Amigo são-paulino, leitor do Tricolornaweb, cada vez mais a imagem desta diretoria instalada no São Paulo cai no meu conceito de credibilidade. Ano passado, no auge da briga entre Carlos Miguel Aidar e Juvenal Juvêncio, o atual mandatário tricolor anunciou que a dívida do clube era de impagáveis R$ 280 milhões. Sexta-feira, passada, como num passe de mágica, Aidar anunciou que foi “induzido ao erro” – só não disse por quem – e que a dívida real era de R$ 137 milhões, então pagáveis.
Agora, reportagem da Folha de São Paulo aponta que a dívida do clube é de R$ 240 milhões e dá como fonte o vice-presidente de administração e finanças, Osvaldo Vieira de Abreu. Ele explicou que o valor de R$ 137 milhões anunciado como dívida total de 2014 não levou em conta dívidas operacionais e a Timemania, e resulta da subtração de R$ 13 milhões de disponibilidade de uma dívida bancária total de R$ 150 milhões. “É dívida financeira. Você sabe a data, ele [Aidar] estava analisando o semestre [de 2014]. Se você pega a dívida financeira, bancária, toda a dívida com instituições financeiras, é aquela mesmo”, disse Osvaldo Vieira de Abreu.
Então me pergunto: seria proposital essa bagunça de números, para que ninguém consiga saber a realidade da saúde financeira do clube?
O blog do Juca Kfouri trouxe, na sexta-feira, um dado interessante que, no mínimo, me faz refletir. Ele lembra que denunciou ano passado o acordo que Carlos Miguel Aidar queria fazer com a BWA, que consistia em vender a bilheteria do Morumbi por pouco mais de dez anos em troca do pagamento integral da dívida do São Paulo. Mas, na época – e até sexta-feira passada – essa dívida era de R$ 280 milhões. O fato de toda a publicidade que foi dada ao caso ter alertado o Conselho Deliberativo e impedido de o negócio ser feito, seria o motivo da tal “indução ao erro” do presidente, para justificar brusca queda no valor total da dívida?
Por outro lado, recebi correspondência do conselheiro vitalício Edson Lapolla, que me aponta alguns dados curiosos, com datas coincidentes. Exponho os pontos para que vocês, leitores, façam a análise.
Lapolla aponta que em 06 de maio de 2014, um mês após eleito, assinou contrato com a TML Foco Consultoria e Assessoria Empresarial, com remuneração de 20% para intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral, de sua namorada, Cinira Maturana da Silva. Depois do fato denunciado pelo Tricolornaweb (foi o primeiro a noticiar, pois acompanhávamos a reunião do Conselho Deliberativo onde isso foi levantado pela oposição), ele convocou uma coletiva, disse que era normal o caso, mas com toda a repercussão acabou anunciando a extinção do contrato. Só que essa rescisão, de fato, só ocorreu em 05 de janeiro deste ano.
Ainda em maio do ano passado, durante análise dos contratos firmados pelo presidente e sua diretoria, aparecem o da Under Armour e da Far East Global Holding. Só que o contrato é datado de 26 de setembro de 2014, portanto enquanto ainda estava em vigência o contrato com a TML, com o mesmo objeto.
Assim como também divulgamos há algumas semanas, essa comissão de 15% contratada com a Far East não está prevista apenas sobre o fornecimento de material esportivo com a Under Armour, mas sobre outras receitas e até bonus de campeonatos e torneios disputados pelo clube. Ha estimativa feita por conselheiros que esse valor alcance R$ 30 milhões.
Também na sexta-feira passada, o vice-presidente de Comunicação e Marketing do São Paulo convocou alguns blogs “amigos do clube” para uma conversa franca. E falou à vontade. Lógico que não fomos convidados para a conversa, pois não aceitaríamos a palavra oficial sem os devidos questionamentos que se fizessem necessários. Talvez por isso ele não atenda nossas ligações, quando temos a denúncia e queremos apurar a verdade. Talvez a palavra verdade faça parte de um dicionário obsoleto, em desuso por essa diretoria, acostumada a criar factoides para desviar o foco de tudo que paira sobre ela e que joga por terra qualquer explicação oficial que se queira impor a quem quer fazer jornalismo limpo e transparente.
Então afinal, de quanto é a dívida do São Paulo?