As nove consoantes e cinco vogais deixam o nome dele um pouco complicado: Welberlieskott. O apelido, porém, facilitou as chamadas de presença na sala de aula entre professores e é como ele é conhecido nas categorias de base do São Paulo: Well.

Presença constante nas convocações de base da seleção da Indonésia e com o seu primeiro contrato profissional recém-assinado com o São Paulo, o garoto da Cotia atendeu a reportagem do ge nesta semana para uma entrevista, na qual contou a sua história.

A um mês de completar 18 anos e vivendo seu primeiro ano de categoria sub-20, sob o comando do técnico Alan Barcellos, o jogador que atua como lateral-direito e volante sonha em construir uma história dentro do clube. Em março, assinou contrato até o fim de 2026:

– Foi uma alegria inexplicável, ver que o clube confia em mim, só tenho a agradecer. Meu sonho no São Paulo é trazer alegrias para o torcedor e ganhar títulos no São Paulo – disse, em português e em indonésio (confira no vídeo).

A relação com a Indonésia
A história de Well começa com seu pai, Elisângelo de Jesus Jardim. Campeão da Série B2 do Paulistão pela Jalense, de Jales, interior de São Paulo, em 2003, o volante recebeu proposta para jogar na Indonésia, onde passou por clubes como Persekaba Bandung e Persiba Balikpapan.

Por lá, foi apresentado a uma jovem de nome Lielyana Halim, que mostrou a ele o país e a cultura local. O encontro deu em casamento em 2006, e um ano depois nasceu Well, o primeiro dos três filhos do casal. Eles são pais ainda da menina Wenlie, que também joga futebol, e do caçula Warleywew.

Na Indonésia e na Malásia, onde atuou na reta final da carreira, o meio-campista Elisângelo começou a treinar o garoto nas praias e sentiu nele um potencial de evolução no futebol. Para conseguir desenvolvê-lo, porém, o caminho seria voltar ao Brasil. Assim, em 2012, eles retornaram ao país.

– Quando eu tinha cinco anos, voltamos ao Brasil e meu pai me levou numa escolinha chamada M10. Joguei por seis meses ali e fui para o futsal do Palmeiras. Fiquei quatro anos, e na transição do salão para o campo eu vim para o São Paulo, já com nove anos – contou o jogador.

Alojado no São Paulo, o garoto conquistou seu primeiro título em 2018, quando foi campeão paulista sub-11. Com o passar dos anos, ao disputar torneios pelo São Paulo na Suécia, Dinamarca e França, chamou a atenção de olheiros da Indonésia, que buscavam talentos para a sua seleção.

– Eu estava treinando (em Cotia) e meu Instagram do nada bombou de seguidor, a mídia da Indonésia falando que eu seria convocado. Chegou a convocação em 2023 e estou até agora no sub-20.

Hoje, dos 463 mil seguidores que possui no Instagram, 70% também seguem a página da seleção da Indonésia, o que indica uma boa fama em seu país materno. Convocado para o Mundial Sub-17 sediado na Indonésia em 2023, participou de jogos contra Marrocos, Panamá e Equador.

– Jogar uma Copa do Mundo foi um sonho realizado, consegui dar uma assistência contra o Panamá, foi o jogo mais especial. Mas também tenho o sonho de jogar na seleção do Brasil. Até agora estou recebendo convocações da Indonésia, mas na hora de decidir lá na frente vou ver com meus familiares se seguimos ou se defendo o Brasil – disse ele, que é agenciado pelo empresário Giuliano Bertolucci e está ciente da possibilidade de troca futura.

Ainda com familiares da mãe no país, Well tem uma vida dividida até dentro de casa, já que a comunicação com os pais e irmãos às vezes ocorre em português e às vezes em indonésio.

– Gosto muito das pessoas na Indonésia, são pessoas muito felizes. Ele pode estar com a maior dificuldade, mas sempre está feliz, alegre, dando bom dia. A culinária é diferente, gosto de um arroz amarelo que eles têm, de pato. Só que é tudo apimentado. E gosto muito das praias também que tem em Bali. Minha mãe vai todo ano sozinha pra lá. Agora, quando vou para a seleção, visito a família.