Amigo são-paulino, leitor do Tricolornaweb, demorei um tanto para fazer este editorial, diria alguns meses, mas chegou a hora, tal o momento que o São Paulo está vivendo, em todos os sentidos. E não vou me prender aos últimos 12 meses, pois ficaríamos restritos à gestão Aidar, mas vou um pouco mais atrás, porque tudo começou quando o estatuto do clube foi rasgado e Juvenal Juvêncio conseguiu se “perpetuar” no poder. Aí começamos a nos igualar aos nossos co-irmãos.
Começo pelo futebol. Foram gastos milhões e milhões de dólares com contratações alucinógenas. Tivemos um time composto por bad boys, que custaram muito e foram quase enxotados do elenco; construiu-se o monumento chamado CT de Cotia – e, de fato, digno de nosso tamanho -, mas seu uso foi o pior possível. Não à tôa o Tricolornaweb denunciou tudo o que lá acontecia, foi alvo de processo e se saiu vitorioso.
Quando Lucas foi vendido nos posicionamos contrários à negociação. Falávamos que o dinheiro que viria sairia pelo ralo. Entenderam que, com isso, quis dizer que roubariam. Entenderam. Mas o que de fato falei é que nada de útil seria feito com aquela dinheirama toda. E aí? O que foi feito? Hoje temos uma dívida gigantesca que ultrapassa os R$ 150 milhões, praticamente impagável.
Juvenal Juvêncio, que teve tudo para sair do clube como um dos maiores e melhores presidentes de nossa história, saiu como um dos piores. Teve, em seu currículo, uma Libertadores e um Mundial, além do tricampeonato brasileiro. Mas na virada de mesa que deu, quase nos levou à série B do Brasileiro. Criou, para se sustentar, um relacionamento promíscuo com as torcidas organizadas, principalmente a Independente, que a troco de ingressos “gratuitos”, realizava protestos contra tudo e contra todos, menos contra Juvenal.
Há uma única coisa que não posso criticar Juvenal: a manutenção e conservação do clube. Como sócio desde que nasci, há 56 anos, poucas vezes vi um clube tão organizado, com tudo funcionando, como nos anos de Juvenal.
Então veio Carlos Miguel Aidar, candidato enfiado goela abaixo de todos por JJ. E bastaram três meses, não mais do que isso, para que a ruptura política surgisse e a casa caísse. De Aidar e de todo um clube. As brigas entre os dois geraram denúncias de lado a lado. A cúpula de Cotia, finalmente, foi demitida. Mas a filha do presidente foi acusada de ser agente Fifa. E o era. Disse, Mariana Aidar, que deixou de ser antes mesmo do pai tomar posse na presidência do clube.
Mas aí vieram as comissões. Uma tal Cinira, namorada de Aidar, receberia 20% para qualquer contrato que trouxesse para o clube. Depois da denúncia, o escândalo, a confirmação do fato, a revolta, socos na mesa e o distrato. Ou seja: só se percebe que algo está errado quando a denúncia surge.
Mas as comissões não deixaram de existir. Agora tem uma empresa chinesa, que vai receber R$ 18 milhões pelo contrato com a Under Armour. Ué! Mas será que é tão difícil assim encontrar uma empresa de material esportivo disposta a vestir o São Paulo, a ponto de ter que pagar uma comissão? Menos mal que o presidente do Conselho Deliberativo, o Leco, segurou o rojão, tirou da pauta e indicou uma comissão para analisar o caso. Até porque seu antecessor no cargo, José Carlos Ferreira Alves, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, pode ser muito atuante no TJ, porque no Conselho foi um emérito engavetador de projetos e pedidos de apuração de irregularidades, devidamente tutelado por Juvenal Juvêncio.
Mas Aidar foi fritando aos poucos, politicamente, os que ele não desejava a seu lado. Nomes como Muricy Ramalho, Roberto Natel, Milton Cruz – está sendo “fritado”, acreditem – e outros tantos no jogo político, foram minados. E hoje a relação entre presidência, diretoria, elenco e torcedores é a pior possível. Nunca vi tão deteriorada assim. E digo mais: a credibilidade da diretoria com a torcida, acabou.
Para piorar, entro aqui no Social, surgem denúncias também dos diretores. Recentemente publicamos que a advogada Maria Isabel Gusman, sócia, denunciou a diretora do Depto. Feminino, Mara Casares, de trocar a reativação de um título do clube por favores pessoais, além de ser ainda apontada como dona de negócios no Morumbi, com lucros que passariam de R$ 2 milhões. Abriu um processo na Justiça contra ela.
No clube, a pior solução que poderia ser dada: sabe-se lá o porquê – acredito que pura influência – o presidente da Comissão Disciplinar, suspendeu sumariamente o título de Maria Isabel, enquanto que Mara, a denunciada, continua diretora, com todo apoio de seus pares. Não a estou acusando de nada, mas deveria, no mínimo, se afastar para que tudo fosse apurado. E o presidente da Comissão Disciplinar deve, sim, uma explicação por sua atitude unilateral.
No clube são vistos diretores discutindo, outros mandando mensagens por celular desafiando por brigas “lá fora”, um que chegou às vias de fato com um sócio, mas nada aconteceu com ele. E outras denúncias pairam sobre atitudes de diretores no clube. Mas essas ainda não tenho como provar, portanto, fico, por hora, calado.
Assim está o São Paulo. Aquele que foi um clube digno da presença das famílias, que teve um time que honrava seu manto sagrado, com uma torcida orgulhosa de poder chamá-lo de Soberano, hoje jogado ao lugar comum, largado às traças, comparado com os escândalos da nossa República, do nosso Estado e do nosso Município. É com tristeza que vejo que, o lugar que nasci, me criei e criei meus filhos, hoje se transformou em algo abominável, onde quem está no poder que lucrar a qualquer custo e se esquece que ali existe uma instituição, que outrora foi um dos maiores do mundo, mas hoje padece na sua própria essência.
Nota: Fui informado agora há pouco que Paulo Mutti não é mais o presidente da Comissão Disciplinar. Por isso retirei seu nome do texto. Estava estranhando, mesmo, essa atitude, se fosse dele. Sempre me pareceu muito decente em suas decisões. Pior ainda que, também me chega ao conhecimento que não foi o presidente da Comissão Disciplinar quem suspendeu a sócia Maria Isabel, mas o vice-presidente Social e de Esportes Amadores, atendendo pedido da diretora Feminina, Mara Casares. Então cabe a ele, Antonio Donizete Gonçalves, esclarecer o fato.