Flavio Marques

Daniel Alves, uma furada olímpica.

No dia 22 de agosto de 2021, um Domingo, o São Paulo enfrentava o Sport Recife na Ilha do Retiro, pelo primeiro turno do Campeonato Brasileiro 2020. Um jogo muito disputado, mas de pouca técnica. O Tricolor virou o intervalo à frente, com 1 x 0 no placar. Logo aos 6 minutos do segundo tempo, Rodrigo Nestor roubou a bola do adversário, arrancou pela direita e fez ótimo passe para Daniel Alves que, livre dentro da área do Sport, tinha todas as condições de ampliar a vantagem. “Dani”, porém, furou. Foi uma furada clássica, plástica, impressionante. Uma verdadeira furada olímpica, desperdiçando uma grande chance.

Apesar do ocorrido, o São Paulo venceu aquela partida e garantiu três pontos importantes no campeonato. Nos comentários pós jogo praticamente todos os meios de comunicação, sites, blogs e redes sociais indicavam Daniel Alves como o pior jogador em campo.

Introdução

O adjetivo “olímpico” significa “do Olimpo”, ou ainda “aquilo que é relativo aos Jogos Olímpicos”. Além disso, “olímpico” e suas variações são usados, no sentido figurado, para caracterizar aquilo que é majestoso, grandioso, sublime ou que impressiona pela grandeza ou importância, como se verifica no Moderno Dicionário Michaelis de Língua Portuguesa.

O substantivo feminino “furada”, utilizado na linguagem coloquial, apresenta segundo o Dicionário Michaelis / UOL os seguintes significados:

1 Ato ou efeito de furar(-se).

2 Algo que não corresponde às expectativas, acarretando decepção, contrariedade, prejuízo; roubada.

3 FUT Ato ou efeito de furar, errar um chute.

O início

No dia 06 de agosto de 2019, uma terça-feira, Daniel Alves foi apresentado à torcida como o mais novo reforço do São Paulo Futebol Clube. Mais de quarenta mil pessoas se dirigiram ao estádio do Morumbi para recepcionar o “jogador mais vitorioso do futebol mundial”, como foi anunciado naquela noite. A expectativa era que Daniel Alves levaria o Tricolor a um nível mais alto de competitividade, restabelecendo os tempos vitoriosos do clube.

Com contrato válido até dezembro de 2022, e um custo estimado anual de R$ 20 milhões entre salários, direitos de imagem e luvas, o discurso da diretoria é que existiria um parceiro comercial que pagaria boa parte desses custos, em troca de explorar a imagem do lateral da seleção brasileira em suas campanhas publicitárias, viabilizando a contratação do jogador pelo São Paulo.

A estreia dele foi contra o Ceará, no dia 18 de agosto pelo campeonato brasileiro. Naquele Domingo, 47.705 pagantes vieram prestigiar o veterano jogador – o maior público do São Paulo como mandante no Brasileirão daquele ano. Daniel, que se declara são-paulino, marcou o gol da vitória por 1 x 0, dando esperanças de tempos melhores para a torcida Tricolor.

Os fatos

Pouco mais de dois anos após a contratação e estreia de Daniel Alves, praticamente todas as expectativas foram frustradas. O parceiro comercial, aquele que arcaria parte do custo, ainda não apareceu, ficando o SPFC como único responsável pelo pagamento do contrato. Daniel Alves não se firmou como ídolo da torcida, e em alguns momentos chegou a irritar o torcedor como no dia em que, afastado do time para tratar de lesão no braço, publicou em sua rede social um vídeo em que aparece tocando um tantã (instrumento de percussão) com muita animação. Mesmo dentro de campo as suas atuações, e os resultados obtidos pela equipe, foram decepcionantes.

Desde que o atleta foi contratado, e até o dia 25 e agosto de 2021 inclusive, o São Paulo jogou 139 vezes, considerando-se todas as competições que disputou. Veja abaixo a participação de Daniel Alves nesse período.

Ao participar de 95 partidas, Daniel Alves tem um nível de presença de 68% dos jogos do time. Basicamente ele ficou de fora de um a cada três jogos disputados pela equipe nos últimos dois anos. “Dani” deixou de jogar, por variados motivos como suspensões, contusões ou convocações para Seleção Brasileira, 44 partidas no período, incluindo importantes jogos eliminatórios da Libertadores da América e a decisão do Paulista 2021 contra o Palmeiras. Tem média de um gol a cada 10 jogos, uma assistência a cada 7 partidas e um cartão amarelo a cada 4 vezes que entra em campo. São números decepcionantes para alguém que, tendo carreira internacional vitoriosa, prometia levar o São Paulo a um “outro patamar”.

Se os números individuais de Daniel Alves são ruins, sua contribuição para o jogo coletivo do Tricolor também causa desapontamentos nos analistas. Veja os números.

Contrariando o senso comum, a presença de Daniel Alves em campo não melhora o aproveitamento do time. A tabela acima inclusive mostra um efeito inverso: nos últimos 24 meses o time conquistou 58% dos pontos disputados quando o jogador esteve ausente, e 54% nas partidas em que ele participou.

O clube conquistou um único título no período, o Paulista 2021. Na final em dois jogos, contra o Palmeiras, Daniel sentiu uma contusão e foi sacado do time aos 32 minutos da primeira partida da decisão, ficando de fora também da partida final disputada no Morumbi.

Por outro lado, Daniel Alves atuou, sempre como titular e sem ser substituído, nos seguintes jogos:

  • Na vexaminosa eliminação para o Mirassol no Paulista 2020
  • Nas duas partidas de nossa eliminação pelo Lanús, na Copa Sul Americana 2020
  • Na derrota para o Binacional, equipe semiamadora do Peru, pela Libertadores 2020
  • Em 10 dos últimos 11 jogos do Brasileiro 2020, em que desperdiçamos um título “ganho”
  • Na derrota para o Internacional por 5 x 1, pelo Brasileiro 2020, a maior goleada sofrida pelo SPFC no Morumbi em toda a sua história

Conclusão

O Daniel Alves do São Paulo não passa de um coadjuvante sem brilho, mas que recebe como se fosse uma grande estrela do futebol mundial. Com 38 anos de idade, completados em maio passado, dificilmente terá oportunidade de se transferir para qualquer outra equipe.

O contrato tem ainda dezoito meses de validade pela frente, e não se pode acusar o atleta baiano de não se cuidar ou de não se dedicar aos treinos. Não se ouve críticas quanto à postura profissional do jogador enquanto atleta do SPFC. Não vejo motivos para uma rescisão unilateral do compromisso. O fato do valor do contrato ser absolutamente fora das possibilidades do São Paulo Futebol Clube, é uma responsabilidade da diretoria, e não culpa do jogador. O São Paulo Futebol Clube, como instituição séria, terá que honrar os termos do compromisso, ou renegociar as condições de comum acordo com o atleta.

Para entender melhor o tamanho da “furada olímpica” cometida pela diretoria, o atual contrato de patrocínio master com a Sportsbet.io, anunciado pelo presidente como “o maior patrocínio da história do SPFC” garante ao Tricolor, segundo fontes da imprensa (Uol, Globo Esporte e Lance!), um valor de R$ 24 milhões por ano. Daniel Alves custa ao Tricolor, entre salários, direito de imagem e luvas, R$ 20 milhões por ano, segundo essas mesmas fontes da crônica esportiva.

Desde que foi contratado “Dani” já custou R$ 40 milhões ao São Paulo. Se dividirmos pelas partidas disputadas pelo jogador, a média é de R$ 420 mil de custo por jogo. Até dezembro de 2022 vencerão ainda obrigações de R$ 30 milhões do São Paulo para com o atleta. Em três anos e meio de vínculo, Daniel Alves terá custado ao Clube um total de R$ 70 milhões. Os atrasos de pagamentos, reconhecidos publicamente pelos dirigentes do futebol profissional, certamente inflarão esses débitos  com a adição de multas por atraso e correção monetária dos valores.

Não resta ao Clube outra alternativa senão buscar contratos de patrocínio e exploração de imagem de Daniel Alves que possam cobrir, ao menos parcialmente, o alto custo de manter o atleta no elenco. O desafio está nas mãos de Eduardo Toni, Diretor Executivo de Marketing.

Vamos acompanhar de perto.

11 comentários em “Flavio Marques

  1. Prejuízo maior foi o Proxeneta, quero dizer, o Profeta. Hernanes ganhava dois terços do salário do Daniel Alves. Sem jogar. Dois casos do chamado “custo malefício”.

    É sempre um risco trazer jogadores veteranos. Pode dar certo como foi no caso do Cerezo, e como está sendo com o Miranda. Ou pode ser como você bem disse uma baita furada olímpica.

    Fora as posições de goleiro e centroavante, penso que as estatísticas não condizem muito com a realidade do que acontece em campo. Uma marcação efetiva nem sempre pode ser traduzida pelo número de desarmes, por exemplo. E nesse sentido, entendo que o Daniel Alves “vale” mais para a equipe do indicam os números. Diniz não soube como, e Crespo, por sua vez, não está aproveitando bem o “vovô olímpico”. Culpa até do próprio Daniel. Claro, nada que justifique seu salário, irreal para a situação financeira tricolor.

    A “tempestade perfeita” transformou em impossível aquilo que já era muito difícil. Pandemia, recessão e insanidade governamental pulverizaram as chances de se conseguir um patrocínio ou ação de marketing que pagasse o Daniel Alves. Com suas declarações, extinguiram-se de vez.

    Que o São Paulo tenha aprendido a lição. E nunca mais volte a contratar além das suas condições econômicas.

    • Pelas últimas declarações de Carlos Belmonte vem aí mais um “acordo” nos moldes do que fizemos com Jucilei: o clube irá alongar os pagamentos e o abacaxi vai para as próximas administrações pagarem.
      Daniel Alves pelo jeito será credor do SPFC pelos próximos 10 anos.

  2. Jogadores com o peso de Dani Alves mudam um time de patamar, mas pelo perfil pessoal do jogador a máquina em volta dele precisa girar redondinha. Ele no time do Flamengo iria arrebentar, pois teria espaço e pouca marcação, além dos holofotes não estarem sobre ele. Ele nunca foi a estrela dos times que jogou e aqui quiseram dar a ele esse status até com a camisa 10…

    Como não temos um time redondinho, pelo contrário é um time com deficiência não só técnica, mas de peças, cai sobre o Daniel Alves uma responsabilidade que ele nunca teve, ou seja, a de fazer um time jogar e decidir jogos. Pesa a tudo isso o fato de não receber em dia, especula-se um atraso na casa de 10 milhões… o que é combinado não é caro. Cabe ao clube pagar e buscar algum tipo de punição ao Leco e Ongueiro os maiores responsáveis por essa distopia… quem cuidava do financeiro também tem que arcar com isso caso tenha dado aval para bancar esse gasto astronômico.

    A torcida não quer mais o jogador, o jogador se coloca acima do SPFC, o clube não consegue pagar… pra mim o melhor caminho é sentar e estudar uma ruptura de contrato.

    Em tempo: brilhante coluna Flávio, parabéns!

    Brincadeira: parece que o único amigo do Tricolornaweb é o Flávio, só ele escreve rsrs.

    • Danilo, obrigado pelos elogios.

      Concordo com o seu ponto chave: Daniel Alves nunca foi o protagonista por onde passou.

      Convido a todos para que colaborem aqui neste espaço democrático.

      Opiniões, memórias, sugestões, qualquer assunto relacionado ao SPFC será bem vindo.

      Peçam ao Paulo Pontes o espaço e ele vai conceder.

      Você, Danilo, escreve bem e se manifesta com consistência. Utilize este espaço.

      Abraços e bom final de semana.

      • Abraços Flávio, você escreve muito bem e tem uma ótima dinâmica com números. Geralmente quem escreve bem não soma 2 mais 2 rsrs. Você não, escreve bem e domina bem a aritmética, parabéns!

        Sobre só você escrever foi uma brincadeira pelo nome do espaço que o Paulo Pontes deu. Apenas brincadeira, você escrevendo está em ótimas mãos.

  3. Flávio parabéns pelo texto, embasando em números o sentimento da maioria dos torcedores em relação ao desempenho do jogador.
    Por sinal, o time de futebol do clube tem certa tradição em contratar veteranos com acertos (ex.: Cerezo, Gerson, Miranda etc..), erros (ex.: Falcão, Rivaldo, Juanfran etc..) e suas consequências financeiras.
    Abraço.

    • Obrigado Fernandes.

      No caso específico do Daniel Alves o que nunca foi explicado, e diferencia este caso de outras contratações de veteranos, é o misterioso “investidor” que cobriria parte dos custos.

      Como o SPFC pôde entrar num compromisso desse valor financeiro sem ter todos os contratos devidamente assinados?

  4. Obrigado Paulo Pontes pelo espaço, e aos companheiros leitores do Tricolornaweb pela atenção dispensada.

    Ótimo final de semana a todos com vitória Tricolor em Caxias.

  5. Obrigado pelos comentários Waldir.

    A gestão Leco, de triste memória, teve suas contas aprovadas sem ressalvas pelos Conselhos de Administração, Deliberativo e Fiscal. Foi ainda elogiada pelo sucessor no ato de posse da nova diretoria.

    Com essa situação, teria passado incólume mesmo que sob regime de S.A.

    Concordo com você que essas contratações desastrosas são decorrentes de uma fiscalização falha dos atos da diretoria. Os poderes que deveriam fiscalizar a gestão – Conselhos – não tem acesso prévio aos contratos de atletas e comissão técnica de futebol, e tem agido movidos, em boa parte, sem generalizações, por orientação política.

  6. Argumentos, análise e conclusões respaldadas por números irrefutáveis. Parabéns Flávio. A contratação do Dani Alves decorreu de um delírio administrativo dos gestores anteriores. Se ao invés de clube, sem fins lucrativos, o São Paulo FC estivesse enquadrado na Lei das SAs, Leco & Cia seriam responsabilizados pecuniariamente pelo prejuízo causado a instituição. Uma contratação lamentável sob todos os aspectos: administrativos, esportivos, políticos e principalmente, financeiro. Um rombo injustificável, cuja eliminação fica mais difícil à cada dia que passa. Meus pêsames a todos que, de alguma forma, contribuíram para eleger e conceder o mandato ao Sr. Leco.

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