Marcio Calomagno sobre a dívida do São Paulo: “FIDC não é solução”

O São Paulo terminou 2024 no vermelho, com aumento de dívida e em meio a uma crise financeira. De acordo com o balanço financeiro aprovado pelo Conselho Deliberativo na última terça-feira, em reunião no Morumbis, foram R$ 287 milhões de déficit, mesmo com R$ 731 milhões de arrecadação.

O clube, diante do cenário, tem se movimentado para estancar sangramentos, diminuindo gastos e tentando ser mais certeiro no mercado. Uma das medidas foi a criação do fundo de investimentos para levantar R$ 240 milhões e quitar dívidas financeiras, que atrapalhavam o fluxo de caixa tricolor.

O superintendente geral do São Paulo, Márcio Carlomagno, admitiu ao ge que a situação está longe de ser das melhores. Ciente disso, o dirigente falou, também, sobre ações para conter a crise financeira; o que, na visão do clube, causou o déficit do ano passado; e como o Tricolor tem se preparado para o futuro.

ge: Márcio, gostaria que você falasse um pouco sobre o balanço, que tem um número alto de déficit, de aumento de dívida… Qual é a análise da gestão em relação a isso?

— Quando o Júlio (Casares) assume para este triênio, ele adota um novo engajamento para os próximos três anos. Quando assume no primeiro triênio, a nossa busca era terminar com a fila dos títulos, recuperar a imagem de vencedor e fazer investimentos. Todo mundo esquece, mas ele assume num momento de muita restrição da pandemia. No nosso primeiro título, a torcida estava fora e o estádio estava vazio. Fazemos a final com patrocínio pontual.

— Então, há um investimento dentro das nossas condições para que o São Paulo voltasse a brilhar. Isso acaba gerando bons frutos, que é o caso do crescimento da nossa receita, mas também causou o crescimento das nossas despesas. No último ano em particular, tem três condições que foram motivos de força maior.

— Tivemos ativos que acabaram se lesionando, isso faz parte do esporte de alto rendimento. Outro ponto importante foi que sofremos revezes em ações da indústria, recolhimento de taxas, ISS (Imposto sobre Serviços)… Uma nova taxa dentro do nosso borderô. Tem a parte contábil. O investimento da base passou a figurar como despesa, não mais como investimento, no balanço.

— E tem a parte esportiva. Fomos eliminados para o vice da Copa do Brasil e para o campeão da Libertadores. Teve contusões e tivemos de reforçar o elenco para tentar chegar às finais. Há esse descompasso, mas há o investimento para chegarmos no resultado esportivo positivo. Por tudo o que passamos em 2023, iniciarmos 2024 com a Supercopa, acho que isso mostrou que temos um bom elenco, competitivo.

ge: E o que vocês estão fazendo para conter esse avanço da dívida?

— Durante o ano, começamos a perceber movimentações históricas do São Paulo. Nossos contratos sempre foram de curto prazo. E aí criamos por meio do marketing a ideia de alongar os contratos pensando no centenário.

— Outro ponto é a dívida com os bancos. O São Paulo estava a todo momento tomando dinheiro no mercado sempre com mais taxas. Com a criação do fundo, estabilizamos esse crescimento. Para os bancos fazerem negócio de forma hibrida com o fundo, têm de apresentar uma taxa melhor.

— Antecipávamos 100% dos contratos, muitas vezes, e pagávamos o débito do passado. Com o fundo, estamos fazendo diferente. Pegamos alguns ativos futuros, mas preservamos 40% no vencimento desses ativos, o que vai nos ensinar a fazer fluxo de caixa. É doloroso? É. É doído? É. Mas depende de muita gente mudar o “start” interno. Estamos conseguindo. Passo a passo.

— Primeiro quadrante é sobreviver até 31 de agosto, quando fecha a janela de atletas, para ver como estaremos posicionados nos campeonatos, também. Estamos pensando nisso. O resultado precisa ser imediato. Estamos criando formas diferentes para termos métricas de cobranças quase mensais.

ge: Mas você acha que esse ano já pode ser melhor?

— Esse ano estamos trabalhando para ser positivo. Acho que é importante as pessoas saberem que o fundo não é a solução. É um dos passos para a nossa solução. A solução está mais na reestruturação de educação financeira, de entender o São Paulo como uma empresa que precisa dar superávit, ser lucrativa. Não importa o formato da instituição. Estamos num mercado capitalista e precisamos dar superávit. Não temos espaço para o ano não ser melhor. Esportiva e financeiramente.

— E acho que o grande passo esse ano é estagnarmos como está o clube. Deixarmos o clube com o endividamento estabilizado, receitas para o futuro, projeções de fluxo de caixa para o futuro, também. E o futebol fazer janelas criativas como no início de ano. O futebol está empenhado em fazer janelas cada vez mais enxutas, mas melhores em termos de resultado.

— O engajamento do torcedor resultou em três títulos. O que fizemos na Copa do Brasil tem competência da gestão, mas muito engajamento da torcida. A torcida abraçou o time. E tentar nos comunicar com a torcida de forma verdadeira só melhora isso. Se a torcida entender nosso momento e tiver engajamento junto com o time, e é um time bom, isso já foi provado várias vezes, temos tudo para terminar o ano de maneira positiva.

ge: Nas redes sociais, muitos torcedores são críticos em relação à gestão, principalmente por causa desses problemas financeiros, aumento de dívida… Entre essas críticas, o que vocês absorvem e consideram que pode ter ajudado o clube a mudar a rota?

— Boa pergunta. Algumas coisas machucam porque muitas vezes não têm profundidade. Mas algumas críticas acabaram passando para a gente esse momento de reestruturar o clube inteiro. Precisávamos mudar o nosso conceito. Muito se fala de profissionalismo no futebol.

— Todas as áreas são profissionais. Então, trouxemos para dentro essas críticas do não-profissionalismo, trazendo gente competente, e criando processos extremamente profissionais, para resolver o problema em médio e longo prazo.

ge: Você não acredita que o São Paulo poderia ter começado antes esse processo para estancar a dívida, profissionalizar mais? Essa é uma das maiores críticas entre os torcedores.

— Não tínhamos essa condição (de começar a cortar gastos antes). Os títulos nos deram credibilidade com o mercado de capitais. Nosso primeiro movimento é com o mercado de capitais. Muito se engana quem fala que o fundo colocou obrigações. Não. Fomos nós que criamos uma cartilha de direcionamento. Tem um ponto crucial.

— A nossa marca sempre foi grande, reconhecida, mas no ponto de vista de receita ela estava pequena. Quando investimos, e isso é normal quando você expande a empresa, a despesa cresce também. Quando há esse grande investimento para buscarmos nossa credibilidade abriu espaço para contratos milionários. Essa credibilidade nos trouxe para esse cenário.

— Agora é a hora de corrigir essa parte da despesa. Não é fácil, não é simples, mas tem muita gente aqui trabalhando para que a gente execute o plano que temos. E o plano que temos talvez precise de correção de rotas.

ge: Se a crise financeira do São Paulo fosse uma montanha, você diria que chegaram no topo e estão descendo?

— Conseguimos brecar a crise antes da pior fase, do topo. Já começamos a ter perspectiva de mudança, mas dependemos de uma série de fatores. Tem motivos que não estão no nosso controle. Precisamos vender atletas, ter uma série de acontecimentos. Precisamos de alguns eventos, mas estamos trabalhando para que o impacto desses eventos seja cada vez menor. Que o impacto de uma ação não orçada seja menor. Estamos mudando a instituição para isso.

— Existe uma construção para chegarmos onde estamos chegando hoje. Quando tivemos a percepção das dificuldades, que percebemos o cenário, fomos muito efetivos com reuniões, consultores de fora. Porque tem dois espaços complicados. Nós que estamos dentro do clube estamos mergulhados nele muitas horas por dia, então trouxemos gente de fora para pensar fora da caixa.

ge: Às vezes, para nós, que estamos vendo de fora, fica a impressão de que o clube crê que está tudo bem, que não há uma grande preocupação com a crise. Internamente, como o São Paulo se comporta?

— Eu não posso responder por todos, mas posso responder pelo São Paulo. Não está tudo bem. Muito pelo contrário. Estamos trabalhando para deixar tudo muito bem. Pensamos nos próximos anos, no curto prazo… Estamos nos esforçando para o clube ter um andamento, uma diretriz.

— O São Paulo é um transatlântico. Correção de rota tem de ser 10 graus, 15 graus. Não consegue dar cavalo de pau num transatlântico. Não é um jet-ski. Miramos um horizonte. Talvez precisemos mudar um pouco para lá, um pouco para cá, mas nada resiste à força do trabalho.

 

Fonte: Globo Esporte

2 comentários em “Marcio Calomagno sobre a dívida do São Paulo: “FIDC não é solução”

  1. O Sr Márcio era assessor, o braço direito do Leco! Agora também é do Casares. Estranho……
    Além disso, ele fala nas entrelinhas que teremos que virar SAF!!! Armando a cama, né?!?!
    Viva!! Do Caxingui para a Granja Viana!! Uhuuuu

  2. Gostaria de saber a formação acadêmica desse senhor para que possa estar em um cargo de tamanha relevância?
    E o pavão vem falar em transparência e gestão profissional!
    Só o gado para acreditar nisso

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