Gestão do futebol do São Paulo FC é altamente ineficiente
Aproveito a publicação dos demonstrativos financeiros de todos os clubes do país para fazer uma comparação direta da eficiência de aplicação dos recursos no futebol entre o Tricolor e seus principais rivais. Este artigo está baseado no princípio que os times tem como principal métrica no ano o seu desempenho no Campeonato Brasileiro de Futebol. O Campeonato Brasileiro da Série A, que ocupa oito meses do calendário desportivo nacional e serve também como porta de entrada para as Copas internacionais, é reconhecido como a competição mais desgastante, pois exige a dedicação de um elenco numeroso e qualificado ao longo de trinta e oito rodadas. No Brasileirão não há espaço para o acaso ou surpresas. A agremiação que for mais competente na montagem de elenco, administração da equipe, suporte logístico e desempenho esportivo será a campeã no final do ano.
Se consideramos que os Estaduais são hoje eventos de pré-temporada, e que as Copas – do Brasil, Sul Americana e Libertadores – não são disputadas igualmente por todos os times da Série A, então a medida comum para comparar os grandes times do país é sua pontuação obtida no Campeonato Brasileiro. As Copas são importantes, sem dúvida, mas contam na realidade como um bônus para quem as conquistar. Para avaliar a gestão do futebol na administração do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva consideramos o desempenho ao longo do Brasileirão dos últimos três anos, de 2016 a 2018, e comparamos apenas os resultados e gastos das equipes que tenham jogado esses três anos na Série A e não tenham sido rebaixadas em 2018. Doze equipes atendem esses requisitos.
O quadro abaixo representa a somatória dos pontos acumulados nos três anos, o valor total gasto por cada clube com futebol ao longo desse período, o cálculo do custo médio em milhões de Reais por ponto conquistado e a classificação das equipes em cada um dos três torneios.
A primeira constatação óbvia é que o fracasso do São Paulo F.C. nos últimos anos não é devido à falta de recursos. Entre 2016 e 2018 apenas Palmeiras e Corinthians investiram mais em seus times de futebol do que o Tricolor. Os rivais, no entanto, conquistaram alternadamente todos os títulos Brasileiros dos últimos quatro anos. Apenas os três grandes da Capital gastaram mais de R$ 5 milhões por ponto conquistado no campeonato Brasileiro. Enquanto os tradicionais rivais paulistanos foram eficazes na aplicação do alto valor dispendido, pois obtiveram resultados esportivos relevantes, o São Paulo mostrou-se altamente ineficiente, pois gastou muito dinheiro para obter resultados medíocres.
Seguindo a análise da tabela vemos que o Flamengo teve investimento total próximo ao do São Paulo. Com gasto 3% inferior o rubro negro alcançou uma pontuação 21% superior, tendo finalizado o campeonato em classificação superior em cada um dos três anos deste estudo. Cada ponto conquistado pelo Flamengo custou R$ 4,5 milhões, 21% menos do que o custo dos pontos do Tricolor. Apesar de ter um vice-campeonato como o melhor resultado no Brasileiro, o time da Gávea venceu um Estadual e chegou a finais da Copa do Brasil e Sul Americana no período.
Saindo do grupo dos quatro clubes de maior receita do Brasil passamos a avaliar o desempenho de equipes de investimento médio, times tradicionais mas que tem recursos bastante inferiores aos dos já discutidos. O Cruzeiro teve gasto da ordem de 20% inferior ao São Paulo para obter resultados parecidos aos do time do Morumbi se considerarmos somente os campeonatos Brasileiros. Cada ponto dos mineiros custou R$ 4,7 milhões, desempenho financeiro equivalente ao do Flamengo. Ciente de suas limitações de orçamento o Cruzeiro focou seus esforços na Copa do Brasil, do qual é o atual bicampeão e o maior vencedor do torneio, ganhando ainda o campeonato Mineiro de 2018. Outro exemplo de sucesso é o Grêmio de Porto Alegre, que tendo investido 25% menos que o Tricolor Paulista amealhou 10% mais pontos, teve classificação superior nos três anos do Brasileiro, e ainda levou de bônus uma Copa do Brasil, uma Libertadores e um campeonato Gaúcho. Como explicar tamanho sucesso dessas duas equipes de médio orçamento? Parte da explicação está sem dúvida na longevidade dos treinadores à frente da Equipe. Mano Menezes e Renato Gaúcho dirigem respectivamente Cruzeiro e Grêmio desde 2016. Ambos estão comandando suas equipes pela quarta temporada consecutiva, enquanto no São Paulo de hoje a média de tempo de permanência dos técnicos é inferior a seis meses.
O Atlético MG tem investimento e eficiência financeira equivalente à do Grêmio (próximo de R$ 4 milhões por ponto), mas não foi tão vencedor nos últimos anos. Ainda assim garantiu um título Estadual e uma final de Copa do Brasil. O Galo Mineiro investiu 30% menos do que o São Paulo obtendo 6% mais pontos e classificação melhor que o Tricolor Paulista em dois dos três anos analisados.
Santos e Athlético PR por sua vez são exemplos de orçamentos limitados administrados de forma extremamente eficiente. Cada ponto conquistado por esses dois times custou em média R$ 3 milhões, praticamente a metade do que custou para o SPFC. O Furacão com metade do desembolso do Tricolor Paulista fez exatamente a mesma pontuação, mas com menor oscilação na classificação de um ano ao outro. O Athlético ganhou ainda dois Paranaenses e é o atual campeão da Copa Sul Americana. O alvinegro praiano gastou 40% menos para acumular 12% mais pontos no Brasileiro, tendo sido vice-campeão em 2016. O Santos levou ainda para a Vila Belmiro em 2016 mais uma taça do Campeonato Paulista, título que o São Paulo não ganha desde 2005.
Chegamos aos times de baixo investimento (para Série A), Botafogo FR e Chapecoense. O time da Estrela Solitária investiu 63% menos do que o São Paulo para obter uma somatória de pontos muito próxima. Em média cada ponto do Botafogo custou cerca de R$ 2 milhões, e a equipe carioca terminou o Brasileiro em melhor colocação que o São Paulo em dois dos anos do intervalo analisado, ganhando ainda o campeonato carioca de 2018. A Chapecoense, caçula entre os participantes do Brasileiro, apresenta a melhor eficiência financeira pois cada ponto conquistado custou menos de R$ 2 milhões. Com uma despesa 75% inferior ao gasto pelo São Paulo o time de Chapecó terminou melhor classificado que o Tricolor Paulista na Série A nos anos de 2016 e 17, conquistou dois Estaduais e sagrou-se campeão da Sul Americana 2016.
Só nos resta a comparação com o Fluminense. Tendo investimento total equivalente ao do Santos não tem a mesma eficiência do Peixe. O time das Laranjeiras investiu 40% a menos do que o São Paulo, atingindo 86% dos pontos do time do Morumbi, e há três anos vem flertando com o descenso. É o único clube da lista que obteve classificação pior do que a do o São Paulo nos três anos deste estudo.
Como torcedor do Tricolor eu fui ficando mais triste a cada parágrafo que escrevia deste texto. Revisitado o passado recente a pergunta é, quais as nossas perspectivas para o futuro? Nos últimos três anos o São Paulo arrecadou R$ 455 milhões com venda de atletas, maior receita do clube, representando 40% de nossa receita total do futebol. Nos especializamos em vender o artista e não o espetáculo. Em 2018 observamos uma significativa queda nas receitas de Marketing (Publicidade, Patrocínio e Licenciamentos) e do Sócio Torcedor, ainda que o desempenho do time em campo tenha sido melhor do que nos dois anos anteriores. É preciso mudar radicalmente essas prioridades para o clube se reerguer esportivamente.
Iniciamos bem o Campeonato Brasileiro deste ano, e agora temos um treinador de competência reconhecida no mercado. Para evitar uma oscilação excessiva na temporada e queda no segundo semestre não basta ter um bom time, necessitamos de estabilidade no comando e um elenco qualificado. As cartas estão nas mãos do presidente. Evitar a venda dos jovens valores é o primeiro passo para que o Tricolor possa voltar ao seu lugar de direito, disputando títulos e não apenas participando como coadjuvante. Que tenhamos um ótimo Brasileirão 2019!
Parabéns pela análise e trabalho. Muito interessante e esclarecedora. Saudações tricolores. Abs
Muito obrigado.
Obrigado Paulo Pontes pelos elogios e pelo espaço.
Um grande abraço.
Boa tarde tricolores,
Boa tarde amigo Flávio, vejo que os números, nesse caso, como um espelho, refletem a má gestão em que estamos atolados, mas nem sempre é assim no futebol, o retorno técnico não é diretamente proporcional ao investimento mas sim a um bom planejamento, a longevidade do treinador é fundamental para um bom aproveitamento do elenco, mesmo agora que parece que estamos entrando em um bom caminho, parece -me mais fruto do acaso que do trabalho dos nossos dirigentes, mas fico estarrecido com o pouco retorno pelo valor investido, belíssima postagem, parabéns.
Obrigado Gelson.
A minha expectativa é que o Tricolor volte a ser um time de ponta. Um abraço.
Grande Flávio, bela contribuição. Você sempre afirmou que o São Paulo era menos eficiente e gastava mal. Agora, a prova está evidenciada. Claro, cada clube tem sua particularidade. O palmeiras e os acertos da Crefisa, o santos é uma indústria de jovens talentos, etc. Mas é inegável a má gestão de recursos nos anos passados. Além de termos contratado mal os jogadores, trouxemos treinadores péssimos para piorar. O resultado foi essa catástrofe que vivenciamos até agora.
No momento, penso que, finalmente, o São Paulo voltou a ser competitivo. Ao menos, em campo. Mas tenho as mesmas preocupações que você. É preciso mudar a composição das nossas receitas. Cotia tem que ser rentável, sem dúvida. Mas não pode ser entendida como uma “granja”. Nosso marketing precisa ser fortalecido. Porém, isso exige rever nossa postura servil em relação à Globo. Temos dirigentes com peito para isso?
Obrigado André Felipe.
Esse é o ponto. Gastamos mal. A esperança é que a próxima “safra” de Cotia – privilegiada – seja mantida ao menos por um ano para nos dar alegrias no campo.
Ótimo texto! Parabéns Flávio Marques.
Concordo com vc quando diz da ineficiência dos gastos do nosso tricolor e dou uma pista:
Não seria, talvez, por investir tanta grana em jogadores veteranos que custam muito; jogam pouco e, muitas vezes, para nos ver livres deles, ainda temos que pagar parte de seus salários (alguns quase o total) para que outro clube os aceite?
Pensem nisto!!!
Obrigado Paulo.
Essa é uma das nossas falhas. Pagar muito por vereranos que tem pouco a contribuir.
Um abraço.
Parabéns pelo Texto Maravilhosa Flávio!!!!!
Assim como descreveu a cada palavras que leio desse belíssimo texto me causa uma tristeza que toca o coração!!!!
Espero que possamos reverter esse quadro e que uma nova história seja escrita, uma história vencedora e de conquistas!!!!
Parabéns mais uma vez pelo texto Flávio!!!!!
Obrigado. Esperando que voltemos aos bons tempos. A atual gestão não tem ajudado muito como mostram os números.
Flávio, parabéns! Você é um cara diferenciado.
Abraço
Obrigado. Um abraço.
Parabéns Flávio, ótimo tópico. Concordo com você, mas tem um senão, no caso do Palmeiras eles dão uma ” maquiada”nesses números, Dudu, Bruno Henrique, Ricardo Goulart, Lucas Lima, Gustavo Scarpa e outros recebem uma boa parte direto da Crefisa ( publicidade) seus contratos foram direcionados para legalmente prestar ” serviços” a Crefisa, assim os gastos com salários no Palmeiras são Fakes.
Obrigado Guaraci,
Os dados são os oficiais publicados nos balanços dos 12 clubes ao longo dos três anos, mas entendo que no futebol – em particular nesse caso de mecenato – pode haver alguma manipulação dos números. De todo modo os resultados do Palmeiras no período – duas vezes campeão e uma vez vice – mostram que eles tem administrado bem o caminhão de dinheiro que tem disponível.
Um abraço.