Em entrevista recente para o canal do Arnaldo e Tironi, no Youtube, o Diretor Institucional de Futebol do São Paulo, Carlos Belmonte, quando questionado sobre a recuperação financeira do clube, declarou ser a favor de “fazer a roda girar”, contando com o avanço do time em campeonatos para gerar mais receita, e assim cobrir os gastos. Belmonte disse ainda que hoje não é mais possível repetir o que fez o Flamengo de Bandeira de Melo, pois o prejuízo de um possível rebaixamento seria muito alto.
Essas declarações me deixaram muito preocupado. O “fazer a roda girar”, apostando que o sucesso esportivo gera mais receitas, equilibrando altos gastos, foi o caminho escolhido pelo Cruzeiro Esporte Clube. Todos sabemos qual foi o destino do time mineiro, que encerrou suas atividades no futebol em 2021, após duas temporadas na Série B, sendo substituído em 2022 por uma SAF criada a partir do clube insolvente.
O Flamengo, por sua vez, adotou um período de austeridade financeira, respeitando um teto de gastos rígido entre 2013 e 2015, foi gradualmente aumentando seus gastos em 2016 e 2017, retornou a investir mais pesado no time em 2018, para em 2019 reinar no futebol Sul-Americano. Em 2021 o Clube de Regatas do Flamengo teve a maior receita entre todos os clubes de futebol do país, gerando R$ 178 milhões de superávit no ano.
Na sequência vamos fazer uma análise comparativa das três trajetórias, de São Paulo, Flamengo e Cruzeiro, em termos financeiros e esportivos, entre 2012 e 2021. No Tricolor Paulista, esse intervalo cobre o terceiro mandato de Juvenal Juvêncio, a abreviada administração de Carlos Miguel Aidar, a longa gestão de Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, e o primeiro ano da presidência de Julio Casares.
Comparativo de Endividamento Líquido e Relação Dívida/Receita
Partimos de um comparativo direto do Endividamento Líquido, diferença entre as Obrigações (valores a pagar) e os Direitos (valores em caixa ou a receber), e da relação Dívida / Receitas dos clubes, em 2012 e 2021.
Em 2012 o Flamengo era considerado o “maior devedor do país”. O clube da Gávea tinha uma dívida líquida equivalente a 3,3 vezes as suas receitas anuais. As dívidas do Tricolor e da “Raposa” eram bem mais baixas em valor absoluto, embora já preocupassem se comparadas ao valor da arrecadação anual de cada associação.
Em 2021 o Cruzeiro ultrapassou a marca de R$ 1 bilhão de endividamento líquido, equivalente a 8,49 vezes a receita anual do time que jogou a série B do Brasileiro. Insolvente, o clube não teve alternativa senão transferir seus ativos para a SAF de propriedade da Tara Sports, empresa de Ronaldo Nazário. O Cruzeiro Esporte Clube, bicampeão da Libertadores, o maior vencedor da Copa do Brasil, com seis títulos, e três vezes campeão brasileiro, cedeu suas vagas em competições e os direitos de atletas, e deixou a atividade de futebol profissional.
O São Paulo atingiu no ano passado R$ 642 milhões em dívida líquida, mais do que o dobro do que a dívida do Flamengo, de R$ 311 milhões. O Tricolor é pressionado por débitos que representam 1,38 vezes a sua receita total, enquanto o Rubro-negro tem uma posição confortável, em que sua dívida está na casa de 30% (0,30 vezes) do valor arrecadado.
Comparativo de Patrimônio Líquido
O Patrimônio Líquido (PL) é um importante indicador da saúde econômica de uma entidade, seja empresa ou associação desportiva. Em termos simplificados, o Patrimônio Líquido (PL) corresponde a quanto sobra, do total de bens e direitos de uma entidade, descontado o valor total das dívidas.
Em outras palavras, um clube que apresenta PL negativo continuará devendo mesmo que direcione todos os seus recursos financeiros disponíveis, e entregue a totalidade de seu patrimônio, aos credores. No mundo empresarial, corresponde a uma situação de falência. Vejamos como evoluíram os clubes objeto deste estudo.
O Flamengo em 2012 estava literalmente afogado em dívidas. Seu PL, negativo em R$ 424 milhões, foi a herança recebida por Eduardo Bandeira de Mello, presidente que liderou o processo de recuperação financeira do rubro-negro. O São Paulo de então ainda tinha a imagem de ser um modelo de gestão responsável no meio do futebol, e seu PL, positivo em R$ 223 milhões, era um indicador do sucesso da administração tricolor. O Cruzeiro também tinha situação econômica muito melhor do que a dos cariocas.
O Flamengo de 2021 chegou perto dos R$ 200 milhões positivos de Patrimônio Líquido, em uma recuperação impressionante. O São Paulo caminhou na direção contrária, e suas dívidas hoje excedem em R$ 277 milhões o total de seus bens e direitos. O Tricolor ainda tem uma situação menos desesperadora do que o “Urubu” tinha em 2012, mas está em uma rota preocupante de gerar prejuízos e recorrer a endividamento para pagar suas contas. O time de Minas, com PL negativo de R$ 826 milhões em 31/12/2021, após dois anos na segunda divisão, e sem perspectivas de virar essa situação, reconheceu a “falência” e se retirou do negócio, abrindo a oportunidade para o surgimento da SAF.
Continuando o artigo, vamos nos aprofundar na evolução dos resultados, ano a ano, para cada um dos clubes.
Evolução dos resultados financeiros anuais do Flamengo.
O gráfico e tabela acima deixam muito clara a estratégia de recuperação do Flamengo. Foi estabelecido um teto de custos operacionais na casa de R$ 230 milhões, seguido rigidamente nos três primeiros anos, enquanto os administradores privilegiavam a redução da dívida do clube, composta basicamente por obrigações trabalhistas e fiscais. A partir de 2016 o clube voltou a aumentar seus investimentos no futebol, mas respeitando os limites das receitas disponíveis. Nos dez anos cobertos por este artigo, o CRF apresentou déficit (prejuízo) em apenas três exercícios, os dois primeiros e o ano do pico da pandemia, e acumulou um total de R$ 616 milhões em superávits (lucro) no período, e por isso hoje está saneado financeiramente.
Evolução dos resultados financeiros anuais do São Paulo.
Quando analisamos o gráfico e tabela acima vemos que nos dois últimos anos de gestão de Juvenal Juvêncio, 2012 e 2013, o SPFC operou no equilíbrio, com pequeno superávit. Os dois anos sob comando de Carlos Miguel Aidar, presidente que renunciou após denúncias de corrupção, 2014 e 2015, foram de elevados déficits. Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, teve administração equilibrada entre 2016 e 2018, quando chegou a reduzir em R$ 47 milhões os débitos junto a entidades financeiras e terceiros em relação ao final do exercício 2015 (redução de 31%), e diminuir em R$ 89 milhões o endividamento líquido da Instituição.
A administração Leco, entretanto, se perdeu nos dois últimos anos da gestão, 2019 e 2020. Com Raí como Diretor Executivo de Futebol, o São Paulo exagerou nas contratações equivocadas, pagando altos salários a jogadores que decepcionaram, como Daniel Alves, Jucilei, Hernanes e Pablo, entre muitos outros. Leco levou nossa dívida a “outro patamar”. Julio Casares, que havia sido vice-presidente de Aidar, e membro do Conselho de Administração de Leco, assumiu em 2021, e teve um péssimo resultado financeiro em seu primeiro ano de mandato. Casares privilegiou a conquista de um título, em detrimento de priorizar o equilíbrio financeiro da Instituição. Ganhou o Campeonato Paulista, após 16 anos, mas gerou R$ 106 milhões de déficit e aumentou a dívida total do clube em R$ 121 milhões.
No intervalo de dez anos coberto pelo estudo, o São Paulo gerou déficit em cinco exercícios, acumulando elevados R$ 517 milhões em prejuízos no período. Essas perdas levaram o Patrimônio Líquido a um valor negativo, denominado nos documentos contábeis como “Passivo a Descoberto”.
Evolução dos resultados financeiros anuais do Cruzeiro.
O gráfico e tabela acima refletem o desastre total da administração do Cruzeiro. Déficits constantes ao longo de dez anos, sem nenhuma aparente ação para “estancar a sangria”. O trágico resultado de 2019, ano do rebaixamento da “Raposa”, ainda teve temperos de romance policial, com dirigentes sendo investigados por fraude e lavagem de dinheiro. Os quatro títulos relevantes conquistados no período, dois Campeonatos Brasileiros (2013 e 2014) e duas Copas do Brasil (2017 e 2018), não foram suficientes para alavancar as receitas de modo a equilibrar o grande aumento de gastos.
O déficit acumulado entre 2012 e 2021 chegou a R$ 972 milhões, destruindo o valor patrimonial do centenário clube da colônia italiana de Minas Gerais. A irresponsabilidade dos dirigentes levou à insolvência um time que foi muito bem-sucedido neste período recente do futebol brasileiro. A aposta em buscar o aumento de receitas como resultado direto do desempenho em campo fracassou de forma retumbante no caso do Cruzeiro.
Comparativos de desempenho esportivo
No Campeonato Brasileiro da Série A, a competição mais longa e que demanda maior capacidade de formação de elenco, o Flamengo patinou nos primeiros quatro anos do estudo, entre 2012 e 2015, mas, uma vez equilibrado financeiramente, esteve sempre entre os primeiros colocados nos últimos seis anos. O rubro-negro terminou a edição de 2013 em 16º lugar, mas apenas porque recebeu punição do STJD, perdendo 4 pontos por ter escalado um jogador em situação irregular. O desempenho no campo do time da Gávea, sem essa punição, teria sido suficiente para o time terminar na 11ª colocação naquele ano.
O São Paulo mostra uma irregularidade muito grande de desempenho. Não há correlação clara entre o quanto o clube gastou e seu desempenho no Brasileirão. O início da gestão Julio Casares foi marcado pelo péssimo desempenho na reta final do campeonato de 2020, em que o time conseguiu perder um título que estava muito próximo. O São Paulo, mesmo sendo um dos quatro clubes que mais investiu no futebol ao longo de todo o período estudado, esteve classificado no G4 em apenas quatro oportunidades. Os recursos têm sido mal aplicados pelos gestores de futebol do SPFC, em comparação com outros clubes de menor investimento.
Investindo em seu time de futebol muito mais do que poderia arrecadar, o Cruzeiro se sagrou bicampeão Brasileiro em 2013/14. Nesses dois anos de grande sucesso esportivo, a Raposa gerou R$ 61 milhões de déficit. A partir daí entrou em declínio, priorizou as Copas para tentar aumentar as receitas de premiação, e foi fazendo campanhas modestas no Brasileiro, até o ano do colapso esportivo e financeiro, 2019, quando foi rebaixado à Série B.
Vejamos como foi o desempenho do trio nas Copas.
Libertadores
O Flamengo passou a fase de austeridade e recuperação financeira, de 2013 a 2018 com campanhas modestas. Após o saneamento das contas, e com capacidade financeira para investir pesado em seu time, o rubro-negro disputou duas das últimas três finais do torneio Sul-Americano, conquistando o título em 2019.
O São Paulo chegou a uma semifinal em 2016, com um time sem estrelas, que jogava na base da garra. Em 2021, ainda com o “astro” Daniel Alves no elenco, o Tricolor foi eliminado nas quartas de final, sem opor maior resistência, pelo time que viria a ser o campeão.
O Cruzeiro fez boas campanhas nas edições que disputou, mesmo em 2019, ano do rebaixamento. Esteve fora da Libertadores em seis oportunidades nesses dez anos, em parte por ter priorizado o desempenho nas Copas.
Copa do Brasil
O Flamengo, mesmo com um time sem grandes estrelas, venceu a edição 2013, aproveitando que, até aquele ano, quem jogava a Libertadores não disputava a Copa do Brasil. Desde 2017 está sempre entre os oito melhores classificados do torneio, mostrando regularidade no desempenho.
O São Paulo disputou todas as edições, exceto 2013, e por duas vezes chegou à semifinal. Colecionou, entretanto, fracassos frente a equipes de menor investimento como Coritiba, Bragantino e Juventude.
O Cruzeiro disputou todas as edições, e ganhou o bicampeonato em 2017/18. Mesmo com as importantes premiações da Copa do Brasil, que paga altos valores, o Cruzeiro acumulou R$ 91 milhões de prejuízo na soma desses dois anos. Extremamente endividado, com débitos de curto prazo pressionando a administração, e sem crédito no mercado, mesmo após dois anos de sucesso esportivo em 2017 e 2018, o Cruzeiro entrou em colapso administrativo em 2019. O rebaixamento no Brasileiro 2019 foi resultado de mau desempenho no campo, trocas sucessivas de treinador e da falta de uma liderança positiva no elenco que pudesse reverter a situação, mas também de problemas no ambiente causados por salários em atraso, dívidas com agentes e outros problemas relacionados à administração do clube.
Conclusão
O Cruzeiro Esporte Clube, fundado em 1921 com o nome de Società Sportiva Palestra Italia, na cidade de Belo Horizonte, teve grande sucesso nos campos de futebol entre 2012 e 2018. Ao longo desses sete anos venceu dois Brasileiros, chegou a três finais de Copa do Brasil, ganhando dois desses títulos, e esteve por três vezes nas quartas de final da Libertadores. Entre os torneios menores, ganhou dois Estaduais nesse período. O clube acumulou nesse intervalo de tempo um déficit de R$ 238 milhões, e aumentou sua dívida líquida em R$ 358 milhões, ultrapassando a barreira dos R$ 500 milhões em endividamento. A torcida comemorava os títulos, e não se preocupava em entender de onde vinha o dinheiro para tantas contratações de jogadores consagrados.
Mesmo no ano de seu rebaixamento, em 2019, a “Raposa” ainda conquistou o Campeonato Mineiro, e foi semifinalista da Copa do Brasil. Os títulos renderam bons prêmios, e o Cruzeiro esteve de 2012 a 2019 sempre entre os dez clubes de maiores receitas do futebol brasileiro, mas não houve equilíbrio na administração dos gastos. Disputando a Série B em 2020 e 2021, as receitas caíram a praticamente um terço do que o clube gerava quando estava na elite do futebol brasileiro e sul-americano. O presente para os torcedores no ano do centenário, 2021, foi a insolvência da Instituição, a retirada do Cruzeiro Esporte Clube das competições de futebol profissional, e a transferência dos ativos (direitos de atletas, vagas nas competições e todos os direitos de imagem e transmissão) para uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) constituída a partir de sua “massa falida”.
O Cruzeiro Esporte Clube (CEC), centenário, cede sua camisa e vagas nas competições para o Cruzeiro SAF (CSAF, sigla interessante…), recém fundado, a partir deste ano de 2022. Este é um exemplo de como a estratégia de “fazer a roda girar”, sem um equilíbrio, pode causar um desastre a qualquer associação.
Vejamos o caso do Flamengo.
Ao assumir a presidência do Flamengo, no fim de 2012, Eduardo Bandeira de Melo foi transparente com a torcida, avisando que o rubro-negro passaria por uma fase de vacas magras, e que o clube iria priorizar o saneamento financeiro em sua administração. O desempenho esportivo entre 2012 e 2015, período mais rigoroso da recuperação das finanças, foi bastante modesto. Frequentou a segunda página da classificação do Brasileirão por quatro anos, sem, entretanto, sofrer risco real de cair para a segunda divisão, aproveitou a oportunidade para conquistar uma Copa do Brasil no último ano em que os times que disputavam a Libertadores eram impedidos de participar do torneio, e contando com a fragilidade dos adversários locais, venceu o Campeonato Carioca 2014.
A partir de 2016, com o crescimento das receitas e a redução das dívidas, o Clube de Regatas do Flamengo, fundado em 1895 no Rio de Janeiro, originalmente para participar de competições de remo, voltou a investir mais em seu time de futebol. Saneado financeiramente, o Flamengo termina o Campeonato Brasileiro como campeão ou vice desde 2018, e neste ano, enquanto escrevo o artigo, ocupa a terceira posição, mas já iniciou a arrancada em busca do atual líder do campeonato. O clube da zona sul do Rio chegou ainda a duas das três últimas finais de Libertadores, conquistando o título de 2019. Mesmo sem priorizar a Copa do Brasil, o rubro-negro avançou até pelo menos as quartas de final do torneio em todas as edições desde 2017, mostrando uma consistência de desempenho esportivo.
O Flamengo de 2013 a 2021 é o exemplo de como uma boa administração pôde virar um jogo considerado “perdido”, no caso das finanças do “Urubu”. Por meio de uma política de austeridade saíram de uma situação de “círculo vicioso” com prejuízos, endividamento, custos financeiros e maiores prejuízos nos exercícios seguintes, para um estágio de “círculo virtuoso”, em que converteram superávit em redução de dívidas, redução de encargos financeiros e aumento de superávits futuros.
E o São Paulo Futebol Clube?
O São Paulo caminhou ao longo dos anos do estudo sobre região de déficits ou pequenos superávits, praticamente anos de equilíbrio. A tentativa da gestão de Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, de reduzir o endividamento naufragou após o terceiro ano de mandato do presidente, quando o clube passou a gerar déficits de “três dígitos” ano após ano. Entre 2019 e 2021 o SPFC acumulou R$ 392 milhões em prejuízos e aumentou o endividamento em R$ 372 milhões, se aproximando de R$ 650 milhões em dívida líquida.
Mesmo sendo um dos times que mais investiram em futebol no período, os resultados esportivos do SPFC foram muito irregulares. Um vice-campeonato Brasileiro em 2014, a semifinal da Libertadores 2016, semifinais da Copa do Brasil em 2015 e 2020, além do Campeonato Paulista de 2021 foram os melhores resultados desde 2012. Muito pouco se comparado ao gasto total de R$ 4,221 BILHÕES gastos pelo São Paulo Futebol Clube no período considerado neste estudo.
A minha avaliação é que o São Paulo Futebol Clube de hoje está seguindo perigosamente os passos do Cruzeiro Esporte Clube no que se refere às finanças da Instituição, sem ter alcançado, porém, as conquistas esportivas do clube mineiro. Como acaba essa história, literalmente, já sabemos.
Este artigo é um alerta e um pedido aos dirigentes de futebol do SPFC para que tenham equilíbrio e austeridade na administração do time e da Instituição. Ainda há tempo para mudar o nosso futuro, a nossa situação financeira de hoje é menos crítica do que a do Flamengo em 2012, mas é preciso paciência e austeridade, e começar logo o trabalho de recuperação.
A minha proposta
Como administrador, a minha proposta para a diretoria do São Paulo é a seguinte:
– Aplicar no time de futebol a partir de 2023, pois em 2022 as despesas já estão comprometidas, um teto de gastos correspondente às receitas recorrentes do São Paulo (direitos de transmissão, bilheteria, publicidade e patrocínios e programa de sócio torcedor), e mais 50% (cinquenta por cento, a metade) das receitas provenientes da venda de direitos de atletas.
– Canalizar para a amortização de dívidas os 50% restantes da receita de negociação de direitos de atletas.
Seguindo essa receita, em 3 a 4 anos o Clube terá eliminado o endividamento bancário, reduzindo assim também a conta de juros que pressiona a administração. O SPFC teve despesas financeiras líquidas de R$ 161 milhões no acumulado dos três últimos anos. A partir daí poderá voltar a investir mais no time de futebol, aumentando o percentual das vendas de jogadores que pode ser reinvestido na atividade esportiva.
E o risco de, reduzindo os investimentos, ser rebaixado à segunda divisão?
Esse risco é muito pequeno pois, mesmo dedicando parte das receitas ao saneamento financeiro, o Tricolor ainda teria receitas muito significativas comparado aos times de médio investimento no Brasil.
Vamos colocar números nesse discurso. Limitei esta parte da análise ao período entre 2017 e 2021.
Inicialmente apresento a proposta de uma “Receita ajustada do SPFC”, que significaria contar com as receitas recorrentes e a metade da receita proveniente da negociação de direitos de atletas. Os 50% restantes do valor líquido de negociação de jogadores seriam dedicados exclusivamente à amortização de dívidas, com prioridade para reduzir o endividamento com instituições financeiras.
Resumindo a proposta, ao invés de aplicar o total das receitas no time de futebol, no caso do exemplo acima o valor de R$ 1,870 BILHÕES em cinco anos, o SPFC gastaria R$ 1,512 BILHÕES no mesmo período, e dedicaria R$ 358 milhões à redução do endividamento.
O interessante de observar na tabela acima é que, mesmo sem nenhum resultado esportivo relevante nos anos do intervalo considerado, o Tricolor arrecadou, líquidos, R$ 715 milhões com a negociação de atestado liberatório de atletas, e, em nenhum ano, ficou abaixo dos R$ 100 milhões em vendas. A máquina de formar bons jogadores em Cotia é um recurso chave na recuperação financeira do São Paulo.
A preocupação dos dirigentes seria que, reservando uma parte da receita total exclusivamente para reduzir o endividamento, o Tricolor ficaria muito enfraquecido em relação aos seus concorrentes. Abaixo apresento o resultado da comparação da “Receita ajustada” do SPFC com os demais clubes mais “ricos” do futebol brasileiro.
Os dados acima mostram que, mesmo renunciando a 50% das receitas de vendas de jogadores, o São Paulo Futebol Clube ainda teria recursos equivalentes aos do Internacional, e superiores aos de Atlético MG, Santos, Athlético PR e Fluminense, equipes que disputam a Série A juntamente com o Tricolor.
O risco, ou não, de rebaixamento dependeria então, exclusivamente, da competência e eficiência na aplicação dos recursos disponíveis pelos gestores.
Eu, como torcedor, sofreria com a provável ampliação da fase de “vacas magras”, mas entenderia que é um sacrifício em função de um bem maior e de um retorno do São Paulo Futebol Clube à sua condição de líder dentro e fora dos campos de futebol.
Flávio, quero te parabenizar por esse relatório que realizou sobre as finanças do São Paulo Futebol Clube.
Sua exposição é detalhada e sua comparação com Cruzeiro e Flamengo é sagaz, pois demonstra qual desses dois exemplos estamos mais próximos.
Eu tenho uma dúvida: existem informações públicas sobre a taxa de juros dos empréstimos recentes captados pelo São Paulo anunciados com o objetivo de estabilizar o fluxo de caixa?
Seria muito importante a existência de uma live onde seja possível o Sr. apresentar esse relatório.
Saudações Tricolores!
Bom dia Fabio,
As informações dos contratos são sigilosas e, em muitos casos, nem o Conselho tem esses dados.
O impacto desses juros, porém, está apresentando acima: nos últimos 3 anos tivemos despesas financeiras líquidas de R$ 161 milhões, o que representa um quarto da dívida líquida do Clube.
Se estivéssemos saneados, com esse dinheiro o SPFC poderia investir na contratação de 5 jogadores custando o mesmo que pagamos pelo Galoppo.
Sobre uma live, estou sempre à disposição do Paulo Pontes para entrevistas e debates sobre o SPFC.
Parabéns pelo trabalho, Flávio. Espero que seja lido e que o recado seja entendido pelos “abnegados”, que dia após dia trabalham para enterrar um clube de tanta história e tradição.
Obrigado Salvador!
Primeiramente quero parabenizar o PP e o Flávio Marques.
O primeiro por conceder um espaço a alguém que entende do assunto “administração” e que pode nos esclarecer muitas dúvidas sobre a gestão são-paulina.
Depois ao Flávio, por se dispor ao trabalho de levantamentos, apurações e esclarecimento do que rola nas cabeças dos diretores irresponsáveis do tricolor.
Agora, tb, como o Waldir, estou meio incrédulo quanto à capacidade do clube gerar jogadores para as vendas necessárias para saída proposta.
Nossa base – em que pese o RC ter ido buscar alguns jovens para preencher vazios pela “pandemia” de jogadores no DM, e isto até nos ajuda a comprovar a baixa qualidade desses jovens, já há alguns anos não vem produzindo nenhum jovem valor que se destacasse no cenário, mesmo no das categorias de base.
Tenho comigo que o SP, hoje, não é mais relevante para os “olheiros” e até mesmo pelos responsáveis de jovens valores que, quando têm uma boa aposta, procuram times que melhor desenvolvam seus protegidos.
O SP tem sido reconhecido como “cemitério” de jovens promessas por suas dificuldades de lançá-los em tempo devido, enquanto outros clubes como: Palmeiras, Atlético Paranaense, Fluminense, Flamengo, Santos, Inter, vão melhor neste quesito.
O clube parece dar preferência à contratação de veteranos enquanto deixa seus garotos estourarem idade e sair a procura de outros times em que possam ter as mesmas chances que o tricolor dá a esses contratados e lhes nega.
Tudo isto, acredito, está desviando boas promessas que antes eram direcionadas a Cotia e vai fazer falta num projeto de recuperação baseado principalmente neste ativo.
Tenho que, caso queiram realmente livrar o SPFC de uma bancarrota financeira, o caminho é repetir o Flamengo do Bandeira.
A nós, torcedores que não queremos a falência total do clube, resta-nos entender e apoiar aquele dirigente que se dispuser a isto, até por que, esportivamente, nada vai mudar do que temos visto nos últimos muitos anos. . .
Obrigado pelo comentário Paulo.
Concordo com o ponto levantado. Uma das ações absolutamente necessárias é o SPFC parar de contratar veteranos em decadência e colocar “na vitrine” os jovens que tenham condições para jogar no time principal do Tricolor.
Obrigado so Paulo Pontes pelo espaço, agora com uma página fixa, como alguns de vocês pediram.
A era Leco & Rai & Pássaro foi nefasta para a saúde financeira do Clube. Isso todo mundo sabe. O problema é que os atuais gestores continuam cometendo grandes erros em contratações apelidadas de “ocasião”. Aquisições e ou emprèstimos, como as de Marcos Guilherme, Benitez, André Anderson, Andrés Colorado, Gallopo, são indicadores de desespero. Outra coisa que chama atenção é que “os craques” da linha de montagem de Cotia, que na verdade não são tão craques assim, estão saindo pela porta dos fundos como baixa remuneração. Os casos de Marquinhos e de Vitinho são emblemáticos. Por tudo o permeia a sua análise, meu caro Flavio, agregado a baixa produtividade na tentativa de revelar craques como Militão, Antony, Morato, Casimiro, David Neres, etc., nos levará a insolvência e, certamente, a venda a preço de bananas da gestão do futebol. Estamos bem mais perto do Botafog, ou mesmo do Cruzeiro, do que parece, infelizmente!
Obrigado pelos comentários Waldir.
Essa é a minha leitura também. O SPFC segue a passos largos o caminho do Cruzeiro.
Um abraço!