foi o que busquei durante toda a minha carreira. Nada mais do que isso”.

 

Contra a Ponte Preta, no entanto, Pelé não alcançou o melhor da carreira que teve mais de 1.000 gols registrados. Em uma oportunidade de marcar, aos dez minutos, ele não conseguiu cabecear a bola na rede em uma cabeçada. Para alívio do goleiro Carlos: “Dei muita sorte. A bola veio nas minhas mãos. Se eu estivesse mal colocado, também entraria para a história como o goleiro que tomou o último gol de Pelé. Enquanto ele jogava, tudo parecia muito estranho. Todos esperavam que acontecesse alguma coisa”.

Sem Pelé, o Santos fez 2 a 0 sobre a Ponte Preta, com gols de Cláudio Adão e Geraldo (contra). Mas o Rei levou consigo o lado iluminado da Vila. Literalmente. Com um apagão no estádio que durou 24 minutos, os jogadores do time visitante passaram a fazer pressão para o árbitro anular o último jogo oficial jogo do Atleta do Século pelo Santos. Se a decisão fosse essa, uma nova partida seria marcada, iniciando em 0 a 0.

A iluminação da Vila Belmiro foi restabelecida e o placar, mantido em 2 a 0. A partir de então, restava a Pelé desfrutar do fim de sua carreira. Ele chegou até a receber uma proposta para estrelar um filme de kung fu, que seria produzido pelo chinês Run Run Shaw, antes de rumar para o New York Cosmos para se aposentar nos Estados Unidos. Pelo Santos, ainda participou do empate por 1 a 1 com o Bahia em 7 de dezembro de 1975, pelo Torneio Governador Roberto Santos, em Salvador, apesar de o jogo com a Ponte ter ficado na história como o da sua despedida.

Já o fim da carreira de Rogério Ceni ainda é incerto. Indicando que poderá abandonar o futebol no final do ano, ele certamente baterá o recorde de jogos por um mesmo clube de Pelé, já que ainda tem outros compromissos pela Copa Sul-americana e pelo Campeonato Brasileiro pela frente.

Prolongando ou não a sua trajetória, a meta de Ceni é dar adeus ao São Paulo com um título e uma vaga na Copa Libertadores da América de 2014. Como inspiração, ele pode lembrar que o clube do Morumbi havia alcançado a final do torneio continental de 1974 no mesmo período do confronto entre Pelé e a Ponte Preta. Foi contra o Independiente, da Argentina, que acabou com o título.

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