Amigo são-paulino, leitor do Tricolornaweb, os ventos sopram e sujeira se levanta. Vezes por aqui, vezes acolá. O fato é que, com a tecnologia que o mundo detém, dificilmente um crime, hoje, fica impune. No campo da política, ainda que a esportiva, tendo essa tecnologia como aliada, quando há vontade e decência política e participação ativa de polícia e Ministério Público, não há como alguém ficar impune, se crime tiver cometido.
Os fatos que vieram à tona no Corinthians, levando o time de Itaquera a uma crise jamais vista – sim, entendo ser maior que a do ano do rebaixamento – mostraram o que há por trás do contrato com a agora ex patrocinadora do time, com a participação de “laranjas”, comissões a empresas intermediadoras, com diretores acusados, muitos demissionários, presidente prestes a sofrer impeachment, outros patrocinadores saindo por não sentir respeito na marca Corinthians após os fatos que foram denunciados, jogadores rescindindo contratos, dívida assustadora que ultrapassa R$ 2 bi. Enfim, terra arrasada. Um novo “Cruzeiro” surgindo no mercado.
Mas o que tudo isso tem a ver com o São Paulo? Voltemos no tempo.
Em 2015, durante o mandato do nefasto Carlos Miguel Aidar, a diretoria tentou uma negociação com a Under Armour colocando uma tal de Far East como intermediadora, de um tal de Jack Banasfeha, para receber módicos R$ 18 milhões de comissão. Esse contrato tinha como signatários, além do próprio presidente Carlos Miguel Aidar, Júlio Casares, então vice-presidente de Marketing; Douglas Schwartzmann, então diretor de Comunicação e Marketing; Leonardo Serafim, então diretor Jurídico; e Osvaldo Abreu, então diretor Financeiro.
O escândalo, revelado com exclusividade, à época, pelo Tricolornaweb, causou, aliado a outros crimes, como a estranha aquisição de Iago Maidana – vendido pelo Criciúma ao Monte Cristo, de GO, por R$ 200 mil num dia e ao São Paulo, no dia seguinte, por R$ 2 milhões) – a renúncia de Carlos Miguel Aidar, que o fez por sugestão de outros advogados para não ser “impichado”.
Tivesse o Conselho Deliberativo, sob a presidência de Marcelo Pupo, levado o caso à frente, certamente esse senhores teriam sido expulsos do Conselho Deliberativo e a Polícia poderia fazer seu trabalho. Mas não, Pupo e os conselheiros preferiram jogar tudo para baixo do tapete, sacrificar Carlos Miguel Aidar e Ataíde Gil Guerreiro por uma briga, não pelo escândalo.
O então conselheiro Newton Ferreira entrou com uma ação na Justiça pedindo investigação sobre o caso. O Ministério Público foi a fundo. Quebrou o sigilo bancário de todos eles. Descobriu, por exemplo, um cheque que saiu da conta de Cinira Maturana, namorada de Carlos Miguel Aidar, para sua conta, naquele momento da compra de Iago Maidana.
Com a investigação concluída, a Justiça procurou o São Paulo, então vítima, perguntando se ele se sentia lesado por tudo isso. E quem foi que respondeu pelo clube? Leonardo Serafim, que disse que o clube não foi lesado. Inacreditável, mas o investigado responde se a investigação sobre ele deve continuar ou não.
Aliás, nesse quesito, passado alguns anos, Newton Ferreira acabou sendo expulso do clube por pura perseguição política, ate porque ele continuou com o processo e postando em suas redes sociais verdades inabaláveis sobre as administrações do clube.
Entenderam por que o Corinthians de hoje poderia ter sido o São Paulo de ontem? E por que pode ser o de amanhã?
A resposta pode ser simples. Todos aqueles que estavam na diretoria de Carlos Miguel Aidar orbitam a atual diretoria. Júlio Casares presidente, Douglas Schwartazmann o “dono” de Cotia, ou seja, da base; Leonardo Serafim o diretor jurídico de fato – não de direito – e Carlos Miguel Aidar, um consultor sempre presente com suas opiniões, acredito, nocivas ao clube.
Com isso estou querendo dizer que eles estão roubando o clube? De maneira alguma. Apenas que não tem legitimidade moral, em face do que descobriu o Ministério Público (lembro que o processo está arquivado pela indecente pessoa colocada para responder ao questionamento da Justiça).
Além do mais, o clube tem uma dívida impagável, com valores totais chegando próximos aos R$ 800 milhões, buscando, agora, um tal Fundo Garantidor ou Investidor, para obter R$ 250 milhões e alongar as dívidas bancárias, amortizando os juros. Mas quem vai gerenciar esse Fundo? Marcio Callomagno, o mesmo que está ao lado de Douglas em Cotia e que aparece com um cargo de superintendente da presidência (nunca vi algo assim).
Enfim, os amigos se ajudam, se completam, mas afundam uma instituição. Por tudo isso, o São Paulo conseguiu, por meios escusos, não ser ontem o Corinthians de hoje, mas está no caminho de sê-lo amanhã.