Edson Fernandes

Torcer e torcer.
Após tantos anos como torcedor de futebol me obrigo a fazer uma reflexão sobre a forma como trabalhei
com as emoções que isto me proporciona.
Rebuscando pela memória me vejo aos 7 ou 8 anos, na década de 50, em meu primeiro jogo no estádio
Paulo Machado de Carvalho e confesso, tudo a minha volta tinha mais importância do que o jogo
em sí, dada a grandiosidade do local, como era linda aquela concha acústica com o placar ao lado,
infelizmente substituida, por sinal, com muito mau gosto, em campo São Paulo Futebol Clube e
Portuguesa de Desportos.
Quanto ao jogo o que mais me chamou atenção foi o “goalkeeper” tricolor, até hoje me minha memória,
principalmente por seu fardamento negro com o brasão ao peito, joelheiras, voando para interromper
as investidas adversárias, não via a hora de ir para casa e tentar imita-lo com amigos de pelada
na rua, seu nome José Poy.
Conforme os anos foram passando, o futebol em si tornou-se mais importante do que o local onde
era jogado, vieram jogos na várzea (nos campos onde hoje está instalada a comunidade Heliópolis),
que me atraiam pela disputa e pelo prazer de medir forças, as vezes até fora das quatro linhas.
No entanto, quando se tratava de ver o meu time de coração jogar o sentimento mudava, passava de
competidor para julgador, julgava a atuação de cada um, exigia que fossem perfeitos, queria sempre
atuações inesquecíveis, não aceitava que isto nem sempre ocorresse, esquecendo o quão difícil era
competir com iguais ou melhores.
Então, porque quando o assunto era meu time de coração, não era a disputa em si que estava em jogo,
mas a necessidade de que os adversários perdessem?
Talvez estivesse sendo mais importante ter vitórias e títulos pelos outros do que por mim mesmo, isto
é, evitar sofrer aquilo que fazia aos demais quando vencia, vejo ter sido um torcedor imaturo.
Torcia para o adversário perder, me desviando daquele que devia ser meu objetivo maior, assistir a
um bom jogo de futebol, como fazia em qualquer outra partida.
Com o tempo comecei a querer enchergar também a atuação de meu time de coração, afinal aquele
julgador me desgastava me fazia ter uma visão distorcida da realidade, criava atritos, cada um com
quem conversava tinha uma visão sobre os fatos,e assim,me esquecia de como devia ser difícil para
o clube colocar em campo onze artistas sempre em busca de me deixar contente com a derrota dos
adversários.
Assim os jogos passaram a ser colocados em seu devido lugar, deixei o torcedor julgador de lado e
passei a ser torcedor apreciador de bom jogo, que anseia pela vitória mas na medida exata..
Vitórias e títulos, passaram a ser encarados por mim como possíveis consequências destes breves
momentos de felicidade, não raros com apresentações exuberantes de bom futebol, mas nem sempre
com os resultados desejados.
E hoje, pela ausência de bom futebol dos últimos tempos e por acreditar nas mudanças estruturais
que vêm sendo feitas pelo clube, não cobro vitórias e títulos, apenas espero apreciar 90 minutos de
bom futebol.
E você amigo do Tricolornaweb que tipo de torcedor você é?
Abraço tricolor a todos.

5 comentários em “Edson Fernandes

  1. Texto interessante, Edson. De fato, à medida em que nossos hormônios se esvaiem nos tornamos menos “sangüíneos”. A razão passa a ter mais importância nas nossas decisões.

    Confesso que ainda minhas emoções ainda intereferem muito quando assisto aos jogos do Tricolor. Mas já foi bem pior. Ha ha ha. Hoje, consigo ser um pouco mais isento. Afinal, se queremos ajudar o São Paulo, é preciso colocar a paixão de lado por um instante e tentar analisar friamente. Ações intempestivas, quer sejam de cartolas, jogadores ou torcedores geralmente acabam mal.

  2. Boa tarde caro Fernandes, também sou e acho que sempre fui apreciador do espetáculo futebol, tanto que na oportunidade que tive de escrever nesta coluna falei de um grande jogo em que o nosso tricolor perdeu, é claro que a maturidade acentua mais esse gosto, lamento demais a incapacidade técnica apresentada pelos atuais clubes incluindo aí o São Paulo, fico inconformado com os jovens da base que só pensam em Europa, hoje somos para a Europa o que foram os clubes do interior para nossos grandes clubes, fornecedores de pé-de-obra, mas o pior é perdermos atletas para a China, Japão e mundo árabe, mercados sem qualquer representatividade no futebol, e sobrando apenas jogadores de médio para baixo ou veteranos como o Nenê, perdemos a essência do nosso futebol, só vemos jogos ruins, com os times fazendo um gol e se encolhendo para garantir a vitória, nesse campeonato quantas goleadas vimos? E a maioria da torcida se contenta com isso, se vencer tá bom. Não é saudosismo, é lamentação pura.

  3. Belo texto Fernandes, nunca conheci a concha acústica do Pacaembú mas dizem que era além de charmosa, fazia sim um belo efeito acústico com os gritos da torcida.
    Desde 1980 aos 8 anos quando comecei a frequentar o Morumbi, a torcida do SPFC sempre foi muito exigente com o time que certamente sempre teve um DNA ofensivo, talvez o mais ofensivo do Brasil, e aliado aos grandes times recheados de craques que já tivemos e a esta ofensividade, a torcida sempre cobrou um bom futebol além de grandes times em campo.
    Execramos o bicampeão da Libertadores e mundial o Palhinha pq perdeu àquele pênalti na final de 1994.
    Não a toa somos o clube com maior número de gols no Brasileirão, e mais alguns outros quesitos positivos que envolvem o ataque e meio campo criativo, afinal nossa história recheada de títulos com times recheados de craques nos fizeram ao longo do tempo ficarmos mais exigentes.
    Mas infelizmente o futebol mudou e a capacidade monetária e administrativa que fez do SPFC o time mais respeitado e vencedor do Brasil, já não existem mais e hj o clube busca e está buscando outra maneira para se reinventar no futebol, com mudanças tão rápidas e no qual pouquíssimos jogadores querem de fato fazer história dentro do clube.
    Por isso que num momento difícil como hj, onde uma nova diretoria com uma nova mentalidade , tenta alavancar o SPFC novamente ao topo do futebol, instituição esta que foi dilapidada por dirigentes corruPTos como o ladrão do Aidar e o petista J.J. , nós torcedores ao invés de cobrarmos resultados imediatos como alguns fazem, devemos apoiar hj para conseguirmos nos colocar novamente entre os times que lutam por títulos, e cobrar sim uma postura esportiva e administrativa feita e gerenciada por pessoas de bem e notoriamente honestas e vitoriosas com o SPFC, tal qual o trio de ex jogadores dirigentes hj o fazem.

  4. Olá Fernandes,
    Instigante seu artigo. Nos faz voltar no tempo. Eu já fui um torcedor mais fanático, mas hoje procuro torcer sem distorcer, entendendo melhor o jogo e reconhecendo que às vezes os adversários podem ser superiores.
    Também gosto do futebol bem jogado, mas atualmente esses minutos de bom espetáculo tem sido cada vez mais raros.
    Parabéns pelo ótimo texto.

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