Entre cartões e broncas da mãe, Zubeldía usa o coração

Lucho e Luis Zubeldía carregam o impulso dos sentimentos movidos pela paixão em casa e no futebol. Apelidado assim pela família quando nem sonhava que um diria viria ao Brasil para ser técnico do gigante São Paulo que via jogar a Libertadores pela TV, ele ainda leva broncas da mãe pelo seu jeito explosivo e até um pouco anárquico à beira do campo, constantemente podado pelos árbitros.

Os puxões de orelha viraram cartões, mas ele não liga. Lucho, ou Luis Zubeldía, não pretende mudar seu jeito por causa de advertências ou suspensões. É autêntico, algo que ele diz ser fundamental para se ter sucesso em sua função. Aos 43 anos, ainda muito jovem para o cargo que ocupa, o treinador do São Paulo levou 19 amarelos e dois vermelhos em 45 jogos nesta temporada. É como uma leitura de como ele se entrega à profissão. De longe, a mãe não se acostuma.

Antes de virar treinador, tentou ser jornalista. Entrou na faculdade e desistiu para voltar ao futebol. Apesar de ter mudado o rumo, carrega uma mania particular: gosta de se autoentrevistar. Sente que, assim, fica mais motivado, preparado para o que tem por vir, para perguntas… E a resposta para uma delas está na ponta da língua, também usando o coração:

– Estou convencido que será neste ano, em 2025. Estou convencido que em 2025 sairemos campeões da Libertadores – disse Zubeldía.
Carregando uma mochila e vestindo uniforme do São Paulo e meias por cima da calça, por um motivo que prefere manter em segredo, o treinador nascido na pacata Santa Rosa, de 120 mil habitantes, na Argentina, encarou com o coração quase duas horas de entrevista para responder (quase) tudo o que foi perguntado: “Pode perguntar, eu aguento”, avisou.

Luis Zubeldía, ou Lucho, ao Abre Aspas, do ge, lembrou da infância cheia de alegria ao lado dos pais e dos irmãos, falou sobre preocupações com redes sociais e mergulhou no mundo tricolor: oportunidades a garotos, Libertadores, reforços, Morumbis, o passado, o presente e o futuro.

Ficha técnica
Nome: Luis Francisco Zubeldía
Apelido na família: Lucho
Nascimento: 13 de janeiro de 1981, em Santa Rosa (ARG);

Carreira de treinador: Lanús (ARG), Almería (ESP), Barcelona de Guayaquil (ECU), Racing (ARG), LDU Quito (ECU), Santos Laguna (MEX), Independiente Medellín (COL), Alavés (ESP), Cerro Porteño (PAR) e São Paulo
Títulos: Sul-Americana e Campeonato Equatoriano, ambos de 2023, pela LDU

ge: Chutão em garrafa, invasão de campo, comemoração com jogadores, cartões amarelos… O estilo Luis Zubeldía de dirigir o time à beira do campo repercutiu bastante em 2024. Como viu tudo isso?

Luis Zubeldía: – Tenho 16 anos como treinador, mais de 600 jogos. Ao ganhar experiência, você vai se soltando mais. Quando começa na carreira, você vai olhando algumas condutas e ainda não tem uma personalidade consolidada. Hoje, trato de viver. Gosto de viver como vive qualquer torcedor. Um bom ponto de partida para ser treinador é ser autêntico. As pessoas se surpreenderam pelos cartões. Mesmo minha esposa… Minha mãe é contundente (risos): “Outra vez cartão amarelo? Que vergonha, o que vão pensar”. Ela não vê os jogos, acompanha por aplicativos, mas meus irmãos dizem.

– Eles me chamam de Lucho. “Viu o que Lucho fez? Chutou uma garrafa” (risos). E minha mãe manda: “Outra vez? O que vão pensar da sua mãe?”. Digo: “Tranquilo, é parte do trabalho”. Eu sou comprometido pela causa. Se vier o presidente, um jogador ou até um torcedor: “Escuta. O rival vem com a bola, se você salvar esse gol, sairemos campeões, então te atira ali de cabeça para salvar o gol”. Entro e faço. Eu me movo pela causa, me comprometo (…) Posso pegar uns 15 jogos (de suspensão), não me importo.

Você teve possibilidade de sair do São Paulo?

– Veio a seleção do Equador e uma outra equipe importante, mas meu dever, meu compromisso é com o São Paulo. Eu disse a Belmonte, ao Rui e a todos: “Pode vir o Real Madrid que não vou”. Por minha decisão, não posso causar um dano ao São Paulo. Sou comprometido, me jogo no projeto.

Em algum momentos neste ano sentiu que seria demitido para 2025? E o que te surpreendeu no futebol brasileiro?

– Sei que é sempre uma possibilidade, mas não a controlo. O que controlo é que se vem uma equipe, Boca ou qualquer outra, tenho claro que meu compromisso é o São Paulo. Mas não consigo controlar o que pensam Belmonte, Rui, o presidente, jogadores.

– O que peço é que trabalhem em equipe. Preciso que estejam convencidos do que fazemos. Essa confiança dou sempre, apesar dos rumores. Tenho afeto dos torcedores. Muito. As redes sociais são parâmetro e não são. Não sei quem a controla. Se dizem que o Tite está chegando, não posso comprar isso. Não posso crer.

– Na minha vida normal, vou me fazendo entrevistas, vou me perguntando as coisas a todo o tempo. Vou me motivando, me dando ânimo, me fazendo perguntas que me fariam os jornalistas. Essa pergunta eu me fiz, que coisas me surpreenderam. Rapidamente: nenhuma.

Você vê o que falam nas redes sociais?

– Não, mas chegam os comentários. Algo vejo. Sei que são resultados. Ano que vem vão pedir o Paulista, pedir a Libertadores, um grande Brasileirão.

E com menos dinheiro em caixa…

– Mas não sou um covarde. Vamos para cima. Agora, se sinto que não estou convencido do projeto, sou o primeiro a dizer que não quero prejudicar o São Paulo.

E você está convencido?

– Se estou aqui, é porque estou convencido. Os dirigentes da Federação pediram para eu ir para a seleção do Equador. “Te amam, te querem. Vamos para o Mundial”. Tem um Copa daqui dois anos. Iria com 43 anos e com uma geração que eu não sei se vai se repetir no Equador. Estupiñan (lateral-esquerdo) começou comigo, ele me chamou para ir. Vários jogadores me ligaram e chamaram. Não quis sair daqui. Precisamos fazer as coisas convencidos, e eu estou convencido.

Mas com cinco reforços, certo?

– Cinco reforços como base. Pode ser mais. Ou não (risos).

Quais posições você quer?

– Não posso dizer. É difícil resumir aqui o que busco melhorar, precisaria mais tempo. O que busco é uma certa regularidade. Aqui no Brasil é muito difícil vencer de visitante, precisa de consistência em todos os sentidos. Vamos tratar para que essas contratações nos tragam essa consistência. E na troca de jogadores, precisam nos dar resultado. Chegamos em sexto porque os meninos foram bem quando mudamos. As incorporações precisam nos dar isso.

No começo do ano, o São Paulo te procurou e vocês acabaram não conversando. Muricy Ramalho disse que você demorou a responder. Quais foram os detalhes desta situação?

– Meu representante me chamou e falou que o Rui queria falar comigo. Eu disse que estava difícil, porque tinha que terminar meu desligamento da LDU e preparar minha família, porque havia dito que passaríamos duas semanas juntos. Precisava de 48 horas, mas o São Paulo não podia dar. Nunca falei com eles ali, automaticamente me descartaram e contrataram o Thiago Carpini. Depois, quando me chamaram, já tinha me acertado tudo com LDU e com a minha família.

– Tinham me chamado duas seleções da América do Sul e tinha quase tudo certo com uma equipe da Arábia. Estava tudo bem encaminhado, só tinha que ver a reta final com reforços. Quando apareceu o São Paulo, falei: “É isso”. Na primeira vídeo chamada, estavam os quatro: Carlos (Belmonte), Muricy, Julio e Rui. Não compreendia tanto o português, porque cada um falava de uma maneira distinta. Mas sabia o que precisava dizer: “Vou”. E esclareci o que tinha acontecido. Quando cheguei aqui, dei um abraço no Muricy e ele me disse que estava tudo certo.

Durante esse ano, você teve desentendimentos com a diretoria do São Paulo?

– Não, nunca. Alguma conversa mais quente em algum momento da temporada, porque considerava que precisávamos fazer algo, mas não podíamos como instituição. Normal. Não superamos uma linha.

Depois da derrota por 4 a 1 contra o Vasco em São Januário?

– Não me recordo bem quando. Do meu lado, não entendia algumas situações que passei a entender com o tempo. O porquê de não podermos fazer algumas contratações. Nem sempre encontrar o remédio para o time depende dos dirigentes, depende de recursos que muitas vezes não estão aqui. Nessas situações, pode ter um papo mais quente, mas nunca faltando com respeito das partes.

Como foi a chegada ao Brasil? Ter um time com muitos jogadores que falam espanhol facilitou ou teve problema com o idioma em algum momento?

– No começo, não me dava conta de como é importante a língua. Agora, uso palavras, conceitos, mas tenho a meu favor o uso das imagens, assim tenho mais impacto do que com as palavras. Vocês estudam Comunicação e sabemos bem que imagens numa palestra têm um impacto que quebra a barreira idiomática. A imagem ajuda mais o jogador conceitualmente, o trabalho em campo… Claro que é melhor falar o idioma. Agora, já me propus a trabalhar com um professor ou uma professora para começar a consolidar alguns conceitos. A princípio, não tive tempo. Mas creio que não foi um problema. Não foi um problema, mas tenho de admitir. Agora já é o momento de estudar.

Você uma vez andou de trem aqui no Brasil e isso virou notícia. Você acha que na Argentina as pessoas têm mais essa noção de ocupação da cidade? Por que isso vira notícia?

– Aqui me sinto mais livre. Não sabia como era viver a três quadras do CT. Nunca aconteceu isso antes. Agora que vivo muito perto do CT, me permito caminhar. O transporte público não digo que uso sempre na Argentina, mas, se tenho que usar, eu uso. Não tenho problema com isso.

– Quando me aposentei, em 2003 para 2004, eu tinha meu carro. Era jogador de futebol, vivia na minha bolha. O jogador vive numa bolha, o técnico vive numa bolha, o jornalista vive numa bolha. E eu vivia na minha. Eu tinha meu carro, me pagavam mais ou menos bem. E do dia para a noite, perdi meu trabalho. Não podia mais jogar. Passei a ter que cortar gastos.

– Na cabeça de um garoto de 23 anos, te golpeia. Eu sonhava jogar na Inter de Milão, três anos antes tive oferta da Inter, do Atlético de Madrid… Depois, não tinha salário, não pude jogar mais, tive que pagar meu curso de jornalista esportivo, meu curso de treinador. Tinha que tirar algum gasto. O carro espera e passo a andar como se anda a maioria das pessoas. Agora que tenho outra possibilidade, também valorizo. Mas o outro é muito bom. A mim, ajudou muito a ter essa consciência de sair da minha bolha para ver o que se passa ao redor.

Como isso mexe com você?

– Depois do jogo contra o Juventude (derrota por 2 a 0, na 37ª rodada), eu fiquei mal porque os 30 mil torcedores que foram ao estádio pagaram ingresso… Fiquei mal por mim, por não dar um bom espetáculo, um bom jogo. E essa consciência, essa empatia, nos faz não poder perder. Vivemos num mundo individualista. E temos de entender aos outros.

O que você gosta de fazer no tempo livre?

– O que eu gosto de fazer? Falar muito com minha esposa. Gosto de estar em família. Segundo, ver futebol. Futebol se cura com futebol. Se perco um jogo, vejo mais futebol, de todo lado. Preciso de futebol. Depois, gosto de ler, fazer coisas para mim. Mas basicamente estar em família.

Você assiste às mesmas partidas? Viu São Paulo x Juventude novamente?

– Não. Tenho na cabeça e ver de novo é uma tortura. Odeio. Tenho aqui (na cabeça). Sei os erros que tivemos. Não me faz falta. Claro, tenho análises, vejo momentos do jogo. O mais difícil do futebol é tomar uma decisão no momento que tem que toma-la. Aí está o segredo. Depois, é como ver o jornal de segunda. Vou ter dar exemplos. “Espero mais tempo porque tal jogador vai reverter a situação?” ou “vamos continuar da mesma maneira porque vai abrir espaços e o rival vai cansar”. Mas é capaz que não aconteça isso.

Você se arrepende de algo que fez em algum jogo?

– Não. É como ter o caminho A e o caminho B. Você toma uma decisão e pronto. E sou consciente disso. E sou consciente que o treinador precisa conviver com o erro. Porque se não viver com o erro, começa a crer que é um desastre. E não é assim. Claro que quanto menos erros se toma na tomada de decisões, melhor. Mas não é por que assume erros que tem de pensar que é ruim. Nessa parte tenho uma cabeça muito forte. Sei quando me equivoco e por isso não me faz falta ver tanto as partidas.

O que gosta de ler?

– Antes lia livros de Psicologia, Autoajuda, quando tinha 20, 21, 22 anos, por uma questão do que fui vivendo. Li um par de livros para me fortalecer a cabeça. Meus pais, irmãos mais velhos, sempre me fizeram forte em certos aspectos. Foram minha referência sobre o que copiar, o que não copiar. Quando saíam de noite, pensava: “Não, de noite não, preciso me cuidar”. Depois comecei a ler…

– Tem um livro chamado Pirâmide Invertida, um livro muito bom de futebol, que recomendo para todos que querem ser treinadores. Mostra as origens, como o regulamento do futebol muda muito. Os jovens pensam que o tiro de meta nunca podia sair com a mão. Ou que sempre teve cinco substituições.

Uma coisa que chama a atenção em você é que sempre está vestido com o uniforme do clube. E sempre com as meias por cima da calça. Por quê?

– Todo fim de semana tinha que decidir o que usar, ficaram me fotografando… Um dia, minha esposa disse: “Por que não coloca a roupa do clube?”. A partir de 2016, 2017, depois da experiência na Espanha, falei que ia usar a roupa do clube. Mas nem sempre ela é linda assim como essa (risos). Essa é muito linda. Sobre as meias, tem um segredo, mas não vou dizer. Tudo o que eu faço, não é casualidade. Não é casualidade.

Outro aspecto interessante é a forma como você aquece com o grupo antes do jogo no campo…

– Entrar em campo é lindo. Ver a atmosfera. Algo que adquiri recentemente. Vou vendo o campo, para alertar os jogadores. Vejo os adversários, a altura que têm (risos).

Como vê o tema da saúde mental dos jogadores?

– É muito difícil. O ideal seria ter profissionais imersos aqui, sob o aspecto mental, mas também é difícil conseguir profissionais indicados, porque às vezes terminam prejudicando a rotina interna. Por isso não há muitos profissionais trabalhando com isso no futebol. O futebol está aberto a novas pessoas, mas às vezes elas terminam rompendo uma dinâmica.

– E o futebol tem certos códigos que precisamos cumpri-los. Mas sem dúvidas o jogador hoje em dia se vê como um produto e esquecemos da parte humana. Há um entorno com muitas pessoas ao redor do jogador. Isso acontece muito no Brasil. O jogador ganha mais dinheiro, o mercado é maior, o futebol aqui está entre os cinco melhores do mundo, ou seis. Há muito interesse por trás do futebol, não só dos profissionais.

Como vê o funcionamento disso na prática?

– Hoje, o William Gomes, com apenas um punhado de partidas, as pessoas pedem: “William, William, William…”. Mas não o viram jogar, não sabem se bate melhor com a esquerda ou a direita. E já é ultra conhecido no mundo São Paulo. O que vai acontecer quando o William for mal em cinco, quatro partidas? Qual vai ser a conduta dos nossos torcedores? O que vai acontecer quando o William ou qualquer outro jovem tiver que conviver com jogar, não jogar? A fama supera a realidade. Lucas tem fama, Calleri tem fama. São jogadores que já fizeram muito. Mas sobre um menino, é um problema.

E qual a solução para isso?

– Temos de dimensionar o que se sucede. As redes sociais fazem com que isso se dimensione mais. Se eu tivesse um encontro com Deus e ele me perguntasse: “Luis, o que você quer?”. Meu sonho é que se possa regular as redes sociais. Que pudesse regular as redes sociais, tirem um pouco a tecnologia para poder fazer isso de maneira mais tranquila, sem deixar tão exposto a tantas situações. É muito difícil hoje em dia lutar contra os interesses externos. Por isso eu digo, termina afetando a todos. Quanto mais jovem, menos preparado está para assumir essa situação.

– Hoje, qualquer um diz que Zubeldía é um desastre, um burro, aí sai na plataforma, quiçá cinco pessoas pensam isso e 20 mil não. Mas essas cinco são a verdade e têm a influência, porque o ruim é mais legal. Antes não acontecia isso, porque para chamar de ruim tinha que ir na rádio ou pôr uma pontuação num jornal: “Fulano jogou cinco pontos, Léo jogou seis pontos”. Hoje, se coloca a foto de um jogador: “É um desastre, é um burro”.

Isso chega como para os jogadores?

– A primeira mensagem ao jogador, a nós, é: “Não consuma”. Mas aí o pai, a mãe, a vovó, dizem: “Você viu o que falaram? Que é um burro”. Eu chego na segunda-feira aqui, depois da partida, olho a cara de 40 jogadores e já sei como está a situação de cada um. Eu já sei. Leio muito as caras, as posturas. Estudei muito sobre isso. Li muito sobre isso. Afeta. Os interesses externos afetam muito a nós.

O que você lia na cara de James Rodríguez?

– Creio que a questão do James passou complementariedade no meio futebolístico. Agora, me atrevo a dizer que no Rayo Vallecano vai passar o mesmo. A primeira pergunta que tem de fazer ao contratar um jogador, que creio que fizeram, não estou dizendo que não, precisaria falar com o Dorival e a comissão, mas é sobre a falta de um 10, como falta agora. Falta um 10. Entregamos alguém que tem bola parada, que joga bem com a bola. A segunda pergunta é em que posição vai jogar. Vai jogar atrás do 9. E quem vai tirar? Vamos tirar o Luciano. E o Luciano está mal? Não. Tem 15 gols por temporada. E como vamos questionar isso?

– Luciano fica no banco? James fica no banco? O que passou com o James quando foi reserva em cada time? Não se levantou. Porque precisa jogar. São perguntas que tem de se fazer. Não só dizer “Me falta um 10, vamos trazer um 10”. Tem que ver quem trazer, se podem se complementar. Em todo caso, diria: “Me traz um 10 que pode jogar nos lados, que possa complementar Calleri, Luciano e Lucas, que se alguém sair ele possa jogar por dentro, mas também possa jogar por fora”. Para me dar possibilidades e ter todos como atores principais e importantes numa ideia de jogo. O que aconteceu com o James é que é muito centralizado e precisava jogar ali, ali, ali e ali tinha outros jogadores.

É isso que você quer hoje, alguém que possa ser o 10 e jogar por fora também?

– Poucas palavras para bom entendedor. Não necessariamente por fora, mas que tenha essa possibilidade. Lucas pode jogar por dentro, por fora, mas é um jogador que desequilibra, não é um 10. Luciano é um jogador vinculado ao gol, que joga um pouco atrás do centroavante ou ao lado dele.

Falando sobre Cotia, que você já visitou, como vê esta geração que venceu a Copa do Brasil sub-20? Pensa em utilizar garotos de lá em 2025?

– Sim. Há duas maneiras de trazer jogadores da base. Uma é comprar jogadores quase prontos de 17 anos; a outra é como o São Paulo faz. Pega jovens desde pequenos e os vai formando. É um processo mais lento e precisa ver se chegam à primeira divisão ou se emprestaremos. Não é bom estancarmos o jogador sem jogar, porque o perdemos.

– Muitos meninos não estão prontos ainda para a pressão do São Paulo. Às vezes é melhor emprestarmos para uma equipe de menor expressão para pegar experiência. Nem sempre é linear a evolução de um jovem. Sai de Cotia e tem que jogar aqui. “Ah, Zubeldía é um burro que não coloca o fulano”. Eu sei de base. Vou colocando paulatinamente.

– Nem sempre estão prontos. Temos o William, que eu estou protegendo e polindo. E pode haver outros mais. Henrique, Ferreira, Ryan, Alves, que é o 10, Hugo, que é o volante central, poderia nomear todos. Não os conheço de agora, conheço de julho. Já conheço todos. Mas precisamos ter paciência.

Ainda neste tema, nos jogos contra o Botafogo pela Libertadores você colocou o William de titular e ele acabou não rendendo tão bem. Qual foi a sua leitura?

– Falei com o Luciano depois da palestra (pré-jogo). Falei que ele sabia que seria banco e eu não queria que estivesse contente. Mas disse que ele seria muito importante naquele jogo. Porque se estivéssemos ganhando, ele entraria e mataríamos o jogo. Se começássemos mal, tinha um jogador que geraria muita expectativa nas pessoas e nos companheiros. Precisava deste golpe de efeito para que o torcedor se levantasse, e este era o Luciano. Foi uma decisão em conjunto.

No outro lado da balança, você tem jogadores veteranos com Rafinha e Luiz Gustavo. É a favor da permanência deles para 2025?

– Sempre quis que eles continuassem, o tempo determina a diretoria. Creio que tive uma grata surpresa com os dois. Trabalhar com eles é uma honra. São jogadores que eu converso muito e de tudo. Não apenas de futebol. Gosto quando o jogador atinge essa maturidade. Eles têm fome. Luiz Gustavo jogou mais no processo comigo.

– Não jogava no começo, e depois foi muito importante. Com Rafinha, é um prazer falar com ele. Vejo nos treinos como conversa com os companheiros. É o termômetro da equipe. Ele necessita se sentir importante onde está. Não sei se terá muitas partidas como titular, ele deve pensar que sim. Mas sentindo-se importante nos treinos, no dia a dia e nos jogos. Disso que desfruto.

Como vê as SAFs, se acha que é algo bom? E como vê a relação com os dirigentes nelas?

– Isso me surpreendeu estando dentro. Há equipes que vão por esse projeto e passam a competir. Por outro lado, ter uma equipe que está “privatizada”, te dá um funcionamento de empresa com vários postos hierárquicos. E se perde muitas vezes o que tem o futebol.

– É cruzar com o presidente e dar um abraço, cruzar com o Muricy, dar um abraço, e se tiver que fazer uma crítica, você faz, ou pedir: “Muricy, me conta o que se passou em tal campeonato”. Essas coisas que são próprias do futebol, do vestiário, de gente que conhece a história, às vezes não acontecem com a privatização. Mas não falo nem bem nem mal, é um caminho que se toma.

– Quando eu estava fora do Brasil, eu : “O São Paulo tem de estar entre os cinco, entre os quatro. É normal o São Paulo se classificar para a Libertadores”. Não é normal. Era normal antes, hoje apareceram outras equipes que tiveram inserção de agentes externos e ficou mais difícil competir. Não é normal. É preciso ver o contexto, aparecem situações, não é que estou em acordo ou desacordo, mas há essas outras equipes.

Diante de rivais com esse poderio econômico, como viu o ano do São Paulo nas Copas e no Brasileirão?

– Sobre o jogo do Atlético-MG. Na semana antes, aconteceu o fato do Izquierdo. E foi algo muito pessoal. A mim me afetou de uma maneira, a outro de outra maneira. Mas no prévio do jogo de mandante, não vi a chama que vínhamos tendo. Depois, falando com jogadores, sim, afetou, mas é muito pessoal.

– De toda maneira, nos 180 minutos nós fomos melhores que ele em muitas passagens do jogo, mas saímos com a sensação que, de mandante, podíamos ter gerado mais situações de de gol, podíamos ter feito 1 a 0, chegaram uma ou duas vezes e foram efetivos. Na volta, jogamos bem, mas também não tivemos situações de gol. Pode ser um problema, eu poderia ter encontrado outra variante para ter situações de gol, mas mesmo com os erros, não fomos inferiores ao Atlético-MG.

– Na Libertadores, vocês sabem, foi uma boa série. Eu senti que essa Copa Libertadores nós ganharíamos. Eu senti que ganharíamos, o momento da comissão técnica era bom, dos jogadores era bom e do clube também. Mas os tempos de Deus são divinos. Vamos seguir trabalhando, por isso eu queria entrar na próxima. Vamos seguir martelando.

– Estou convencido que será neste ano, em 2025. Estou convencido que em 2025 seremos campeões da Libertadores. Alguns vão dizer: não, está colocando muita pressão. Estou convencido. Agora, temos de fazer certos movimentos, dar um formato, começar bem, competir bem, mas estou convencido que se formos dando passos fortes de que podemos ganhar a Libertadores. Ou vamos seguir insistindo. E a maneira é ingressar ano após ano.
– No Brasileirão foi bom. Só ver as equipes abaixo. E nunca me aconteceu de ficar em sexto, não poder subir e estar à frente uns 11 pontos. Isso nos atrapalhou a não chegar nuns 66 ou 67 pontos. Terminou sendo mau porque podíamos ter feito uns sete ou oito pontos a mais. Mas se aprende com isso.

Sente que a relação do São Paulo com a Libertadores é mesmo especial?

– Sim, muito. Falei para os jogadores numa palestra: década de 90, eu, neblina, olhando a televisão, Newell’s chegando nesta instância, Vélez chegando nesta instância, neblina, um campo verde imenso, a bola que não sai nunca, jogadores brasileiros… Morumbi.

– Eu me criei com isso, escutando a rádio que muita gente não sabe o que é hoje. Os relatos do periodista. Pegava a bola e saía a jogar. Isso é São Paulo. Isso é o futebol do Brasil. Depois, ver a história. Nem tanto o Brasileirão, mas as Copas Internacionais. É o que tenho aqui (na memória).

– Nas últimas cinco edições, tivemos quatro finais de Libertadores só entre brasileiros, como foi esse Botafogo x Atlético-MG. Como vê o domínio brasileiro no torneio?

– Creio que o domínio dos brasileiros na Libertadores se deve primeiro a jogarem bem, aqui tem equipes que jogam bem, com grandes jogadores. E é um país com história. Brasil, Argentina e Alemanha, e coloco a França agora, é onde está a melhor matéria prima. Uruguai é grandioso, a Itália… Aqui tem bons jogadores. Injetam dinheiro nos clubes, é um mercado grande porque o país é grande, podem vender, contratar, tem consumo interno.

– Com dinheiro e jogando bem, é lógico que na Libertadores há chance de ganhar. E com um Brasileirão tão competitivo. “Mas Luis, é óbvio o que está dizendo”. Não é. Arábia tem dinheiro, a MLS tem dinheiro, onde estão as equipes? Há vários países com dinheiro, mas aqui aqui é uma das três ou quatro mecas do futebol. Isso vocês têm de saber. As equipes daqui são boas, e não fazem mais diferença pelo desgaste físico do Brasileirão.

Muitos jogos?

– Muitos. Com distâncias grandes. É muito difícil manter o nível do futebol. Gabriel Milito que tem uma ideia de jogo muito clara, e digo dele como alguém que gosto muito viu que, difícil só ter uma ideia pela quantidade de jogos. Quando troca jogador A por jogador B, mudam as características dos jogadores. Teve de trocar Bernard por Deyverson quando Bernard se machucou. O que tem a ver um com o outro? Já muda o perfil da equipe. Faz parte da complexidade. Mas é isso, dinheiro e qualidade dos jogadores, não é casualidade ganharem a Libertadores.

Você teve de evoluir isso? Em algum momento teve que fazer algo novo?

– No futebol não há tempo, tem de fazer uma negociação entre o seu ideal, o que você quer e o que você tem. Não pode ir só com seu ideal, ele seguramente está distante da realidade. A partir daí você começa a dar nuances à tua ideia original. Muitas poucas vezes pude armar o ideal da minha cabeça.

E como é sua ideia original?

– Bom, havia que aprofundar um pouco mais, né? Também gostaria, não há um quadro negro aqui (risos). Mas, para resumir, eu antes, quando comecei, gostava de ter um jogo muito mais rápido, de muito mais transições. Não tanto de posse. Para dar um exemplo, Borussia Dortmund. Gostava de jogadores rapidinhos, com condução, que dribla um, dois, três jogadores. Respirar em 40, 50 metros e sair rápido. Com o tempo, comecei a ver que tinha de incorporar à minha ideia um pouco de posse para ter a música clássica. Nem sempre Rock’n’roll. Foi um trabalho.

– Teve a mudança de regulamento (em 2020), de poder sair jogando dentro da área (receber a bola do goleiro dentro da área), os goleiros começaram a ter participação com o pé, tudo foi um processo para acostumar, antes o goleiro dava rápido no defensor, ele buscava o ponta e vamos para o gol. Era um jogo direto.

– Comecei a colocar enganches por fora (meias), que tenham a condução, então a equipe era rápida, mas com pouca posse. Tenho que pensar em incorporar a posse. Com a evolução dos jogadores, depois de cinco ou seis anos fui fazendo um mix. Passei pela Colômbia, onde há um romanticismo com o 10, e com o 5, eu falava: vamos direto. E eles: calma, profe, vamos tocar a bola. Tivemos seis meses espetaculares, uma grande equipe (no Independiente Medellín).

– Fiquei seis meses, pois fui para a Espanha (Alavés), senão tinha seguido mais. E ali foi um aprendizado, vi que tinha de incorporar um pouco mais de posse. Isso me fez ter um ideal: encontrar o ponto de saber defender com a bola, saber questionar a bola para terminar tendo um jogo de duelos, de arranques por dentro e por fora. Claro que não tive êxito sempre desde que estou aqui. Há jogos que me senti identificado, pois encontramos esse ponto.

Quais?

– Bom, o jogo que fizemos contra o Flamengo aqui (1 a 0). Tivemos um pouco de bola e um pouco de aceleração, me encantou. Para citar um. O jogo que fizemos com o Vasco (3 a 0 em Campinas), me encantou. Tivemos um pouco de posse, mas também tivemos muitos ataques pela direita, ataques pelo centro e ataques pela esquerda.

– Quando não me freiam as três frentes, possivelmente jogamos bem. Quando nos freiam as três, vamos mal, porque a posse que eu tenho, vou terminar com uma transição… Aconteceu contra o Juventude. Estava bloqueado aqui, aqui e pelo centro (faz com as mãos), já me pegam aberto.

– Nos roubam e bola e vão. Os jogos que não conseguiram nos bloquear, ou por estratégia ou por característica dos jogadores que colocamos, porque o rival também permitiu, foram os que jogamos bem. Citei dois exemplos, mas há muito mais.

– Busco incorporar a bola de uma forma que a gente possa se defender. Se não tivermos chances de gol, vamos mal. É ter isso, com um pouco de Rock’n’roll, com situações de gol. A maioria dos gols no futebol vêm em menos de seis passes, há porcentagem alta. No São Paulo temos isso, e temos também de posse, pum, pum, pum e chega.

– O gol que fizemos contra o Athletico de cabeça. Saímos jogando desde trás, circulação, seis, sete ou oito passes, ataque posicional, gol do Luciano de cabeça. Há muitos assim. Mas a maioria são com menos de seis passes, de uma forma mais direta, um pouco de Rock’n’roll. Temos de encontrar esse ponto, eu já sei como encontrá-lo, temos de ter características para fazer isso.

Quem te representa em campo quando o jogo está bloqueado?

– Presto muita atenção nos volantes centrais, aqui são dois. Por dois motivo, se depois tivermos um terceiro, por fora ou dentro, que pensa mais como um 10, melhor. São três que prestam atenção. Se não, recai nos volantes centrais. Pensam como volantes para cobertura equilíbrio, como volantes para dar posse e como volantes de um pouco de Rock’n’roll.

– Entregar a bola e acelerar nos metros finais. E isso mostra porque os volantes se destacaram neste ano. Luiz se destacou, Bobadilla se destacou, são bons jogadores, mas dou a eles protagonismo. Liziero, Marco Antônio e que dirá Alisson, que já vinha jogando bem. Vamos incorporando os conceitos. Os volantes são chamados para ser os treinadores dentro de campo.

Que lições você tirou dos aprendizados com José Pekerman, que foi quem te descobriu como jogador?

– Na parte humana, é muito docente, que tratava muito bem os jogadores, éramos todos jovens, era um exemplo para olhar. Na parte tática, lembro algo importante do Mundial Sub-17, vamos jogar contra Gana. Com cinco minutos do primeiro jogo se lesiona o primeiro volante, Guilhermo Pereira, um volante central que jogou no River. Ele me chama para entrar.

– Contra Gana, que eram os campeões africanos. Eram aviões, na época se dizia que com jogadores mal anotados (gatos), tinham um físico… Eu tinha bom físico, mas eles… Era rápido, então parecia que eu estava marcado, parecia que eu não queria a bola. No fim do primeiro tempo, me agarra Pekerman e me diz: “Como um volante da Argentina vai se esconder e não vai querer a bola? Quero que peça a bola”. Isso me ficou na cabeça, ele tinha razão.

– Digo algo de 1996, 1997. Hoje, me dou conta que alguns volantes centrais se escondem para não pegar na bola. Me ficou gravado isso. Para mim é como tomar um chute entre as pernas que um volante meu se esconda. Há jogadores que se automarcam. Se ficam fora da linha de passe, não os quero. Hoje em dia, na minha equipe não quero mais. É um exemplo de Pekerman, um pequeno detalhe. Ele me selecionou no interior do país, um seletivo de 700, 800 meninos. Me levou à seleção, eu sem clube, depois fui ao Lanús.

E como foi iniciar no futebol no Lanús?

– Quando eu estava na seleção, não tinha equipe. Veio Boca, veio River, vários me queriam. Mas por que Lanús? Porque, essa é boa história. Lanús era uma equipe formadora de jogadores que chegavam na Primeira Divisão, River e Boca eram mais difíceis. Então meus pais foram a Lanús ver o prédio. Havia uma escola ao lado, onde estudei.

– E mostram a eles uma habitação na pensão que era a única que estava linda. Havia geladeira, havia tudo. “Seu filho vai ver aqui, fique tranquila, não vai faltar nada, tem geladeira, cozinha”. Meus pais falaram: “Lucho, fique tranquilo, é como se fosse um hotel, tem o colégio ao lado, vai ser espetacular”. Pronto.

– Resulta que no meu primeiro dia de Lanús, eu estava contente, tinha geladeira, tudo, mas o tipo que me recebeu me disse: “Não, essa habitação não, vamos a essa”. Quando abriu a porta, não havia nem colchão. Não havia televisão, geladeira, nem colchão. Me trouxeram um colchão (risos). Lanús é minha casa. Nesta época, estavam crescendo e precisavam incorporar bons jogadores e foi uma mentira leve. Queriam me contratar.

Você teve uma boa infância?

– Muito boa. Outro dia vi um filme do Leonardo Favio, chamado “Crônica de um niño solo” (crônica de um menino sozinho). É da década de 60 (1965). E esse filme fala da infância do Leonardo Fabio, um produtor, cantor, que já faleceu. Fala sobre reformatórios, meninos que não tem pai, mãe… E há uma cena de uns meninos que estão numa habitação, onde cada um deles está jogando algo lúdico, todos com sete, oito, nove anos, numa habitação.

– Um batendo na bola, outro jogando bolinha de gude… A câmera vai passando por cada história, de meninos. A primeira coisa que me veio, o que quero mostrar, é um resumo como as limitações de uma infância sem liberdade, de um menino sem afeto, sem amor, fala destes meninos desalmados. Que nem sequer podiam se divertir pelas limitações do lugar.

– E passava outro que havia sido castigado. Tudo isso não vivi, foi o contrário. Tive o amor dos meus pais, aprendi com meus irmãos maiores, de aprender, de ser malandro, como dizem aqui, em algumas situações. Não me faltou nada. Tive essa sorte. Essa cena do filme mostra que muitos não têm. Tive amor e liberdade. Aos 15 anos. “Quer o futebol?” Vá. O que peço em troca é que estude, que termine o secundário. E cumpri.

Quais são os filmes da sua vida?

– Rocky. Mas poderia dizer vários. Gostei muito de um italiano que vi recentemente: Cinema Paradiso. Gostei muito porque se trata de um menino que sai do seu povo em busca dos seus sonhos. Não voltava sequer para ver a mãe. A mim passou um pouco isso. É o preço que pagamos por irmos em busca dos nossos sonhos: perder tempo com a sua família, sua mãe, seu pai.

– Quem não quer ir às festas e sair aos 15 anos? Tudo isso eu perdi porque queria ser jogador de futebol. Então esse filme resume muitas coisas. E Rocky tem um lema quando ele estava mal que dizia: “Levanta, porque eu te amo”. O treinador disse para ele. Diz muito sobre as pessoas que nos dão suporte na vida. Vejo muita profundidade nisso.

Um dia, Russo, que era do Lanús, disse que você seria o Marcelo Bielsa deles. Ele é uma referência pra você?

– Claramente o presidente no ano de 2003, 2004 me disse: “Luis, não vamos renovar seu contrato. Queremos que seja técnico da base”. E a partir disso, quando fizer 27 anos será o técnico na primeira divisão. Que? Tinha 23 anos. Não entendia o que ele me dizia. Falei que não queria presente. Ele disse pra eu ser auxiliar técnico da primeira equipe, e eu disse que queria começar na base.

– Daria passos pelos meus méritos. Conclusão: fiz tudo rápido. Com 27 anos estava na primeira. Ele era um louco. E disse que eu poderia ser o Bielsa do Lanús. Eu de Bielsa não tenho nem um cabelo, porque Bielsa é um fenômeno. Mas não tenho nada dele. Foi o primeiro fator pra eu ser técnico, e depois ter uma família de docentes. Bilardo, Menotti e Bielsa são referências.

– Eles te motivam e fazem ir por esse lado. Mas não tenho nada da metodologia do Bielsa, porque é única. Quem diz que tem algo de Bielsa… é como algum de nós dizer que parece o Brad Pitt. É um top. É uma referência. Uma vez o chamei e agradeci por me inspirar.

– Perguntei o que ele poderia sugerir para a minha carreira. “Luis, duas coisas. Primeiro, não abandone o mais simples. E segundo, você vai ter que negociar algumas coisas com quem o contrata. Anote quais não negociaria. Ele estava dirigindo o Lille, da França, e lá faziam coisas que ele não queria. Foi meu único vínculo com o Marcelo.

E como você enxerga a política argentina hoje com Javier Milei?

– Com respeito à política, sempre digo que quero um político que gere muito trabalho interno, muito consumo interno. Que defenda os interesses do país, recursos do país. Que possa necessitar os mais necessitados, porque a distribuição de riqueza está sendo cada vez mais selvagem. Estamos em países numa zona complicada.

– Somos privilegiados porque temos recursos naturais, o Brasil também tem. Mas há muitos setores da população que necessitam de uma ajuda de verdade em todos os aspectos. Sem esquecer os que geram trabalho. Mas a grande pergunta que temos que fazer para os políticos é como desconcentramos a riqueza.

– Para que tenhamos muita riqueza com poucas pessoas, é porque alguém está pagando. O que passa nos continentes mais necessitados como a África, em vários países daqui. Por que há tanta concentração em pouca gente?

O que quer Zubeldía na carreira e na vida? O que mira?

– Quero me manter ativo. Desde quando eu virei treinador, mudou muito o regulamento. Há 15 anos era impensável que um goleiro fosse melhor que um zagueiro. Beckenbauer foi espetacular porque de zagueiro dava passes que hoje qualquer jogador do campo dá. Estava à frente da época dele. Com o tempo, virou zagueiro para ver o jogo de frente. Estamos falando de 50 anos.

– Olhem a evolução no futebol. Hoje, cinco trocas. O fair play, que apareceu como uma bandeira nos jogos olímpicos e juvenis. Por quê? Maradona tomava 50 mil patadas. Pelé tomava 50 mil patadas. Se chega mais forte no Messi, amarelo. Agora o regulamento protege muito mais o craque. Antes vinha jogar no Morumbi e não estava impedido, mas o juiz dava. O mesmo no campo do Boca. Agora tem o VAR. Pequenas mudanças no futebol que precisamos estar sempre atentos. E o que aspiro? Ter um grande grupo de trabalho e buscar coisas grandes.

 

Fonte: Globo Esporte

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